Queixa contra Cônsul de Portugal em Goa

Exmº Senhor
Ministro dos Negócios Estrangeiros

Palácio das Necessidades
Largo do Rilvas
1350-218 Lisboa
Portugal
Goa, 24-Nov-2011
Refª: 22830
Assunto: Queixa disciplinar contra o Cônsul Geral de Portugal em Goa
MIGUEL REIS, advogado, titular da cédula profissional nº 5066-L,
emitida pelo Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advogados,
vem apresentar queixa disciplinar contra
O funcionário desse Ministério que desempenha as funções de
Cônsul Geral de Portugal em Goa, cuja identificação rigorosa
desconhece, o que faz nos termos e com os fundamentos seguintes:
1. O queixoso é advogado desde 1982 – ou seja há 29 anos –
e tem 60 anos de idade.
2. Desde o inicio da sua atividade como advogado que
dedica uma especial atenção aos problemas dos
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portugueses da Diáspora, facto que é, aliás, bem
conhecido do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
3. A sociedade de advogados de que o titular é sócio assiste
portugueses espalhados por todo o Mundo, exportando
serviços de valor muito assinalável, tomando em
consideração a sua pequena dimensão.
4. O queixoso conhece, por isso, muito bem o
funcionamento da totalidade da rede consular
portuguesa
5. A sociedade que o queixoso integra paga impostos em
Portugal, tanto a título de prestação de serviços feita
pelos seus advogados, como a titulo de retenção na fonte
relativamente aos colaboradores residentes no
estrangeiro.
6. Há cerca de ano e meio, a sociedade e o signatário
passaram a interessar-se, de forma muito especial, pelos
problemas dos portugueses do antigo Estado da Índia,
por variadas razões, de que relevam as seguintes:
a. Haver indícios seguros de níveis de apropriação de
identidade absolutamente inaceitáveis;
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b. Haver indícios claros e inequívocos de que as pessoas
são discriminadas em função das influências que
conseguem mover;
c. Haver indícios claros de que se gerou um quadro de
«criar dificuldades para vender facilidades».
7. Ao longo deste ano e meio, o signatário e os demais
advogados da mesma sociedade assistiram centenas de
cidadãos portugueses, nomeadamente em processos de
nacionalidade e de registo civil, que recorreram aos seus
serviços por considerarem que nisso tinham vantagem
económica.
8. Não pode o signatário ir além dessa afirmação genérica
por, por regra, todos esses clientes estarem de tal forma
aterrorizados que têm medo de depor em qualquer tipo
de processo, ainda que todos afirmem que é
indispensável proceder ao rigoroso apuramento da
vergonhosa situação que se vive no Consulado Geral de
Portugal em Goa.
9. O signatário está obrigado a respeitar as limitações
decorrentes dos seus deveres deontológicos e não deve
envolver, pelas mesmas razões, os seus clientes neste 3/49

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procedimento, para além do que é, por alguns deles
aceite.
10. Mesmo assim, com as todas as limitações que a obrigação
de sigilo profissional lhe impõe, entende o agora
queixoso que há factos objetivos suficientemente graves
para justificar a instauração de processo disciplinar
contra o funcionário desse ministério que desempenha
as funções de cônsul geral de Portugal em Goa e,
eventualmente, contra outros responsáveis do dito
consulado.
I. Um problema de direitos humanos
11. Quando visitou Goa pela primeira vez, há cerca de 4
anos, constatou o signatário que havia, no
relacionamento dos portugueses com o Consulado Geral
de Portugal, um gravíssimo problema de direitos
humanos, atenta a forma desrespeitosa com que os
referidos portugueses eram tratados.
12. Em nenhum outro consulado de Portugal no Mundo, que
o signatário conheça, são as pessoas tão maltratadas
como o são no Consulado Geral de Portugal em Goa.

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13. Qualquer português – dos originários da India ou desta
região – que precise da ajuda do consulado ou de um
documento de emergência, pura e simplesmente não
consegue entrar no consulado.
14. Os cidadãos indianos que são familiares de nacionais
portugueses – e que tem o direito de entrar e sair de
Portugal quando quiseram – têm as maiores dificuldades
em obter um visto, não conseguindo ver respeitadas as
regras da Lei nº 37/2006, de 9 de Agosto e da Diretiva nº
2004/38/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de
29 de Abril, nomeadamente do respetivo artº 4º, que
dispõe o seguinte:
Artigo 4º
Entrada no território nacional
1. Aos cidadãos da União é admitida a entrada no território

nacional mediante a simples apresentação de um bilhete
de identidade ou de passaporte válidos e sem qualquer
visto de entrada ou formalidade equivalente.
2. Os familiares de cidadãos da União que não possuam a
nacionalidade de um Estado membro são admitidos no
território nacional mediante a apresentação de um
passaporte válido, só estando sujeitos à obrigação de visto
de entrada nos termos das normas em vigor na União
Europeia, beneficiando, porém, de todas as facilidades
para a obtenção dos vistos necessários, os quais são
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concedidos a título gratuito e com tramitação especial que
garanta a celeridade na emissão.
3. Os familiares do cidadão da União que sejam nacionais de
Estado terceiro e estejam sujeitos à obrigação de visto de
entrada nos termos das normas em vigor na União
Europeia podem entrar sem visto quando possuidores de
cartão de residência válido, caso em que não é aposto
carimbo de entrada no passaporte.
4. Se um cidadão da União ou um seu familiar não dispuser
dos documentos de viagem necessários ou, se for o caso,
dos vistos necessários beneficia da possibilidade de obter
tais documentos ou de estes lhe serem enviados num
prazo razoável, bem como da possibilidade de confirmar
ou provar por outros meios a sua qualidade de titular do
direito de livre circulação e residência.
5. O familiar que não tenha a nacionalidade de um Estado
membro deve comunicar a sua presença no território
nacional nos termos da lei, sendo o incumprimento desta
obrigação punido nos termos da lei de entrada,
permanência, saída e afastamento de estrangeiros.
15. Por mais isso possa custar a pessoas que, na prática,
afirmam um profundo desprezo pelos seus compatriotas,
se eles não forem europeus – porque os europeus são, por
regra, tratados de forma diferente, esta é a lei e não
devem os advogados ocultá-lo.
16. O Consulado não só oculta esta informação jurídica como
não a respeita.
17. A regularização dos registos dos cidadãos portugueses e
a aquisição da nacionalidade portuguesa por parte dos
descendentes de nacionais portugueses transformou-se
num negócio brutal, que envolve operadores dos mais

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variados tipos e tem fomentado, em boa parte por culpa
das autoridades portuguesas, uma criminosa destru ição
dos arquivos documentais.
18. Milhares e milhares de cidadãos portugueses e de luso-
descendentes perderam a sua identidade, com a
destruição dos arquivos e/ou a apropriação dos seus
documentos por outras pessoas, especialmente por
cidadãos indianos dos estados do norte, por
paquistaneses e por árabe do outro lado do Arábico.
19. Há processos de integração de registos de nascimento
pelos quais os interessados pagaram valores exorbitantes,
nalguns casos que conhecemos, entre os 5.000 e os 20.000
€.
20. E há milhares de processos pendentes, relativamente a
muitos dos quais os interessados fizeram pagamentos de
vulto aos «operadores» desse mercado, muitos dos quais
já morreram.
21. Este negócio tem mais de 35 anos, mas assumiu o seu
maior desenvolvimento depois de 1981, após a
publicação da nova Lei da Nacionalidade.
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22. Foi um negócio que e instalou e que vem sendo
denunciado há muitos anos por políticos de todos os
quadrantes que têm visitado a Índia.
23. O signatário nunca compreendeu como é que tudo isso
era possível nem nunca estabeleceu nenhuma ligação
entre esse sistema mafioso, que, no ultimo grau destrói
arquivos históricos e o funcionamento do Consulado
Geral de Portugal em Goa.
24. No início do ano de 2007 foi o signatário consultado a
propósito de um conjunto de questões técnico-jurídicas
relacionadas com o Tratado Luso-Indiano de 31 de
Dezembro de 1974, tendo estudado, com maior
profundidade, não só as questões jurídicas como alguns
questões práticas relacionadas com os processamentos.
25. Sempre procurou aconselhar os seus clientes a
compreender o que, dando o benefício da dúvida ao
Consulado, poderiam ser problemas pontuais de
organização, resolúveis, pelo menos, a médio prazo.
26. Do mesmo foram, também, convencidos, ao longo dos
últimos anos, os sucessivos responsáveis pela tutela dos
consulados.

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27. Porque o tempo foi passando sem que houvesse qualquer
evolução, o signatário e os seus colegas entenderam
alterar a sua postura, até porque foram, por alguns
clientes, lançadas suspeições sobre a sua honorabilidade
profissional.
28. Efetivamente, alguns clientes chegaram a afirmar ao
signatário que ele estaria, seguramente, «feito com os do
consulado», nada se distinguindo dos demais.
29. Não fazia sentido que, prestando aos clientes a
informação jurídica pertinente, o signatário e os seus
colegas não aceitassem defender nos tribunais os direitos
que afirmavam existir.
30. Tanto mais que o sentido das explicações dadas aos
clientes foi, sempre, o de considerar que, a serem
verdadeiros os pressupostos apresentados pelos clientes,
a prática do Consulado Geral de Portugal em Goa violava
de forma direta e brutal princípios e normas
estruturantes do direito público português, assente, no
essencial, num respeito republicano pelos cidadãos.
31. O signatário só se apercebeu da verdadeira dimensão dos
problemas dos portugueses de Goa, Damão e Diu e dos 9/49

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seus descendentes depois de ter visitado estes territórios
por períodos duradouros, especialmente nos últimos 3
anos.
32. Há milhares e milhares de pessoas, que são portuguesas,
por força das nossas leis e que não conseguem assegurar
o seu direito à identidade pessoal, em razão de um
multiplicidade de fatores em que pesa, de uma forma
especialíssima, o mau funcionamento do Consulado
Geral de Portugal em Goa.
33. Esta repartição não respeita os limiares mínimos de
qualidade dos serviços públicos, tendo passado a ser
claro e inequívoco, a partir de certo momento, que nunca
os respeitaria se a isso não fosse obrigada judicialmente,
34. É a velha tática de criar dificuldades para vender
facilidades, ou abrir caminho à venda de facilidades por
outros que transformam essas dificuldades num
negócio.
35. Só para dar um exemplo, dos mais chocantes, é
praticamente impossível obter a certificação de um

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documento indiano1 no Consulado Geral de Portugal em
Goa.
36. Por isso, não têm os interessados outros caminho que não
seja recorrer à alternativa do pedido de aposição da
Apostilha de Haia, em Nova Deli, a mais de 2.000 km de
distância.
37. O Consulado, que vive à conta do Orçamento do Estado ,
deixa de gerar milhões de rupias, que são pagas a um
vasto conjunto de operadores que se dedicam ao negócio
das apostilhas, pagas a 63 vezes mais do que a respetiva
taxa.2
38. A coisa mais difícil era, em Goa, há alguns meses,
conseguir uma marcação para requisição de bilhete de
identidade.
39. Demorava, pelo menos 6 meses…
1
A certificação consiste num mero reconhecimento de assinatura do funcionário estrangeiro.
Veja-se o disposto no Código de Processo Civil:
Artigo 540.º Legalização dos documentos passados em país estrangeiro
1 - Os documentos aut ênticos passados em país estrangeiro, na conformidade da lei desse país,
consideram-se legalizados desde que a assinatura do funcionário público esteja reconhecida por agente
diplomático ou consular português no Estado respectivo e a assinatura deste agente est eja autenticada
com o selo branco consular respectivo.
2 - Se os documentos particulares lavrados fora de Portugal estiverem legalizados por funcionário
público estrangeiro, alegalização carece de valor enquanto se não obtiverem os reconhecimentos exigidos
no número anterior.
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2
Uma apostilha custa 55 rupias e o que é cobrado por esses operadores ronda as 3.500
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40. O que estava em causa, com a dimensão a que
assistíamos em Goa, era, inequivocamente, uma questão
de direitos humanos que só podia resolver-se pela via
judicial.
41. Por isso, tanto o signatário como os seus colegas de
escritório, passaram a defender que a discriminação de
que estavam a ser alvo os portugueses do distrito
consular de Goa só poderia resolver-se por via judicial,
no quadro de ações de intimação para a proteção de
direitos fundamentais.
42. Nesse sentido, começaram a ser propostas ações contra o
Ministério dos Negócios Estrangeiros.
43. As primeiras visavam a condenação do MNE a ordenar a
emissão de títulos de viagem únicos, por não ser possível
obter um passaporte em Goa em menos de um ano e
alguns meses.
44. Como já atrás se referiu, só a marcação para um pedido
de bilhete de identidade demorava 180 dias úteis e eram
precisos outros tantos para a emissão do mesmo.
45. Só depois disso era possível pedir o passaporte. E até lá
eram violados de forma permanente reiterada, alguns

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direitos fundamentais, como é o de os portugueses
entrarem livremente em Portugal.
46. O atual governo providenciou no sentido da instalação
em Goa de equipamentos para a requisição do cartão de
cidadão.
47. Mas continuou o mesmo vício: apesar de lei garantir que
é possível requisitar um cartão de cidadão e obtê-lo em 7
dias úteis e de o sentido da lei ser de que as repartições
funcionam de porta aberta, o consulado de Goa funciona
de porta fechada, não atende telefones e não procede a
marcações para pedidos de cartão de cidadão senão para
alguns meses depois.
48. Os advogados da sociedade integrada pelos signatário
passaram, perante o encerramento das portas por parte
do consulado – que a nosso ver não tem suporte legal – a
requerer ao Consul Geral a marcação de data e hora para
receção dos pedidos de cartão de cidadão por parte dos
seus clientes e a recorrer ao Tribunal Administrativo de
Circulo de Lisboa sempre que o Consulado não procede à
marcação imediata,
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49. O que o Consulado Geral de Portugal em Goa tem feito
redunda numa descarada afirmação de desrespeito pela
legalidade da República, que tem que ser sancionada
disciplinarmente.
50. O Consulado tem agido como se estivesse à margem da
lei ou acima dela e como se lhe fosse permitido fazer tudo
para ofender a dignidade dos utentes.
51. O funcionário que desempenha as funções de cônsul
geral tem agido conscientemente nesse sentido, com a
intenção não só de violar a lei e de , por essa via, se
afirmar superior a ela, como de ofender a dignidade
profissional do queixoso e dos seus colegas.
52. São, no essencial, de três tipos as violações da lei
cometidas pelos cônsul geral:
a. Denegação de inscrição dos requerentes nos cadernos
eleitorais;
b. Denegação de inscrição dos requerentes no cadastro
nacional de contribuintes;
c. Denegação dos pedidos de urgência formalizados.
53. A forma desprezível como têm sido cometidas, de forma
reiterada, estas ilegalidades, é atentória de direitos

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fundamentais garantidos pela Constituição,
nomeadamente do direito à igualdade e do direito à
dignidade.
II. Da denegação de inscrição dos requerentes nos cadernos eleitorais
54. Em todos os requerimentos apresentados pelos advogados desta
sociedade visando a emissão de cartões de cidadão foi pedida a
inscrição dos cidadãos em causa nos cadernos eleitorais.
55. Estes cidadãos portugueses são cidadãos de pleno direito.
56. E estão numa situação mais delicada que a dos nacionais
portugueses que gozam de dupla nacionalidade em outros países.
57. É que, ao adquirirem a nacionalidade portuguesa ou ao
peticionarem um passaporte português, estes cidadãos perdem a
nacionalidade indiana.
58. Perdendo, por isso, o direito de voto na Índia.
59. Por isso, entende o signatário que devem os mesmos cidadãos ser
esclarecidos de que gozam de direitos políticos em Portugal, que
só podem ser exercidos se se inscreverem nos cadernos eleitorais.
60. Por isso, têm os advogados da sociedade de que o signatário é
diretor, peticionado a inscrição dos seus representados nos

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cadernos eleitorais, no momento da requisição do cartão de
cidadão.
61. Tal inscrição foi recusada em todos os casos, o que redunda numa
denegação de direitos políticos aos cidadãos em causa, que é
absolutamente censurável, por constituir um inadmissível abuso
de direito.
62. Mesmo que seja verdade que «são instruções do Ministério»
estamos perante o tipo de instruções que, por violarem direitos
fundamentais, não devem ser acatadas.
63. Aliás, como é do domínio público, há consulados em que todos os
requisitantes de cartão de cidadão são inscritos nos cadernos
eleitorais
64. Com essa recusa de inscrição nos cadernos eleitorais, não poderia
o referido funcionário deixar de ter a noção de que prejudicava,
de forma grosseira, a verdade eleitoral, que nunca se obtém na
base de cadernos eleitorais manipulados, como ele manipulou,
por via de recusa de inscrição de cidadãos com direito a voto.
65. Mas, para além disso, o referido funcionário agiu dolosamente no
sentido de, abusando do poder, demonstrar a ineficácia dos
advogados da referida sociedade e a impossibilidade de, por via
deles, o cidadão ver realizado um direito de que é titular.

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66. Estamos, neste plano, perante uma falta disciplinar gravíssima,
porque tal falta, para além do desrespeito pelos direitos políticos
dos cidadãos constitui uma humilhação dos mesmos e um afronta
à sua dignidade.
67. A gravidade da falta assume especial relevância pelo facto de a
mesma ser reiterada.
68. Na realidade, a todos os clientes da sociedade integrada pelo
signatário, foi impedido pelo referido funcionário o exercício de
direitos políticos, por via da efetiva proibição da inscrição nos
cadernos eleitorais.
III. Denegação de inscrição dos requerentes no cadastro nacional de

contribuintes
69. Em todos esses casos, foi requerido que os cidadãos em
causa fossem inscritos no cadastro nacional de
contribuintes, tanto mais que alguns deles estavam
interessados em abrir contas bancárias em Portugal e em
fazer investimentos em Portugal.
70. Em todos os casos foi declarado que a sociedade de
advogados em que o queixo se integra aceitava a
nomeação como representante fiscal. 17/49

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71. Em todos os casos foi recusada a inscrição dos referidos
cidadãos no cadastro nacional de contribuintes, apesar de a
mesma ter sido formalmente requerida.
72. Bem sabia o funcionário que, com este comportamento,
prejudicava, de forma muito grave, os cidadãos em causa,
que assim ficaram impedidos de realizar qualquer negócio
em Portugal ou de, simplesmente, abrir contas bancárias no
país.
73. Mas, para além disso, o referido funcionário agiu
dolosamente no sentido de, abusando do poder, demonstrar
a ineficácia dos advogados da referida sociedade e a
impossibilidade de, por via deles, os cidadãos verem
realizado os direitos de que é titulares.
74. Também neste plano, a violação da lei foi reiterada, não
havendo um único caso em que o referido funcionário tenha
processado o pedido de inscrição no cadastro nacional de
contribuintes.
75. Por esta via, tem o referido funcionário contribuído,
dolosamente para impedir que tais cidadãos abram contas
bancárias em Portugal e aí procedam a depósitos, com a
consequente geração de receita fiscal.

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76. Anota-se, a propósito, que Portugal é dos países mais
interessantes para os residentes no estrangeiro receberem os
seus rendimentos, nomeadamente de trabalho ou prestação
de serviços que, no que toca aos não residente são
tributados à taxa liberatória de 21,5%.
77. Com esta prática o referido funcionário vem causando
gravíssimo dano à economia nacional, o que é especialmente
importante num momento difícil como o que o País está a
viver.
IV. Denegação dos pedidos de urgência formalizados
78. Tanto o signatários como os demais advogados que
integram a sociedade têm procurado fazer, ao longo dos
últimos anos, uma pedagogia da defesa dos direitos
fundamentais, especialmente nas comunidades
portuguesas no estrangeiro, onde se verificam quadros
mais chocantes de discriminação e de criação de
dificuldades para que alguém venda facilidades.
79. Nesse sentido, têm procurado divulgar o que de mais
marcante teve, nos últimos anos, a modernização da
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administração pública e a elevação dos níveis de respeito
pelos direitos dos cidadãos.
80. Têm, nomeadamente, difundido, de forma documentada,
as regras constantes do Decreto-Lei n.º 135/99, de 22 de
Abril, explicando o seu sentido e alcance.
81. Na difusão desse conhecimento, têm, tanto os advogados
como a sociedade, dado especial relevância ao disposto
nos artºos 2 e 3ª desse diploma, que se reproduz:
Artigo 2.º Princípios de ação

Os serviços e organismos da Administração Pública
estão ao serviço do cidadão e devem orientar a sua ação
de acordo com os princípios da qualidade, da proteção da
confiança, da comunicação eficaz e transparente, da
simplicidade, da responsabilidade e da gestão
participativa, tendo em vista:
a) Garantir que a sua atividade se orienta

para a satisfação das necessidades dos
cidadãos e seja assegurada a audição dos
mesmos como forma de melhorar os métodos e
procedimentos;
b) Aprofundar a confiança nos cidadãos,

valorizando as suas declarações e dispensando
comprovativos, sem prejuízo de penalização
dos infratores;
c) Assegurar uma comunicação eficaz e

transparente, através da divulgação das suas
atividades, das formalidades exigidas, do
acesso à informação, da cordialidade do
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relacionamento, bem como do recurso a novas
tecnologias;
d) Privilegiar a opção pelos procedimentos

mais simples, cómodos, expeditos e
económicos;
e) Adotar procedimentos que garantam a sua

eficácia e a assunção de responsabilidades por
parte dos funcionários;
f) Adotar métodos de trabalho em equipa,

promovendo a comunicação interna e a
cooperação intersectorial, desenvolvendo a
motivação dos funcionários para o esforço
conjunto de melhorar os serviços e
compartilhar os riscos e responsabilidades.
Artigo 3.º Direitos dos utentes dos serviços

públicos
1. Os serviços e organismos da Administração Pública,
no âmbito das actividades exercidas ao abrigo do n.º 2 do
artigo 2.º da Lei n.º 24/96, de 31 de Julho (JusNet
53/1996), devem adoptar as medidas adequadas a dar
cumprimento ao disposto neste diploma, em especial no
que respeita à qualidade dos bens e serviços, à protecção
da saúde, da segurança física e dos interesses económicos
dos cidadãos e à informação.
2. Os utentes do serviço público têm direito a solicitar,
oralmente ou por escrito, informação sobre o andamento
dos processos administrativos que lhes digam respeito.
82. No mesmo sentido têm explicado aos utentes que eles têm
o direito de reclamar em caso de cumprimento deficiente
das obrigações dos funcionários, nomeadamente por via do
livro de reclamações e da reclamação eletrónica.

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83. Tanto o signatário como os seus colegas têm procurado
desfazer a ideia, muito comum nas comunidades da
diáspora, de que Portugal é um país em que os cidadãos
são tratados abaixo de cão.
84. Ao mesmo tempo que têm esclarecido aos cidadãos de que
a Constituição da República Portuguesa estabeleceu um
regime jurídico específico relativo aos direitos
fundamentais, determinando que os mesmos, sejam eles
constantes da Constituição, de outras leis ou de tratados
internacionais vinculam, diretamente, todas as entidades
públicas e privadas.
85. A República Portuguesa é apenas uma e não se traveste
quando vem para o estrangeiro – sustentam os advogados
da MRA.
86. Nesse sentido, entendem que todas as entidades públicas
devem, por igual, respeito à lei, não podendo desrespeitá-
la.
87. Algumas leis, nomeadamente as que regulam a emissão do
cartão de cidadão e do passaporte eletrónico português
estabelecem, de forma inequívoca, prazos limite para o

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processamento e a entrega dos pedidos de tais
documentos, contra o pagamento de uma taxa adicional.
88. Tais disposições geram direitos para os utentes dos
serviços públicos e obrigam o Estado, através dos seus
funcionários, a respeitar esses prazos.
89. A advogado signatário e outros advogados da sociedade
por ele dirigida têm requerido ao Consul Geral de Portugal
em Goa o processamento de cartões de cidadão com
urgência, mediante a taxa que está prevista na lei.
90. Nos termos do disposto na Lei nº 7/2007, de 5 de Fevereiro,
que criou o cartão de cidadão, o cartão de cidadão é «um
documento autêntico que contém os dados de cada cidadão
relevantes para a sua identificação e inclui o número de
identificação civil, o número de identificação fiscal, o número de
utente dos serviços de saúde e o número de identificação da
segurança social.» (Artº 2º).
91. «A obtenção do cartão de cidadão é obrigatória para todos os
cidadãos nacionais, residentes em Portugal ou no estrangeiro, a
partir dos 6 anos de idade ou logo que a sua apresentação seja
exigida para o relacionamento com algum serviço público.» - artº
3º,1. 23/49

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92. «O cartão de cidadão constitui título bastante para provar a
identidade do titular perante quaisquer autoridades e entidades
públicas ou privadas, sendo válido em todo o território
nacional, sem prejuízo da eficácia extraterritorial reconhecida
por normas comunitárias, por convenções internacionais e por
normas emanadas dos órgãos competentes das organizações
internacionais de que Portugal seja parte, quando tal se
encontre estabelecido nos respetivos tratados constitutivo.»
(artº 4º).
93. O cartão de cidadão é requisitado em repartições de
atendimento permanente, não existindo qualquer norma
que imponha uma marcação prévia para tal requisição.
94. Entre as repartições de atendimento para receção do
pedido de cartão de cidadão figura o Consulado Geral de
Portugal em Goa.
95. Para além não ser exigível especialmente a quem, como o
requerente, procede à requisição do primeiro documento
de identificação, qualquer marcação prévia, o Estado
garante a entrega do cartão de cidadão em qualquer país
fora da Europa no prazo improrrogável de 7 dias úteis.

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96. Resulta do próprio sentido das normas da Portaria nº
203/2007, de 3 de Fevereiro, que o tempo de espera pela
marcação não pode ser superior ao do processamento da
emissão do cartão.
97. A situação de absoluta falta de um documento de identificação
válido justifica a urgência do pedido e a exigência de que o
Consulado proceda à marcação imediata da data e hora para a
receção do pedido de cartão de cidadão.
98. Em todos os processos em que tiveram intervenção, os
advogados da MRA notifivcaram o consul geral de
Portugal em Goa de que os requerentes apresentariam no
momento da requisição
i. O passaporte indiano de que é titular e que foi usado
para peticionar a aquisição da nacionalidade
portuguesa, como pode ser verificado no sistema
SIRIC.
ii. Um fotografia, para o processamento da inscrição
consular.
99. Em todos os casos foi notificado o referido funcionários
de que não seriam apresentados os seguintes
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documentos, que são indicados no site do Consulado e
cujo pedido é absolutamente ilegal:
i. - Certificado do Registo Criminal.
ii. - Certificado de Residência especificando a morada,
traduzida e autenticado pelas
iii. - Documentos adicionais :‘Ration card’ e Cartão Eleitoral
(Originais).
100. Estes documentos eram exigidos em versão recente
do site do Consulado Geral de Portugal em Goa, que
entretanto foi alterado.
101. Nesta mais recente alteração (Doc. nº 1) o Consulado
Geral de Portugal em Goa, dirigido pelo denunciado,
omite um conjunto de informações relevantes, ocultando
que o cartão de cidadão pode ser requisitado em Goa.
102. O site refere apenas que o cartão de cidadão pode
ser obtido em Nova Deli, quando é certo que pode ser
pedido em Goa.
103. E omite completamente a informação sobre os
processamentos urgentes.
104. Veja-se, comparativamente, o que consta do site do
Consulado Geral de Portugal em São Paulo (Doc. 2):

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« O requerente de Cartão do Cidadão precisa estar presente
para recolher os dados biométricos (fotografia, altura,
impressões digitais e assinatura), e pode aproveitar para
solicitar o Passaporte no mesmo pedido, sendo no
entanto normalmente necessárias duas visitas ao
Consulado, uma a recolha para cada documento.
Após a emissão do Cartão do Cidadão pela Casa da Moeda

em Lisboa, é enviada ao requerente uma carta com os códigos
do mesmo - a CARTA PIN. O prazo médio da chegada desta
CARTA PIN ao utente é de 7 dias úteis (desde que o processo
seja solicitado com taxa de urgência).
Assim que esta CARTA PIN chegar, o utente deve

imediatamente enviar um e-mail para "Agendamento", ou
usar o nosso novo Agendamento Online, ou telefonar, para
agendar a retirada do Cartão do Cidadão e, se for o caso, a
coleta dos dados biométricos para o Passaporte que é recebido
pelo utente em sua casa a partir do 4º dia útil
seguinte, (desde que o processo seja solicitado com taxa de
urgência) podendo demorar um pouco mais por motivos alheios
a nossa vontade.
Somando os dois prazos, será necessário no mínimo 11 dias

úteis, após a recolha presencial dos dados biométricos, para
receber o Passaporte. Assim sendo, relembramos mais uma
vez para não comprar passagens sem que esteja com o
passaporte em mãos.
Se preferir solicitar o seu cartão do cidadão sem taxa

de urgência, esses prazos serão sensivelmente maiores e
imprevisíveis.
105. O Consulado Geral de Portugal em Goa, dirigido, de
forma irresponsável e ilegal pelo denunciado, não só
oculta aos utentes informação essencial como age no
sentido de tentar desmentir a informação rigorosa que
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os advogados prestam aos utentes, a propósito dos seus
direitos.
106. Em todos os requerimentos de marcação para
requisição do cartão de cidadão, apresentados pelos
advogados da MRA foi declarado que o requerente
pretende requerer o cartão de cidadão com urgência e
para ser entregue no estrangeiro, pelo que lhe deverá ser
liquidada a taxa de 45 €, em conformidade com o
disposto no artº 3º da Portaria nº 203/2007, de 13 de
Fevereiro, com a alteração que lhe foi feitas pela Portaria
nº 104/2010, de 29 de Setembro.
107. Em todos os requerimentos se declarou outrossim
que o requerente pretende que o seu nome seja inscrito
no sistema da Saúde e da Segurança Social portuguesa.
108. Declarando-se ainda que pretendia que se
pretendia requerer a inscrição no recenseamento
eleitoral, devendo o cartão de cidadão conter os seus
dados como eleitor.
109. E que se pretendia, em todos os casos a inscrição do
requerente no cadastro nacional dos contribuintes, nos
termos do disposto no Decreto-Lei nº 463/1979, de 11 de

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Novembro, indicando como representante fiscal a
Miguel Reis & Associados – Sociedade de Advogados,
com o NPC 503095311 e sede na Rua Marquês de
Fronteira, 76-5º, 1070-299, em Lisboa.
110. Nenhum destes pedidos foi respeitado.
111. Do mesmo modo, os mesmos advogados têm instruído os
seus clientes no sentido de, no momento da requisição do
passaporte eletrónico português, formularem pedido de
emissão urgente dos mesmos passaportes.
112. O cônsul geral de Portugal em Goa tem, deliberadamente,
recusado a aceitação de pedidos com urgência, não dando
nenhuma justificação ou, pura e simplesmente, mandando
informar os utentes de que no consulado não são válidas as
leis invocadas pelos advogados.
113. De outro lado, não tem sido permitido aos utentes, em
muitos casos, proceder ao pedido de passaporte no mesmo
dia em que se apresentam para levantar e ativar o cartão de
cidadão.
114. Com estas atitudes tem o referido cônsul procurado abalar
a credibilidade profissional do signatário e dos seus
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colegas, fazendo-o contra a lei e com violação frontal do
direito.
V. Atividade inquisitorial ilícita
115. Para além disso, o cônsul geral de Portugal em Goa tem
ordenado que os clientes do signatário sejam sujeitos a um
interrogatório, perguntando-se-lhes
a. Porque recorreram a advogados
b. Quanto pagaram aos advogados
c. Como pagaram aos advogados
d. Como obtiveram o dinheiro para pagar aos advogados.
116. A alguns clientes foi perguntado, inclusivamente, se
sabiam que era proibido deter moeda estrangeira na
Índia.
117. Apesar de os clientes responderem, por regra, eu
pagam aos seus advogados em Portugal através do
sistema bancário, por transferência para contas em
bancos de Lisboa e mediante a emissão de faturas no
formato legal, os mesmos têm sido amedrontados, com a
afirmação genérica de que podem ter problemas com as
autoridades indianas, dando a entender que há uma

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«colaboração» do consulado com as autoridades indianas
contra os próprios portugueses.
118. Toda esta atividade inquisitorial é dirigida pelo
cônsul geral, agora denunciado, como não podia deixar
de ser, porque é ele o responsável pelos serviços.
119. Com esta postura, o cônsul geral não pode deixar de
ter a consciência de que prejudica os interesses do Estado
português, uma vez que age deliberadamente no sentido
de contribuir para a redução da exportação de serviços de
Portugal para a India e, por essa via, para o maior
desequilíbrio da balança de pagamentos.
120. Tais atitudes são adequadas a amedrontar os
cidadãos e a desmotivá-los no sentido de não recorrem a
advogados para a defesa dos seus direitos.
VI. Ofensa à honra profissional do queixoso e dos seus colegas
121. O Consulado Geral de Portugal em Goa tudo tem feito para
denegrir e desacreditar a honra profissional do signatário e
dos seus colegas de trabalho.
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122. No passado dia 10 de Novembro de 2011, dirigiu o
signatário ao Cônsul Geral de Portugal em Goa uma
mensagem de e_mail com o seguinte conteúdo (Doc. nº 6):
Exmº Senhor
Consul Geral de Portugal em Goa
Foi esta sociedade contratada para prestar serviços jurídicos ao Sr.

Clyde Gomes, nomeadamente no sentido de interpelar esse
Consulado e de, se necessário, usar os meios contenciosos para
viabilizar um pedido de cartão de cidadão com urgência,
procedendo-se à inscrição do referido cidadão no cadastro nacional
de contribuintes e inscrevendo-o no recenseamento eleitoral.
Visto o comprovativo de pedido inicial do cartão de cidadão,
constata-se que:
a) O mesmo não foi processado como requerido, ou seja com
urgência;
b) Não foi processada inscrição no cadastro de contribuinte;
c) Não foi processada inscrição no recenseamento eleitoral.
Antes de recorrer a outros meios, venho solicitar a Vª Exª que
esclareça quais as razões de tal procedimento, que é ilegal o
ofensivo dos direitos constitucionais do nosso constituinte,
nomeadamente dos seus direitos políticos.
Os meus mais respeitosos cumprimentos
Miguel Reis
123. Recebeu a seguinte resposta (Doc. 7):
De: Consulado de Portugal em Goa

[mailto:consulado@goa.dgaccp.pt]
Enviada: 11 de Novembro de 2011 12:56
Para: miguel-reis-5066l@advogados.oa.pt
Assunto: FW: 22252 Clyde Gomes - Processos de Cartão de
eleitor nº 6668906A
Exmo. Senhor
Dr. Miguel Reis

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Gostaríamos de informar que o cartão de cidadão do Senhor Clyde
Gomes já se encontra neste Consulado-Geral, podendo ser
recolhido em qualquer dia da sua conveniência, da parte da tarde,
durante o horário de expediente. Informa-se ainda que o
documento não foi processado com carácter de urgência com a
anuência do requerente, tendo o mesmo assinado o comprovativo
dos dados do pedido inicial após lhe ter sido explicado o seu
conteúdo, conforme consta no documento em anexo.
Cabe igualmente esclarecer que os nacionais residentes no

estrangeiro apenas podem requerer, através do pedido de cartão de
cidadão, inscrição na Segurança Social e no Serviço Nacional de
Saúde, mas não inscrição no cadastro de contribuinte e no
recenseamento eleitoral.
Com os melhores cumprimentos
CGP-Goa
124. O cartão de cidadão, requisitado no dia 25/10/2011 foi
emitido de forma a que chegou a Goa no dia 9/11/2001.
125. Porém, o Consulado avisou o interessado para comparecer
apenas no dia 29/11, como se vê da anotação constante da
requisição que se junta como Doc. nº 3.
126. Perante a informação do email atrás referido, o signatário,
que se encontrava em Goa, telefonou ao Clyde Gomes,
informando-o de que deveria levantar o cartão de cidadão
no horário de expediente.
127. Por lapso, não indicou que deveria comparecer da parte da
tarde.
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128. Acontece que o site do Consulado refere que o horário de
atendimento é entre as 9h30 e as 13h00 e as 14h30 e as
16h30, tudo como se vê do documento nº 4.
129. Todavia, esta é uma grosseira mentira.
130. O Consulado abre por um pequeno período cerca das 8h30,
voltando a fechar, para depois abrir, de forma clandestina,
porque não anunciada por um pequeníssimo período às
14h30.
131. Na porta de entrada do Consulado há uma aviso que
informa que a abertura ao público é, apenas, entre as 8h30 e
as 10h30, tudo como se vê na tabuleta afixada na porta
(Doc. nº 5).
132. O referido Clyde Gomes compareceu junto ao edifício do
consulado, acompanhado por seu pai, cerca das 3h00 da
manhã do dia 14 de Novembro, levando consigo uma cópia
do e_mail dirigido ao advogado signatário.
133. Informou o funcionário atendente que ia proceder ao
levantamento do cartão de cidadão, tido sido informado de
que não era permitida a sua entrada porque não tinha
marcação.
134. Apesar de ter mostrado o referido e_mail.

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135. Tomou o signatário conhecimento de que, embora não
esteja anunciado, a porta abre, por uns momentos, cerca das
14h30, pelo que instruiu o seu cliente no sentido de voltar a
deslocar-se ao consulado e de exigir que lhe fosse entregue o
cartão de cidadão e que lhe fosse permitido requisitar
passaporte com pedido de urgência.
136. O signatário fez duas chamadas telefónicas para o
consulado, na tentativa de falar com o funcionário Luis
Filipe Pereira Norte, que, em tempos o recebeu no
Consulado, numa tentativa de o sensibilizar para a
resolução do problema daquele cidadão.
137. Ficou «pendurado» no telefone por duas vezes.
138. Cerca das 15h00, foi o signatário contactado pelo pai do
Clyde Gomes que o informou de que não tinha sido
autorizada a sua entrada e de que o filho tinha sido proibido
de usar telemóvel no interior do Consulado.
139. Estes cidadãos moram em Pondá, a mais de 35 km de
Pangin, que demoram mais de duas horas a passar em hora
de ponta.
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140. Tinham saído de casa por volta das 3 da manhã, para tomar
lugar na fila do consulado. Não fazia nenhum sentido que
fosse impedida a sua entrada.
141. Porque tudo isto lhe parecia demasiado estranho, tomou a
iniciativa de se deslocar àquela repartição, o que fez cerca
das 15 horas do dia 14 de Novembro de 2011.
142. Tocou à campainha, tendo sido atendido por um
segurança, que não fala uma palavra de português e fala
muito mal inglês, a quem explicou que era uma advogado
de Portugal e que pretendia falar com uma funcionário que
compreendesse a língua portuguesa, pois que, era
manifesto, que o referido segurança não tinha a mínima
perceção do que estava em causa.
143. Depois de ter esperado durante mais de meia hora, voltou
a tocar à campainha, insistindo em que lhe fosse permitido o
contacto com um qualquer funcionário consular.
144. O segurança limitou-se a afirmar, repetidamente, de forma
mais ou menos insistente, embora curial «not authorized».
145. Iam, entretanto, entrando e saindo pessoas, aproveitando o
signatário para insistir em que pretendia falar com um
funcionário responsável ou com o cônsul.

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146. O segurança, pessoa de estatura frágil, ia respondendo, de
forma aliás polida, «not authorized» ou «unauthorized».
147. Cerca de 3 horas depois apareceu um outro segurança,
mais encorpado, que aconselhou o signatário a não insistir,
sob pena de poder vir a sofrer consequências que, pelo sinal,
só poderiam ser físicas.
148. O signatário esperou durante mais de 3 horas, no exterior
do Consulado, não acreditando que lhe poderia ter sido
«cortada a entrada», como se o Consulado tivesse adotado
uma regra que se sabe ser comum em estabelecimentos de
frequência duvidosa.
149. Ás 17h35, hora de Goa, o signatário enviou ao cônsul geral
de Portugal em Goa a seguinte mensagem de e_mail (Doc.
nº 8):
Exmº Senhor
Serve a presente para, no cumprimento do dever de urbanidade,

informar Vª Exª de que vou apresentar queixa disciplinar contra
si, pois que, sob sua direção, foi impedida a minha entrada nesse
Consulado Geral na tarde de hoje.
Fiquei na rua, à espera de ser recebido, cerca de 3 horas.
Os meus melhores cumprimentos
Miguel Reis
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150. O referido funcionário não deu nenhuma resposta a esta
interpelação, o que, só por si, comprova que agiu
dolosamente, com intenção de ofender a lei e a honra
profissional do queixoso.
151. Não havendo nenhuma alteração das circunstâncias,
telefonou para o escritório de Lisboa, tendo contado o que
estava a acontecer ao seu filho, o Dr. Bernardo Reis,
pedindo-lhe que contactasse o gabinete do Senhor Secretário
de Estado das Comunidades Portuguesas e informasse do
que estava a acontecer no Consulado Geral de Portugal em
Goa.
152. O referido advogado falou com a Srª Drª Manuela Bairos,
Chefe de Gabinete de Sua Exª o Secretário de Estado das
Comunidades que, entretanto, conferenciou pelo telefone
com o cônsul geral de Portugal em Goa.
153. Ao fim do dia, conseguiu o signatário conversar
telefonicamente com a Srª Chefe de Gabinete de Sua Exª o
Secretário de Estado das Comunidades, tendo sido
informado por ela de que

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i. O referido funcionário decidira, efetivamente,
impedir o acesso do advogado ora queixoso às
instalações do Consulado Geral de Portugal em Goa;
ii. Que o referido funcionário alegou como justificação
o facto de o advogado ter protestado na portaria por
não haver ninguém soubesse português, o que é
manifestamente falso, sendo apenas verdade que o
signatário pediu ao segurança que chamasse alguém
que falasse português;
iii. Que o referido cônsul impediu a entrada do
advogado no consulado pelo facto de ele patrocinar
muitos clientes contra o Consulado e o Ministério
dos Negócios Estrangeiros;
iv. Que o advogado estava exaltado.
154. O signatário ficou absolutamente chocado com a
forma cobarde que marcou o comportamento desse
funcionário que, para além de não dispor da
verticalidade minimamente exigível para o exercício de
um cargo desta natureza, mentiu descaradamente a quem
lhe pediu esclarecimentos.
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155. A verdade é que o signatário nunca se exaltou,
tendo-se mantido calmo durante toda a permanência
junto à porta do Consulado de Portugal em Goa.
156. É certo que, por uma ou duas vezes, falou mais alto,
tentando que alguém o ouvisse, dizendo, mais ou menos
isto, em português «por favor chamem alguém que fale
português»-
157. E isso apenas porque os funcionários que estão na
portaria, para além de não perceberem uma palavra de
português não têm a mínima formação, não sabendo,
provavelmente, sequer o que é um advogado.
158. O signatário nunca ameaçou ninguém nem nunca
bateu em ninguém; nem é uma pessoa agressiva, pelo
que nada justifica que o referido funcionário tivesse
ordenado a proibição da sua entrada.
VII. Do Direito
159. O artº 208º da Constituição estabelece que «a lei
assegura aos advogados as imunidades necessárias ao exercício
do mandato e regula o patrocínio forense como elemento
essencial à administração da justiça.»

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160. A Lei n.º 15/2005, de 26 de Janeiro, que aprova o
Estatuto da Ordem dos Advogados, dispõe, no seu artº
61º,3 :
«O mandato judicial, a representação e assistência por
advogado são sempre admissíveis e não podem ser
impedidos perante qualquer jurisdição, autoridade ou
entidade pública ou privada, nomeadamente para defesa
de direitos, patrocínio de relações jurídicas controvertidas,
composição de interesses ou em processos de mera
averiguação, ainda que administrativa, oficiosa ou de
qualquer outra natureza.»
161. De outro lado, determina o artº 67º do mesmo
diploma que « os magistrados, agentes de autoridade e
funcionários públicos devem assegurar aos advogados, aquando
do exercício da sua profissão, tratamento compatível com a
dignidade da advocacia e condições adequadas para o cabal
desempenho do mandato.»
162. Determina ainda o artº 74º, sob a epigrafe de
«Informação, exame de processos e pedido de certidões»:
1 - No exercício da sua profissão, o advogado tem o

direito de solicitar em qualquer tribunal ou repartição
pública o exame de processos, livros ou documentos que 41/49

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não tenham carácter reservado ou secreto, bem como
requerer, oralmente ou por escrito, que lhe sejam
fornecidas fotocópias ou passadas certidões, sem
necessidade de exibir procuração.
2 - Os advogados, quando no exercício da sua profissão,
têm preferência para ser atendidos por quaisquer
funcionários a quem devam dirigir-se e têm o direito de
ingresso nas secretarias, designadamente nas judiciais.
163. Todos estes direitos e garantias, de que o signatário
é titular, foram violados, de forma grosseira pelo cônsul
geral de Portugal em Goa, que agiu em termos
adequados a impedir o exercício de tais direitos pelo
signatário, nessa repartição consular.
164. Releva especialmente, no tocante a este caso, um
quadro dramático em que se encontram cidadãos muito
debilitados, por várias razões:
 A maioria deles são pobres e humildes;
 A quase totalidade faz parte de uma minoria
religiosa, com as consequências que daí
derivam;
 Todos são vítimas de um processo muito
traumático e mal conhecido dos governantes
portugueses (o que decorre da aquisição do
antigo Estado da Índia pela República da
Índia), que deveria ser tratado de uma forma

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diplomática séria, no respeito pela liberdade,
pelas diferenças culturais e pelas expetativas
de cada um.
165. Não é fácil, para a maioria destes cidadãos, optar
(por que é disso que se trata) por ser estrangeiro na sua
própria terra, ao escolher a opção de ser português num
país que não aceita a dupla nacionalidade.
166. É absolutamente inaceitável que se criem e
alimentem quadros de terror relativamente a estes
cidadãos e que se permita que os mesmos sejam tratados
com o maior desrespeito, porque se sabe que eles receiam
que o seu próprio consulado lhes crie problemas.
167. Em boa verdade, o que acontece é que a maioria
deles é colocada numa situação de ilegalidade pelo
próprio Consulado, onde é impossível obter documentos
de identificação em tempo útil.
168. Bem sabe o funcionário denunciado que o signatário
tem pugnado pela defesa dos que são colocados em tão
difícil situação, recorrendo aos tribunais para a defesa
dos seus direitos fundamentais.
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169. Bem sabia o referido funcionário que o advogado
está estatutariamente obrigado a defender os direitos,
liberdades e garantias, a pugnar pela boa aplicação das
leis, pela rápida administração da justiça e pelo
aperfeiçoamento da cultura e instituições jurídicas, em
conformidade com o disposto no artº 85º do referido
Estatuto da Ordem dos Advogados.
170. Apesar de ter disso perfeito conhecimento, o
denunciado agiu dolosamente, no sentido de impedir o
advogado signatário de aceder à repartição consular, bem
sabendo que, com essa atitude o impedia de cumprir os
seus deveres mas, sobretudo, o ofendia na sua honra
profissional, para afirmar, perante todos que a sua força
bruta é mais importante do que a Lei o Direito.
171. A postura adotada pelo funcionário denunciado e
pelos seus colaboradores mais próximos, que lhe
respeitaram a ordem de impedimento da entrada do
signatário no consulado, bem sabendo que ela era ilegal,
é de uma alarvidade absolutamente intolerável, que
deve ser severamente punida.

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172. Dispõe o artº 3º do Estatuto Disciplinar dos
Trabalhadores Que Exercem Funções Públicas, aprovado pela
Lei n.º 58/2008, de 9 de Setembro:
1 - Considera-se infração disciplinar o comportamento do

trabalhador, por ação ou omissão, ainda que meramente culposo,
que viole deveres gerais ou especiais inerentes à função que
exerce.
2 - São deveres gerais dos trabalhadores:
a) O dever de prossecução do interesse público;
b) O dever de isenção;
c) O dever de imparcialidade;
d) O dever de informação;
e) O dever de zelo;
f) O dever de obediência;
g) O dever de lealdade;
h) O dever de correção;
i) O dever de assiduidade;
j) O dever de pontualidade.
3 - O dever de prossecução do interesse público consiste na sua

defesa, no respeito pela Constituição, pelas leis e pelos direitos e
interesses legalmente protegidos dos cidadãos.
4 - O dever de isenção consiste em não retirar vantagens, diretas
ou indiretas, pecuniárias ou outras, para si ou para terceiro, das
funções que exerce.
5 - O dever de imparcialidade consiste em desempenhar as
funções com equidistância relativamente aos interesses com que
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seja confrontado, sem discriminar positiva ou negativamente
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qualquer deles, na perspetiva do respeito pela igualdade dos
cidadãos.
6 - O dever de informação consiste em prestar ao cidadão, nos
termos legais, a informação que seja solicitada, com ressalva
daquela que, naqueles termos, não deva ser divulgada.
7 - O dever de zelo consiste em conhecer e aplicar as normas
legais e regulamentares e as ordens e instruções dos superiores
hierárquicos, bem como exercer as funções de acordo com os
objetivos que tenham sido fixados e utilizando as competências
que tenham sido consideradas adequadas.
8 - O dever de obediência consiste em acatar e cumprir as ordens
dos legítimos superiores hierárquicos, dadas em objeto de serviço
e com a forma legal.
9 - O dever de lealdade consiste em desempenhar as funções com
subordinação aos objetivos do órgão ou serviço.
10 - O dever de correção consiste em tratar com respeito os
utentes dos órgãos ou serviços e os restantes trabalhadores e
superiores hierárquicos.
11 - Os deveres de assiduidade e de pontualidade consistem em
comparecer ao serviço regular e continuamente e nas horas que
estejam designadas.
173. Os factos acima denunciados são inequivocamente
subsumíveis a violações, aliás grosseiras dos seguintes
deveres:
 Do dever de prossecução do interesse público, porquanto
o funcionário denunciado ofendeu, de forma deliberada,
com a sua postura, as garantias constitucionais dos
cidadãos, as leis da República e os direitos e interesses
legalmente protegidos dos cidadãos.
 Do dever de isenção porquanto não era lícito ao
referido funcionário impedir a entrada do advogado

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signatário no Consulado, apenas porque ela ousou
propor ações judiciais para a defesa de direitos dos
cidadãos, conferindo, por essa via, vantagens a quem
o adular e adular a estrutura de poder que esse
funcionário domina.
 Do dever de imparcialidade porque a atitude
punitiva adotada pelo referido funcionário, ao
impedir o acesso do signatário ao Consulado é
marcada, precisamente, por uma discriminação
negativa inaceitável.
 Do dever de informação porque, como atrás se
alegou, o Consulado dirigido pelo funcionário
denunciado oculta informação relevante aos
cidadãos e tudo faz para desvalorizar a informação
correta, prestada pelo signatário e pelos seus colegas.
 Do dever de zelo porquanto todos os referidos
comportamentos ofendem, como foi alegado, normas
legais e regulamentares e princípios estruturantes da
qualidade do serviço público.
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 Do dever de correção porquanto toda a postura
atrás denunciada ofende, de forma gravíssima, o
dever de respeito pelos utentes.
Nestes termos e nos do artº 40º do referido Estatuto
Disciplinar dos Trabalhadores Que Exercem Funções Públicas,
vem requerer a Vª Exª que promova a instauração do devido
processo disciplinar, disponibilizando-se para diligenciar no
sentido da cooperação dos seus clientes com os
investigadores, desde que esse Ministério garanta que os
mesmos (que vivem autenticamente aterrorizados) não
sofrerão retaliação de nenhuma ordem.
O Advogado
Miguel Reis
5066L
(assinado digitalmente com assinatura digital qualificada e
MDDE)

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Documentos
Doc. 1 – Página do Consulado relativa aos documentos de
identificação
Doc. 2 – Página do Consulado Geral de Portugal em São Paulo
Doc. nº 3 – Requisição do cartão de cidadão do Clyde
Doc. nº 4 – Página do Consulado
Doc. nº 5 – Fotografia do horário na porta
Doc. nº 6 – E_mail de 10 de Novembro
Doc. 7 – E_mail de resposta a 11 de Novembro
Doc. nº 8 – E_mail e 14 de Novembro
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DOCUMENTO 1
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DOCUMENTO 2
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DOCUMENTO 3
1/1

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DOCUMENTO 4
1/1

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DOCUMENTO 5
1/1

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DOCUMENTO 6
1/1

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Miguel Reis
De: Miguel Reis - Ordem dos Advogados [miguel-reis-5066l@advogados.oa.pt]
Enviado: 10 de Novembro de 2011 14:26
Para: 'Consulado de Portugal em Goa'
Cc: Elaine Cardozo
Assunto: 22252 Clyde Gomes - Procesos de Cartão de eleitor nº 6668906A
Exmº Senhor
Foi esta sociedade contratada para prestar serviços jurídicos ao Sr. Clyde Gomes, nomeadamente no sentido de
interpelar esse Consulado e de, se necessário, usar os meios contenciosos para viabilizar um pedido de cartão de
cidadão com urgência, procedendo-se à inscrição do referido cidadão no cadastro nacional de contribuintes e
inscrevendo-o no recenseamento eleitoral.
Visto o comprovativo de pedido inicial do cartão de cidadão, constata-se que:
a) O mesmo não foi processado como requerido, ou seja com urgência;
Antes de recorrer a outros meios, venho solicitar a Vª Exª que esclareça quais as razões de tal procedimento, que é
ilegal o ofensivo dos direitos constitucionais do nosso constituinte, nomeadamente dos seus direitos políticos.
Miguel Reis
1
DOCUMENTO 7
1/1

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Miguel Reis
De: Miguel Reis - Ordem dos Advogados [miguel-reis-5066l@advogados.oa.pt]
Assunto: RE: 22252 Clyde Gomes - Processos de Cartão de eleitor nº 6668906A
Ao
Consulado Geral de Portugal em Goa:
Fico muito grato pela pronta resposta.

Solicito que me faculte cópia da declaração do nosso cliente revogando a instrução no sentido do processamento
urgente, pois que o cliente nos informou coisa diversa.
Não encontro norma legal que impeça os nacionais portugueses, requerentes do cartão de cidadão, de requerer a
inscrição no cadastro nacional de contribuinte e no recenseamento eleitoral.
Estou em Goa e fui hoje informado de que terão recebido instruções de Lisboa no sentido de impedir os portugueses de
Goa de se inscrever nos cadernos eleitorais, mas não dei nenhuma importância ao assunto, apesar de me referirem que
as fontes são consulares.
Aquilo que considerei uma informação não séria, passou agora a ser uma informação preocupante, pelo que vos
solicito que tenham a amabilidade de me esclarecer.
Miguel Reis
De: Consulado de Portugal em Goa [mailto:consulado@goa.dgaccp.pt]

Enviada: 11 de Novembro de 2011 12:56
Para: miguel-reis-5066l@advogados.oa.pt
Assunto: FW: 22252 Clyde Gomes - Processos de Cartão de eleitor nº 6668906A
Exmo. Senhor
Dr. Miguel Reis
Gostaríamos de informar que o cartão de cidadão do Senhor Clyde Gomes já se encontra neste Consulado-Geral,
podendo ser recolhido em qualquer dia da sua conveniência, da parte da tarde, durante o horário de expediente.
Informa-se ainda que o documento não foi processado com carácter de urgência com a anuência do requerente, tendo o
mesmo assinado o comprovativo dos dados do pedido inicial após lhe ter sido explicado o seu conteúdo, conforme
consta no documento em anexo.
Cabe igualmente esclarecer que os nacionais residentes no estrangeiro apenas podem requerer, através do pedido de
cartão de cidadão, inscrição na Segurança Social e no Serviço Nacional de Saúde, mas não inscrição no cadastro de
contribuinte e no recenseamento eleitoral.
Com os melhores cumprimentos
CGP-Goa
De: Miguel Reis - Ordem dos Advogados [mailto:miguel-reis-5066l@advogados.oa.pt]

Enviada: quinta-feira, 10 de Novembro de 2011 14:26
1
Cc: Elaine Cardozo
Assunto: 22252 Clyde Gomes - Procesos de Cartão de eleitor nº 6668906A
Exmº Senhor
Foi esta sociedade contratada para prestar serviços jurídicos ao Sr. Clyde Gomes, nomeadamente no sentido de
interpelar esse Consulado e de, se necessário, usar os meios contenciosos para viabilizar um pedido de cartão de
cidadão com urgência, procedendo-se à inscrição do referido cidadão no cadastro nacional de contribuintes e
inscrevendo-o no recenseamento eleitoral.
Visto o comprovativo de pedido inicial do cartão de cidadão, constata-se que:
a) O mesmo não foi processado como requerido, ou seja com urgência;
Antes de recorrer a outros meios, venho solicitar a Vª Exª que esclareça quais as razões de tal procedimento, que é
ilegal o ofensivo dos direitos constitucionais do nosso constituinte, nomeadamente dos seus direitos políticos.
Miguel Reis
2
DOCUMENTO 8
1/1

www.lawrei.com
Miguel Reis
De: Miguel Reis
Assunto: Informação
Exmº Senhor
Serve a presente para, no cumprimento do dever de urbanidade, informar Vª Exª de que vou apresentar queixa
disciplinar contra si, pois que, sob sua direção, foi impedida a minha entrada nesse Consulado Geral na tarde de hoje.
Fiquei na rua, à espera de ser recebido, cerca de 3 horas.
Miguel Reis

Rua Marquês de Fronteira, 76 - 5º, 1070-299 Lisboa - Portugal
Tel: (+351) 21 385 21 38 Fax: (+351) 21 386 36 63 - lisboa@lawrei.com
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Queixa contra Cônsul de Portugal em Goa

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Queixa contra Cônsul de Portugal em Goa

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Exmº Senhor

Ministro dos Negócios Estrangeiros

Assunto: Queixa disciplinar contra o Cônsul Geral de Portugal em Goa

MIGUEL REIS, advogado, titular da cédula profissional nº 5066-L,

emitida pelo Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advogados,

vem apresentar queixa disciplinar contra

O funcionário desse Ministério que desempenha as funções de

Cônsul Geral de Portugal em Goa, cuja identificação rigorosa

desconhece, o que faz nos termos e com os fundamentos seguintes:

1. O queixoso é advogado desde 1982 – ou seja há 29 anos –

e tem 60 anos de idade.

2. Desde o inicio da sua atividade como advogado que

dedica uma especial atenção aos problemas dos

MIGUEL REIS & ASSOCIADOS - SOCIEDADE DE ADVOGADOS (PORTUGAL)

conhecido do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

3. A sociedade de advogados de que o titular é sócio assiste

portugueses espalhados por todo o Mundo, exportando

serviços de valor muito assinalável, tomando em

consideração a sua pequena dimensão.

4. O queixoso conhece, por isso, muito bem o

funcionamento da totalidade da rede consular

5. A sociedade que o queixoso integra paga impostos em

Portugal, tanto a título de prestação de serviços feita

pelos seus advogados, como a titulo de retenção na fonte

relativamente aos colaboradores residentes no

6. Há cerca de ano e meio, a sociedade e o signatário

passaram a interessar-se, de forma muito especial, pelos

problemas dos portugueses do antigo Estado da Índia,

por variadas razões, de que relevam as seguintes:

a. Haver indícios seguros de níveis de apropriação de

identidade absolutamente inaceitáveis;

MIGUEL REIS & ASSOCIADOS - SOCIEDADE DE ADVOGADOS (PORTUGAL)2/49

são discriminadas em função das influências que

c. Haver indícios claros de que se gerou um quadro de

«criar dificuldades para vender facilidades».

7. Ao longo deste ano e meio, o signatário e os demais

advogados da mesma sociedade assistiram centenas de

cidadãos portugueses, nomeadamente em processos de

nacionalidade e de registo civil, que recorreram aos seus

serviços por considerarem que nisso tinham vantagem

8. Não pode o signatário ir além dessa afirmação genérica

por, por regra, todos esses clientes estarem de tal forma

aterrorizados que têm medo de depor em qualquer tipo

de processo, ainda que todos afirmem que é

indispensável proceder ao rigoroso apuramento da

vergonhosa situação que se vive no Consulado Geral de

9. O signatário está obrigado a respeitar as limitações

decorrentes dos seus deveres deontológicos e não deve

envolver, pelas mesmas razões, os seus clientes neste 3/49

MIGUEL REIS & ASSOCIADOS - SOCIEDADE DE ADVOGADOS (PORTUGAL)

10. Mesmo assim, com as todas as limitações que a obrigação

de sigilo profissional lhe impõe, entende o agora

queixoso que há factos objetivos suficientemente graves

para justificar a instauração de processo disciplinar

contra o funcionário desse ministério que desempenha

as funções de cônsul geral de Portugal em Goa e,

eventualmente, contra outros responsáveis do dito

I. Um problema de direitos humanos

11. Quando visitou Goa pela primeira vez, há cerca de 4

anos, constatou o signatário que havia, no

relacionamento dos portugueses com o Consulado Geral

de Portugal, um gravíssimo problema de direitos

humanos, atenta a forma desrespeitosa com que os