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Lecionou Estética na Universidade do Distrito Federal (1938)
e trabalhou no projeto da Enciclopédia Brasileira, na qualida•
de de alto funcionário do Instituto Nacional do Livro. Espíri
to fecundo e infatigável, escreveu ainda Belazarte, contos,
publicado em 1934; O Aleijadinho e Álvares de Azevedo,
ensaio, 1935; Poesias, 1941; O Baile das Quatro Artes e As
pectos da Literatura Brasileira, ensaios, 1943; O Empalhador
de Passarinho, ensaio; e Contos Novos, no qual firmou prest í
glo como mestre no gênero. Com Lira Paulis'tana e O Carro da
Miséria, vindos à luz postumamente, e num só volume em
1947, a poesia de Mário de Andrade impregnou-se de preocu•
pação social, enriquecendo-se de uma nova dimensão.
Mário de Andrade faleceu em São Paulo em 25 de feverei
ro de 1945.
l
-�- .. -- --- ·
EDICÃO COMEMORATIVA
DO 50º ANIVERSÁRIO DA
SEMANA DE ARTE MODERNA
1922 -1972
,,
1972
l...:
ensaio sôbre
8 - Lira Paulistana.
9 - O Café.
AMAR, VERBO INTRANSITIVO (Romance).
a música brasileira
MACUNAíMA {rapsódia).
OS CONTOS DE BELAZARTE.
ENSAIO SOBRE A MÚSICA BRASILEIRA.
1 - Ensaio sobre a Música Brasileira.
2 - A Música e a Canção Populares no Brasil.
MÚSICA, DOCE MÚSICA.
1 - Música, doce Música (crítica).
2 - A Expressão Musical nos Estados Unidos.
PEQUENA HISTÓRIA DA MÚSICA.
NAMOROS COM A MEDICINA.
1 - Terapêutica musical.
2 - A Mediei.na dos E'scretos.
ASPECTOS DA LITERATURA BRASILEIRA (ensaios literários).
1 - Aspectos da Literatura Brasileira.
2 - Amor e Medo.
3 - O Movimento Modernista.
4 - Segundo Momento Pernambucano.
ASPECTOS DA MÚSICA BRASILEIRA (ensaios Musicais).
1 - Evolução Social da Música no Brasil.
2 - Os compositores e a Língua Nacional.
3 - A pronuncia cantada e o Problema do Nasal, pelos Discos.
4 - O Samba Rural Paulista.
5 - Cultura Musical.
ASPECTOS DAS ARTES PLÁSTICAS NO BRASIL.
1 - O Aleijaclinho.
2 - Lasar Segall.
3 - Do Desenho.
4 - A Capela de Santo Antônio.
MÚSICA DE FEITIÇARIA NO BRASIL.
O BAILE DAS QUATRO ARTES (ensaios).
1 - O Baile das Quatro Artes.
2 - Arte lnglêsa.
OS FILHOS DA CANDINHA (crônica).
&
PADRE JESUfNO DO MONTE CARMELO.
CONTOS NOVOS. (
. DANÇAS DRAMÁTICAS DO BRASIL (folclore).
MODINHAS IMPERIAIS.
EMPALHADOR DE PASSARINHO (crítica literária) .
ensaio sôbre
a música brasi eira
3.ª edição
i
ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA
SUMARIO
l<�xpli<'.:ição 7
NKL,�tn; ooitoa
I - Instituições Públicas ................ 167
II - Discografia ....................... 169
III - Bibliografia sôbre a Música dos ame
SEDE - EDIFÍCIO MÁRIO DE ANDRADE ríndios do Brasil ................... 171
RUA ROCHA, 274 - SÃO PAULO
FILIAIS - RIO DE JANEIRO, SALVADOR J V - Bibliografia sôhre a Música Popular
BELO HORIZONTE, LONDRINA Brasileirn
EXPLICAÇÃO
Oneyda Alvarenga
L A PARTE
Ensaio sôbre a
Música Brasileira
MÚSICA BRASILEIRA
nenhuma. O que deveras êles gostam no brasilei Europa completada e organisada num estadio de
rismo que exigem a golpes duma crítica aparente civilisação, . campeia el�mentqs._e!lt1.'.1l:!1!t_Qê_P_!:_a S!3_},i
mente defensora do patrimônio nacional, não é a bertar d�__ §ll._:tgElSi:!1ª· Uomo a gente não tem gran
expressão natural e necessaria duma nacionalidade deza social nenhuma que nos imponha ao Velho
não, em vez é o exotismo, o jamais escutado em Mundo,
_ nem filosofica que nem a Asia, nem eco
música artistica, sensações fortes,_ya.tapá,-.;j_a_ciaré, nonuca que nem a America do Norte, o que a Eu
vitoria-regia. ropa tira da gente são elementos de exposição uni
Mas uni elemento importante coincide com es versal: exotismo divertido. Na música, mesmo o�
sa falsificação da entidade brasileira: opinião de europeus ql!_e__..Yisi:fãm_a_gent_e_J;>erseveram nessa
europeu. ó diletantismo que pede música só nos procura do exquisito apimentado. Si escutam um
sa está fortificado. pelo que é bem nosso e consegue õatuque brabo mmto que bem, estão gosando po
o aplauso estrangeiro. Ora por mais respeitoso rêm si é modinha sem síncopa ou certas ef�sões
que a gente seja da crítica europeia carece verifi liricas dos tanguinhos de Marcelo Tupinambá Isso
car duma vez por todas que o sucesso na Europa é musica ·italiana! falam de cara enjoada. 'E os
não tem importancia nenhuma prá Musica Brasi que são, sabidos. se metem criticando e aconselhando'
leira. Aliás . a expansão do internaciorialisado o que e pengo vasto. Numa toada num acalanto
Carlos Gomes e a permanencia alem-mar dele pro num abôio desentocam a cada passo frases fran
va que a Europa obedece á genialidade e a cultua. cesas russas escandinavas. Às vêzes especificam
Mas no caso de Vila-Lobos por exemplo é fácil que é R?ssini, que é Boris. UJ Ora o quê que tem
enxergar o coeficiente guassú com que o e�otism.9 a �usica Brasileira com isso ! Si :AIIilk parece com
concorreu pro sucesso atual do_ artista. H. Pru Milch, as palavras deixam de ser uma inglesa outra
nieres confessou isso francamente. Ninguem não alemã� . O que a gente pode mas é contastar que
ambas vieram dum tronco só. Ninguem não lem
imagine que estou diminuindo o valor de Vila-Lo
bos não. Pelo contrário: quero aumenta-lo. .ª
t,ra de atacar i�alianidade de Rossini porquê tal
Mesmo antes da JJSeudo-música indigena de agora frase dele conrnide com outra da opera-comica
Vila-Lobos era um grande compositor. A gran francesa.
deza dele, a não ser pra uns poucos sobretudo Artur Um dos conselhos europeus que tenho escuta-
Rubinstein e Vera Janacopulos, passava desper do bem é que a gente si quiser fazer música nacio- p '"' \.-. c1,..._
. cebida. Mas bastou que fizesse uma obra extrava nal tem que campear elementos entre os aboríge-
gando bem do continuado pra conseguir o aplauso. nes pois que só mesmo êstes é que são legitimàmente v,' \.,,, e,;
Ora por causa do sucesso dos Qito Batutas ou �- Isso é uma puerilidade que inclui ''rv-- 1 ;,»,... ..._
do chôro de Romeu Silva, por causa do sucesso ar ignor:incia dos p7oblemas sociologicos, etnicos psi- o , "'--1---,";1,-.,
tistico mais individual que nacional de Vila-Lobos, cologicos e esteticos. Uma arte nacional não se h., M, X' )(_
só é brasileira a obra que seguir o passo deles� O (1) Tôdas estas afirmativas já foram escutadas por mim' de estranhos "'-
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fazeudo inventário do que é nosso.
valor normativo de sucessos assim é quasi nulo. A
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faz com escôlha discricionaria e diletante dé ele J i::Jalduui, Sclrnmnnnfona são músicas brasileiras.
mentos: uma arte nacional já está feita na incons-J
. . . . pr9s.
4 Toda opinüio em contrário é perfeitamente covar
ciencia do povo. O artista tem só q1!�_1a:r de, antinacional, anticrítica.
-- elementos já existentes uma fraiisposição . erudita E afirmando _assim não faço mais que seguir
que_façada música popular;músicl! !t"rffstfoa,-isto um criterio universal. As escolas etnicas em mú
é: imedifameiite-desinteressada. O homem . da na- sica são relativamente recentes. Ninguem não lem
1-çaoBra�il lioJe, está-mais âfàstado do ameríndio bra de tirar do patrimonio italico Gregorio Magno,
que do japonês e do hungaro. O elemento amerín Marchetto, João Gabrieli ou Palestrina. São ale
dio no populario brasileiro está psicologicamenté mães J. S. Bach, Haendel e Mozart, tres csniritos
assimilado e praticamente já é quasi nulo. Brasil perfeitamente universais corno formação e �té co
é uma nação com normas sociais, elementos raciais mo caracter de obra os dois ultimos. A França então
e limites geograficos. O ameríndio não participa se apropria de Lulli, Gretry, Meyerbeer, Cesar
dessas coisas e mesmo parando em nossa terra con Franck, Honnegger e até Gluck que nem fran
tinua ameríndio e não brasileiro. O que eviden ceses são. �a obra de José Maurício e mais for
temente não destroi nenhum dos nossos deveres temente na de Carlos Gomes, Levy, Glauco Velas
pra com êle. Só mesmo depois de termos praticado (1uez, Miguez, a gente percebe um não-sei-quê in
os deveres globais que temos pra com êle ê que definível, um rúim que não é rúim propriamente,
podemos -exigir dele a prática do dever brasileiro. ? um riíim exrzuisito pra me utilisar duma frase
Si fosse nacional só o que é ameríndio, tam ,1e �fanuel Bandeira. Êsse não-sei-quê vago mas
bem os ítalianos não podiam empregar o orgão que geral é uma__J_2rimeira fatalidade de_raça badalan�
é egípcio, o violino que é arabe, o cantochão que é âo longe. Então na lírica ele Nepomuceno, Fran
grecoebraico, a polifonia que é nordica, anglosaxo éisco Braga, Henrique Osvaldo, Bárroso Neto e
nia flamenga e o diabo. Os franceses não podiam outros, se percebe nm parentesco psicologico bem
usar a ópera que é italiana e muito menos a forma forte já. Que isso baste prá gente adquirir agora
-de-sonata que é alemã. E como todos os povos da já o criterio legítimo de música nacional que deve·
Europa são produto de migrações preistoricas se ter uma nacionalidade evolutiva e livre.
conclui que não existe arte europea ... Mas nesse caso um artista brasileiro .escreven
Com aplausos inventarios e conselhos dêsses do agora em texto alemão sobre assunto chinês, mú
a gente não tem que se amolar. São fruto de igno sica da tal chamada de universal faz música brasi
racia ou de �- Nem aquela nem leira e é músico brasileiro. Não é não. Por mais
êste não podem servir pra criterio dum julgamen sublime que seja, não só a obra não é brasileira
to normativo. como é antinacional. E socialmente o autor dela
Por isso tudo, Musica Brasileira d_exe--de-signi deixa de nos interessar. Digo mais: por valiosa
J-.t,,•t?
0f..h 1,
....., \-,,-!h-.
ficar toda música nacional o cria ão uer tenha
quer não tenha caracter triico. O padre Maurício,
que a obra seja, devemos repudia-la que nem faz a
Russia com Strawinsky e Kandi�sky.
VO\, Lrv C·�-, h' h
�) C.-1 �,\�� � e.,.� o ve, !_ ,--\ te ( i' ( ,{ l -\..,
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JJeuwl e Salvador Ilosli, temos que reconhecer que e Paraná sii.o documentos conhecidos pelo menos
êsse criterio é pelo menos ineficaz pra julgar as em todo o centro litoraneo do país. E 1un ou outro
obras dos atuais menores de quarenta anos. Isso documento esparso da zona gaúcha, matogrossense,
é lógico. Porquê se tratava de estabelecer um cri goiana, caipira, mostra belezas porêm não basta
tério geral e transcendente si referindo à entidade pra dar conhecimento dessas zonas. Luciano Gal
envolutiva brasileira. Mas um critério assim é ine let está dcmostrando já uma orientação menos re
ficaz pra julgar qualquer momento historico. Por gionalista e bem mais 1nteligente com os cadernos
quê transcende dele. E porquê as tendencias his de Melodias Populares Brasileiras ( ed Wehrs e
toricas é que dão a forma que as ideas normativas
Cia. Rio) porêm os trabalhos dele são de ordem
revestem.
positivamente artistica, requerendo do cantor e do
O criterio de música brasileira prá atualidade acompanhador cultura que ultrapassa a meia-fôrça.
deve de -existir em relação á atualidade. A atua E requer o mesmo dos ouvintes. Si muitos dêsses
lidade brasileira se aplica aferradamente a nacio
trabalhos são magníficos e si a obra folclorica de
nalisar a nossa manifestação. 0oisa que pode ser
feita e está sendo sem nenhuma xenofobia nem _im- L. Gallet enriquece a produção artística nacional,
r, , ,c perialismo. O critério histori,·o atual ela J\.lúsic:a é incontestavel que não apresenta possibilidade ck
J 1 p
Brasileira é o da manifgatação-musicaLq.uc____s�:i expansão e suficiencia de documentos pra se tor
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- V "- feita por brasileiro o'u ind.ivid.uo-na<:;ionalisado,re
_ - ::t'·"""i- flef_f�as_caractg_ristic11s_.mnsicais_claJaça.
nar crítica e prática. Do que estamos carecendo
imediatamente é dum harmonisado!'...5imples_mas
-ti, -�. · :) -- Onde que estas estão� :N"a música popular. crítico também, capaz de se cingir á manifestação
1,;1l�-' popular e representa-la com integridade e efieien
MüSICA POPULAR E MúSICA ARTISTICA cia. Cãrecemos dum '1'1ersot, dum Franz Korbay,
dum Moller, dum Coleridge Taylor, dum Stan
Pode-se dizer que o populario musical brasi
ford, duma Ester Singleton. Harmonisações du
leiro é desconhecido atcS de nós mesmo,. \'ivemos
ma apresentação crítica e refinada mas facil e
afirmando que é riquissinio e .bonito. Estú certo.
absolutamente adstrita á manifestaçii.o popular.
Só que me parece mais rico e bonito do que a gente
imagina. E sobretudo mais complexo. Um dos pontos que provam a riqueza do nosso
Nós conhecemos algumas zonas. Sobretudo populario Sl'l' maior do que a gente imagina é o
a carioca por causa elo ._maxixe impresso e por cau ritmo. · Seja porquê os - compositores de maxixes
sa da predominancia expansiva da Cõrte sobre os e cantigas impressas não sabem grafar o que
Estados. Da Baía tambem e do nordeste inda a executam, sc;ja porquê dão só a síntese essencial dei
gente conhece alguma roisa. E no geral por in xando as subtilezas prá invençii.o do cantador, o
termedio da Côrte. Do resto: praticamente nada. c•.erto é qne uma obra executada difere ás vezes
O que Friedenthal r<'gistrou como de Sta. Catarina '--- totalmente do que está escrito. Do famanado
22 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 23
Pinião pude verificar pelo menos 4 versões rítmi PINIÂO (analise prosodrca da versão popular).
cas diferentes, alem de variantes melodicas no J:se. .,
Ih ;J Iww1w I n Jj13 íU J Ij I Ll u W7
PINIÃO (verslo impressa ed. C. Wehrs e Cia, Rio).
efeito da peça. Tambem muito documento brn
j sileiro é assim, principalmente os do cent.ro
P!Jll. io, plnl.lo,pllll .io,01, plntocor.re11 commedodoga.Tti,o· Parlno =•mo nbl. í: e1,11\GJ1
mineiro-paulista e os da zona tapuia. Não falo
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�,,�fl trtttr1t r zr �=Jf1
11 dos sulriograndenses porquê inda não cseutei n<:'
_ BbLte11aa& e To. ou I foi C10.111ermelõ.o! nhum cantador gaúcho, não sei. JUas o mesmo
Piniüo: pinião, ·phüü.o, não se dá com as danças cariocas e grande número
Oi pinto correu com medo rlo gavião de peças nordestinas. Porq11i'• nc�tns zmia6 os
Por isso mesmo sabiá cantou
:m bateu asa r '\'oou cantadores se aproveitando dos ,·,dores prosodieos
E foi eomer melão! da fala brasileira tiram dela elf'HH•ntos específicos
essenciais e imprescindíveis de 1·i tmo mnsical. E
PINIÂO (slnteae poastveJ da verslo pepular).
de melodia t ambem. Q§_J11a:::iig_�_i111pressns ,Jt,
f�1 1 iil iwu.riJl r IP) .JJJíJ,ru ice r·ru7
1
Plat.&11, p!Jll.io, plnl. io, Oi, pinto correu Mm medodop.,.llo Porh•o •umo ■-..bl .á eut111
Sinhô são no geral banalidades rne!ÕcTicas. ExP
rjitados, são peças soberbas, �l _1_11�l_f!.<!i_a __�e__tnms
figurando ao ritmo-novo. E quanto ú peça nor
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lla.1t11 t..u. noa Foi eo,. mhl1111e.lio!
•!I destina ela se ap-;_�ema nrniias feitas com uma
· Pinião, pinião, pi.nião: rítmica tão subtil que se torna q11asi irnpossivel
Oi, pinto eorre11 1•nm uiedri {lo gavião grafar toda a realidade dela. J:>rilwipalmente
Por isso meamo s:ihift c.rmt,111
Bateu aea voou porquê não é apenas proso,li,·a. Os nordestino�
Foi comê ( r) mcJão ! se utilisam uo cauto dum lnisser 11llrr contín110,
24 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 25
de fetitos surpreendentes e muitissimas vezes de um preconceito. Tudo depende da eficaeia do
natureza exclusivamente musical. Nada tem de : ,reconceito.
prosodico. É pura fantasia duma largueza ás ve Cabe lembrar mais uma vez aqui do quê é feita
zes malinconica, ás vezes cornica, ás vezes ardente, a música brasileira. Embora chegada no povo a
sem aquela tristurinha paciente que aparece na uma expressão original e etnica, ela provêm de
zona caipira. fontes estranhas: a arnerindia em porcentagem pe
Porêm afirmando a grandeza do Nordeste quena; ;i. africana em porcentagem bem ma�or;
musical não desconheço o valor das outras zonas. a portuguesa em porcentagem vasta. Alem disso
.Alguns dos cantos tapuios, os fandangos paulistas a influencia espanhola, sobretudo a hispanoameri
de beiramar, os cantos gaúchos isentos de qualquer cana do Atlantico ( Cuba e Montevideo, habanera
hispanoamericanisnio, expostos na segunda parte e tango) foi muito importante. A influência
dêste livro mostram os acasos de ensinamento e europea tambem, não só e principalmente pelas
honiteza que deve reservar uma exploração deta danças (valsa polca mazurca shottsh) como na
lhada do populario. formação da modinha. (Il De primeiro a modinha
de salão foi apenas uma aco:rp.odação mais aguada
Pelo menos duas lições macotas a segunda da melodia da segunda metade do. sec. XVIII
[ parte dêste livro dá prá gente : o caracter nacional europeu. Isso continuou até bem tarde como de
generalisado e a destruição do preconceito da mostram certas peças populares de Carlos Gomes
síncopa. e principalmente Francisca Gonzaga.
Por mais distintos que sejam os documentos Alem dessas influências já digeridas temos
regionais, êles manifestam aquele imperativo
l
! etnico pelo qual são facilmente reconhecidos por
' 1 nós. Isso me comove bem. Alem de possuírem
que contar as atuais. Principalmente as america
nas do jazz e ao· tango argentino. Os processos
do jazz estão se infiltrando no maxixe. Em re
pois a originalidade. que os diferença dos estra- corte infelizmente não sei de que jornal guardo
nhos, possuem a totalidade racial e são todos pà um samba macumbeiro, Aruê de Changô de João
tricios. A músfo.a_popula-r-brasi:l:ei;J,�s da Gente que é documento curioso por isso. · E
_qQmpleta,.Jnais__toialmente nacional, mais forte tanto mais curioso que os processos polifonicos e
,,- -- -----�-"---
criação da nossa raça até agm::a. rítmicos de jazz que estão nele não prejudicam
.....
Pois é com a observação inteligente do popu em nada o carater da....pJ)Ç_a. É um maxixe legíti
lario e aproveitamento dele que a música artística mo. De certo os antepassados coincidem ...
se desenvolverá. Mas o artista que se mete num (ll Album de música nns Reise i1n Brasilitm, Spix e Martius; a peça
registrada por Langsdorff na Viagem ao redor do mundo; as peças aôbr e
trabalho dêsses carece alargar as ideas esteticas _
Marllia de Dirceu no Cancioneiro Português de Cesar das Neves e Gualdi
sinão a obra dele será ineficaz ou até prejudicial. no de Campos (vols. 19, 21, 29, 32, 43, 44, 47 e 50; ed. Cesar Campos e
Cia. Porto); modinhas do padre Maurício e outros no Cancioneiro Fl11-
Nada pior que um preconreito. Nada melhor que 11i.h1,ense de Mello Morais, etc.
26 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 27
Bem mais_ deploravel é a expansão da melodia cho E nisto que eu queria chegar: o artista não
rona do tango. E infelizmente não é só em tan deve ser nem exclusivista nem unilateral.
gos argentinos ... de brasileiros que ela se mani
festa. Tem uma influência evidente do tango em Si a gente aceita como um brasileiro só o exces
certos compositores que prêtendem estar criando sivo ca,8cteristico cai num exotismo que é exotico
até pra nós. O que faz a riqueza das principais
\ a ... Canção Brasileira! Estão nada. Se apro
( veitam da facilidade melodica pra andarem por escolas europeas é justamente um caracter nacio
· aí tangaicamente gemendo sexualidades panemas. nal incontestavel mas na maioria dos casos inde
finível porêm. 'l;odo o caracteL-ex.Qflssivo �
Está claro que o artista deve selecionar a . or ser excessivo é objetivo e exterior em vez de
documentação que -vai-ll1!J. servir de estua:o ou de psicologico, e perigoso. a iga e se torna faci]:
báse. Mas por outro lado nao Ueve cair num mente banal. É uma pobreza. É o caso de Grieg
exclusivismo reacionario que é pelo menos inutil. e do proprio Albeniz que já fatiga regularmente.
A reação contra o que é estrangeiro deve ser feita A obra polifonica de Vittoria é bem espanhola
espertalhonamente pela deformação e adaptação sem ter nada de espanholismo. E felizente prá
dele. Não pela repulsa. Espanha que os trabalhos de Pedrell e autores
Si de fato o que já é Qaracteristicamente bra como Joaquim Nin, Halfter, Falla estão alargando
sileiro deve nos interessar mals, si é preconceito as possibilidades do tatatá rítmico espanhol.
útil preferir sempre o que temos de mais caracte O exclusivista brasileiro só mostra que é igno
rístico: é preconceito prejudicial repudiar como rante do fato nacional. O que carece é afeiçoar os
estrangeiro o documento não apresentando um grau elementos estranhos ou vagos que-nem fizeram Levy
objetivamente reconhecivel de brasilidade. A com o ritmo de haban():ra do "Tango Brasileiro"
marchinha central dos admiraveis Chôros n.0 5 de ou Vila-Lobos com a i:nárchinha dos "Chôros n.0
Vila Lobos (Alma Brasileira ed. Vieira Machado, 5" praquê se tornem nacionais dentro da manifes
Rio) foi criticada por não ser brasileira. Quero tação nacional. Tambem . si a parte central da
só saber porquê. · O artista se utilisou dum ritmo "Berceuse da Saudade" de Lourenço Fernandez
e dum tema comu_ns, desenvolvidos dum elemento (op 55 ed Bevilaqua) constituísse uma obra iso
anterior <la peça, tema sem caracter imediatamente lada não tinha por onde senti-la brasileiramente.
etnico nenhum, tanto podendo ser brasileiro como Porêm essa parte se torna nec;essariamente brasi
---
turco ou francês.. Não vai em nada contra a mu leira por causa do que a cerca.
sicalidade nacional. Portanto é tambem brasileiro
não só porquê o pode ser como porquê sendo in Mas o característico excessivo é defeituoso
ventado por brasileiro dentro de peça de carcter apenas quando virado em norma unica de criação
nacional e não levando a música pra nenhuma ou critica. Ele faz parte dos elementos uteis e
outra raça, é necessariamente brasileiro. até, na fase em que estamos, deve de entrar com
l
28 MÁRIO DE ANDRADE
ENSAIO SÔBRR A MÚSICA BRASll,füHA 29
frequencia. Porqitê é por meio dele que a .r;entc vanês, <lo canto achanti, e outros atrativos delicil)
poderá com mais firmeza e rapidez determiniir r sos mas passageiros de exposição universal.
normalisar os caracteres etnicos permanentes da O que a gente deve mas é aproveitar todos os
musicalidade brasileira. elementos que concorrem prá formação permanente
Outro perigo tamanho como o exclusivismo é da nossa musicalidade etnica. Os elementos ,i,
unilateralidade. Já escutei de artista nacional que ameríndios servem sim porquê existe no brasileiro
_ a · nossa música tem de ser tirada dos indios. uma porcentagem forte de sangue guarani. E o
Outros embirrando com guaraní afirmam que a documento ameríndio propriedade nossa mancha
verdadeira música nacional é. . . a africana. agradavelmente de estranheza e de encanto soturno
O mais engraçado é que o maior número manifesta a música da gente. Os elementos africanos servem
antipatia por Portugal. Na verdade a música francamente si colhidos no Brasil porquê já estão
portuguesa é ignorada aqui. Conhecemos um ati afeiçoados á entidade nacional. Os elementos
lho de pecinhas assim-assim e conhecemos por de- onde a gente percebe uma tal ou qual influência
' mais o fado gelatinento de coimbra. Nada a gen portuguesa servem da mesma forma.
L te sabe de Marcos Portugal, pouquíssimo de Rui
Coelho {; nada do populario portuga, no entanto O compositor brasileiro tem de__se basear quer
bem puro e bom. como docl11!1entação quer como -ins�cãoriõ-l'õT-
·-cifore:·--Este, em muitas manifestações caracteris
Mas por ignorancia ou não, qualquer reação ·ri.qüissimo, demonstra as fontes donde nasceu. O
contra Portugal me· parece perfeitamente boba. compositor por isso não pode ser nem exclusivista
Nós não temos que reagir contra Portugal, temos é nem unilateral. Si exclusivista se arrisca a fazer
de não nos importarmos com êle. Não tem o mini da obra dele um fenomeno falso e falsificador. E
mo desrespeito nesta frase minha. É uma verifi sobretudo facilmente fatigante. Si unilateral, o
cação de ordem estetica. Si a manifestação bra artista vira antinacional: faz música ameríndia,
sileira diverge da portuguesa muito que bem, �i africana, portuga ou europea. Não faz música
coincide, si é influência, a gente deve aceitar a brasileira não.
coincidencia e reconhecer a influência. A qual é ,,
não podia deixar de ser enorme. E reagir contru RITMO
isso endeusando boróro ou bantú é cair num uni
lateralismo tão antibrasileiro como a lírica de
Glauco Velasquez. E aliás é pela ponte lusitana Um. livro como êste não comporta discussão
( que a nossa musicalidade se tradicionalisa e justi de problemas .gerais do ritmo. Basta verificar
\'---- fica na cultura: europea. Isso é um bem vasto. É que estamos numa fase de predominancia rítmica.
Neste capítulo o principal problema pra nós é oâa º
-
o que evita que a música brasileira se resuma á
curiosidade esporadica e exotica do tamelang ja- síncopa.
- 3
:30 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 31
A música brasileira tem na síncopa uma das Já não é possível verificar a mesma coisa do
constancias dela porêm não uma obrigatoriedade. canto africano pelas melodias que jYianuel Quirino
E mesmo a chamada "síncopa" do nosso popula registrou na Baía porêm no populario brasileiro
rio é um caso subtil e discutivel. Muitas vezes a dos lundús e_ dos batuques impressiona a frequen
gente chama de síncopa o que não o é. c'iaUe-:fráses cüinpôsfii.s pela repefagão sist!ili:\afica
O conceito de �/vindo nos dicionarios dum só valor de tempo bem pequeno (semicolcheia).
nas artinhas e nos Ü�ros-:-sobre ritmica, é tradicio Os nossõs·-artistasreconlieciainõêm isso e quando
nal e não vejo precisãü" de contraria-lo, está certo. pastichavam o africano, corno é o caso de Gomes
O que a gente carece verificar é que êsse conceito Cardim no "Nossa gente já está livre ... " (Melo
muitas feitas não corresponde aos movimentos dias Populares Brasileiras, Luciano Gallet, ed.
ritmicos nossos a que chamamos de síncopa. Me cit.), usavam e abJ.i,sav:am..dêssr§__processos orat_orios
----
. -••---a--·-,-___,___ •
parece possível afirmar que se - deu um conflito d.e ritmqi. Inda mais: em certas peças reconheci
grande entre as nossas tendencia e a ritmica já das· una:nimemente ou tradicionalmente como de
organisada e quadrada que Portugal trouxe da proveniencia negra como na "Ma Malia" dêste li
mvilisação europea pra ca. Os amerindios e pos- vro essas frases oratorias aparecem e chegam mes
1\fV-l�·,·v
1
• _.e"_
• sivehnente os africanos tambem se manifestavam mo a <;riar recitativos legítimos (Ver minha nota
,.,-F�' � ,.-: numa ritmica provinda diretamente da prosodia, -=::,,.__ sobre o "Lundú do Escravo" em Revista de An-
à-,'"'-''" ".· .• :J.Õi:ncidind·o pois em muitas manifestaçoes com a ---- tropofagia n.0 5 S. Paulo).
\J 0º"''' .. ritmica di§curs1va de Gregoriano. As frases
0 "' '
musicais dos indigenas de beiram'.ar conserva- Ora êsses processos de rítmica oratoria, des
das por Lery num tempo em que a ritmica medida provida de valores de tempo musfoãlcõntrastavam
inda não estava arraigada no espirito europeu, sob com a musica portuguesa afeiçoada· ao rnensura
o ponto-de-vista ritmico são verdadeiras frases de lisrno tradicidional europeu. Se deu pois na mú-
cantochão onde até as distinções aparecem. Muitas sica brasileira um conflito entre a rítmica direta- 1,_:) ._•• t'-
das registrações de Spix e Martins também impli mente musical dos portugueses e a prosodica das .... . ., 1 ;
cam essa inexistencia de ritmo exclusivamente mu músicas ameríndias, tambem constante nos africa- ",�, ' · "'· '--·
sical entre os ameríndios do centro e do norte bra nos aqui. E a gente pode mesmo afirmar que uma /cc,; ,,.,).�,
sileiro. Mesmo nos tempos de agora os livros
scientificos de mais fé musical que nem os de Koch
rítmica mais livre, sem medição isolada musical
era mais da nossa tendencia, como provam tantos
:,._ .�
Grünberg sobre os. indios do extremo-norte, de documentos já perfeitamente brasileiros que expo- :·-' •·") /
Speiser sobre os da bacia amazonica, de Colbac nho em seguida a êste Ensaio. Muitos dos cocos, \'·'-""·.,,_·.,,
chini sobre
· · o oeste brasileiro reforçam essa noção desafios, martelos, toadas, embora se sujeitando
duma de canto quasi que exclusivamente á quadratura melodica, funcionam como verdadei- "' .'-,:;
f�logica entre os in 10s. ros recitativos. ·',-.;\ 11' ·
r 1
MÁRIO DE ANDRADE
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1
Ora tt essas influências dispares e a es,;e con tente. Êsse é um geito muto comum do nosso can
flito inda aparente o · brasileiro se _acomodou, tador cantar embora já esteja reconhecido que na
fazendo disso um elemento de expressão musical. nossa prosodia não existam silabas mudas que nem
Não se pode falar diante da multiplicidade e cons ;no português ( entre outros H. Parentes Fortes
tancia das subtilezas rítmicas do nosso p.Qpulario em "Do Criterio Atual de Correção Gramatical",
que estas são apenas os desastres dum conflito Baía 1927). Recebi o "Capim da Lagoa" na gra
não. E muito menos que são exclusivamente pro fia mais ou menos legitima:
sodieas porquê muitas feitas elas até contradizem
com veemencia a prosodia nossa. O brasileiro se
' 11O@cap1mda
1# Cla. • go.•
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acomodando com os eleme:r:itos estranhos e se agei- vi. a.do co.meu
certo hei-de mostrar num livro futuro) tenha aju Ora pela grafia anterior mais sincera e pela
dado a f0'maç_ãJ:ulaíantasia-ritm�ca_d_Q_EEt�ileiro. experien.cia que tenho do nosso canto popular sei
Porêm não é possível descobrir a função dela em que trata-se do que a gente podia prosodicamen
muitas das manifestações de rítmica prosodica ou te grafar assim:
fantasista do brasileiro. E não é possível porqui>
si o som da melodia nasce na chamada parte fraca
do compasso ou do tempo e se prolonga até uma �-#h, 'í1 >lfI "'--> E W 'F· >
tuação. "Pelo contrário: o instrumento acompa Sendo que os sons não acentuados são verda
nhante é que acentua conforme a tradição coreo deiros nenmas liquescentes. prolongando em silabas
grafica e a teoria. Outras feitas a acentuação novas quasi nulas o som acentuado anterior.
do canto desorienta de fato a acentuação do com Si pois conforme o conceito tradicional da sín
passo mas o som não se prolonga porêm. Outras copa a gente assunta o nosso populario musical
feitas ainda, que nem no lindíssimo <:oco paraiba constata qUft.ll)J.ÜJ.QB movimento.s-chamados-de-sin
no do "Capim da Lagoa" a ocorrem-ia de palavraR !)_QP.ados _não _sã_o si11co.QQ. São polirritrnia ou são
paroxítonas muito acentuadas nas tesis dos tem ritmos livres de quem aceita as determinações fi
pos melodicos obrigam o cantador a tornar a sila siologicas clg arsis e -tiifüjí":Pif:i:ênC.i-g:r:iõra - (§u ·1n:
ba atona seguinte, verdadeiramente atona, inexis- :fringe ()J�º�!��e:ri!�
PE )_,1.d_o_ut:d:na_dinàmicã ra:r::
34 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 35
sa do compasso. Eis três exemplos de ritmo livre bem no fandango "Que Moça Bonita" (2.ª parte)
que nada têm de sincopa: aparece outra manifestação dêsse processo, inven
tando a mudança do · binário pra ternario. Em
vez de dar em semínimas pontuadas os sons das
silabas trêla em estrêla o que fazia a cantiga per
manecer binaria, a tradicionalisação do processo
encurtou os sons criando a introdução dum ritmo
novo. Ora tem uma diferença enorme entre a
fadiga que leva os recrutas cantando a "Canção
do Voluntário Paulista" a reduzir dois compassos
quaternários em ternários:
:N" otar no terceiro exemplo a diluição caracte
rística da síncopa em tercina com acentuação cen
tral, costume frequentíssimo em nosso geito de
�m.g ,.alor Wmoe�ubllme...
114 OI
em, �
J i 1 1UF
o.Jor Comoi, sublime.,,
--
Sãoii'[õ:"vfüieiito:S:]Tvres-defêri:ninados IJela--�-·fadiga.
São movimentos livres desenvolvidos . da fadiga.
··----------
so afirmo que tal como é real{sado na execução e � 1;-n,�L
não como está grafado no populario impresso, o c21 ; •, ,., ... -,.
sincopado brasileiro é rico. ,9. que carece_p_QÍlL<i,,' . 1
'sãÕ-moviiiÍEÍntos ]ivr�s-especiffoos -dã mõlezã'âã
r'prÕsodia
brasileira. São...mov.imenfos.Jiriiê. Il�,9: ª.
que o músico artista assunte b�.!]1 . re_l!füla_d_e }l.a -· ,__ �
·execução pop11Ja.:r.f_ 1J,,l,..e.seJ1,J!_QlY1J.... M ais uma fei-
· âceiífüãdo�,Y> · Sãó movimentos livres acentuados
tã"1embrÕ ·vilà�Lobos. É principalmente na obra
por fantasia musical, virtuosidade pura, ou por
dele que a gente encontra já uma variedade maior·
precisão prosodica. Nada têm com o conceito tra
de sincopado. E sobretudo o desenvolvimento da
dicional da síncopa e com o efeito contratempado
manifestação popular. Isso me parece importan-
dela. Criam um compromisso subtil entre o �
te. Si de fato agora que é periodo de formação �
tativo e o canto estrofico. São movimentos livres
�oxnaram:s_e es�jJicof,,,,,dâ_músi� devemos empregar com frequencia e abuso o ele- /, 1
L
{l) Nossos eompositores, l�\·ttdos 1wln preconceito da síncopa-a<'-'!11to,
mento direto fornecido pelo folclore, carece que ' '! )'í
têm a mania. de acentua!.J!ld.o_q��l' sincopa. Pois nossa música po a gente não esqueça que música artistica não é e+- f,_,
1,"\,,._1 il
pular já atingiu m'lllto rhaior vo.riedadeesübtileza que isso, deixando fenome_l!Q,,.P.QPUlar po_r:êm-aêsenvolvimento_dêsfe. e," \ r '.' '., :
muitas feitas de centuar o som apa.r1•tiJo em parte fraca e prolongando '
uté a tesis seguinte do compasso ou do tempo. Os compositores se tor O compositor tem pra empregar não só o sinco- . , /
j
naram por isso muito mais pobres e primários que a arte popular, a qual pado rico que o populario fornece como pode tirar ·'. '9'--s, �
por seu lado se eleva a ponto àl• equiparar com o apogeu da ritmi�
!í ·
.®g.a--quando os artisla1:1 virtiwsístit·n� dl' !:í ri•tirar:un da ritmw:. tl bu· J ilações disso. E nesse caso a síncopa do povo · se- d.e,... ./
1.,•cum tlo 3l'.lrnto. tornará uma fonte de riqueza.
{j -� .r ; ' '-'"-\ ;...,.._A, \.t., C... t.J_,,...,_ N -t. �º \ (,,.(}_:��
_, .... �,_.,.
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: 1- 8 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 39
Si a música astistica se confinar ás manifes nario gaúcho. E as nossas valsas mazurcas e mo
tações restritas da sfiicõpa do populario impresso dinhas. É na rítmica destas manifestações prin
(sincopa central no primeiro tempo do dois-por cipahnente que a gente encontra base nacional por
quatro; antecipações sincopadas em finais de fra onde variar os metros. Em todo caso isso não me
se; frases com síncopas centrais em todos os tem-· parece problema importante não. A propria in
pos) teremos uma pobreza abominável. Abominável venção :inais livre do criador individual lhe dará
porquê se estereotipa logo, cai no fácil, no conhecido quando sair do característico popular a variedade
e no excessivo característico. Sincopas assim podem metrica que o populario não fornece. Sem ca
ser gostosas um tempo, e podem ser necessarias recer pra isso de despencar pro minuete da "So
pra unanimisar o remeleixo corporal dos dança natina" de Casella ...
dores mas, ver os intervalos aumentados arabes,
ver o instrumento regional, ver a harmonisação
de Grieg: se banalisam com facilidade pela propria MELODIA
circunstancia de serem caracteristicas por demais.
B com a banalidade fadiga vem. O problema importante aqui é o da invengão
melodica expressiva. O compositor se vê diante
E será tambem uma pobreza si ,se tornar dum dilema. (Pelo menos êste dilema já me foi
obrigatória. A síncopa é uma das constancias po proposto por dois compositores). É êste: O em
rêm não é constante nem imprescindível não. Pos prêgo da melodica popular ou invenção de temas
suímos milietas de documentos folcloricos em que pastichando ela, fazem o autor empobrecer a ex
não tem nem sombra de sincopado. Mesmo a segun pressão. Isso principalmente na música de canto
da parte dêste livro demonstra isso bem. E tem uma em que o compositor devia de respeitar musical
infinidade de síncopas que não são brasileiras. mente o que as palavras contam. Os grandes ge
Por bem sincopadas que sejam as "Saudades da nios desde o início da Polifonia vêm pelejando
Cachopa" de Eduardo Souto ( eq_. C. Carlos Gomes, pra tornar a música psicologicamente expressiva.
S. Paulo), o delicioso compositor popular soube Todos os tezouros de expressão musical que nos
com inteligencia tornar indelevelmente portuga deram Lasso, Monteverdi, Carissimi, Gluck, B ee
êsse maxixe. Na produção paulista abunda:m os
maxixes e cateretês. . . italianos. Em Francisco thoven, Shumann, Wagner, W olff, Mussorgski,
Debussy, Strauss, Pizzetti, Honnegger etc. etc. que
Nazareth não raro a recordação europea deforma
as danças e as atraiçoa. se confinaram mais pro lado da expressão musical
psicologica, têm que ser abandonados pelo artista
Inda cabe notar aqui a monotonia do nosso brasileiro pra que êle possa fazer música nacional.
binario simples. O compositor deverá observar Ou o compositor faz música nacional e falsifica ou
certos binarios compostos, influência portuguesa abandona a fôrça expressiva que possui, ou aceita
que permaneceu na música nordestina. O quater- esta e ahandona a característica nacional.
40 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 41
uma
Vamos a ver os aspetos mais importantes da exatas si forem conclusões...fisiologicas. Está cer
questão: tÕfalãrquê música é bonita ou feia porquê
certos estados cenestésicos agradam ou desagradam
A música popular é psicologicamente inex
sem possuirem interesse prático imediato ( fome,
pressiva 1
sêde etc.). O agradavel sem interesse imediato é
Á primeira vista parece. Mas parece justa batisado. com o nome de Belo. O desagradavel com
mente porquê é a mais sabiamente expressiva de o nome de Feio.
.todas as músicas. Inda estará certo a gente chamar uma música
O problema da expressão musical é vasto por de molenga, violenta, comoda porquê certas elina-
,demais pra ser discutido aqui. Parece mais acer mogenfo.s fisi12,!g_gicas amolecem o organismo, regu-
tado afirmar que a música não possui nenhuma larisam o moviménto dele ou o impulsionam. Es
fôrça direta pra ser psicologicamente expressiva. tas dinamogenias nos levam pra estados psicologi
cos equiparaveis a outros que já tivemos na vida.
A gente registra os sentimentos por meio ele Isto nos permite chamar um trecho musical de tris
palavras. As artes da palavra são pois as psico tonho, gracioso, elegante, apaixona.do etc. etc. Já
Iogicas por excelencia. E como os sentimentos se com muito de metafora e bastante de convenção.
refletem no gesto ou determinam os atos as artes Só até aí chegam as verificações de ordem fisiopsi
elo espaço pelo desenho e pela mimesis coreografi quica.
,ca podem tambem expressar a psicologia com certa M�a_l!lúsicA,,JJOSSll!.lUil,,poder dinamogenic,,.
verdade. Tomo expressar no sentido de contar
ª!l .
rµuito intenso e, por.causa_dele,.fortifica.,e_ac.entua..
•qual é a psicologia sem que ela seja sabida ele e_stados-de-alma s0,7Jjf!,gtL.ilr'<�a,nl.e/mJJ,.o.. E como
.antemão. dinamogenias dela não têni significado intelectl!!\I,
Pois a música não pode fazer isso. Não pos ·são-místeriosas, o porl<>r sugestivo ,la músiç_a ,;
sui nem o valor intelectual direto da palavra nem -formidaveL -
o valor objetivo direto do gesto. Os valores dela -· -··-ora oquê que a múRica popular faz dêssc va-
são diretamente dinamogenicos e sÕ. Valores que lores e poderes 1 É sempre fortemente dinamogP
criam dentro do corpo estaâos cenestesicos novos. nica. É de dinamogenia sempre agradavel porqní•
Estas cenestesias sendo provocadas por um ele resulta diretamente, s�enhurna erudição falsi
mento exterior (a música) que é recebido por uma ficadora, sem nenhum individualismo exclusivista,
determinação da vontade (pois a gente quis escu denecessidades gerais humanas inconscientes. E
tar a -música) são observadas com acuidade parti é sempre expressiva porquê nasce__de necessidade�
cúlar e interesse pela consciencia. E a conscien _ iais, por assim dizer i(téi'.ess� do ser e
e§se:11c
cia tira delas uma porção de conclusões intelectuais vai sendo gradativamente des'j:roj-adnctas aresta�
riue as palavras batisarn. Rstas conclusões só serão individualistas dela á medida que se torna de todo,
42 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 43
e anonima. E como o povo é inconsciente, é fata ou Max Reger ao passo que uma voz de congo ou
lisado, não pode errar e por isso não confunde de catira é um acaso dentro de nós. m .A fata)i:
umas artes com as outras, a música popular jamais dade de educação_ c_onsiste--no estudo -necessario.. e.
não é a expressão das palavras. Nasc;e sempre de quotiiliano dos grandes geniQ§ .e. _da. cultura eu_roc
Tambení
estados fi��opsi..q:uic.os gerais de q úeapenas pea.--Issôfaz com que. a gênte adquÍra·as _ nÓrnias .
· desta e os �geitos d�q_11e).es.. E a ignorancia esfe
as palavras nascem. E por isso em vez de ser ex
pressiva momento por momento, a música popular tica é que faz a gente imaginar num dilema que na
cria ambientes gerais, scientificamente exatos,�re-, realidade não existe, é uma simples manifestação
sultantes fisiologi_cas_d_a gi:a,ça,_ ou. da comodidade, de vaidade individualista.
<!ª_alegria ou da tristura. Mas comonão·-tenho a minima idea de regeitar
os direitos de expressão individual inda quero es
É isso que o compositor tem de fazer tambem.
clarecer um bocado o emprêgo da melodica popular.
É impossível prá música expressar (contar) (I) O problema da sinceridade em arte eu já discuti uma feita em arti•
o verso: guete de jornal (Diário Nacional, "Ângelo Guida", S. Paulo, 10-XI-1927).
Confesso que o considero perfeitamente desimportante. Mas o artista
"Tanto era bela no seu rosto a morte". afeiçoado pela tradição e cultura ( que não dependeram da escolha dêk
e vêm dos professores e do ramerrãof didático) adquiriu um geito natural
Mas ela pode criar uma cenestesia relativa ao de escrever e de compor. :m-·ae"põfi .não quer mudar êsse geito porquê é
passo do Uruguai. Ambientar musicalmente o sincero. . . Isso é bobagem. A sinceridade em arte já principia por ser
um problema discutibilissimo porém mesmo que· não fôsse, o nosso caso
ouvinte de forma a permitir pela sugestão da dina continua desimportante. Além da sinceridade do geito, existe a inteligên
mogenia uma perceptilidade mais vivida, mais ge cia que atinge convicções novas. Além da sinceridade do hábito existe a
sinceridade intelectual. Desde que a gente chega a uma convicção nova,
ral, mais fisiopsiquica do poema. dá um exemplo nobre de sinceridade, contrariando o hábito, o geito já
adquirido pra respeitar a convicção nova. O indivíduo. que está convicto
Pois esta ambientação não implica liberdade de que o Brasil pode e deve ter_ música própria, deve de seguir essa con
individual nem muito menos ausencia de caracter vieção muito embora ela contrarie aquêle hábito antigo pelo qual O indiví
duo inventava temas e músicas via Le.oncavallo-Massenet-Reger. E isso
etnico. Não só dentro de regras e fórmulas estrei nem é tão difícil como parece. Com poucos anos de trabalho literário de
tas os genios souberám ambientar os poemas que alguns os poetas n�!ES -�parecen_do t_ra_zem_ agoxa _um cu�l;t� t!}F.9.nf_u;ndJ_xeI
de Bras_il na poesiã dêle_s. - -oüt:rõ -dfa Urii músico inda "êStUdânte me falavi'i"
musicavam, como nenhum deles depois que a mú llâdlfiCüldãdc-VaSfa (}úêâentia em continuar o estudo da fuga porquê por
ª
sica se particularisou em escolas nacionais, deixou ter escrito um as poucas obras brasileiras já se acostumara tanto que tudo
lhe saía brasilefro da inve nção. Nos paisea em que a cultura aparece de
de ser nacional. O dilema em que se sentem os emprestado que nem os americanos, tanto os indivíduos como a Arte
compositores brasileiros vem duma falha de cul nacionalisada, têm de passar por tr&s fases: 1.ª a fase da t�se......naciOJl__Jl,l.�
_2=�-�•-!ª�e do__scntimento__na !'.!i9_nal;_ª.:._1!-__ _g_�.!él- ãã...-inÕonsciência nacional. · f '\e.._, ·
tura, duma fatalidade de educação e duma igno 86 -�!l!t� "':última_u.._ Artc .culta e .o.in_divíduo culto sentem a"Sinêên.O.iíd8dô _, ( i '·' ' ") ,
�JI:lõ.i,��-�Et.!L stncetj.dadc-da-eonvieção coincid_erEl_ m. Não_ é riosso '·caso--ahí:d'â. 1
v
Muitos de n6s já estamos sentindo brasileiramente, não tem dúvida, po• .,, °'·' _,_"' �, ·'- ::_ · z. 1
desproporção de interesse que temos pela coisa rém o nosso coração se dispersa, nossa .cultura nos atraiçoa, nosso geito l,., �- 1
estrangeira e pela coisa nacional. · Essa despro nos enfraquece. Mas é nobilissimo, demonstra organisação, demonstra ·-,.- (.·, :.,
caraeter,--.Q_gue põe a vontade como sentinela da_raça e não deixa entrar
porção nos permite sentir na permanencia do nos o_gue é prejudícial. E m��l!l!:n,c, .ª gente_ se sacJ·.i(_i_��;c_por _uma_c_ojs--ª-n!&
so ser mediocridades como Leoncavallo, Massenet t�ea,_-y:�d_�lQcn-!�.•-�l_e�n���-�1�nefieiarão �ª que vierem �ep���- i,; , '-' , l �
-
,,
44 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO HÔBRB A MÚSICA BRASILEIRA 45
Si de fato o compositor se serve duma melodia vantes alargam um bocado a obcessão do tonal
ou dum motivo folclorico a obra dele deixa de ser moderno.
individualistamente expressiva como base de inspi-
-. ração. E fica o mesmosio_compositor deliberada E a riqueza dos modos não para aí não. De
m_e)'l;tEJ :}lmõlcla :finveriçãoaos _ proeessos populares certas melodias de origem africana achadas no
nacionais� Isso não tem dúvida. Porêm a base de Brasil se colhe uma escala hexacordaL§espr<J:vi,ª�
;---., . .·. ..., ..,.· ,., ,de sensivel cujo efeito é interessantíssimo ( ver nos
rnspiraçao tem valor minimo ou nenhum diante
'. --- '
da obra completa. Basta ver certas harmonisa Anais do 5.0 Qongresso Brasileiro de Geografia
ções artísticas de cantos populares. Bela Bartok, I.º vol. as melodias colhidas por Manuel Quirino).
Luciano Gallet, Gruenberg, Percy Grainger per Este fenomeno é bem frequente. Eduardo Prado
severam nos seus caracteres individuais, harmoni no volume sobre o Brasil na Exposição Interna
sando coisas alheias. cional de 89 (ed. Delagrave, Paris) registra a
observação dum músico francês sobre melodias
Até em música de canto o compositor pode e nossas desprovidas de sensivel. E mesmo neste
deve se utilisar da melodica popular. E não só
Ensaio vai co:rnoexemplo disso a yersão paraiba
empregar diretamente a melodia integral que nem
na do "Mulher Rendeira" em que a sensível é evi
faz frequentemente Luciano Gallet como a modi tada sistematicamente.
ficando num ou noutro detalhe (processo comum
em Vila�Lobos), ou ainda e:rµpregando frases po A melodica das nossas modinhas principal
pulares em melodia propria (L. Fernandez na mente, é torturadissima e isso é mna constancia.
"Berceuse da Saudade"). Na cantiga praceana o brasileiro gosta dos saltos
melodicos audaciosos de setima, de oitava (Fran
Alem disso existem as peculiaridades, as cons
cisca Gonzaga, "Menina Fareira" ·no album de
tancias melodicas nacionais que o artista pode em
A. Friedenthal) e até de nona que nem no lundú
pregar a todo momento pra nacionalisar a invenção.
"Yayá, você quer morrer" de Xisto Baía (A Frie
As fórmulas melodicas são mais dificieis de espe
denthal, "Stimmen der Volker" vol. 6. 0; "Papel e
cificar que as rítmicas ou harmonicas não tem
Tinta" n. 0 1, S. Paulo). Na 2.ª parte dêste livro é
dúvida. Mas existem porêm e não é possível mais
facil de assuntar isso. e Vila-Lobos na "Modinha"
imaginar um compositor que não seja um erudito
(Seresta n.º 5, ed. C. .Artur Napoleão) mostra tarn
da arte dele. 4.ficrnar_que.JJJ;nprngªlllos a sí:ncopa
bem um exemplo cheio de espirito.
oU-a-setima_ahaixa.da_é umapuerilidade. O coní
:p9sitor-deve-conl:recer�quais ·são .as_nossas.Jenâeíi� A inquietação da linha melodica aparece at(>
· éia§__ Jt_constancias...J11elodicas ,..._ Aliás a setima no canto caboclo embora menos frequentemente.
abaixada é uma tendencia brasileira de que carece Está no "Fotorototó" (L. Gallet "6 Melodias Popu
matutar mais sobre a extensão. Isso nos leva pro lares", ed. cit.) e no "Boiadeiro" (A. Levy,", "Rap
hipofrigio e as consequencias harmonicas deri- Rodia Brasileira", ed. L. Levy e Irmão).
4
- ---- ---------��--=---
46 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A �n;�ICA Hl\At-lLEll\.-\
Nossa lírica popular demonstra muitas feitas já surgem embrionarios o salto melodico de terça e
caracter fogueto, serelepe que não tem parada. As os sons rebatidos. As variações são incontaveis.
frases corrupiam, no geral em progressões com uma Eis como aparece no "Pierrot" de Marcelo Tupi
esperteza adoravel. Sem que tenha nenhuma seme nambá (ed. Campassi e Camin S. Paulo) :
lhança objetiva, isso nos evoca a alegria das sona J
tas ·e tocatas do sec. XVIII italiano. É lembrar a
�
1
rém ascendente. Ê uma frase sem caráter, possuindo a retórica nacional
mas não possuindo nacionalidade. Uma falsificação nacional. Já porém
no Intermédio (n.O 2 da mesma peça), certos arabescos em destacado,
i descendentes, ( comps. 15 a 18- 1 são bem mais característicos apesar <le
não trazerem síncopa.
48 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA . 49
de organizar em terças. Embora não seja possível l Será possivel descobrir ainda outras constan
generalisar nós temos uma tal ou qual repugnancia cias melodicas porêm isso deixo pros musicos mes
pela fraqueza crua da tónica. É comum a frase pa mo. Os admiraveis Chôros de Vila-Lobos, pra con
rar nos outros graus da triade tonal. juntos instrumentais de camara (v. Chôros n. 0 2,
As quedas prá mediante atingem ás vezes uma ed. C. Artur Napoleão; Chôros n.º 4, ed. Max
audacia deliciosa que nem por exemplo no refrão Eschig), todos são verdadeiros mosaicos de cons
instrumental do "Tatú subiu no pau" de Eduardo tancias e elementos melodicos brasileiros.
Sot!to (ed. C. Carlos Gomes, S. Paulo). É até curio
so de notar que certas frases europeas que nem: POLIFONIA
como alterações tudo isso já ocorre na harmonisa o desenvolvimento dos processos populares tem de
ção europea tambem ... ' 1 > ser feito sempre com muito criterio porquê sinão
a peça pode perder o caracter nacional, como é o
Onde já os processos de simultaneidade so caso do trio "Serrana", aliás esplendido, de Henri
nora podem assumir maior caracter nacional é -na que Osvaldo ( ed. Ricordi, Milão).
polifonia. Os contracantos e variações tematicas
superpostas empregadas pelos nossos flautistas se O problema é bem subtil e merece muito pen
resteiros, os baixos melodicos do violão nas modi samento, muito raciocinio dos nossos artistas. Nada
nhas, a maneira de variar a linha melodica em impede por exemplo que os processos de melodia
certas peças, tudo, isso desenvolvido pode produzir acompanhante que os nossos violeiros empregam
sistemas raciais de conceber a polifonia. E de fato sistematicamente no baixo, passe prás outras vozes
já está sendo como a gente vê das "Melodias Po da polifonia. Esse baixo se m:;tnifesta iis vezes como
pulares" harmonisadas por Luciano Gallet, das melodia completa e independente, apenas concor
Serestas, Chôros e Cirandas de Vila-Lobos. Numa dando harmonicamente com a melodia da vox prin
Sonatina inda inedita desse moço de futuro Mozart cipalis. É como o conceberam L. Gallet em "Foi
Camargo Guarnieri, o Andante vem contrapontado numa Noite Calmosa" das J\,lelodias Populares Bra
com eficiencia nacional e magnificamente. sileiras (ed. cit.) e Camargo Guarnieri no Andante
da Sonatina. Ora são simples elementos melodicos
Em Vila-Lobos a maneira de polifonisar já não de tranzição ou simples floreios episodicos de enri
é mais o emprêgo direto do processo popular mas quecimento. Estes elementos são bem caracteristi
uma ilação vasta dele. Si por vezes neste compo cos. E estão muito bem caracterisados na modinha
sitor o processo se conserva nacionalmente reco "1.1:eu Coração" de Lourenço Fernandez (ed. Bevi
nhecivel (Seresta n.º 11, "Redondilha" seresta n.° 6, laqua). Nas Cirandinhas n.º 7 "Todo Mundo.
"Na Paz do Outono" ed. C. Artur Napoleão), si Passa" (ed. C. Artur Napoleão) o caracter infantil
por vezes a genialidade da invenção torna a obra com que a peça é concebida me parece que não jus
impossivel da gente discutir ( o baixo-obstinado da tificava os elementos dêsse genero, meramente con
"Nesta Rua", Ciranda n.° 11) sempre isso contêm vencionais e descaracterisados que aparecem na
o perigo iminente de amolecer, abafar, desvirtuar o primeira parte.
caracter nacional da invenção. E é mesmo o que
sucedeu algumas feitas. A ilação, a generalisação, Quanto aos processos já europeus de polifoni
(1) Por vêzes no entanto uma ou. outra invenção harmônica se s8rvindo
sação êles são muito perigosos e na maioria das fei
de pro-cessos já eonsµ.grados consegue fortificar a ambiência nacional do tas descaracterisam a melodia brasileira. Ou pelo
trecho. Se observe por exemplo o passo magnífico do Trio Brasileiro menos a revestem muito mascaradamente. É o que
(L. Fernandez pg. 16) a que o pedal e o organo imprimem um sabor
húmido de :mato quente, extranhamente verde. E se compare essa in• a gente pode observar no "Sapo Jururú" tratado
venção earacterisante com a harmonisação lamentável do mesmo tema, por Vila-Lobos nas Cirandas n/ 4, "O Cravo bri
absolutamente descaracterisante, feita por Nepomueeno na "Alvorada
na Serra" (comp. U a 20, n.0 1, "Suite Brasileira", ed; cit.). gou com a Rosa" (-ed. C. Artur Napoleão) e mais
54 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 55
fortemente ainda na "Puxa o Melão" de Luciano nhece a sonoridade mais constante da instrumenta
Gallet (Melodias Populares, ed. cit.) na qual a repe ção nacional. Mesmo os agrupamentos praceanos
tição canonica no acompanhamento, da propria me se aproximam disso bem. Nas orquestrinhas dos
lodia principal, apesar do brasileirismo incontras fandangos praieiros de S. Paulo ocorre com mais
tavel desta, assume o aspecto de mera retorica euro frequencia o conjunto: rebeca (violino) viola, pan
pea. Tambem no 1.° Tempo do "Trio Brasileiro" deiro, adufe, machete. A sanfona que está influin
de Lourenço Fernandez ( ed. Ricordi), a exposição do bem na melodica da zona mineira, é acompanha
rlo tema em fa menor segue descaracterisadamente da por triangulo nos fuas de Pernambuco.
na dialogação imitativa de violino e violoncelo, ao
O fato da maioria dêsses instrumentos serem
passo que na exposição do 2.0 tema em la b maior
importados não impede que tenham assumido até
o acompanhamento dq piano, mais característico,
como solistas, caracter nacional. O proprio piano
torna bem mais aceitavel a imitação. Processos
aliás pode ser perfeitamente tratado pelo composi
dêsses não só não ajuntam caracter prá obra como
tor nacional sem que isso implique desnacionalisa
podem descaracterisa-la.
ção da peça. O violino se acha nas mesmas condi
ções e está vulgarisadissimo até nos meios silves
tres. Numa fàzenda de zona que permaneceu espe
INSTRUMENTAÇÃO
cificamente caipira, tive ocasião de escutar uma or
questrinha de instrumentos feitos pelós proprios
Será que possuímos orquestras típicas 1 Pos
colonos. Dominavam no solo um violino e um vio
suímos embora elas não sejam tão características
loncelo. . . bem nacionais. Eram instrumentos tos
li como o jazz, o gamelan, ou os conjuntos havaianos
;li cos não tem dúvida mas possuindo uma· timbração
:11 e mexicanos. Catulo Cearense no "Braz Macacão"
li curiosa meia nasal meia rachada, cujo caracter é
enumera um conjunto caboclo assim:
fisiologicamente brasileiro.
!,
i'l
brasileiro põe logo reparo numa diferença ,grande caracter passive! de se aperfeiçoar. No canto nor
de timbre. E essa timbração anasalada da voz e destino tem um desproposito de elementos, de ma
do instrumento brasileiro é natural, é climatica de neiras de entoar e de articular, susceptiveis de
certo, é fisiologica. Não se trata do ... efeito teno desenvolvimento artístico. Sobretudo o ligado
rista italiano ou da fatalida:de prosodica do francês. peculiar (tambem aparecendo na voz dos violeiros
Talvez tambem em parte pela frequencia da do centro) dum glissando tão preguiça que cheguei
cordeona ( tambem chamada no país de sanfona ou um tempo a imaginar que os nordestinos empre
de harmonica), das violas, do oficleide, por um fe gavam o quarto-de-tom. Pode-se dizer que empre
nomeno perfeitamente aceitavel de mimetismo a gam sim. Evidentemente não se trata dum quarto
voz não cultivada do povo se tenha anasalado e de-tom com valor de som isolado e teorico, baseado
adquirido um numero de sons harmonicos que a na divisão do semitom, que nem o posto em jôgo
aproxima das madeiras. Coisa a que propendia na faz alguns anos pelàs pesquizas de Alois Haba.
turalmente pelas nossas condições dimatericas e Mas o nordestino possui maneiras expressivas de
pelo sangue amerindio que assimilâmos. O anasa entoar que não só graduam seccionadamente o semi-
lado emoliente, o rachado discreto são constantes tom por meio do portamento arrastado da voz, co
na v'oz brasileira até com certo cultivo. Estão nos mo esta ás vezes se apoia positivamente em emissões
coros maxixeiros dos cariocas. Permanecem muito cujas vibrações não atingem os graus da escala.
acentuados e originalissimos na entoação nordesti São maneiras expressivas de entoar, originais,
na. Dei com êles um sabado de Aleluia no cordão características e dum ·encanto extraordinario. São
negro do "Custa mas Vai" em S. João Del Rei. manifestações nacionais que os nossos compositores
Tornei a escuta-lo num Boi-Bumbá em Humaitá, no devem de estudar com carinho e das quais, si a gente
rio Madeira. E numa Ciranda no alto Solimões. possuísse professores de canto com interesse pela
E é perfeitamente ridiculo a gente chamar essa coisa nacional, podia muito bem sair uma escola de
peculiaridade da voz nacional, de falsa, de feia, só canto não digo nova; mas apresentando peculiari
porquê não concorda com a claridade tradicional dades etnicas de valor incontestável. Nacional e
da timbração europea. Ser diferente não implica artistico.
feiura. Tanto mais que o desenvolvimento artís Mas eu estava falando na divulgação silvestre
tico disso pelo cultivo pode fazer maravilhas. Da que ·o violino já tem entre nós. É fato. · Tambem
lira de 4 cordas dos rapsodos primitivos a Grecia na minha viagem fecunda pela Amazonia, tive
fez as 15 cordas da citara. Do santir oriental e do ocasião por duas feitas de examinar violinos cons
cimbalon hungaro que Lena:u inda cantou, ao piano truidos por tapuios que não conheciam nem Ma
de agora, que distância através de todas as varian naus. E ainda nesses a factura produzia uma tim
tes de clavicordios ! Da escureza e dos erres arra bração estranha que acentuava sem repugnar o ana
nhentos da fala dele o francês criou uma escola de salado proprio do instrumento. As rebecas de Cana
cant_o magnifica. Nosso timbre vocal possui um nea tambem são feitas pela gente de lá.
58 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 59
O importante pro sinfonista nacional não me nicarnente. Porquê sí o artista querendo numa
parece que seja se servir pois duma orquestra abso obra orquestral dar um ponteio que nem o usado
lutamente tipica. Haja vista o caso do jazz. Si é pelos violeiros e tocadores de violão, puser na par
certo que a influência dele vale bem ; si sem êle não titura um bandão de cavaquinho, vinte violas e quin
podemos imaginar a existencia do Octeto, de Stra ze violões, está claro que será muito dificil pelo
winsky ou de "J onny spielt auf" da Kreneck: o menos por enquanto encontrar mesmo nas cidades
valor dele como enriquecimento sinfonico me pa mais populosas do país, numero de instrumentistas
rece pequeno. Porquê o fato dos instrumentos poli capazes de arcar com as dificuldades eruditas da
fonicos de percussão que nem o piano e o xilofone cooparticipação orquestral. Si é possivel e recomen
fazerem parte quasi obrigada das obras sinfonicas davel que os nossos compositores escrevam peças
de agora, o fato ainda do protagonismo até solista pequenas pra canto e viola, pra violão e flauta, pra
que a bateria adquire certas feitas (por ex. no No oficleide caxambú e piano, etc. etc. e mesmo pra
neto, de Vila-Lobos)' si coincidem com manifesta conjuntos de camara mais ou menos tipicos, um
ções e te:íidencias do jazz: são mais urna circuns número orquestral de instrumentos característicos
tancia de epoca que influência afroamericana. Não dificultava enormemente a execução da peça. Por
é por causa do jazz que a fase atual é de predomi isso e tambem pela eficiencia de instrumentos de
nancia ritrnica. É porquê a fase atual é de predo maior sonoridade, a transposição de processos é
minancia .ritrnica que o jazz é apreciado tanto. E justa e· bem recomendavel. Aliás é o que está se
com efeito, pra citar um caso só, a �'Sagração da fazendo com os compositores contemporaneos que
Primavera" de Strawinsky é anterior á expansão tomei por mestres neste Ensaio. E já que toquei
do jazz na Europa e é já uma peça predominante nisto peço desculpa a outros compositores que tam
mente ritrnica,, com uma- bateria desenvolvida bem trabalham a coisa nacional por não citar as
que ... profetisava o jazz. obras deles. Não cito porquê inda não se distin
O sinfonismo contemporaneo, que não é de guem por uma dedicação ao problema, que tenha
nenhuma nacionalidade, é universal, pode perfeita eficiencia social.
mente ser brasileiro tambem. O que não quer dizer Pois,, voltando pro assunto: acho que as possi
que os nossos compositores devam trata-lo que nem bilidades de transposição inda são maiores do que
fizeram Levy, Nepomuceno e infelizmente inda fa o já feito. Ou menores. . . Porquê a transposição
ze� alguns novos. Porquê é jiistamente a maneira pode desvirtuar ou desvalorisar o instrumento.
de tratar o instrumento quer solista quer concer Como é o caso por exemplo de certas passagens
tante que nacionalisará a manifestação instru do violino (especialmente os pizicatos da "Serta
mental. Nossos sinfonistas devem de por reparo neja") na "Suite pra canto e violino" de Vila-Lobos
na maneira com que o povo trata os instrumentos (ed. Max Eschig). Mas nossos ponteios, nossos
dele e não só aplica-la pros mesmos instrumentos refrães instrumentais, nosso ralhar, nosso toque
como transporta-la pra outros mais viaveis sinfoni- rasgado da viola, os processos dos flautistas e dos
60 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 61
violonistas seresteiros, o oficleide que tem pra nós gante com que é tratada tantas vezes a orquestra
o papel que o saxofone tem no jazz, etc. etc. dão base ção moderna facilita a introdução nela de instru
larga pra transposição e tratamento orque$tral, de mentos típicos. Um instrumentador bom pode nu
camara ou solista. ma orquestra tirar muito efeito com uma sanfona,
com a marimba, com duas, quatro violas e outros
Eu tenho sempre combatido os processos tec
. instrumentos polifonicos. E mesmo os instrumentos
mcos e o criterio instrumental que enfraquecem ou
solistas servem. tambem, está claro. E podemos
desnaturam os caracteres do instrumento e o fazem
criar agrupamentos de bateria completamente nos
sair: pra fora das possibilidades essenciais dele.
sos. Possuímos um diluvio de instrumentos ame
Porem não me contradigo qui não. Que o violino
rimlios e africanos que merecem estudo mais inte
banque o violão,
_ que a gente procure fazer do l)iano
ligente da parte dos nossos construtores de instru
um realeJo de rua, uma caixinha-de-música ou uma
mentos e dos nossos compositores. É ocioso enu
orque_ �tra são coisas que não me interessam e na merar todos aqui, mesmo porquê não posso garantir
ma10ria das vezes são coisas de fato detestaveis. Não
se tril:ta disso. D�po�s de C esar Franck, de Debussy, que a minha colheita já esteja completa. Mas um
f _
de 1l a-Lobos nao e poss1vel a gente afirmar que
_ .
estmlo do grupo elas tres flautas pareci, (" Ron
donia" Roquette Pinto) ou das numerosas flautas
os limites tecmcos e esteticos do piano tenham sido
dos Aparai ("ln Düster des brasilianischen Ur
fixad�s por Chopin. Uma transposição (não falo
walcls", F. Speiser) por exemplo, é absolutamente
propriamente de imitação) da tecnica e dos efeitos
recomendavel. 'l'anto mais que os instrmnentos pa
dum i��trument? sobre outro pode até alargar as
_ reci não devem ser chamados ele flautas, pois a so
poss1b1hdades deste e pode caracterisar nacional
noridade deles por causa elo material e da emboca
mente a maneira ele o conceber. A influência do
belcanto sobre o violino de Paganini é manifesta dura, na certa que é diferente. E o batacotô o
e a clêste sobre o piano de Liszt. Ernesto Nazaret checherê o ganzá o caiguatazú o curugú e ,jararaca
a inubia o adjá afofiê membí mernbí-clmê membí
soube nalguns elos tangos, dele transpor pro piano
os 'processos flautisticos e a tecnica do cavaquinho tarará agogô vatapí maracá boré oufuá etc. etc.
sem que perdesse por isso o pianistico excelente da l)Odem servir de condimento ocasional e porventu
obra dele. Lourenço Fernandez na "Canção do Vio ra permanente. A música brasileira o que carece
le ir?" ( ed. Bm:ilaqua) fa1/. m1n transpo,i,;ão pia .em principal é do estudo e elo amor dos seus
_ musicos.
mshca bem fehz elo toque-rasgado.
Pois em orquestras comuns mas eoncebidaB
assim, o instrumento tipico viria ajuntar o seu FORMA
valor sonoro novo e a sua eficiencia de caracterisa
. ção. Nossos compositores inda não imaginaram Me falta tratar o problema da forma. . . Aliás
msso bem. A propria maneira seccionatla, dialo- nos ficou elo passado um cacoete detestavel: o de
5
62 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 63
chamar de brasileiro a peça de caracter nacional. Mas os nossos compositores têm demonstrado
Si um costume dêsses era explicavel nos tempos poder criador bem pequeno a respeito de forma,
de Nepomuceno e Levy, agora já não tem razão de não se aproveitando das que o populario apresenta.
ser não. Norne assim avisa que o compositor faz · Aproveitam-se quando muito de nomes que nem
uma concessão ao exotico ou pro estrangeiro (" Con Vila-Lobos. Mas como a tudo quanto faz Vi a
cêrto Italiano" Bach; "Sinfonia Espanhola" Lalo; -Lobos impri J'eRQS_\ 'tl'.ill\, erestas, Cirandas,
"Suite Brasileira", Respighi). uma feição individualista excessiva, não se utili
sando propriamente das formas populares nem as
Quanto ao emprêgo de certas formas tradicio desenvolvendo. Em todo caso o autor elo gemai
nais não vejo prejuízo nisso embora não recomen •<Rasga Co1;ação" emprega com frequencia a peça
de. É uma inutilidade. Hoje essas formas são curta em dois movimentos sem repetição do primei
simples nomes como João, Arací, não têm valor for ro. Essa forma, em que estou longe de propor
malistico mais. Si a gente lê "Sinfonia" no cabe uma originalidade brasileira (ver as "Tonadas" de
çalho duma obra moderna sabe que se trata de tra
balho mais desenvolvido e nada mais. O alegro-de
-sonata anda bem desmoralisado.
l H. Allencle, chileno, ed. Senart, Paris) é comum
em nosso populario. Ocorre nas rodas infantis �" A
Pombinha Voou", "Padre Francisco", 2.ª parte)
nas toadas ·e frequentemente nos cocos (ver na 2.ª
Mesmo naqueles que inda procuram seguir o parte).
·formulario classico, a desabusada libertação con
temporanea permite construções que horrorisariam O canto nacional apresenta uma variedade
formal que sem ser originalidade dá base vasta prá
a Stamitz, e ao proprio O. Franck talvez. Se obser
criação artística de melodia acompanhada. Possui
ve o "Trio Brasileiro" de Lourenço Fernandez.
uma diversidade rica de formas estroficas com ou
Tratando a forma cíclica pela exposição de quasi
sem refrão. Mesmo a melodia infinita encontra
todos os temas no primeiro tempo o artista. fez dêste soluções formais típicas nos cocos. É verdade que
uma verdadeira conclusão antecipada. A Coda do na segunda parte dêste livro dou apenas uma amos
alegro-de-sonata sobre o tema do "Sapo Jururú" tra do que são os cocos. É que reservei a maioria
assume no Trio o valor de cabeça e não de cocla: dos documentos colecionados pra um livro que sairá
é o tema predominante. Com a constancia dele e o ano que vem. Dentre os desafios muitos se reves
a circulação contínua dos outros temas sucedeu que tem duma forma estrofica tão vaga (2.ª parte, os
o Trio apesar de formalisticamente tradicional ad dois desafios com Mané dos Riachão) que são reci
quiriu um caracter ele parte unica duma unidade tativos legítimos. Ainda sob o ponto-de-vista da
indissoluvel em que os andamentos diferentes são melodia infinita os fandangos paulistas são de mo
valores expressivos de estados-de-musicalidade do dêlo bom. E ainda lembro os martelos, certos lun
artista e não mais as partes dum esquema formal clús muito africanisados ("Ma Malia" na 2.ª parte;
obrigatorio. Tudo feito com uma logica admiravel. "Lundú elo Escravo", Rev. ele Antropofagia cit.
64 MÁRIO DE ANDRADE
ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 65
País de povo desleixado onde o conceito de Patria
n. 0 6) as parlendas, os pregões os cantos-de-traba
é quasi uma quimera a não ser pros que se aprovei
lho sem forma estrofica, as rezas das macumbas.
Todas essas formas se utilisando de motivos rit tam dela; país onde um movimento mais franeo de
mico-melódicos estratificados e circulatórios, nos progresso já desumanisa os seus homens na vaida
levan do pro rapsodismo da Antiguidade (Egito, de dos separatismos; país de que a nacionalidade a
_ unanimidade psicologica, uniformes e comoventes
Grecia) e nos aproximando dos processos lirico
diseursivos dos sacerdotes indianos e cantadores independeram até agora dos homens dele que tudo
ambulantes russos, nos dão elementos formalisticos fazem pra disvirtua-las e estraga-las; o compositor
e expressivos prá criação da melodia infinita carac que saiba ver um bocado alem dos desejos de cele
teristicamente nacional. bridade, tem uma função social neste país. O côro
umanimisa os indivíduos. Não acredito que a mú
Tambem quanto a formas corais possuimos sica adoce os caracteres não. Si nos tempos de Sha
nos reisados e demais danças dramaticas, e nos cocos kespeare adoçou já não faz isso mais não. Os
muita base de inspiração formal. Nos cocos então circulos musicais que assunto de longe são sacos de
as formas corais variam esplendidadente. gatos. A músiea não adoça os caracteres, porêm o
Ora eu insisto no valor que o coral pode ter côro generalisa os sentimentos. A mesma doçura
entre nós. molenga, a mesma garganta, a mesma malinconia
a mesma ferocia, a mesma sexualidade peguenta, �
Musicalmente isso é obvio. Sobretudo com a mesmo chôro de amor rege a criação da música na
riqueza moderna em que a voz pode ser concebida cional de norte a sul. Carece que os sergipanos se
instrumentalmente, como puro valor sonoro. O espantem na doçura de topar com um verso deles
Orfeão Piracicabano empregando silabas conven numa toada gaúcha. Carece que a espanholada do
cionais adquire efeitos interessantes de pizicato, de
baiano se confraternise com a mesma baianada do
destacado breve ou evanescente. E em boca-fechada
goiano. E si a rapaziada que feriram o· assento no
obtem efeitos duma articulação e fusão harmonica
pastoreio perceberem que na Ronda gaúcha, na
absolutamente admiraveis. Ainda aqui o exemplo
de Vila-Lobos é primordial. Se aproveitando do toada de Mato-Grosso, no abôio do Ceará, na moda
cacofonismo aparente das falas amerindias e afri paulista, no desafio do Piaui, no coco norte-riogran
canas e se inspirando nas emboladas êle trata ins dense, uma chula do rio Branco, e até no maxixe
trumentalmente a voz com uma originalidade e efi carioca, e até numa dança dramatica do rio Ma
cacia que não encontra exemplo na música univer deira; lugar de mato e rio, lugar que não tem gado,
sal ("Sertaneja", ''Noneto", "Rasga Coração" p ersiste a mesma obcessão nacional pelo boi, per
_
eds. cits.) siste o rito do gado fazendo do boi o bicho nacional
por excelencia. . . É possivel a gente sonhar que o
Jl,fas os nossos compositores deviam de insistir
canto em comum pelo menos conforte uma verdade
no coral por causa do valor social que êle pode ter.
66 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 67
que nós estamos não enxergando pelo_ prazer amar L. Gallet já se aplicou em parte a isso numa serie
goso de nos estragarmos pro mundo ... de peças infantis a quatro mãos, inda ineditas.
Quanto á música purà instrumental possuimos Sambas maxixes cocos chimarritas catiras cu
numerosas formas embrionarias. A forma da Va rurús faxineiras candomblés chibas, baianos, recor
riação é muito comum no populario. O que carece tadas, mazurcas valsas schotis polcas < 1 > bendenguês
é especificar e desenvolver nossos processos de va tucuzís serranas, alem das que possuem uma só
riação. Ela ocorre de maneira curiosa nos maxixes música propria e particularisadas por alguma pe
e valsas cariocas sobretudo na maneira de tratar culiaridade coreografica e entituladas pelo texto que
a flauta. O "Urubú", sublime quando -executado nem "Quero Mana", < 2> "Caramujo" "Dão-Dão"
pelo flautista Pixinguinha, afinal das contas não "Mangericão" "Benzinho Amor" "Nha Graciana"
passa dum tema com variações. Nos cocos a varia "Assú" "Urutagua" "Chico" "Benção de Deus" etc.
ção é comum. Por vezes não são os temas estroficos etc. Alem das dinamogenias militares, dobrados
que variam propriamente porêm se apresentam marchas de carnaval etc. Tudo isso está aí pra ser
acrescentados de parte nova ou com um dos elemen i. estudado e pra :ipspirar formas artisticas nacionais.
tos substituidos por outro que nem se verá nos "Fan E alem de serem formas isoladas fornecem fun
dangos da Madrugada" e na versão araraquarense do vasto prá criação das Suites de musica pura. E
do "Sapo Cururú" (2.ª parte). Por vezes as va si a metrica das nossas danças obedece no geral á
riantes duma peça muito espalhada assumem o i obcessão brasileira da binaridade, os ritmos, os mo
aspeto de verdadeiras variações que nem no caso do vimentos são variadissimos e com êles o caracter
"Canto de Usina" e do coco junto dele (2ª parte). tambem. A forma de Suite (serie de danças) não
Quanto a danças temos até demais. Si pela é patrimonio de povo nenhum.· Entre nós ela apa
expansão grande que teve a forma coreografica do rece bem. No fim dos bailes praceanos, até nos
maxixe, êste, o samba, a embolada, o cateretê, se chás-dançantes é costume tocarem a música "pra
acabar" constituida pela junção de várias danças
confundem na música popular impressa e praceana,
de forma e caracter distintos. E si de fato não
isso não se dá nas danças de tradição oral. Cada
basta -essa brincadeira possivelmente de importação,
uma delas tem a sua coreografia e seu caracter, em
bora a gente possa reduzir todas a tres ou quatro não sei, pra justificar a forma de suite como hábito
nacional, ela ocorre noutras manifestações tambem.
tipos coreograficos fundamentais, que nem já fez
Nas rodas infantis é comum a piasada ajuntar um
Jorge M. Furt ("Coreografia Gauchesca" ed. Ooni,
canto com outro. Chegam mesmo a fixar suites com ·
Buenos Aires, 1927) com as danças argentinas.
Carece pois que os nossos compositores e fokloris (1) As formas de importação que cito já tiveram uma caraeterizaç.ã.o
nacional. Não cito o tango argentino e o fox-trote porquê não adqui
tas Yiio estudar a fonte popular pra que as danças riram carácter nacional inda aqui: são simples pastichos.
se distingam rnilhor 110 caradcr e 1ia forma. (2) No sul de S. Paulo, "Quero Mana" tambem é sinonimo de Desa
fio. Então não é dançado.
J
68 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 69
sucessão obrigatoria de peças. Uma das minhas aiu empregar motivo afrobrasileiro), (sem movimento
nas me exemplificou isso bem com uma roda grande predeterminado) ;
composta de tres melodias tradicionais reunidas e 6 - Dobrado (ou Samba, ou Maxixe), (bina
que as crianças da terra dela jamais imaginariam rio rapido ou imponente final).
que não fosse uma roda só. Os cortejos semi-reli
giosos semi-carnavalescos dos maracutús nordesti Suites assim, dentro da preferencia ou inspi
nos não são mais que uma suite. Nas cheganças e r'.1ção individual, a gente pode criar :numerosis
reisados a mesma forma é perceptivel. O fandango snnas.
do sul e meio do Brasil si na maioria das feitas é E já que estou imagi,nando em peças grandes,
sinonimo de bailarico, função, assustado ( aliás o é facil de evitar as formas de Sonata, Tocata etc.
proprio baile é uma suite) muitas vezes é uma peça muito desvirtuadas hoje em dia. É seguir o exem
em forma de suite. plo de C. Franck no "Preludio Coral e Fuga".
A mim me repugnava apenas que suites nossas Dentro de criações dessas, sempre conservando a li
fossem chamadas de "Suite Brasileira". Porquê berdade individual a gente podia obedecer á obces
não "Fandango", palavra perfeitamente naciona são humana pela construção ternaria e seguir o con
lisada 1 Porquê não "Maractú" pra outra de con selho rasoavel de diversidade nas partes. "Ponteio,
junto mais solene 1 Porquê não "Congado" que Acalanto e Samba"; "Chimarrita, Abôio e Louva
tantas feitas perde o seu ritual de dança dramatica ção" etc. etc.
pra revestir a forma da música pura coreografica
E. mesmo formas complexas destituidas de
da suite 1 Ou então inventar individualistamente
caracter coreografico, de música pura ou com in
nomes que nem a "Suite 1922" de Hindemith, ou a
tenção descritiva ou psicologica, que nem as peças
"Alt vVien" de Castelnuovo T!ldesco.
de Schumann ("Kinderszenen", "Carnaval" etc.),
Imagine-se por exemplo uma Suite: de Debussy ("Iberia"), de Malipiero ("Rispetti e
Stramboti") e tantos outros. Ora os nossos reisados,
1 - Ponteio (prelúdio em qualquer metrica
ou movimento) ; bumbas-meu-boi, pastoris, sambas-do-matuto, seres
tas (serenatas), cirandas se prestam admiravel
2 - Cateretê (binario rapido); mente pra isso. Si um compositor tiver seu "Bum
3 - Coco (binario lento), (polifonia coral), ba-meu-Boi" ou o seu "Chôro", isso imped•e que
substitutivo de sarabanda); outro crie o dele tambem 1 E si pode utilisar nessas
formas os proprios temas populares, como êstes
4 - llfoda ou Jl,fodinha (em ternario ou quar mudam de lugar pra lugar, de tempo em tempo,
tenario), substitutivo da Aria antiga) ; de ano em ano até, o quê que impede a utilisação
5 - Cururú (pra utilisação de motivo ame nessas formas de temas inventados pelo· proprio
rindio), (pode-se imaginar uma dança africana pra compositor 1 Nada.
70 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 71
Não é na procura de formas características que coincidir com uma pesquisa de outro e muito me
o artista se achará em dificuldade. Pori'rn <luas nos aceitá-la pronto: vira pra nós um imita
coisas se opem á fixação e generalisação de formas dor frouxo ( 1 ). Isto se dá mesmo entre literatos,
gente que por lidar com letras é supostamente a
nacionais: a dificuldade de estudo do elemento po
mais culta. A mais bebeda, concordo.
pular e o individualismo bastante ridículo do bra
Todas •estas constatações dolorosas me fazem
sileiro.
matutar que será difícil ou pelo menos bem lerda
a formação da escola musical brasileira. O lema
Nosso folclore musical não tem sido estudado
do modernismo no Brasil foi Nada de escola! . ..
como merece. Os livros que existem sobre êles são Coisa idiota. Como si o mal estivesse nas escolas
deficientes sob todos os pontos-de-vista. E a pre e não nos discípulos ...
guiça e o egoísmo impede que o compositor vá es
A nossa ignorancia nos regionalisa ao bairro
tudar na fonte as manifestações populares. Quan
em que vivemos. Nossa preguiça impede a for
do muito êle se limitará a colher pelo bairro em que ma�ão de espiritos· nacionalmente cultos. Nossa
mora o que êste lhe faz entrar pelo ouvido da janela. paciencia faz a gente aceitar êsses regionalismos e
êsses imliviclualisrno's curtos. Nossa vaidade impe
Quanto á vaidade pessoal si um músico der de a norrnalisação de processos, formas, orientações.
pra uma forma popular uma solução artística bem E estamos embebed'aclos pela cultura europea, em
justa e característica, os outros evitarão de se apro vez de esclarecidos.
veitar da solução alheia. Nós .possuímos um indi
Os nossos defeitos por enquanto são maiores
vidualismo que não é libertação: é a mais pifia a que as nossas qualidades. Estou convencido que º
mais protuberante e inculta vaidade. Uma falta _ .
brasileiro é uma raça admiravel. Povo de 1rnag1-
de cultura geral filosófica que normalise a nossa nação fertil, inteligencia razoavel; de muita sua
humanidade e alargue a nossa compreensão. E vidade e perrnanencia no sentimento; povo alegre
uma falta indecorosa de cultura nacional. Inde no geral, arnulegado pela malinco11ia tropinil; gen
corosa. te bóa humana, gente do quarto-de-hó,pedc; gcu-
(1) Um tempo criticaram ridicularisanternente Lourcrn�o Fl'rllmHll'z por
A falta de cultura nacional nos restringe a um quê plagiara na "Canção Sertaneja" (ed. Bcvilaqua) o acornpanl1:1mento
da. "Viola" (Miniaturas, n.0 2, ed. C. Artur Napolci:ío) (fo Vi\ln-T.nbos.
regionalismo rengo que faz dó. E o que é pior: A entumecência individualista impedia do verem que si os dois rornpnsitores
se aplic::wam a transpor pro piano processos instrumentais pop11larc:-:i, ha
Essa ignorancia ajudada por urna cultura interna viam de coincidir nalgum ponto. E sobretudo ninguém não 1•t> rt•(•lwu que
cional behecla e pela vaidade, nos dá um conceito do mesmo tendo hal'ido aceitação da parte de L. Fernandez, pois que o
processo não era invenção livre do autor da "Viola" mas trnusposir::i�i
plágio e da imitação que é sentimentalidade pura. dum processo popular, havia largueza culta em Lourenço FernanrlPz ace1-
t.ando uma solução alheia e qu<l essa largueza homenageava o outro autor
�inguem não pode concordar, ninguern não pode em vez de diminui-lo.
72 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 73
te acéessivel (Bertoni, ".Anales Científicos Para co principalmente aqueles uns que não sacrificados
guayos", Serie III, N. 0 2, 4.0 de Antropologia, ed. ao ramerrão da platea internacional, guardam me
"Ex Silvis", Puerto Bertoni, 1924: livro que devia moria dos nossos compositores nos programas deles .
de ser cartilha pra brasileiro, e de muita matutação .A unica bereva da nossa música é o ensino, pessi
quando fala na fusão das raças aqui) ; povo dotado mamente orientado por toda a parte.
duma resistencia prodigiosa que aguenta a terra É possível se concluir que neste Ensaio eu re
dura, a Sol, o clima detestavl'is que lhe couberam moí lugares-comuns. Faz tempo que não me preo
na fatalidade. Mas os defeitos de nossa gente, ra cupo em ser novo. Todos os meus trabalhos ja
pazes, alguns facilmente extirpaveis pela cultura e mais não foram vistos com visão exata porquê toda
por uma reação de carater que não pode tardar mais, a gente se esforça em ver em mim um artista. . Não
nossos defeitos impedem que as nossas qualidades sou. .A minha obra desde "Paulicea Desvairada" é
uma obra interessada, uma obra de ação. Certos
se manifestem com eficacia. Por isso que o Bra
problemas que discuto aqui me foram sugeridos por
sileiro é por enquanto um povo de qualid•ades epi
artistas que debatiam-se neles. Outros mais faceis
sodicas e de defeitos permanentes. entram pra que meu trabalho possa remediar um
Mas êste Ensaio vai acabar menos amarguento. bocado a invalidez dos que principiam. E si o es
crito não tiver valor nenhum sempre o livro .,se
O Brasileiro é um povo esplendidamente musical.
valorisa pelos documentos musicais que seguirão
Nosso populario sonoro honra a nacionalidade. .A
agora.
transformação dele em música artística não posso
dizer que vai mal não, vai bem. Figuras fortes e
moças que nem Luciano Gallet, Lourenço Fernan
dez e Vila-Lobos orgulhavam qualquer país. Den
tre os nomes das gerações anteriores, varios são
ilustres sem cond'escendencia. Carlos Gomes pode
nos orgulhar alem dos pedidos da epoca e nós temos
que fazer justiça a quem está como ele entre os
milhores melodistas universais do sec. IX. Os
mais novos aparecendo agora se mostram na maio
ria decididos a seguir a orientação brasileira dos
tres mestres que me serviram de documentação nes-
te livro. Dos nossos virtuoses, alguns notabilissi- '
mos, não honro êstes não: me interessam e glorifi-
2.a PARTE
1
. tí
' Í.
1 i;
!
f·
r
Notas esclarecedoras da grafia
musical
6
[ Musica Socializada
1
l
Canto Infantil
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A,alanto,
.....
1
Higiene
IJ f¾e::F411-+E,H I J m I ....--+"'
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n = a�
M� .u.m.abo . ,u.a,\'1n .d1dà8a . J. 1o,To .au.õ1.1e me . "!.no,Lo..�aJ111.ba . cl.&!
\,_,
I. II.
' Mucama bonita, Bacia de prata
Vinda da Baía, Lavada eom sabão,
Toma êste menino Toma êste menino
Lavai na bacia!
r
Vesti-lhe o roupão!
1
III.
Roupão de veludo,
Touquinha de fil6,
Camisa de renda
Lhe deu a vovó.
•
82 MÁRIO DE ANDRADE lêl'.SAIO 8ÔBRr: A MÚ>HCA BIL\SU,l•}IRA
Na versão de Franca, alem de variantes nestas Roda A Pombinha voou TAUBATE {S. p4�fo).
tres estrofes, tem mais duas :
IV. V
Menina bonita Vovó é .muito brava,
Não dorme na cama, Não gosta de �anha:
Dorme no regaço · Bate com cip6
Da sua mueama. Na bundinha . de Loló !
�11,., ·rr·- -
J º ne,
..J 1• U t'. t'. ( Fff Maria, quando tu fores,
I
#kT L7Tr
Me escreva lá do caminho;
�_J 1·
Si não tiveres papel,
Nas asa.a dum passarinho 1
Eh!.•• ___ lm • � tlllTl.be • l:i Mu. ,..o.p;o • lã Qui • na qu, n�! ..
Refrão A pombinha voou sem d6 l J bts- ..
Nigue nigue ninhas A Maria foi-se embora e me deixou l
Tão bonitinhas
Macamba, viola, II III
De pari e ganguinhaa 1
J!lhl.. Nas usas dum passarinho De boca. faZ um tinteiro,
Imbê tumbelá Eu não posso éscrever; Da Hngua pena dourada,
Mussango-lá � As asas são de penas Dos dentes letra miuda,
Quina quinê ! .• 1 Com penas não escreverei. Dos olhos. carta fechada 1
Refrão RefrãÕ
A pombinha etr,. A pombinha. eto.
O texto vai grafado como . . . senti. Não co
nheço lingua de africano e a volta foi cruel.
Roda
' Canoinhs nova CAPITAL l'EDXRAL.
�rtffi
•, 9d.
João Csmbuête
w oo 1m n 1� i 1 □ i1
Aca1&111o PERNAlfBUCO, MAmãi fU �ou, MAmii., eu ,·ouhus.�ar A,.._. no. 1.nhn no,,·a.Queca.!u no ma.r!
J,r.4' ...---:,;-
1
, �. a. p 1,) 11,mm I Mumãi eu vou,
I II
Pus o cravo na janela
João,dio Joio! JoãoC&mb11ête,Mtu fi.Jho,TomallL\u.a te.ta,mturLlho, Eh! dio Joio Mamãi ,eu vou buscar, Pra sinh 'Aninha cheirar,
A canoinha nova Sinh 'Aninha de pregui�a
Que ca.iu"no mar!, Deixou o cravo murchar.
João, dão João 1
João Cambuête, III
Meu filho, Menina dos olhos grandes
Toma lá tua teta, Não olhe pra mim chorando,
Meu filho, Que os teus olhos são a causa
Éhl ... dão João 1 De eu andar assim penando.
•
84 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 85
�wJ □ i o u J , n 15•• F .n I n , m 1
MINAS. Roda
"
J:M. LARANJAL (Slo i'a�to!.
J,,oo r r
Ca.lu 1<11'1 en.•l'O do céu, So • d.o..de! De ti.o ai.to dti.fo.lllt,u: So • da.de! Queniqul.
�l\t,, nJDJ IJ J 1 •E1JJI)I;
• J ljJJOJIJJ
r r F Q_j J J QatJ J J f"J J o -1
•Samb11.. le.lê 'si& do • en. te, 'St& com a cabeça que. br11.. d.i., •Blmba.. !e.lê preei ca. • n
�i
d ca.aá
1
cu. mi.go,Al,Sn. da. de!
'1
v,.; pe • diaqqemma cri.ô. Ai, s,
1
d11. de!
t
,�1 l:l 1 J
É d�.ma&bo.u l&m.
7J IJ J ba..da.6
IA • J IJ I J JJ21J-J43±.E
·PI.H, pi. H, pt.sa. mu.la.. ta, Pi.u n&ba.r.ra. da
- Sodade 1 - - Sodade t - 1.
Quem_ quisé casá cumigo, Inda onte apanhei um
- Ai, sodade 1 - - Ai, soda.de 1 - Sambelelê está doente,
Vá pedí a quem me criô. Num laço de fita verde! Está. com a cabeça quebrada,
- Aii soda.de l - - Ai, sodadc ! ··- - Sambelelê precisava
É dumas boas lambadas
Pisa, pisa, pisa mulata l
· Pisa na bara da saia mu- �bis.
lata!J
Rod& Padre Francisco II. III.
□ 1J)I.J
J, ...
iU
10 l J J J 1
- ôh, mulata bonita
li'il" !J l ,1 Jlr J ll - ôh, mulata bonita,
Como é que se namora f Onde é que voce m6ra,
- Põe-se o lencinho no bolso, - Moro na praia Formosa,
s n l5 1
Se.nhorpa.d111 Fran.c!1. eo\ O quo ê,meu a. • mllr? Sa.nhorp&.dr,, F'n.n.
1
� ,» e r 1, JJ JJ3 1 1 111&1"';' _J''J JJ J J IJ J J Com as pontinhas de fora. E daqui vou-m� embora 1
"r
cis.col • O que r',meu & • mor? Eu.ma.velhAmlli.to vo.lh&que&qulvemsecorJu. Pisa, pisa etc.
,•11¾ J j 1 ô Jj •e: J j .EE 1
J 1 JI " CANTOS DE TRABALHO
n ; •J
, .. 1r1, B do.pois de e011..re. lt,. d& dois bPi. Jl.ithoc ,ou lhe di(r!, J,lu,de en.\ri. !ri! M&nde en.
��i; J 1; ' 11
Ronda R, GliANDE DO SUL.
( Znu 111i1116,...ir<1),
1,r € r r u i r s E
O.1.o.i, o. i! O1,amcu-enirih& o.l O.i,o.l, o.i� Ol,&more..ninh.t., o.li
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llh, oomp&.llhelro, hlllll! Eh, leva.n.t11-p1uira,hum! Êh,linme'.la,
�-1r QrêJ
- � Colonia,, (}a,tende, Roçadinho, Pirangi, = no
bwnl Êh, li pe.u. d&� hum! Êh, bQ.ta. fôr.�, hum! mes tle usinas. Mende = Mendes; Cando = Can
� f u DâJ 1[
clido.
Êh,comp&llhell<l,hu.m! Êb,plllC.,pedra, hum!
Neste canto o ritmo é curioso por causa do
Eh l&Veme.J&acola, hu.m!
desencontro de acentuações de ritmo musical e
poetico.
Eh, companheiro, hum 1 I,
Êh, levanta: pedra, hum! Colonia, usina datende,
Êh, lá vem ela, hum! Roçadim de seu Mende, Ai! Baiana,
�h, ( es) tá pesada, hum 1 Pirangi de seu Cando, Baiana que é que hai f
�h, bota fôrça, hum 1 Neste mundo eu ando Ou! Baiana,
:Glh, lá vem ela acolá, huni ! Cumprindo um sina Baiana, meu amô !
�h, companheiro, hum! Q11i inté nas usina
:flh, puxa pedra, hum! ,Hl tou trabaiando !
88 ;n iH rO DE ANDRADE ENSAIO SÔBBE A MÚSICA BRASILEIRA 89
�s� .ma+wi
Baiana só qué bebã vinho ;Lfle Ma.\ &.va run.
�mi A bn.la que 111&.u. o b:i.la de re.
Zinebra Fokinho,
Conhaque e licô;
Cigarro Condô > ;.> - ---
Marca Lafayettc, voJ.vc, Cbnquoc!enstrP.mo.vc,'from..b,..d� de trem._
Toma deforéte
Quando .fai cnlô. Baiana,
Ai! Bain.nn. f'fo. Quem foi que te dixe
Que bala de rifle
Matava ninguém!
A bala que mata
Pabna.re:g, R-iberão, Escada, são usinas. Broqué :É bala de revolve,
= hroqnel, enfeite, presente. Choque de �siromove, (autom6-
[vel) (!)
Trombada de trem.
"11 volta é, cruel" pra indicar que o caso é peri
goso, sofredor.
A primeira frase, que aliás não apresenta ne
Os quatro ultimos versos da segunda estrofe nhuma originalidade grande, é sempre curioso de
significam que a mulher gosta de explorar o namo comparar com êste passo duma cantiga popular
rado e que num simples aperto de mão depena o russa:
camarada.
Cunzinha.dô = Cozinhador. Profissão das mais
bem pagas nas usinas. O cunzinhadô é que dá o
ponto no mel de que vem o assúcar. (L«e•gn•<. "Ruim•� ,;,, ln Musiq�" �d. Dtlt1gr,s,.,,P,,ris,
ff-����,jl
Fanjangoe FORTALEZA (c,a,,i).
J=n. m -�
,�" , tf-1-bn-i±��R(�ri �
S&.bo do \ar.d• Na vor .to do C'u...6B • u Le.van.tci ban.de.�a a • .ui, Mo.de olHmpun;Al., Ma.ne
A.
...__,z__...
E ... ta mi.nha m.ú10. _ Fa. ço um ,h,lé de <>oro,D,nlr<>ponhuumtuouro Doo depr,so!'l• a.opa.trio!
Batuque. Jablrá
Saho dP tarde
:-;:.1 rnrta du Cucaú
Len111td lJ:rndera azú J-j esta a minha razão
.:\lode o trem passá; Faço um chalé de ouro
Ai, M:rnt' Brai Dentro ponho um tezouro
Tem talento de motô, Do_u de presente ao patrão!
Na sede do Caiadô
quero vê a pnia voú
DANÇAS
Samba Subi pelo Tronco
•=' 10◄•
SÃO PAULO.
Fand•••o
�
Rema que rema NOROBSTB
p
'"ª"·
" •• • • 1 • l j- § - - ,- do
�'il'll� ? J l • 1•J.j
' - =' - ��J- O refrão inicial traz verso obrigado:
� ►A,hJJ 1 0 J JJ Ia 1 t JJ J 1 9 O J J • 1 w l -11
O quebra-quebra Jabirá
J<j.u c1nero vê quebrú !
úh qw�bra aqui, qnebni :11·0!:'1 '.
(ltmrqné geito é 1p1t> hn\:
92 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 9:3
Quadrilha
As toadas e danças, principalmente na zona
□
J : 112. YARAJÓ.
u · r:r1u·--tt 1 8 , 1i HEJdd
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Corre, que a polícia evem ! .SÂO PAULO.
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•
7
9-t MÜUO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 95
moço. X o violiio chegou a possuir um toque vir Algodão
FandRngo.
tuosistico. Só executava composições dele mesmo e CANANEA (S P,11110}
wa11_
Ja.,. �
eram muitas. Dentre tarantelas, preludios, peças.
caracteristicas etc. só se destacavam mesmo pela J QueeuniopW\lassealg o • dio , La dfl ban.da dn �r.
Ca.ma.r1..d:i. me a.vi . sô. ai!
originalid'ade e ex1JOntaneidade as peças brasileiras, tãn. De bat.:i:o do ma.to
urde.Embaixo do mato ur.
maxixes, tangos, valsas. Não ficou nada escrito dele, r-.do,Quelemo c.... 111&.le.
io, Tam.bemo bl.eho bor.
com excepçiio desta "Saudosa" valsa lenta de boa bio, Ta111bemf\ for.mi.« •
pre1.a,Que &nda. porba!Jt.o do
tempera bra8ileira, melosa e séresteira como o quê,
<JUe ele escreveu por minha insistencia e me deu.
1, 0 J J • i lJ-�1' l' 1
7
e:::Y 1:: 1:::1;
cltã.o.S.z.ra. t11 .lin..g.,., �•1.[o ver . • de Lá t�m q�� fa.; cu, t11 • ci.o!•••
MazUl'Ca. Vacariana
1:�: 1
R. GRAND!:: DO SUL. Camarada me avisú1 ai!
Que eu não plantasse algodão,
m:
Lá. da banda Uo sertão,
:'
Debaixo do mato verde,
Em_ baixo do mato cerrado,
Que tem o camaleão,
); : : a. w : J [
1; 1:;., r 1:.r � 1� ' • 1
Também o bicho borbão,
Também a formiga preta,
,e pote 1 '" 2 """ Que anda por baixo do chão,
□J , : J JJO :
Saracutinga e grilo verde
La tem que faz·-cena�ão!
!I!;' : �J • : 1: 1: o; 1: I: J
�;
"Fandango" no geral é sinonimo de baile. Nele
se dança de tudo e principalmente danças regionais
D! : J
1 fi guratl'as. Tem "fandangos batidos" mais rusticos
j B 1 •: J :l J: J � em que o batepé é obrigatorio e os "fandangos bai
lados" mais chiques em que o batepé é proibido. Os
OJ � •
trumentistas. Quem dança não canta. O fandango
J J.: J é sempre cantado.
3
j J:t28.
Jl : l
"T
�•1 ,,
1 f l Dt lll&llhi aiuuo ce •
Cha.gudulle1.r1 d(I
Nun • ea vi col.11 m.tit
Ili. ahoQ�
ri. (1 Que
Un .da Qun
IMUfOl.to fui 11..tl,
mP po.Mo11n.p1.rli:
d1n.�• do tnn. p.tá.
'Nijn. u v1 col.u. mil• lin da Que o pn.u.. ri.nllo d111.çli!.. , Quu.doeuu..dopron.nu.,
96 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO, SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 97
Texto do 1.° Fandango: 'l'exto do 2.° Fandango:
[
- Meus senhores tá-amanhã;
Eu já 'atou eneonvidado
Para o baile de amanhã.
' li j ilJ 1 1 i
Que 11\G-�ll 'bo • 11i •
1
! i i 1 1 1 • } ffl 111 j
la,Nht.Be.ne • dl. t..;
i. FIM,
1
Pa.re.0&11.m& 10 • U,.Nhalla..ri. co. ta.;
Quê-dele meu lenço branco D•oln.t1t.r11. ri. iu.,Nlu.llo..u . li.na;
Que eu te dei para engomá T u.m.a. be • lo. u., Sl.llllATo. re. Hf
Para põ no meu bolsinho Q1Mo11:Llho,; u
Para mais graça me dã.
1 4t vez,
r
I A do norte não contei,
Co,ti,aa °'' �111' '
.\leu a.mor o· u.mn
ffl
ro. u.queemqu&LIJIU!rJardlm fio. re•
íl'co!..• Nha. Maricota;
Da cintura. fina, Aquela mais bonitinha
Nha Rosalina; Com teu rosto comparei ...
Uma beleza,
0 ··'''º, ,JliJ'• li A J 1 U IJ li JJ 1, UJIJ. 11
Vem,minh:t 1·0. sa.,Pra.o.<1u1 mi.oh•
1
llo,r! V•m,1ninh1 ro. 51• Tu •oi■ met1 a. • mor!
Sinha Tereza;
Que os 6lho é ligêro,
Que moça bonita,
Nha Benedita; etc.
Que é um desespêro 1 ..
98 MÁRIO DE ANDRADE E1'SAIO �ÔBBE A MÚSICA BllAS!LlfülA 99
tF ' UJílílJ1J iU � O 1
hHJ11J I J {'6 1rni
..le:So. Cabelo cortado, Si é maia puladinho,
Faixa pra trai, (tráa) Mais bonitinho;
Vestidinho branco, Si é mais repicado,
Euni.oc1.11toporc..ot1., Cbor• rno. re_nn! NemporübomclUlta.dô,Kiuuia, 11hon.l .ll,qu.11111eho. Tenis ao pé ..• Mais maxixado;
�1""'"
1•1 e I i U i lii i U i IJJfll J,G
Ke.nl.u bo .111.ta,Prudon.de ,-ai? SI é111&n.cl. ri.o Ê-i.e l!gn.ç&dol Amoct.b1I.
Oa.M.lo oor. ia.do,Pal..n pn tu1,
V..ti. dl •DO bra!IC!O,Te.1111 no pé ...
A 1110.ü bai • 11.d& B bom• da.n • çi.:
Sl41IWl' p11.l1.. dléo; Jlwlbo. Ili .-tlnbo1 ------------
fflii +t--Hi&dTI; J 1)-ffitJ-tjq , �
i
Blemalue.p l. u.do:lllall;ma,.11:l. ndo.
'111
.\&.dl.Vunodan.oa N11,mod& b11,.tLd&VamoNoen.dê,Que� pLZ1Lopo.•0Nioperoe . b�!
cer. lo qucvou,meem.bo. ra Quevou-meem.bo . ra.prlL ti . do..do.Oe mim n!o 1.enhucui.d&.dol
100 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 10]
1 li rasto,il Despedida
Tenho um vestido novo Vou-me embora prá cidade R. G. DO NORTE
.L 811
m &bEII
Que me deu meu namorado Vou cuidá de pescaria
Pra passeá no domingo
Com meu bem lá do outro lado.
Arranjá um camarada �
>
7-�-M@1 r;
---· - :;,- •
Prá pescá de noite e dia. ,\dtuo. .ideu�.ronira enestrh Dh�f gr1.nac pl&\� • •li' ,\deuJ �.tê pua o -1, no.?-:Osqueremos�ira. qm'
nI
J:12�.
J 3 J. • Ola. JJ.
�� Tra-1&-lâ
--,....
•IJ),JlJjlJ J IJ.1DIEQd ,1 � í 1�□ u
Ou li�lê • li--Ou-lê-lê-l11 i.J _ _ 011-ta-1.; • ID011-lê-lê-]u.i!
'
• lli.1 S&ng11ode teup•r-to, To•. li. na! S•r. �i.ri: de111.guen.10!
0
�,. , .-1 1 r nn □ 1 , i ; t; 1 i
J,100.
Pelo Estado, na zona asRneareil'a principalmen Co.•L�i.o un. to, Tu uin11 . rásl Tu ncs•o enoan.!o Sempre u.rlll! Juus •· ma. do,Jnu1 pi,.
ri. m• e o lro..ç• .do qu• <.l• Histórico e -versão portuga deste canto, vêm
no "Cancioneiro" de Cesar das Neves, fase. 71, n.º
562.
-�·---J
104 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 105
1 Í º'J 1- J lâ.
ri.a .• Cho..ga.i, cho. ga1,
;J )JlP=$U1J 1J fillJJJ 1
Chego.i,ol,. po.ea. dô Va:.mo pe.di per dia Pa..re.oDe!U<NouoSe.
-,-.
da11 macumbas do Rio de Janeiro. "Xango", diz na Lá. vem o Bom Jesuis Chigai1 chegai,
revista musical inglesa "F'anfare" n. 4, o escritor
0 Com a luiz na mão Chegai, oh pecadô l
S6 nois tamo rezando Vamo pedi perdão
Com o rosário de Maria ... Para o Deus NoSSo Senhô
Watson Lyle, é o deus do trovão entre os negros
Vamo de rua cm rua,
Jorubas. De Jorubas o Brasil se encheu na epoca ela De porta em porta,
Vendo oa fiel
rscravatnra. Que são :fiel devoto I .•
No Nordeste por informação que me deu Ascen-. Canto de Peregrinos. Canto do Joa.zeiro
enr
Noou0Po.1 e d1. . dei.roeo.H ni.11.KUeni vêeuioqu"-l"o SI.. bion.de,; Jo.a
�-
do texto nem ela. Só ficou porquê me impressio
nava muito a última parte da estrofe.
dl1. 1
Recrutas Cear.�ses
Marchante ;, na. CEARA. 1.
Ir • J O
O meu eonsôlo é viver nesta alegria
Cambaleando, ve11do a Lua em pleno dia;
Mi. 1. r1.un', !ihuca. poteemeubol"D&. lo, M!.a bal.o.11e,t&emi.a gr& na • dêra O meu consôlo é viver sempre na água,
Porém meu peito não conhece o que é mágua !
Mia riun', II.
Meu capote e meu bornalo,
Mia baioneta e mia. granadêra ... Os taberneiros já não podem vender mais.
Depois das sete não posso tomar meu gaiij
Mas sou um cabra que não perco a minha linha,
Mia= Minha Trago no bolso sempre a minha garrafinha.
Bornalo = Bornal
Quando eu passo um s6 momento sem beber
Fico maluco, penso até que vou morrer,
Granadeira = Fuzil Mas dos paus-dáguas sou o rei, sou coroado
E na tendinha sou freguês considerado.
É o canto dos recrutas sertanejos do antigo Ba IV.
talhão de Segurança da policia militar do Ceará. Quando eu morrer quero em minha sepultura
Uma das pipas das maiores, sem mistura;
O encanamento que me venha até a bôca
Em pouco tempo deixarei a pipa oca.
CANTIGAS DE BEBIDA V.
Ninguém repare, êste é meu naturul,
Ninguém repare, êste é o meu moral,
Quando eu for pra: Cadeia Ninguém repare eu andar cambaleando,
ARARAQUARA (S, P,n,lo). Adeu� adeus que ,jí1 são horas, vou chegando!
n,,,
- - > :> - 1:.
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108 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 109
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R. O, ?>O NORTJ.
ARARAQUARA (S. hwfol. ,J.108.
J 'JJJJ, I J JJJJ,;,IJ: >fi, :: g31J1JJ >- JjJI -� li 11n lf1 E' 1J J lJ, ,, tt
Edebr1..-011 pi. ri.o,p1rio.p1rio!E v1.v11 pai,...deg-. Jotc••r•. fio!
qui.nhol Ê do Do.111,I • r,é AI, nizl..guem po. do mAls pa., • •�, ôh mu.Jé! O ,�. Ma.ri. a, mu • iél D.C.
Coco
Capim da Lagô& PARAÍBA
J.110.
�•· l)1cMe111 • u,1tquern Coco Mineiro Pau
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lJ 1 □ A IJ.
Selo
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li, • gn. TI ll4o CID. meu O e&.plmd& la. goa TI • ado �o • meu MI .nei • ro pa.u! �i.n,i • ri, paul Vou-m'em. bo. to. pro Pa • ri! 1,{l.nel. ro
Í. JB C i"□
> - - > Solo Câro
n ª um w , u .., 141rliº'
"'
Pr'oode �1.11, He.lo.na,Pt'ond& ui• ...._1!.tal'Vi.ipr1- lrÚ, He.le.u,,-.a.b.l d.o demiml is,u
�- □ .r-=p 1 . i
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que um desenvolvimento da fonte portuguesa. Du
ma variedade, duma riqueza e sobretudo duma bo
110\�HQMld=.I Somu. •.ep�nuudoemu \'oudci.:u.rdo 1� a.in&t Qu,i pra ,u po. ':ii"dn..in1
Côro Solo
niteza que os portugueses não sonharam.
Pr 'ondé vais, Helena Essa noite eu não drumi
Pr 'onde vais assim f Somente pensando em ti
You deixar de te amar Coco de ganzâ
Nunca mais eu vi
Vai pra trás, Helena,
#J,,... _
R G DO N'ORTI!:
Que é pra eu podê drum.i.
Tenha dó de mim! > >
Jlne
j,jJIJ J ll D ld;, lfJJ1 ll J
> .-,88
@t{fl
Côro (Refrão)
Solo 11
f
Menina, diga a eeu pai Ai.� mú eo y\! Be.l& lllll.lldml mech&.IIW''Al,1111D.ca m.iJs eo
!\i,IIIUIC&
J
112 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 113
Solo. Olêlê, cavalo pampo,
Côro. Ai, nunca mais eu vi 1 Cavalo alazão-caxia.l pa:.p,.pá.
O meu cavalo é ferrado
Bela mandou me chamar 1 Com ferro da Companhi:1.
Coco de gan1í,, LO.J>O NORTE.
Ai, nunca mais eu vi 1
ô 1 ;, 1 o O
J,ee. J, ...
. -,..
=••
Côro. (Refrã-0) �
Solo. Olêlê, cavalo preto,
f11Jj D 11 1
l�Ul 1 �01
Cavalo alazão foveiro,
Pa.,-.., • . pi. • mi,
to.1\ID qu.lldo
Solo
ff.Ja.
- rl
Pa. pa. p,. • pi li.! Ai, OllleoAII • ou.kH.tN.
Que chegou no atoleiro,
'
RefugOu, não quis passá!
11111 • oe�1.10 lit • ,:i Tla.b1.
1PJJ] 1,P
Côro. (Refrão) A.� &
O refrão talvez se tenha adulterado com o tem lu. • ba,Bolll.-Jll'.dw e Clo.71. • 111.W, Be. 1- • PI. )li.ri • 111. b&, n.J1. li\
'
Coco
R. G. DO XOBTI,
l J 14 J p. 131 ;J 14 •,I
Pena meu colaborador não ter pegatlo o texto
inteiro.
...-aV\r.gu. U.oo, O�y,i. Udll<Í1-,- . �!
Solo A mulher de Lampeão Côro Ê Lamp, é Lamp, é Lampa,
Não anda de pé no chão, É Lamp, é Lampião,
Anda de meia e sapato O meu nome é Virgulino,
Lenço de seda na mão. O apelido é Lampião 1
Solo. Minha mãi me dê dinheiro Solo. Minha mãi me dê dinheiro
Pra comprá um cinturão Pra comprá um caminhão
Pra enchê de cartucheira Pra enchê de moça velha
Côro Eng enho Novo (bis) Solo Eu dei um pulo
Pra brigá mais Lampeão. Pra mandá pra Lampeão
Engenho Novo Dei dois pulos, dei trêl! pulo:,;
(Gôro). (Gôro).
·�Bota a roda pra rodá! Desta vez pulei o muro
Quaje morro de pulá.
Solo. Minha mãi me dê dinheiro Solo. A mulher de Lampeão
Pra comprá um cinturão Ê pra dentro e é pra fora,
Côro (Refrão)
Que a milhar vida do mundo Com a criança no _Eraço,
Solo Minha menina É andá mais Lampeãol Valha-me Nossa Senhora!
Quem te deu tamanha sorte! (Gôro). (Gôro).
Foi um soldado de linha
Do Rio Grande do Norte.
O refrão dêste coco é uma variante apenas do
grito dos companheiros de Lampeão: É Lamp é
Lamp, é Lamp. É Virgulino Lampeão, já regist;a
rr
s.,,
do na musica, dentro do "Oatimbó" de Ascenso
1
Cl:plm d" Ferreira.
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1) IJJ J) ll F
� ILJ H IJ
- .1 u I D J .1 1
,, n n 10 o u
Botou as moças donzela A mui. 4 ML&a..p<1 . ia Tev•� ... Ili. 1\11 l1, , 1il.o, U.Jll& H!ld1.ii ta B1
Pra cantá "Mulher Rendeira".
1ílg1Jl 1Dq11,,1
ai.ele. Ou.,IH b&lld.lÍ L•111pe • io, imul.í ren.llel.ra.l i -1.., ru.. til
Côro. Olê, mulher rendeira!
Olê, mulher rendá 1
Solo. A muié de Lampeão
Tu me ensina a fazê renda
Teve um menino lazão, Côro. É muié rendeira !
Que eu. te ensino a namorá 1
Uma banda é de Benício, E muié rendá 1
Otru banda ó Lampcão.
Solo. As moças de Vila Bela
Boi Noite
Não têm mais ocupação :
É s6 yivê na janela e-
,. J.Qª .jJJ IP íl� âdJ IJ n� IU] IJJ a� 1631) 11
�: 120 R. O. DO NORH.
Namorando Lampeão,
(Côro) A1 ..... ........... • Mlt.,lo.-.••1.M!lrildi O.Ili!� a don&Q CLU>Jw,.1& ,.....,. ••!
variante seguinte que é paraibana: Eu vou, você não vai Solo Eta lá que agora mesmo
- ôh mulé - �e leinbrei do Chico .Antonio,
Bela mandou me chamá, Espingarda tem coronha
- ôh mulé - E é danada pra atirá
Ai LI., . 9',AI W.o . li& &v.«.1.&.n.1111.n..ran.d1. Qi.lldo.mo.«.na. ... il - ôh mulé -
120 MÁRIO DE ANDRADE
i 11 3 1
� J, .. ,11
h, • ti, {o. lt., &1, &. l.a d!l (llle li � �!
Iaiá Ioiô
Ai Bela mandou me chamar 1
Iaiá Ioiô
Ai Bela diz que eu lá não vou 1
Bochedo, S111há.
-a.a.DOiroan.
□ a 1 1, sr '
lle.·al. u,leu.palalo 911r,.. Olne 10 •. 1111, 81 • U.t(l11uu. -
Acalanto
Sapo Cururil ARARAQUARA.
A mulher do sapo
Diz que está· lá dentro
Fazendo rendinha
- Baiana
Para o casamento.
,. Refrão do Mutum
9AÚ
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' •m. "A.ra..ra.ra.rn uhm,ulutt, uhm! A-rn•r•r&,n,, uhm Ullllllbm,u.hm.J A·u,-r1,r1.- ra, êla 111�1..•
ginei que era uma coisa tradicional. E era mesmo. Assovia êsse coco esmerá (do)
Depois pedi, passadas várias cantigas mais, que Assovio!
bre o tipo basico tradicional de que "Na Baía tem" :gh tum, êh tum, êh tum, ôh mulé (ter)
'
pode servir de exemplo.
Vai à cozinha, faz ciifé pra nós tomá!
3
Refrão Cearense %;.,• El I jJffJf:@F�
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O li - ão e chale o cha. le O li • ,i,:, é dwa a . 1nõ'
J,u
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Do.-· J • J J I J • 1
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126 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 127
TOADAS
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J."
� JJ JJIJpJ l:J •I
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C'a Ju e1.ro&.ba toa 1,Q.l,.llill,4'!u1a1...b&-· &
Toada. Cabocla Bonita
AWA.2:0ffAI,
... .
D 1) l·J :::1
N n.º 4 (primeira versão) é variante da roda
infantil "Marcineiro faz assim, faz assim, também To·-·
!' u �
Vo. eê d.li 11,uea.ll!or 11lo dei No fijp • do do
w
...
assim" do Surupampo da Vingança. Isso comprova
a observação que fiz noutro coco da ambiencia de Dlot • TI.'l'&M1.1oenle,ôbea.bo.OU.bo.ni.ta., Vo.Ja ,, •• " , do,
roda que a gente percebe em certos cocos, e a proxi
midade de que alguns estão da roda adulta portuga. Você diz que amor não doi Senhora dona da casa
No fundo do coração, Um favor eu vou pedir:
Tome amor e viva ausente, Meia hora de relógio,
ôh cabloca bonita, Oh eabloca bonita,
Veja si lhe doi ou não 1 Pra seu nêgo divertir.
'º" .□
Canto Antigo
R.O. DO NORTI.
1, ii □ 11 J B+4 MJ
1, J , 92
ªJJ ,, rn rn
Refrão •
Gavião Peneirou NORDESTE.
Segundo me informa Antonio Bento de Araujo
isto pode ser modificação de texto. O que é certo O inicio do "Pai Cajuê" obedece a um esquema
_
pra quem conhece a cantiga, é que ela já existia pelo melod1co bastante tradicional e bastante glosado no
menos nos meados do sec. XIX. Brasil. É com êle que principia o "Meu barco é
vdeiro" que corre por todo o nordeste.
Tow
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:Menina teu pai não quer
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Me. 111.u,u.&p&llllllll
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Toou ll O, DO NORTI,
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w>'OJ, ..,1 J J J l•r 1J 3 J J, Andante. Allegretto,
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J u íJ .J J :;I.S, 111 J JJ
u. e 510 o.OJ.94 01J u. n ,11
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1!
ro IIU H.IIIM 4D .,;;;--' .PsLDpl • a..h,111....
,,
Dificilimo de grafar o ritmo. Os compassos de Fiz a nêga se daná!
5 a 7 têm as fuzas muito diluidas, quasi iguais ás '
Meu barco. . . et e.
130 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 131
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Ta. • tú IÍ e&bo.�lo do . •ui,
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J.l.Ln. dei eliamu o,.a. • ro • M,Kio
□ D J D IOQ O J ,p -li•
Peixe-boi é do fundo do rio,
&1QtJI
Mulata bonita é da banda de lá.
Mandei chamar Generosa,
Não me quiseram mandar;
Mandei chamar Mariquinha,
- Dom-dom -
Saudades quer me matar 1
Toada
de Violeiro
ido violeiro Nitinho Pintor .1 S. PAULO.
Nasce a lua, nasce estrela Nasce o tigre, nasce a. fera, Logo pega: Bamo, bamo ! :Meu sogro matn cnpndo,
Pra no céu alumiá, Pra no sertão habitá, Nem que a noite teja escura, Eu mando busc:í. fressnra;
Todos nascem com destino, Todos nascem com destino, Adjunta os barrigudinho, Nois semo só nois dois,
Eu nasci só pra te amá 1 Eu nasci só pra te amá 1 A travessa na cintura. O mcno tres dia dura.
Ai, ai, ai, ai 1 ... Ai, ai, ai, ai 1 ...
Eu nasci só pra te' amá! .•. Eu nasci só pra te a.má.! ... Vô na casa do meu sogro
Me passa discompostura
Eu bem quero trabaiá
Nasce o cravo, n·asee a rosa, Mai a prigui�n me sigura.
Pro jardim noa enfeitá,
Todos nascem com destino,
Eu nasci só pra te a.má!
Na Venezuela (J. M. Furt, op. cit., pg. 51)
Ai, ai, ai, ai ... corre uma quadra assim :
Eu nasci só pra te amá! .•.
"No voy a los fandangos
Porque mi zamba (obrigação, niiilher) no
quiere
de Violeiro
Toada Porque dice que cantando
\do violeiro Nitinho Pintor, de Pirac1cabal,
8. PAULO. Enamoro las rnujeres"
-11 e· r Ir r e- r Ir r
Ja82
E E1 de Vi11letro Toada
�r r 1 fl1J Jf]
. Possuia letra se referindo ao general Isidoro De Cataguazes (Minas Gerais) possuo a toada
Dias Lopes. Infelizmente não registrada. (
de "Sô Mané Joaquim", muito antiga e é interes
sante ajuntar a esta de Nitinho.
de Violeiro,
Toada Sô Mané Joaquim CATA.OUAZIS, fJlí-1.
,,1;;"�
134 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 135
1 2
Toada ,,..,,u.
n nIn aI u u nm
Eu entrei num galinheiro Abre-te cambos e serras,
J.,,
f§wif111a�1-1
Pra eomer carne à fartura quero correr com cautela,
Apontou as barras do dia quero ver onde vai morrer
Senho.rado.01.d:i. u.u,S;i..la fü.ra,venha. y,3, O umb1.noier.u.l.?O,tâque.rendoam.lnhe .e�! E se veio a cadela escura. a fama desta cadela.
411 an ian ij i, iH H RH
13
ffíl Jffl 1hH Na cochilha dos venta.nas
r rt r �
comandante de polícia,
Chico Sôrr-o de Oliveira.
!11 m.lreinwn ga.11 • llllel. re Pra eo.mer eu.Mi fu
''11 i i j u.,
• eu. n..A.p&n.1011
u bar. ns
li j
di. a.,e .j J j i J J
n. '°"' ca. .de.a.H
IJ J
. e• . .._
,. r r !}li canto em comum sempre baseado num falso-bordão
de terças e sextas.
136 MÁRIO DE ANDRADE
ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 137
Toada do Lauro Louro
SERRA
Prenda minha
.;,
r •. I' E � □ 1-1:1n1.anuJ,p>J1J..-----,,u
(R. Gn.W "' S.Z). R,G, DO SUL.
�i1111J Jj J
rrn J u n □ 1wJH-Mm, 1 J cm
Ve. lho P&u • 11.11a t<!m 11J11 ri • lho qua • �i ho • me, quan. do tem rni • u. oio \"011-metmbn r�.•·ou-mePm.bo.ra,l'rtDC!&mi.11.ha,Tellho mui .toque r,. .ur:
� . '
Ii iw
co.me,Pegi..,fLe&ew,i brl • ga� Por i�. •o mesmo que m�chamo L&uro Lou.ro, Melo& fa.ca., li.roo
1 -J#�
§, 1111 J., }1114-JJU N I J. !
ier: Te11io d'ir pu.,
n;_JJ O I J J J UJ,IJ_!J�F
ro.de.lo,prend•millhA,No-.po
rr.---1
dobem.qiie.nr.T,nlw
=" lJ J
Sou flllto do U.p "'°'· "'• ª Prenda minha
Foi-se embora e me deixou. J
1 J ] Ir • •
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•= u .. .J 1
" . r• •..:li.-•
.J
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111,11 , lo
JJ
M.eJlo • ,. • •o•
1 1 •1
O refrão é instrumental.
Sou filho dçi tigre mouro,
Neto do tigr_e pintado, Sílvio Romero nos "Cantos Populares" dá uma
Me chamam �e tira-sciama, versão sergipana da 2.ª estrofe.
De muito tenho tirado!
138 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 139
� � nu Ô ara)] ,n
de Violeiro. �UNAS,
� J 1J l 1 '.i J '.i 1 • l i • l i IJ l j ±l J 1
La no 111e11 ser.lii.o 1°9ffl mu,.ta '}u1. u. h, Quetl c11.me d& ca.bra, Tu,..
..... 5 J. DJ� i J. i 1 , l 5 J J
cr,�.ti.o, Pa! mas.•� ILI m'IO, Dá
1 1 D jJJ 2
dl; · de •bar.ri.gil..• Tom ea..lln. d1 a. �e que. Cachorro que engole osso
Nalguma coisa se fia
Quando eu topo muié veia Quando eu topo muié veia l
Dou benção e chamo tia Dou ben�o e chamo tia S bis.
Caititú de mato grosso
Corre mais do que cotia.
Desafio
-n#•·
NORDBSTB.
,.. t.r iJ □ 1 J
••
ptl 1J g ffl □ 1,JJ
Li no meu sertão 1
Tem muita quixaba, ffi Jl IJ IJ •I
· Que é cumê de cabra, •�--- -
S.11Mani do RI.a • chio Que J>3.ea.do1laot. u11! llm &. l!O tla bomd'l11.,er.11C1 Seu ri. &.ehoniooor. nu!
Também de cristão,
Fai massa na mão, Cabeceira: Riabhão:
Dá dô-de-barriga ... Seu Mané do Riachão Meu riacho não correu
Tem cabra de aço Que pecado são os seu 1 Lhe digo, meu cavalheiro,
Que morre e não briga 1 Um ano tão bom de inverno E que as chuvas foram pouca
Seu riacho não correu 1 Pra cima, prás cabeceira,
Esperança 1
:e da mata verde } bis. Desafio entre os celebres cantadores Mané do
Riachão e Cabeceira.
Notar a· deliciosa extranheza modulatoria da
O Martelo, informa João do Norte é uma poe peça, sem que por isso ela perca o caracter brasi
leiro.
sia historiada. O refrão em :rp.etro no geral mais
curto, chamam comumente de carretilha, me ·infor Desafio a Ma.nué do Ri&chão
()!asi recil4livo. P!RNAJOUCO,
ma Ascenso Ferreira. Este martelo se confunde
,n1111 •LJ1, rwirwi i nw.1J,1
'""- -
,Jjl 1'!"15!
com a forma generica do coco nisso de possuir estro StuKu.1111 do Ili.a .ellio, ln.da - UI!> per.pn.U..
m_; 11 M
tempo musical e o compasso, é muito possível que
nesses nordestinos a gente vá encontrar uma repro �I � ;-q..q.g;w-fflqg lJ � 11 ,J§ íg
dução contemporanea da maneira de cantar dos rap re .zan:i.ome11epdes\a vez! SlnhA Te . re .u mefezdu suu, Pe,:w,moo. roupa, Jop;ou no. ru . li!
sodos gregos ou do canto cristão primitivo. Com Senhora dona Tereza { Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três,
efeito se dá neles uma união absoluta da musica e F ui ontem desempregado Sb� Sinhá. Tereza não me pega desta vez!
da palavra falada, de formas a tornar impossível O feiJ"ão está ·muito car.o 1 Sinhá Tcreza me fez das suas,
l bis
uma fixação ritmico-musical isolada. É a maneira E a carne seca é fidalga! J Pegou-me a roupa, jogou na rua!
de falar, natural e despreocupada, que determina As mulheres por natureza
ás vezes em absoluto a sucessão dos sons da melodia. Carrega sua fé segura:
Ora como a fala despreocupada nem sempre se rea Quanto mais mente mais fala, 1 bi8
liza exatamente da mesma forma ao repetir a mes Quanto mais fala mais jtJra. f
Dou-lhe uma etc.
ma frase pelo fato mesmo de ser despreocupada, As mulheres quando resolvem
sucede pois que repetindo a mesma melodia com o Falar da vida alheia
mesmo texto, o cantador já não ritmou exatamente Principia na lua-nova
da mesma maneira da primeira vez. Quanto mais si Acaba na lua-cheia.
Dou-lhe uma etc.
o texto varia! . Na verda:de a segunda quadra que Moça feia qúando casa
consignei Ou é o sol etc. já requeria nova ritmisa Julga logo por feliz;
ção da melopéa. Se dá pois em muitos dêsses cantos Passa uma pela outra
um rubato constante e subtil, maravilhosamente Arrebitando o nariz.
variado. Aqui é bem êsse, o caso. Qualquer e mi- Duu-lhe uma ele.
10 _J
'I
'
Colhida por mim dum paroara. Dêsses que de Este lundú tem um movimento muito coreográ
pois de irem gastar na terra: deles o dinheiro ganho fico. A palavra "lundú" está desaparecendo. Aqui
na borracha, voltam de novo pros seringais. Assim no centro elo país indica especialmente uma cantiga
praceana de andamento mais vivo que o da modinha
êle ... Era moreno; corpo rijo, e de palidez pra
e com texto de. caracter comico, ironico, indiscreto.
nunca mais. Cantava pouco, quanto falava, mas O "Gosto da Negra" que segue, corresponde bem ao
tudo bem. Era deliciosa a maneira rubatisada, que chamamos por aqui de "lundú". No norte lun
cheia de -acentos e prolongamentos inesperados com dú inda permanece mais proximo da dança. No
que dizia esta chula de tanta malinconia. interior do Estado do Pará "lundú" é ainda urna
dança, me informa o prof. José Domin gues Bran
A segunda estrofe lembra Portugal: dão, de Belem, autor ele duas Rapsodias Brasileiras
pra orquestra.
"Lindos olhos tem a cobra
Q 'ando olha de repente;
L...i.i
..... Gosto da Negra BRAOANCA. ts. ,-,o>.
1
Eu gosto da negra Que bem m 'importa
Gôr de earvã?, Que falem de mim,
LUNDúS E MODINHAS Eu tenho por ela Eu gosto da negra
(._-fraude paixão. :Mesmo assim 1
Lundú com Ga.nzá .......... A aluna que me comunicou êste lundú, ignorava
a continuação elos versos. Tanto pela forma e ex
pressão musicais como pelo simples facto de ser
caracteristicamente lundú, êste documento parece
provir elo sec. XIX.
�• • -13 íHhJS••0) 1-1 -1- -13- U- ijj alalalal 1-1j. -I -D- Sala-cu-saco, ma Malia, ma famá,
ZGio dela cumo tá rigalado,
Ll.n. u•.lo ti.uU.,01I-. aô Ti. pln..dil. h,.do&u,MígiaidiOa.lA. CL11..1o!T,i; pla_du. Nalizi dela cumo tá libitado,
Pelo dela cumo tá lipiado,
Pata dela cumo tá calapaçado !
, J 1J. lUtJ (bis) Tengô, tengô, ma famá, (etc.)
lt..<fo.S. h.io 4i Ba.pl • U. \&l TH • gô ten.,tô 111& ta • iü T(n • cô migõ ma ta •
III.
Quando eu era nu meu tera
rll IJJJJ.JI IJJ UJ ;JJJJI
(bis)
�► ; (bis) Era rei de Zinangora, ( Àngola)
*
- Wa.li. •• mi.• .., . 1,. n11J11al ra.n.--or. d,..do• Ma.li. a dil Coagv,1111.111m.l ra.ra. di P•. (bis) Gora tô in tera di blanco
(bis) Zoga cabungo foral
44., t 1tn 111".J, 1Q Ud 01fJ•J1IA u.r l Sala-cu-saco (etc.)
Q..llol Ili Ili ba hal- U 11111 e&..mU!ho ri MI.•• La 111aa e... mi. Ilho rt (como da_I.a vez)
1
• O LI.j I F3
lll.aa V • nu. ota ,- •
lA IJ
mi 1(111 • câ U·1uon • 'I& mi
.._
N>a • e&
'J ) 1
O R é sempre brando. Algumas coisas, como
"sàla-cu-saco" não compreendo. Cabungo, nos luga
U
u-1, □ bsa 1-1 11·tJ o Iu a a u 11sf±L-
U.. eu. • r&.4iop,. . la.pi . tõ s...1...... • U..CIOlll&KI..Ji.& 111&f& . 111.i.
Grafei pedaço mais longo da musica, embora
lo.M de.la l!U..IIIO tá repetição, pra mostrar a variedade rítmica ocasio
Na 1i-d de.la e,, mo U, ,Lbi • tau
ri.(& • !,,do
h•ID de.la eq.mo U. li. pi • ado na:da pela prosodia em parte, pela irregularidade
0
-
A palínilhar longas Estradas Estela. S. PAULO•
"
..-
m Oll.Vin.dou !ris • l.oa o, • r& • pon. gas NBA ma.ta• lrl• . \es & ge . · mor,
�tnn11 a1r, 1r ri 1r u@cr1r i Ir 1�
Al, oomo bel.J11-o 11W' o lu • arl O ffl&l'SU�pl.rf, ge. mee iremo! B do
A palmilhar longas estradas rr,---,�
l'i B li t.Cl IFtsdlt
- ',1
De longe vim para te ver 1· ·1r rI-•1•1mw
rr 1 -
Ouvindo as tristes arapongas ai • toda céu 110rrlndo 11n • do. A. cor.da!abreaJ'l..ne. !a,Eúe.Ja.1 8 do
Nas matas tristes a gemer.
Que D.oite! o plenilúnio Em teu leito de sedas
É como um sonho, Dormes quieta.,
Nas Horas Mortas da Noite Assim risonho, O teu poeta
'
Boiando lá no céu, Canta para teu sono
8. PAULO. Beijando o mar! SuaviSà.r.
'J.u, As estrelas pelo azul Dorme f Cantarei·
11 J l l 1l l J I J 1 ) -· :.--= ==--
Vagam sorrindo,
Estás dormindo.
Como suave
Canto de ave,
Nu llo.ru mar.tu d& nol • se Co • 111<1i doeeo l9lt ,li &ar __ Eu venho meu amor Que gorgeia no céu
Te despertar 1
f �'"� .. r·"
Fitando o luar!
l J 1 1l ll 1 J l.l 1 J. 1�.
...J
Ai, como beija o mar
-u u.u..laa ""' Nu GD .du qule,IU �--=- (; O luar!
O mar suspira, geme
• 11
E tremei
Qutufo&Lll.&111&.�S.tO H
IJ J l IJ J. J I J
Brl.lha.n.WI liil.da.e r01 ..,
J E do alto do céu sorrindo
Lindo,
Acorda abre a janela,
Estela!
1 1J
.)
J. 1
ll j l 1 •1 JJ J Registro a poesia que nem escutei, deformada.
Co. mo don • te. la Vlli . do "" -..guas � "' •• ru! ___
nu J1cr&:l 1i J.11
Quando a Lua majestosa .
1
Brilhando linda, e formosa
Como -donzela vaidosa 1 w- w nCtr 1i ;i�
c).1i' 0 811 r,J
to.11.bó, fubl!J�WII. &. 11.0 OOl!l.molembl'l)4.go. r., Que11.es.t11. ho. r& 1111111.pLrecestaem ..,.nliol
Nas águas se vai mirar!
Esta modinha é bastante antiga. Minha mãi a "j Faz
Que
hoje um ano· bem me lembro ainda
estavas linda com êsse olhar tristonho,
i
conheceu em meninota, o que dá pro documento já Faz hoje um ano bem me l1;1mbro agora
uns 60 anos no mínimo. Que a esta hora me apareceste em sonho!
'
'
i
148 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 149
É modinha bem antiga. A escutei piasote e vem 6
pois do sec. XIX. Não me lembro do resto dos ver
Empadas
Andante.ritmado s. PAULO,
sos ou nunca sube mesmo.
w1�1 �¼ÍJJ�I
>
cJ•� >,- �
utrtfE
Senllo. ra do.n.. do u. 11,, ,•ew na. J•. ce!a.Lper.el. i.!
·u•pr �trr
PHEGC>ES -7'
> §
�.GJ;iJ r,,.
11
Ttnhaum. pa.4-. quen.tl.nha,C• . ma..rio ar. re.chel. 1Udol?..,
1
Amendoim Senhora dona de casa,
w& 1- r □ =
Andante. S. PAULO. Venha na janela aperciá 1
rr>
Pu. so 01.t.. rMD..doim tor • ri
1 t Tenho a empada quentinha,
Camarão arrecheá (do) ! ..
7
O Cego
I· □
2
NORDESTE
tento, recitad.9.
Andantino,.
Marcel& PBRNAMBUCO. 1r Ul
FD' F E, E,r r r ►
-ftv , d ICE i ; 1p • U IãJ tJ d IC rir r 1
E11 &e.n.ha llll.l'. e& • l& pra 11'11 • qs • MI • (rol!..
1� ' 1 li
<- Este canto maravilhoso me comunicado por
3 Lionel Silva esquecido do texto, é o unico documento
Cocada
f ••
Lento recitado. CAJl'ITAL ftDHAL.
brasileiro que eonheço em que o hipolidio está siste
� J Co.q • ckt
F � J J • p�JJ4JJ
Pte.ta• brui • eal
li matisado. Porém êste se acomoda perfeitamente
com a psicologia musical do brasileiro e sobre isso
temos uma anedota que é bem fina. Quando L. Gallet
publicou a 1.ª edição das "6 Melodias Populares
4
.◄
Pinhão Brasileiras" ( ed. eit.) um- êrro feliz de impressão
}J� � J- -1
' � t li
8. PAULO.
J
fez com que a peça "A Perdiz piou no Campo" em
lá maior, saisse com 4 sustenidos na armadura de
PI.DhioqllOA • t,,queqw,l.m&& gen
#-
• k!.Bii qlll'II .te,JaU.l&. la!Sti 4uen. te!"'
clave. A peça ficava em hipolidio. . . Ninguem
quasi não percebeu o engano, a melodia ganhou mui
to sem perder o caraeter e foi assim que O. Respighi
Sorvete a empregou na "Suite Brasiliana". A honestidade
r Jlf
de L. Gallet o obrigou a restabelecer a armadura de
Anda�. S. PAULO.
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�i 1 � 1 J Jl- lá maior na 2.ª Edição. Honestidade feito muitas
.1&.li, •
Sor . u. le, • 001.• outras: louvavel porêm lastimavel ...
1
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NOTA FINAL
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A Música e a Canção
Populare8 no Brasil
r
EXPLICA CÃO
li
158 MÁRIO DE ANDRADE
ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 159
destinação do trabalho. Mas, como frequentemente
fazia, guardou as fichas primitivas, que lhe po lógica, 0 "Centro de Pesqu_isas Folclóricas ]Iario
de Andrade'' ligado à cadeira de Folclore do Con
deriam ser úteis quando quisesse ampliá-lo.
servatório D;amátíco e Musical de São i:a_ulo, Cen
É bem provável, assim, que Mario de Andrade tro fundado e dirigido pelo_ prof. Rossini Taya�es
pràticamente não tenha tocado em "A Música e a de Lima , a Comissão Nacional e suas C omissoes
Canção Populares no Brasil", após a sua publica Estaduais de Folclore, subordinadas ao �becc
ção. Apenas se limitou a corrigir levemente alguns (órgão da Unesc� no Brasil), criadas e apoiadas
êrros e a anotar sumàriamente mais alguns livro,s por Renato Almeida.
incluíveis no bibliografia. Dêstes poucos, os últi
mos em data são os seus estudos "Música do Por tais explicações e por se tr�tar �e trabalho
Brasil" e "A Nau Catarineta", ambos publicados feito há dezenove anos, não é P:eciso dizer gue as
em 1941. E ·cabe notar, em refôrço da hipótese de partes informativas de "A Música e a Ca_nçao Po
que o trabalho não sofreu revisão i,erdadeira após pulares no Brasil" estão ag_or_a ba�tante incomple -
1936, que nos seus novos registros bibliográficos . tas. Mas julgamos necessario salientar q!"e� ape
Mario de Andrade nem sequer. mencionou sua mo sar das limitações trazidas pelo tempo, a bib_liogra-
delar monografia "O Samba Rural Paulista", pu . fia e a discografia continuam válidas e úteis,. pe!a
blicada em 1938. seleção e crítica de obras que permanecera'i:1' indis
pensáveis ao conhecimento do folclore mu�ical bra
1lfario de .Andrade deixou também com o seu sileiro. (Dos livros recenseados por Maria de An
conteúdq primitivo a discografia que constitui a drade, muitos têm edições novas, algumas anotadas,
parte II de "A Música e a Canção Populares no feitas recentemente).
Brasil". A 3.ª edição do seu "Compêndio de His
tória da Música" (São Paulo, L. G. Miranda, A grande importância de "A Música e a Can
1.'J36) traz, no capítillo .XII, relcu;üo mnior de discos ção Populares no Brasil" re�id� _ na sua p e qii�na
de música, popular brasileira, relação aproveitada mas fundamental parte doutrinaria. Nas conside
na"Pequenci História da illúsica" (Süo Paulo, Li rações com qiie precedeu o levantam;e1:to da do�u
,
vra.r·ia Jl[art ins, 1.942) e excluída, com tôda a d·i,ç mentação então existente sôbre a musica folclor_ica
cografia, da edição do mesmo livro feita para a.� brasileira, Mario de Andrade expôs pontos-d�-vista
Obras Completas (i•ol. YIII, São Paulo, Livraria que representavam, no tempo, u_ma verdadeira re
·Martins, 1.'J44). Os discos recenseados nessas dis volução das principais bases teóricas e':11' que se f1:,n
cografias estão esgotados há muito tempo. davam os estudos do Folclore. Part�n.do da: s dife
Na parte destinada às insti'trµ,ições públicas renças de formação e estrutura sociaif _existent�s
que se ocupam do folclor.e miisical brasileiro, seria. entre os povos da Europa e os �a :4-mer3:ca, 111a:;io
preciso mencionar hoje, entre as surgidas após de Andrade salientou pela primeira ":�f, em A
1.936, pelo menos as mais ativas: em ordem crono- Música e a Canção Populares no Br_a�il , a _neces
sidade de rever-se o conceito de tradiçao e a impos-
· EH
mi
'I
si�il_idade de con_siderar-se as manifestações fol 3) Foi respeitado o proc,esso que Mario if,,
cloricaf3 como fenomenos essencial e exclusivamente Andrade adotou para o registro dos livros, ein/;om
rurais. O tempo ffrmou essas verdades, que se in êle fuja aos preceitos técnicos de organização bi
corporaram à teoria brasileira e americana do Fol bliográfica. Corrigimos apenas um pequeno nú
mero de erros mitito evidentes, qiie atingirwm om
�lore,
, _e que muitos folcloristas europeus também nomes de autores ou de livros, ora a imprensa, e
Ja aceitaram ou redescobriram, levados pela obser
vação não só da realida.de amieric(J,na, mas també'/11, assinalamos êsses casos com dois. asteriscos.
dos seus próprios campos de estudo. Na parte destinada às instituições brasileiras
que se dedicam a pesquisas de folclore, julga:mos
. Neste volume VI das Obras Completas de Ma de bom alvitre:
rio de Andrade, "A ],fúsica e a Canção Populares
no Brasil" é incluída tal como está na edição mi 1) Esclarecer, em nota de rodapé, um peque
meografada feita pelo ,vfinistério das Relações Ex no engano referente à Discoteca.· Pública �Municipal
teriores e corrigida pelo autor em seu exemplar de de São Paulo. Tratando-se de trabalho informa
trabalho. Entretanto, tomamos o cuidado de escla tivo, pensamos que também seria útil assinalar ern
recer ou retificar os seguintes pontos relativos à tal nota a existência, nessa repartição, de uma co
bibliografia (partes III e IV): leç�o fonográfica mencionada por Mario de Andra
1) .Na impossibilida.de de determinar com de em outro ponto do mesmo capítulo.
absoluta segurança se as fichas bibliográficas avul 2) Juntar uma nota sôbre o antigo Instit·uto
sas são anter-iores oit posteriores à primeira edição Nacional de Música (hoje Escola Nacional dr,
do trabalho, registramos em notas de rodapé as Música), em obediência a lembrete escrito por 1lfa
ob�ervações críticas nela,.� contidas, sempre que am rio de Andrade na fôlha sôUa já várias vêzes
pliassem_ oit esclarecessem o nota. já publicada. ·mencionada.
Igual a�it�tde ado�amos pa.rn com as fichas que re�
ve�ª:11'. JUi�os muito fa.voráveis, ref armados, com Oneyda Alvarenga
criterio evidentemente melhor, nas versões constan (17-9-1954)
tes da bibliografia.
.'J) Registramos os dois livros existentes em
fichas e que não constavam da bibliografia, bem
como as novas obras indicadas numa das página.�
a�rescentadas �o exemplar de trabalho e na fôlha
solta. Seus numeras foram postos entre parênte
ses e foram marcados com •as obras de que Mario
d,e Andrade anotou a.penas os títulos ou os nomes
dos autores.
A MúSIOA E A CANÇÃO POPULARES
NO BRASIL
l'
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IG..J- MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA
estmlos perfeitos sôbre a vrática musical dos Ame- tados. (E mesmo clêstes, uma grande figura de fol
1·Ílldios brasileiros, mas são poucos numerosos !l cir clorista, como Amadeu Amaral, levado pelo concei
cunscritos a regiões relativamente pequenas. to do anonimato multissecular e generalização po
Quanto à música vopular nacional, propria pular de Folclore, se viu obrigado a aceitar apenas
mente dita, a bibliografia também apresenta peque em número muito restrito, nos seus estudos.)
no número de obras de valor reahnente folclórico. Porém êsses documentos recebem melodias várias
A musicologia nacional está na infância, e só recen em cada região e mesmo em cada lugar. Será pos
temente se vão fazendo colheitas de melodias' eom sível alguma rara vêz determinar, pelo estudo des
espírito científico. sas diversas melodias sôbre um mesmo texto, que
uma parece mais antiga que outra; mas é impossí
Aliás, o problema da música popular brasileira vel, pela ausência ele. elementos ele confrontação,
é de natureza muito especial, pelo fato de sermos imaginar o grau ele ancianiclade ele qualquer dela�.
uma nacioualidade de formação recente e não pro
priamente autóctol!e. llS próprias condições e pro Assim, não teremos o que cientificamente se
gressos 'Cle feição arneritana, transformam podero chamará de "canção popular". Mas seria absurdo
san1ente o processo Lias nossas manifestações, po concluir por isso que não possuimos música popu
pulares ou não. Por trnlo isso, um conceito rigida lar! Tanto no campo como na cidade florescem com
mente científico de ··<'anção popular", tal como a enorme abundância canções e danças que apresen
etnografia a define, uos levaria com o sr. Julien tam todos os caracteres que a ciência exige
"1 Tiersot, na Encyclopér/ia de la Musi q·ue de Lavign ae, para determinar a validade folclórica duma mani
a enearar a possibilidade ele negar a existência ele festação. Essas melodias nascem e morrem eorn
cançües po)luiarcs entre os povos americanos! rapidez, é verdade, o povo não• as conserva na me
A bem <li½er, o Brnúl 11üo possni canr;iies popii mória. Mas se o documento musical em si· nã.o é
lares, muito embora possna ineontestàvelmente mú conservado, êle se cria sempre dentro ele certas
oica pop·nl-ar. Quero dizei·: nós não temos melodias normas de compor, ele certos processos de cantar.
tradicionalmente populares. Pelo me11os não exis reveste sempre formas determinadas, se manifesta
tem elementos por onde provar que tal melodia tem dentro 'de certas combinações instrumentais, contém
sequer nm século de existência. Os pouquíssimo8 sempre certo número de constâncias melódicas, mo
documentos musicais populares impressos que nos tivos rítmicos, tendências tonais, maneiras de ca
ficaram, de fins elo século XVIII ou princípios elo denciar, que todos já sã.o tradicionais, já perfeita
1'
,i
século seguinte, já não são mais encontrados na bôca mente anônimos e autóctones, às vêzes peculiares, P
do povo, que dêles se esqueceu. Existem textos po sempre característicos elo Brasileiro. Não é tal (:an
pulares, princ-ipalmente romances e quadras sôltas, ção determinada que é permanente, mas tudo aqnilo
<le origem ihfrica, que permanecem até agora can- de que ela é construida. A melodia, em seis ou dez
:Ijr.
,j,______
166 M{Rro DE ANDIIADE E'<8Al0 SÔBRE A MÚSlOA BRASILEIRA 167
>inos poderá obliterar-se na memória popular, mas acaba, o earnpo principia. E realmente numerosas
os seus elementos constitutivos permanecem usuais ,·idades brasileiras, apesar de todo o seu progresso
no povo, e com todos os requisitos, aparências e mecânico, siío <le espírito essencialmente rural.
fraquezas do "tradicional". (1) . ·
Por tudo isso, não· se deverá desprezar a
Outra face do problema que exige adapfação documentação urbana. Manifestações há, e muito
americana especial, é a questão do urbano. É de boa características, de música popular brasileira, que
ciência afastar-se de qualquer colheita folclórica a são especificamente urbanas, corno o Uhôro e a Mo
1ocumentaçã� das grandes cidades, quase sempre dinha. Será preciso apenas ao estudioso discernir
llllpura. Sera possível adotar-se semelhante crité uo folclore urbano, o que é virtualmente autóctone,
rio para o Brasil 1 o que é tradicionalmente nacional, o que é essencial
mente popular, enfim, do que é popularesco, feito
A_s condições de rapidez, falta de equilíbrio e à feição do popular, ou influenciado pelas modas
de umdade do progresso americano tornam indeli internacionais.
mitáveis espiritualmente, entre nós, as zonas rural
e urba;1ia. Nas regiões mais ricas do Brasil, qual Recusar a música populal' na('ional, só por não
_
quer c1dadrnha de fundo sertão já possui água en possuir ela documentos fixos, como recusar a do
canada, ·esgôtos, luz elétrica e rádio. Mas por outro cumentação urbana só por ser urbana, é desconhecer
lado, nas :maiores cidades do país, no Rio de Janeiro a realidade brasileira.
"?º Reci�e, e� Belém, apesar de todo o progresso:
mternac1onahsmo e cultura, encontram-se núcleos I
legítimos de música popular em que a influência
deletéria do urbanismo não penetra. Institwi('Ões Públicas
A mais importante das razões 1dêsse fenômeno 1 - Museu Nacional, do Rio de Janeiro, -
está na interpenetração do rural e do urbano. Com Guardam-se no Museu Nacional os cilindros grava
exceção do Rio de Janeiro, de São Paulo e poucas dos pelo prof. Roquette Pinto, entre os índios de
mais, tôdas as cidades brasileiras estão em contato Mato Grosso. Estes cilindros estão bastante dani
'
direto e imediato com a zona rural. Não existem
1 ficados, mas atualmente fazem-se esforços no sen
1 a bem <dizer, zonas intermediárias entre o urbano :
tido de salva-los.
, o rural propriamente ditos. No geral, onde a cidiwe
:j
2 - Phonogramm-Archfo, de P8ychologischen
(1) Do parágrafo que começa com "A bem dizer" até êste ponto, h:í, Institut, da Universidade de Berliin - Guarda-se
no exemplar de trabalho, um traço lateral .:êeito a lápis. A frase "mn�
tudo aquilo de que ela é construida", compreendida nesse treeho 1 foi nesta instituição a coleção dos fonogramas gravados
grifada a lápis. De acôrdo com os méÍodos de trabalho de Mári o 11 1' por Koch-Grnenberg, entre os índios do extremo
, Andrade, êssea traço� !'leriam marcas para fiehamento1 estudo mais <lrse11- norte da Amazônia, bem como várias outras coleções
volvido ou aproveitamentt, l;!fil outra obra, (O. A. )
:,
168 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 169
__J
1í2 MÁRIO DE ANDRADE �]NSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 173
:1
Pbonogram-Archiy, da Universidade· de Berlim. O estudo é feito por
1
i (8) "A melodia dada como dos índios Chiquitos à p. 65 e que o autor tante cientifico e terminologia de quem conhece música. Mas afirma
"aprendeu de ouvido" é absolutamente inautêntica, sob o ponto de vista que êsses Bororos ignoram a melodia1 pois todos seus cantos são num som
1 ameríndio. Como linha melódica tem elementos tradicionais brasileiros." sü, excetuados apenas 2 onde surgem doi sons I Ora isso discorda da
. •
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1
174 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 175
1
IV 5 Guilherme T. Pere-ira de Melo - ''A Mú
1: sica no Brasil" - Tipografia de São
Bibliografia sôbre a Música Popular Brasileira Joaquim, Bahia, 1908. (Melodias po
pulàres colhidas na Bahia.) (20)
A - Obras contendo documentação musical . 6 - Pedro Fernandes Tornás - "Velhas
não harmonizada. Canções e Romances Populares Portu
** 1 - F. J. de Snnt'Anna Nery - "Folk-Lore guêses" - ed. França Amado, Coimbra,
Portugal, 1913. ( Contém pelo menos
Brésillien" - Librairie Académique Di
duas melodias brasileiras, colhidas pelo
dier, Paris, 1889. (Contém 12 melodias
autor em Portugal.) (21)
populares do século XIX.) (16)
2 - Alexina de Mngalhães Pinto - "Biblio 7 - 1lfanuel Querino - "A Raça Africana e
teca Infantil" coleção Icks, série C - seus Costumes na Bahia." in "Anais do
ed. Ribeiro dos Santos, Rio de Janeiro, 5.° Congresso Brasileiro de Geografia"
1907. (17) -Imprensa Oficial do Estado, Bahia
** 3 - Alexina de Magalhães Pinto - "Canti 1916. (22)
ças populares do Brasil, ou aqui popu C - Obras colecionando textos da poesia po
larizadas.) (32) pular cwntada, ou descrevendo costumes
musicais populares:
5 - João Gomes Jr. e J. Batista Julião -
"Ciranda Cirandinha" - ed. Companhia
de Melhoramentos de São Paulo, 1924. 1 - Basílio de ltf.agalliães - "0 Folk-Lore
(Contém 50 rodas infantis, colhidas no no Brasil" - ed. Livraria Quaresma,
Estado de São Paulo.) (33) Rio de Janeiro, 1928. (Éste livro contém
uma bibliografia bastante completa dos
6 - Ceiçii,o de Barros Barreto - "Cantigas estudos publicados no Brasil sôbre o fol
de quando eu era pequenina" - ed. Pi clore nacional. Citarei mais, apenas as
1 i'
menta de Melo e Cia., Rio de Janeiro, obras fundamentais, as omitidas e as
1931. (15 melodias infantis, colhidas em posteriores ·a 1928.)
Pernambuco.) (34)
2 - Vincenso Cernicchiaro - "Storia della
7 - Luciano Gallet - "Canções Populares
Musica nel Brasile" -,_ ed. Fratelli Ric
Brasileiras" - ed. Carlos Wehrs e C.,
cioni, Milano, 1926. (Nos capítulos III,
Rio de Janeiro. (São duas séries, uma
IV e V, trata imperfeitamente da mú
de seis, outra de doze canções, colhidas
sica dos índios e da popular.) (35)
sem intenção etnográfica, e trabalhadas
para -uso musical artístico.) 3 - Renato Almeida - História da Música
(8) - Yilla-Lobos - Collecção Escolar" - ed. Brasileira" - ed. Briguiet e C., Rio de
da Superintendência de Educação Mu Janeiro, 1926. (36)
sical e .Aitística, do Departamento de . 4 - P. Simão de Vasconcelos - "Crónica da
Educação do Distrito Federal. (Esta Companhia de Jesus do Estado do Bra
obra não visa absolutamente finalidades sil" - 2.ª ed., Rio de Janeiro, 1864.
folclóricas porém apresenta um acervo (Uma obra como esta, bem como os três
numeroso de melodias populares. É a volumes de "Cartas Jesuíticas", publica
coletânea mais vultuosa que possuimos das pela Academia Brasileira de Letras
de rodas infantis.) em 1931 e 1933, estão nas mesmas condi
(32) "Ed. nada científica de canções e danças no geral populares por ções das de Fernão Cardin e Gandavo
\
tuguêsas. Contém algumas peças que se popuJarizaram no Brasil e de
que ainda não se determinou se são nossas ou portuguêsas pràpriamente."
citadas atrás. São livros antigos in.\iis-
(33) "Contém 50 das canções dançadas, as rodas, do populário inf.anti1
brasileiro. Apesar de harmonizadas, pois a obra tem carácter didático, (35) "Nos cap. III, IV e V, trata -da música indígena e da popular
as peças, colhidas em S. Paulo, são certas." brasilelra, no geral compilando. O cap. sôbre msica popular, além de
(34) "Reune 15 canções populares infantis (rodas, bereeuses, parlen não ter exemplos musicais não apresenta nenhuma compreensão científica
das) harmonizadas primàriamente e com interêsse didático. São no ge• do que seja música popular."
ral versões nordestinas de · cantigas universalmente célebres no país (36) "Nos primeiro e último capítulos estuda esteticamente as origens
todo.-" e algumas feições da música popular brasileira (sem exemplos)."
' ,,.
Li,
184 MÁRI O DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 185
pensáveis para conhecimento das origens 12 França Junior - "Folhetins" - 4.ª ed.
das nossas práticas musicais populares.) Ribeiro dos Santos, Rio de Janeiro,
1926. (39)
5 - Sílvio Romero- "Cantos Populares do
Brasil" nas duas edições de 1883 e de 13 - Vieira Fazenda - ".Antiqualhas e :Me
1897. morias do Rio de Janeiro" - volumes
n.º 140, 142, 143, 147 e 149 da "Revista
6 - Sílvio Romero - "Estudos sôbre a Poe do Instituto Histórico e Geográfico do
sia Popular do Brasil" - Rio de Ja Rio de Janeiro". (Estas duas últimas
neiro, 1888. obras contém numerosas indicações sô
7 - Sílvio Romero - "História da Litera bre música popular.) (40)
tura Brasileira - Rio de Janeiro, 1888. 14 - Pereira da Costa - "Folk-Lore Per
(As duas primeiras obras de Silvio Ro nambucano" - tomo 70 da "Revista do
mero são fundamentais.) (37) . Instituto Histórico e Geográfico do Rio
8 - Melo ll{orais Filho - "Festas e Tradi de Janeiro". (Obra de valor funda
ções Populares do Brasil" - nova edi mental.)
ção, revista e aumentada, Livraria Gar 15 - Simões Lopes Neto "Cancioneiro
nier, Rio de Janeiro. (38) Guasca" - 2.ª ed. Livraria Universbal,
Pelotas, 1917. (Poesias populares co
9 - Melo Morais Filho - "Cancioneiro dos lhidas no Rio Grande do Sul.) (41)
Ciganos" - ed. Garnier, Rio de Janeiro,
1885. (O autor não tem espírito cientí 16 - Afonso Arinos - "Lendas e Tradições
fico, mas essas duas obras são sempre Brasileiras" - Tipografia Levy, São
imprescindíveis.) Paulo, 1917. (42)
17 - Gusta110 Barroso - "Ao som da viola" -
10 - Carlos Góes - "Mil Quadras Populares ed. Leite Ribeiro, Rio de Janeiro, 1921.
· Brasileiras" - ed. Briguiet e C., Rio de
Janeiro, 1916. 18 Gustavo Barroso - "Terra de Sol" -
ed. Francico Alves, Rio de Janeiro, 1923.
11 - Rodrigues de Carvalho - "Cancioneiro 19 Gutavo Barroso - "O Sertão e o Mun-
do Norte" - 2.ª edição, Livraria São do" -·ed. Leite Ribeiro, Rio de Janeiro,
• Paulo, Paraíba do Norte, 1928.
(39) "Contém descrições de festas e costumes musicais do Rio de Jà-
neiro. Apesar do carácter literário, fazem fé."
(37) uNo 1º tomo tem um capitulo bastante imperfeito e deficiente (40) "Coleção preciosa eom muitas indicações de carácter etnográfico,
de' análise à nossa canção popular." descrições de festas, nomes de instrumentos, de canções etc."
(38) "Um doa linos fundamentais para o ·conhecimento da canção (41) "Importante repositório de quadrinhas, desafios- e outros proces•
popular e das festas musicais tradicionais do Brasil. A autenticidade sos de poética cantada popular."
não deverá ser discutida, mas o A. é duma ingenuidade talvez pouco (42) "Descrições do algumas das festas populares mais tradicionais
cientifica no acolher textos:" do Brasil."
186 MÁRIO DE ANDRADE ENSAIO SÔBRE A MÚSICA BRASILEIRA 187
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