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Mas antes disso, vamos fazer uma pausa no simbolismo para dissipar algumas
confusões comuns de quando a pessoa começa a estudar simbolismo astrológico,
alquimia, ou qualquer uma dessas ciências tradicionais de caráter divinatório – I
Ching, Quiromancia, Feng Shui etc. Quando praticadas dentro dos seus limites
adequados e por representantes competentes, essas artes até que são bastante
eficazes na antecipação de certos eventos futuros e na descrição de cenários que
você desconhece. E se você fala “astrologia” duas vezes numa conversa, na terceira
vez surge a questão do destino e livre arbítrio, não é verdade? É inevitável. Vamos
então, antes de avançarmos no simbolismo astrológico, tentar clarear alguns dos
conceitos fundamentais, para entendermos essas noções de livre arbítrio e destino.
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Introdução ao Simbolismo Astrológico – Aula 04
tem algo de si nos estados anteriores do sujeito que age – do agente – porque o
agente é a causa da ação e a ação não pode ser desproporcional ao agente, o efeito
não pode ser desproporcional à causa. O que realmente queremos dizer quando
dizemos que uma ação é livre?
Basta pensar assim: você sabe que tal peça do carro está para quebrar. Você
não precisa imaginá-la, visualizá-la como “uma parte que tem um eixo de metal e
uma borrachinha, e esta borrachinha está rasgando”. Você não faz nada disso, na
verdade você concebe a peça a partir do nome dela, e este nome serve para você
lembrar que aquela peça tem uma função qualquer no automóvel, e esta peça está
para quebrar; não sei se é porque ela vai explodir, ou porque a sua borracha vai
derreter, ou se dissolver. Você não pára e lista para si mesmo todas as imaginações
possíveis; você usa dois, três, quatro, cinco, meia dúzia de conceitos, com esta meia
dúzia de conceitos você representa uma série de cenários análogos, e então imagina
a série contrária: “Se quebrar a peça, as desvantagens são esta, esta e esta; eu vou
chegar atrasado, vou ter que deixar o carro no meio da rua". Isso se ele quebrar. Aí a
lista tem [as desvantagens] A, B, C e D. E se ele não quebrar: "Vai ser bom! Eu vou
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Introdução ao Simbolismo Astrológico – Aula 04
chegar mais rápido, se chover eu não pego chuva etc.”. Ou seja, você lista
conceitualmente algumas vantagens e desvantagens; e depois pega o outro cenário:
“Está bom, deixo o automóvel e pego um ônibus, e amanhã vou mandá-lo para o
conserto”, e aí também faz uma lista geral e abstrata das vantagens e desvantagens.
Você então [observa] “Há esses cenários que são pegar o automóvel e ele
quebrar ou não quebrar, e pegar o ônibus e chover ou não chover”. São quatro
cenários diferentes (normalmente as escolhas humanas são feitas concebendo mais
do que quatro cenários, aqui nós estamos simplificando, não vamos tentar reproduzir
toda uma situação humana real, porque não é necessário). Quando você analisa esses
quatro cenários geralmente você pensa: “Bom, um eu detesto; outro é tolerável; o
outro é melhor etc.”. Diante da multiplicidade dos cenários concebidos – veja bem,
isso não são [todos] os cenários de possibilidades reais; fora os concebidos existem
inúmeros outros cenários que você não concebe, porque eles já parecem
implausíveis, por exemplo: “Devo pegar meu automóvel hoje? Mas e se cair um
asteróide em cima do capô do automóvel e amassá-lo?”. Diante desses quatro
cenários, você tem duas perguntas: “Qual eu prefiro?” e “Qual vai acontecer?”.
Você não sabe se a peça do automóvel vai quebrar ou não, você não sabe se vai
chover ou não, você não sabe se o ônibus vai chegar na hora ou não, e assim por
diante. Então são duas perguntas que você tem que fazer, são dois problemas que
você tem que resolver, e a sua ação – o que você vai fazer – vai ser diretamente
proporcional à sua resposta a essas duas perguntas. Não é assim que você decide as
coisas?
Então, quando você é livre? Suponha que você acha que vai acontecer o
cenário A (se você pegar o carro ele vai quebrar), e você pega o carro e ele não
quebra, ou pega o ônibus e o ônibus quebra. Onde está sua liberdade? Não há
liberdade nenhuma! Porque a sua liberdade depende de você ser capaz de antecipar a
realidade tal como ela vai acontecer. Liberdade é assim: você é especialista em
automóveis e sabe que há 90% de chances de que ele vá quebrar, então você não o
pega; e na próxima vez em que você pega o carro, ele quebra. Veja bem, naquele dia
você não podia pegá-lo, você comprovou que foi livre ao escolher não pegar o
automóvel. Na maior parte das vezes na vida você não vai ter como comprovar se
houve liberdade ou não.
Agora suponha que alguém de fora pudesse responder a essas mesmas duas
perguntas – esta é uma pergunta de caráter objetivo: “Qual desses quatro cenários é
o mais provável de acontecer?”. Quer dizer, desses quatro, o sujeito só precisa saber
duas coisas –, suponha alguém de fora da situação possa lhe dizer se vai chover ou
não, ou se o seu automóvel vai quebrar ou não. Duas perguntas que têm pouquíssima
relação com seu livre arbítrio (algum conhecimento de meteorologia ou de mecânica
poderia dar uma resposta a essas perguntas). Veja bem, o fato de existir um
climatologista ou meteorologista que é capaz de dizer, para aquela circunstância,
“vai chover” ou “não vai chover”, modifica em algo a sua liberdade? No momento
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Introdução ao Simbolismo Astrológico – Aula 04
em que você está tomando aquela decisão, há um cientista da NASA que sabe se vai
chover ou não, e ele está lá na NASA, não está na sua casa. Ao mesmo tempo, nesse
mesmo momento há um engenheiro automobilístico que sabe se o seu automóvel vai
quebrar ou não, mas ele também não está na sua casa. E também nesse exato
momento, fora esses dois especialistas, há provavelmente a sua esposa, que é
especialista em você, e sabe desses cenários qual é o que você prefere. Se você
juntar essas três pessoas e elas concluírem o que você vai fazer nessa circunstância,
isso não mudou a sua liberdade em nada. Agora, se essas três pessoas se juntassem,
antes de você fazer a escolha, e pudessem escolher: “Vamos dizer a ele o que vai
acontecer ou não”, aí elas estariam afetando a sua liberdade. Por quê? Simples:
porque elas poderiam lhe dar um conhecimento melhor da situação, do que o que
você tem sozinho. Você poderia pela sua opinião achar: “Parece que vai chover,
então há uma desvantagem em pegar o ônibus”, mas chega o sujeito da NASA e lhe
fala: “Não, não vai chover, filho, não tem como”. Opa, mudou a situação!
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exterior), nada que chega até você que te tire a possibilidade de falar: “Não vou
fazer nada”. Mas se você agir como se as pessoas sempre fossem agir como elas
acharam que deviam agir, você vai acertar em 99,999% das vezes.
Por que isso é diferente do caso do leão? Lembram quando falamos do leão?
Está certo que o leão não tem que decidir entre o automóvel ou o ônibus para ir
trabalhar, mas ele tem que decidir entre ir nessa direção para caçar a gazela ou ir
naquela direção para caçar o gnu, ou ficar aqui, em paz, descansando. Acontece que
a situação de, por exemplo, ir naquela direção para caçar a gazela não aparece para o
leão como um conjunto de conceitos, mas como uma representação da imaginação
da mesma coisa; o leão, ao contrário de você, imagina “Há um cheiro de gazela ali”,
e começa a imaginar o gosto da gazela na boca dele, e aí ele imagina o trabalho que
deu para ir [caçar]. Seria a mesma coisa que você tomar a sua decisão com base no
seguinte: “Como é a sensação de abrir a porta do carro? E a de sentar? E a de ligar o
carro”, e assim por diante [ou seja, com base em sensações, e não em conceitos]. Às
vezes você faz isso: quando você está em um restaurante e pensa “O que eu vou
comer hoje?”, muitas vezes o seu critério é justamente esse. Mas [o critério] é
voluntariamente esse, isto é, você escolhe esse como o critério do que você vai
comer no restaurante [o critério poderia ter sido conceitual, nutricional, e não
sensível]. Pois você já tinha concluído, por algum motivo, que era vantajoso ir no
restaurante comer alguma coisa, senão você nem tinha ido lá. E uma vez que você já
está lá, você [pensa] “Qual a vantagem em comer isto ou aquilo? Nenhum oferece
qualquer vantagem. Eu não tenho nenhum motivo para fazer isto ou aquilo”, e aí
você usa o critério do leão. Você lê [o cardápio], começa a imaginar o gosto daquela
comida na sua boca, e decide: “Ah, é isso que eu quero”. Pois bem, o leão sempre
decide assim.
Quando você decide assim, é possível que cada um dos cenários imaginativos
te mova numa direção sensível real, na direção de um objeto concreto. O processo
da escolha humana não te move na direção de nenhum objeto concreto, mas na
direção de um esquema geral. Isso significa que para o leão, ou para você no
restaurante, caso o resto da sua humanidade esteja temporariamente desligado – o
que, veja bem, é perfeitamente normal nesse cenário, não tem nada de errado com
isso –, chega uma hora ali no restaurante em que você percebe que não tem escolha
senão comer aquilo. É claro que esse “não tem escolha”, é de “mentirinha” em você,
é um jogo que você está fazendo com você mesmo, porque você escolheu não pensar
na situação abstratamente, você escolheu que a imaginação era o melhor critério.
Mas quando ela é efetivamente o único critério, chega uma hora em que você não
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Introdução ao Simbolismo Astrológico – Aula 04
tem escolha nenhuma, em que o sujeito não pode falar “Não vou comer isto aqui”.
No leão, chega uma hora no seu processo de seleção das possibilidades (que são
representadas imaginativamente) em que ele não tem escolha do que fazer. Deu para
perceber o que significa exatamente o livre-arbítrio?
Aluno: Seria por isso que nós podemos dizer que as paixões escravizam?
Prof: Sim. Na medida mesma em que você tem para com certas paixões o
hábito de usá-las como critério de escolha, é a medida em que você está desligando a
capacidade que te dá liberdade. Cada vez que o sujeito fala “É que eu não
aguentei!”, cada vez que ele faz um negócio porque não aguentou, ele cria na sua
mente um esquema para, naquela situação, apenas imaginá-la.
O que dificulta um pouco para nós as coisas é que quando dizemos que você
“representa a situação para você conceitualmente”, isso não significa que você pensa
na situação. Isto é, esses conceitos não necessariamente estão representados
interiormente por nomes. Pense bem: se cada vez que você tivesse que fazer uma
escolha, você tivesse que produzir interiormente um discurso formal que descreve a
situação e as possibilidades de escolha, você poderia realizar talvez uma ou duas
escolhas por dia. Quer dizer, você teria que fazer uma redação interna explicando a
situação e por que você escolhe uma [opção] e não outra. Não, isso nunca acontece!
Então quando falamos que você representa conceitualmente, não quer dizer que você
pensa a situação dialeticamente; significa que você “pensa” no sentido mais original
da palavra – você pesa conceitos, sem representá-los com sinais verbais ou de
qualquer outro tipo. Isso acontece porque a sua inteligência é muito mais rápida do
que a sua capacidade de pensamento.
Isso é bastante importante para indicar esta primeira coisa: uma arte preditiva
qualquer, ainda que antecipe para você o resultado qualitativo das ações dos outros,
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Introdução ao Simbolismo Astrológico – Aula 04
Isso significa que o livre arbítrio é muito útil para te impedir de agir, mas ele
sozinho não te leva a agir. Por quê? Pense bem, você parou e pensou “Se eu jejuar
quarenta dias a pão e água, eu vou ficar doente, meu organismo vai sofrer etc.”, e
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Introdução ao Simbolismo Astrológico – Aula 04
você chegou à conclusão de que é ruim. "Ah, mas com o meu livre arbítrio, eu vou
lá e jejuo!”. Quando você decidiu que é ruim, você não quer – você decidiu não
jejuar. Você representou a situação para você como: “É negativo fazer isso, é
vantajoso comer”. Logo, para levar o plano à prática, você vai ter que contrariar a
sua análise da situação cada vez que você tiver com vontade de comer. É por isso
que mandamentos das religiões são assim: não faça A, B, C e D. E se você observar,
[elas dizem] “Você quer se livrar de A, B, C e D? Faça isso, isso e isso. Reze assim,
jejue assim, dê esmola assim”. Porque o sujeito que faz essas coisas exerce o livre
arbítrio dele tanto, com tão mais freqüência que quando é só a hora de falar “Não
faça isso”, ele tira de letra. Deu para entender como funciona o princípio do livre
arbítrio?
Note bem, essas coisas são ensinadas assim: “Não faça isso". Mas para você
realmente conseguir não fazer isso: "faça isso, isso e isso”. Porque as pessoas que
pensaram essas coisas sabiam como o ser humano funciona, como a vontade
humana opera. E eles sabiam que, em princípio, você pode analisar a situação de um
jeito, chegar a uma conclusão e fazer o contrário [o que te pareceu ruim], mas você
realmente não vai fazer assim; normalmente a pessoa não age assim.
Agora, quando você tem que representar para você conceitualmente uma
situação, para tomar uma decisão, qual o critério que você usa para escolher a lista
de conceitos necessários para representar a situação tal como ela é? Como você
decide quais são os fatores relevantes? Esse é o ponto mais importante desse
negócio de artes divinatórias. É simples: você não tem como decidir quais são os
fatores relevantes. Por quê? Porque normalmente você não é um especialista em
todas as situações possíveis. Se você tem que tomar um decisão acerca de algo que é
a sua especialidade, algo que você se habituou a representar na sua estrutura
permanente, nas suas variáveis, e a lidar com aquilo, então espontaneamente a sua
memória – a imagem de situações anteriores – traz para a sua mente os conceitos
relevantes. Por exemplo, você é um cirurgião e já fez duzentas cirurgias cardíacas, aí
acontece alguma coisa com este paciente e na hora a sua memória traz para você:
“Quando acontece isso, a melhor coisa a fazer é aquilo”. Como a sua vida é feita de
situações acerca das quais você não é especialista, e muitas vezes situações acerca
das quais não existe especialista, não tem como usar este critério, ou seja, não tem
como ter uma memória acostumada a trazer para a sua mente o que é relevante. Isso
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Introdução ao Simbolismo Astrológico – Aula 04
significa que você vai ter que se basear em uma memória que não é significativa ou
representativa daquela situação. Vamos explicar o que é isso depois do intervalo (...)
[INTERVALO]
Como nós não somos especialistas na maior parte das situações que
enfrentamos, os conceitos com os quais analisamos aquela situação particular vêm
da nossa experiência geral da vida, vêm da memória de situações análogas, ainda
que completamente diferentes. Isso significa que os conceitos são escolhidos a partir
de memória e imaginações. Então quando então surgem os conceitos, você pode
estar sempre consciente de que esses conceitos podem não servir para explicar ou
representar essa situação, porque eu os tirei da minha imaginação e não de um
conhecimento deste tipo de situação, não de uma ciência, ou revelação, ou
iluminação acerca desse tipo de situação. Isso faz com que nesses casos a nossa
situação não seja muito diferente da do leão ou do cachorro. Ainda é diferente,
porque ainda são conceitos que você vai usar, e você pode estar o tempo todo
cônscio, ou medindo a sua avaliação da situação com a consciência de que esses
conceitos podem ser inadequados, podem não explicar a situação.
Isso significa que o nosso livre arbítrio está nessa situação específica, que é a
da maior parte das suas decisões – por exemplo, nos relacionamentos humanos. A
maior parte das suas decisões no seu trabalho, se você é razoavelmente competente,
são baseadas na análise da inteligência, porque os conceitos são selecionados a partir
de uma experiência repetida e que já foi compreendida. Por exemplo, quando o
mecânico vai analisar o automóvel, a imaginação dele já opera segundo padrões
determinados pela inteligência. Agora, quando você vai decidir em quem confiar ou
não confiar, não é bem assim, porque você não tem o conhecimento dos
temperamentos humanos e dos indivíduos tão vasto e detalhado que lhe permite
fazer uma análise, digamos, garantida do comportamento futuro dos outros.
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O outro lado são os próprios sistemas simbólicos das artes divinatórias. Vamos
pegar um cenário diferente: você não vai escolher se vai pegar o carro ou o ônibus,
em vez disso você está procurando emprego e vai fazer uma entrevista, e você não
sabe se vai conseguir o emprego ou não. Não é por nada, é porque o sujeito que te
avalia e avalia as outras pessoas não tem um critério matemático e exato para
escolher as pessoas, é evidente. Ele não pode [analisar]: “Vamos pegar o currículo,
ler linha por linha, e este aqui é positivo; é negativo; é positivo; é negativo, e pronto
– decidido!”, porque o currículo pode ser simplesmente falso, pode ser exagerado.
Então, a primeira coisa é que só pelo currículo você não sabe [como é a pessoa];
também você não sabe como você tem que se apresentar para esse sujeito: ele quer
uma pessoa mais informal, mais formal? Do que ele gosta, com o que ele simpatiza?
Você também não sabe isso. E você também não sabe quais são os outros
candidatos, ou seja, você não sabe com o que você está se comparando ou sendo
comparado.
Alguém então pode pensar: “Ah, o que decide esse negócio não é nem o meu
livre-arbítrio, nem o dele, nem o dos anjos; são os astros. Essas pedras gigantescas
flutuando no céu, dependendo da posição em que elas atiram nas nossas cabeças, vai
sair o resultado da entrevista: se eu vou conseguir o emprego ou não”. Normalmente
é assim que as pessoas pensam a astrologia. Há de um lado o livre-arbítrio e do
outro, os astros – “pedras gigantes que estão girando em torno da sua cabeça”. O
problema é que do mesmo jeito que o lado "livre-arbítrio" é mal representado na
imaginação do sujeito que via um conflito entre essas duas coisas, o outro lado, o
fenômeno astrológico, também é mal representado na imaginação do sujeito.
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Introdução ao Simbolismo Astrológico – Aula 04
serem pedras, astros como a Terra. A verdade é que ela foi desenvolvida num tempo
em que as pessoas em geral, e até os astrólogos, não tinham a menor idéia do que
esses objetos eram fisicamente.
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peça para ele fazer o mapa de dois minutos depois. Esse é o mapa do quê? Esse é o
mapa de nada. É o mapa do céu. Peça para o astrólogo: “Faça um mapa de um
momento e me diga se nasceu alguém nesse momento e lugar”. Ele vai falar “Como?
Como é que eu farei isso?”. Isto é porque astrologicamente – pelo menos é assim
que você tem que entender esse negócio de astrologia –, os objetos da astrologia, os
elementos do mapa astrológico não são seres substanciais. Não são coisas, não são
entes que causam efeitos. Se eles fossem entes que causam efeitos, dado um mapa,
um astrólogo lhe diria o que objetivamente acontece naquela circunstância; mas
nunca é assim. Dado um mapa, ele vai lhe perguntar “Isso é mapa do quê? O que
aconteceu nesse momento, nessa hora?”. Isso é só um jeito de localizar um momento
no tempo.
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Introdução ao Simbolismo Astrológico – Aula 04
A diferença está no seguinte: suponha que você mora numa tribo na África, e
você sai da sua aldeia e aparece um leão na sua frente. Você pode se perguntar:
“Como este leão veio a aparecer aqui na minha frente?”; outra pergunta que você
pode fazer é: “O que esse leão quer comigo? O que eu faço agora?”. Quanto à
pergunta de como ele veio, você verá que há inúmeras causas aleatórias – ou, pelo
menos do seu ponto de vista, uma seqüência de causas aleatórias que não têm como
você esgotar ou como conhecer. E, ao invés do leão, poderia ter aparecido um
coelho, não poderia? Acontece que saber isso, que ao invés de aparecer um leão
poderia aparecer um coelho, é irrelevante para o sujeito que está diante do leão; uma
vez que aparece um leão, os leões quando estão diante de pessoas fazem A, B, C e
D, e as pessoas têm as saídas aqui X, Y e Z.
Isso significa que [no que se refere aos] astrólogos tradicionais quando
olhavam o céu, quando olhavam Júpiter ou Saturno, por incrível que pareça, a
atribuição de poderes aos planetas – a esses “pontos luminosos no céu” – é muito
tardia na história da astrologia. A astrologia mais antiga é assim: os planetas, esses
pontos luminosos, significam divindades. Por que eles pensavam assim? Porque eles
pensavam que, em geral, todas as coisas significavam divindades. Porque para
explicar por que uma coisa é, você acaba tendo que recorrer a uma divindade. É
claro que estamos usando o conceito de divindade num sentido muito amplo: um
princípio universal qualquer é considerado aqui como divindade.
Agora, se você considerar que tudo significa divindades, você começa então a
listar para si mesmo que divindade cada coisa significa. Por exemplo, o Sol significa
o quê? Pense assim: você acredita que só há um Deus, não é? Então, se Deus fosse o
Sol, quais seriam as suas características? Como você analisa isso? Do mesmo jeito
que você analisa a expressão de uma pessoa quando você conversa com ela. “O
sujeito está concordando comigo? Está entendendo? Ele não está entendendo? Ele
gosta? Ele não gosta? Como você analisa isso?”. É simples: uma pessoa que está
entendendo tem uma expressão assim; uma pessoa que está concordando tem uma
expressão assado; uma pessoa que está gostando tem uma expressão assado. De uma
aparência você infere um estado interior. Assim, se você pensar nas coisas naturais
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Introdução ao Simbolismo Astrológico – Aula 04
Prof: Nesses termos. Está certo que mais tarde, depois de banir a Astrologia,
quando se recoloca a Astrologia em termos cristãos, onde os céus representam as
esferas angélicas, e os planetas representam os anjos, que são os agentes de Deus no
mundo natural e determinam coisas, aí ela começou a parecer muito mais razoável.
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ser completamente incompatíveis. Então, ainda que o sistema solar tenha sido
produzido por uma conjunção de causas aleatórias, uma sequência de eventos
meramente possível, ou seja, em que não existe um agente dirigindo etapa por etapa
do processo – e assim simplesmente as forças naturais cegas formaram o sistema
solar e outras forças naturais cegas formaram você nesse sistema solar –, ainda que
essas duas linhas de causa e efeito sejam completamente independentes eles não
podem ser incompatíveis. A linha causal que produziu você como um ser vivo não
como poderia produzir você tão grande que fosse maior do que a Terra, por
exemplo, ela tem que fazer você compatível com o sistema solar no qual você vive.
Você só pode surgir e existir aqui de modo compatível com o mundo no qual você
existe.
Acontece que, nos seres naturais, esses princípios não são conceitos abstratos
ou proposições ou axiomas, eles são o tecido da existência das coisas. Por exemplo,
vamos estudar a teoria da gravidade, aí há um monte de equações, demonstrações,
teoremas etc.; mas na Terra a gravidade não é um conjunto de equações e conceitos,
ela é um aspecto da sua existência, é um modo do seu ser. E o mesmo vale para
esses princípios universais de que estamos falando.
Isso significa que os signos do zodíaco não significam direções do espaço, mas
as direções do espaço percorridas pelo Sol existenciam certos princípios, que você
também existência – elas existenciam como órbita do Sol e você existencia como ser
humano. Do mesmo modo temos aqui a teoria da gravidade, com axiomas e tal, mas
em você gravidade é isto que você está sentindo quando você tenta levantar da
cadeira; isto que você está sentindo é um modo da sua existência, é um modo de
efetivação dessa teoria, desses axiomas e teoremas. O que existe na sua mente como
hipótese científica, existe no seu corpo como uma resistência à ascensão; não há
nada de estranho nisso. E no Sol, não existe como uma resistência à ascensão, mas
como uma força pela qual ele prende os planetas em torno dele. São três entes
diferentes.
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pela qual os planetas giram em torno do Sol e não parece essa equação [da
gravidade]. Embora sejam análogos, eles não são análogos do ponto de vista
sensível, quer dizer, você olha a fórmula da gravidade e não tem a sensação de algo
pesado, porque a teoria da gravitação não foi concebida para parecer, para gerar em
você a sensação do que o Sol está fazendo com os planetas e a Terra está fazendo
com o seu organismo. Mas que esses fenômenos são análogos, são.
Mais ainda: estas duas se parecem com uma terceira, que não é bem uma coisa,
é um princípio das coisas. O que é esse terceira coisa? Veja, tudo o que é composto
de forma e matéria, como você, a mesa, o Sol etc., é algo contingente. Nenhuma
coisa composta de duas outras vem a ser composta de duas outras por si mesma,
tudo o que é feito de duas peças teve que ter essas duas peças juntadas, unidas (é
evidente!), seja por uma força cega aleatória, seja por uma força inteligente, seja
qual for, teve que existir um agente que é distinto das duas peças. Mais ainda: esse
agente teve que realizar algo para juntar essas duas peças – houve alguma operação
pela qual essas duas peças se tornaram uma só. Ele teve que ser de algum modo
eficiente. Para você unir duas peças você tem que fazer alguma força: uma está aqui,
outra está lá, você tem que colocá-las juntas. Enquanto elas permanecerem unidas,
há nesta coisa composta de duas peças ainda um efeito na sua ação de unir, e estas
duas peças se mantêm unidas enquanto esse efeito subsistir. Pois bem, este efeito é o
coração da coisa, é o sinal do produtor no produzido. Que este efeito tem que existir
em qualquer coisa composta de forma e matéria é um fato. É este efeito que é
simbolizado pelo Sol na astrologia. O Sol astrológico é inúmeros efeitos que existem
nos inúmeros seres que são compostos de forma e matéria.
O que queremos dizer em última análise é o seguinte: Gêmeos não existe, Áries
não existe, o que existe são coisas que podem ser adequadamente descritas de
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Existe um estágio a partir do qual é evidente que isto é outra coisa. Em algum
estágio da produção da mesa você percebe que aquilo é uma mesa, e não
simplesmente a ação do marceneiro. Existe um momento em que se torna evidente.
É o primeiro momento em que o movimento (ou o efeito) se torna o efeito dos
produtores na coisa. Isso significa que o efeito foi assimilado pela coisa e ela passou
a ser evidentemente o que ela é. É esta evidência, que define a coisa, que é análoga
ao Sol.
Quando o conjunto de fatores eficientes que produz a coisa toma uma forma na
coisa, e então você sabe: “Isto é outra coisa”. Não é mais uma célula do meu corpo,
ou uma célula do corpo dos pais, agora é evidente que é outra coisa. Ou: “Isto não é
só madeira cerrada, furada, etc.; isto aqui é uma mesa”. Quando olhamos o céu à
noite ele vai para fora, ele se expande indefinidamente, e quando o Sol nasce ele se
vira para você, evidentemente. O Sol é o único astro que você tem certeza de que
nasceu ou não. Do mesmo jeito, um sistema solar é um sistema solar quando um
astro passou a ter este papel central. Deu para perceber como todos esses processos
são análogos?
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Introdução ao Simbolismo Astrológico – Aula 04
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[INTERVALO]
Aluno: [inaudível]
Prof: Sim. Quer dizer: “O Sol, tudo bem, mas e essas direções do espaço?
[signos e casas] Por que diabos elas significam alguma coisa?”. Vamos chegar lá,
mas isso vai ficar para a próxima aula. O que eu queria hoje era falar não do
simbolismo astrológico especificamente, mas desses princípios em jogo.
Se, além do Sol ter um significado, a direção do espaço em que ele está
também tiver um significado, basta você juntar todas essas analogias e ver o
seguinte: de certo modo a posição astrológica do Sol indica o tipo das suas escolhas
fundamentais. O tipo aqui quer dizer: do que eu lanço mão interiormente para fazer
uma escolha?Basta você pensar assim, como já falamos: se nós vamos fazer uma
cirurgia e somos especialistas nessa cirurgia, as nossas conclusões podem ser muito
semelhantes – a não ser que o caso não seja abarcado pela nossa ciência, que seja um
caso duvidoso. Mas suponha que não seja um caso duvidoso, é um caso que já foi
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estudado e está mais que sabido; todos nós então vamos concordar no que teremos
que fazer com esse paciente. Porque, como nós falamos, se o conjunto de conceitos
para analisar a situação pode ser inferido intelectualmente, é fácil chegar a uma
conclusão. Mas numa situação que não conhecemos, em que temos que tomar uma
decisão e ninguém sabe como pensar essa situação, cada um de nós vai pensá-la de
um jeito. E, veja bem, vamos pensá-la de um determinado jeito, a partir daquilo que,
sem ter que pensar, cada um sabe que pode fazer [ou seja: pensaremos a situação a
partir das nossas possibilidades de ação, sem necessidade de parar para refletir
nestas últimas].
Quando dizemos que você sabe, significa que isso está lá no fundo – é o
recurso do qual você lança mão quando ignora a situação. É evidente que esse
recurso não funciona para todas as situações. Não há nenhum recurso humano que é
válido para todos os problemas humanos. Enquanto você foi aprendendo que tinha
aquele recurso e que aquele recurso não servia para muitas situações, você também
foi aprendendo a preferir certas situações em relação a outras. Por quê? Porque você
não é idiota. Tanto que se você sentar em casa para fazer uma lista de 50 problemas
humanos diferentes, todos horríveis e graves, e dizer: “eu vou ter que escolher 5”,
você vai notar que há situações que você prefere enfrentar – estas mais do que
aquelas. Às vezes é porque você estudou aquela situação e sabe resolver; às vezes é
só porque você acha: “Eu acho que vou conseguir me dar bem nessa e não naquela”.
Pense assim: você vai ter uma doença que, ou causa muita dor, ou que não causa
muita dor, mas causa imobilidade, e assim por diante. Este é um segundo grau de
efeito astrológico.
Veja bem, este primeiro grau (as capacidades de que você dispõe
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Aluno: Ou já passou.
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Transcrição: Renata Lins, Lucas Oliveira, Caio Marcos, Tamyrys Fernandes, Michael Santos
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