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ANTOINE COMPAGNON O DEMONIO DA TEORIA LITERATURA E SENSO COMUM CLEONICE Paes BaRRETO MourAO Consueto Fortes SANTIAGO Tradugdo 28 edicio 24 reimpressao Belo Horizonte Editora UFMG 2014 literdria foi se identificandlo Com a instituig2o escolar © Univers, taria, O apelo a teoria €, por definigdo, opositivo, até mesm, subversivo e insurrecto, mas a fatalidade da teoria é a de ser transformada em método pela instituigao académica, de ser recy. perada, como diziamos, Vinte anos depois, o que surpreende, talvez mais que 0 conflito violento entre a historia e a teoria literaria, ¢ a semelhanga das perguntas levantadas por uma e por outra nos seus primordios entusiastas, sobretudo esta, sempre a mesma: “Q que a literatura?” Permanéncia das perguntas, contradicao e fragilidade das respostas: dai resulta que € sempre pertinente partir das nocdes populares que a teoria quis anular, as mesmas que voltaram quando a teoria se enfraqueceu, a fim de nao 86 rever as respostas opositivas que ela propés, mas também tentar compreender por que essas respostas n3o resolveram de uma vez por todas as velhas perguntas. Talvez porque a teoria, @ custa de sua luta contra a Hidra de Lerna, tenha levado seus argumentos longe demais e eles tenham se voltado contra ela? A cada ano, diante de novos estudantes, é preciso recomecar com as mesmas figuras de bom senso e clichés irreprimiveis, com 0 mesmo pequeno numero de enigmas ou de lugares-comuns que balizam o discurso corrente sobre a literatura. Examinarei alguns, os mais resistentes, porque € em tomo deles que se pode construir uma apresentacao simpatica da teoria literaria com todo o vigor de sua justa célera, da mesma maneira que ela os combateu — em vao. TEORIA E PRATICA DA LITERATURA Algumas distingGes preliminares sao indispensaveis. Primeira- mente, quem diz teoria — e sem que seja preciso ser marxista — pressupde uma pratica, ou uma praxis, diante da qual a teoria se coloca, ou da qual ela elabora uma teoria. Nas ruas de Génova, algumas salas trazem este letreiro: “Sala de teoria.” Nao se faz ai teoria da literatura, mas ensina-se 0 cddigo de transito: a teoria é, pois, 0 cédigo oposto a direcao de veiculos, é o cédigo da direcao. Qual € portanto a direc4o, ou a pratica, que a teoria da literatura codifica, isto €, organiza mais do que regulamenta? Nao 6, parece, a propria literatura (ou a atividade literaria) — a teoria da literatura ndo ensina a escrever romances como a retorica 18 Lan ede Emile Faguet, 08 criticos hiterariog \reervieram —- embora Faguet fosse seu contemporines Lanse 0 qulgava ultrapassado —, que nao tnham ie nerana’’ Eet unit maneita polida de Ihes dizer que, a attias, cra AMpTEAstONISLS € impostores. nao sabiam 6 que Fatana thes mygor, Espirito cientifice, metodo, Quanto a ha ter uma teoria, © Que Mostra que histona 6 incompativers Ja dina de Brnest Ber ie of na Sorbonne seus Lava, Lanson, este F Inerarta ¢ toons NO Sa b respond necessariamente a uma intengio © apele d teorn polémica, ov opostivt (EHC ateona contradz, poe em duvidl mo A teoria © 2 pratica, Conforme © a, no sentido etimoldgico do termo) 11 a pratica de outros. E Wul acres. Centar aqui unt tereeiro ten mas Ndo apenas Maris! pratica € a teoria, estaria instalada a ideologia dessas nogoes: © temo Uso MUMS, tdeologia Batre ta a verdade de uma pritica, enuneta Uma teoria dit 1 suas comliyoes de possibilidade, enquanto a ideologia nao faria senae Jegitimar esse pratica Com Uma menura, dissumubina suas Cond goes de possibilitile, Segundo Lanson, alias bem recebido pelos marxistas, scus fivais NO Linham teoria, send idcologias, Isto & idleias prevoneebidas eas priticas que july atedricas ou antited- gsim, ela as institui como bodes expiatonos. Lanson Assim, a teorta re ricas. Agindo a que pensav:t possuir, com i filologul € © positivisme hist6rico, uma teoria solida, entregava-se ao humanismo tradicional de seus adversinios (homens de cultura ou de bom gosto, burgueses). A teorta se Opoe ao Senso ComuUM. Mais recentemente, depots de uma volta da espiral, a teoria da literatura levantou-se ao mesmo tempo contra o positivismo na hist6ria literiria (representade por Lanson) e contra a simpatia na critica hteraria (que havia sido representada por Fagued, assim como se levantou contra a isso- ciagdo frequente dos dois (primeiro © positivismo na historia do texto, depois 0 humanismo na interpretagao), Como Corre NOS austeros filologos que, depois de um estudo minucioso das fontes do romance de Prevost, passam sem problemas a julgamentos verdade humana de Manon, como se ela estivesse a nosso lado, uma jovem de carne intumos sobre a realidide psicologica e sobre © OSSO. ica dos estudos nalisa Esst Resumamos: a teot a contrasta com ap! Inerarios, isto é, a critica e a historia literdrias, e 4 prauca, ou melhor, essas praca s, descreve-as, toma explicitos Scus

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