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Há apenas 146 anos o ferroviário Edwin Drake perfurou o primeiro poço de petróleo no
território americano, exacerbando a velocidade da revolução industrial, iniciada no século
anterior. O uso do petróleo nos motores a explosão possibilitou o deslocamento rápido e
sempre mais pesado de pessoas e mercadorias. Sem o refino do petróleo em escala
industrial, a partir do poço de Tutsville - com apenas 21 metros de profundidade -, Santos
Dumont não teria voado, há 99 anos, com um aparelho mais pesado do que o ar, e, em
conseqüência indesejada pelo brasileiro, o Enola Gay, 40 anos depois, despejou sobre
Hiroxima e Nagasaki seus ovos apocalípticos.
Drake foi inventivo, mas não era capitalista. Pensava continuar explorando as
propriedades medicinais do petróleo, como era usual na época. Não patenteou o método
de perfuração e extração. Mais esperto foi John D. Rockefeller, que, três anos depois, se
associou a Samuel Andrews, inventor de uma forma barata de refinar o óleo, para criar a
Standard Oil. Ninguém acreditava nas escavações de Drake, antes de achar o petróleo, e
seus contemporâneos as ridicularizavam, como sendo "a doidice de Drake". Ele morreu
pobre, e só não passou fome porque os legisladores da Pensilvânia lhe concederam uma
pensão vitalícia.
O que são 146 anos na História? Praticamente nada. Nesse século e meio os homens
consumiram mais do que em todo o passado. Não têm sido consumidores todos os
homens do mundo. Um habitante do Hemisfério Norte, de modo geral, consome, em
média, dezenas de vezes mais do que o habitante do Sul. Há 33 anos, em Estocolmo,
Indira Gandhi afirmava que um americano comum gastava mais energia do que 140
indianos.
Os Estados Unidos, que começaram essa corrida alucinada com as aventuras de Drake e
Rockefeller, são os maiores destruidores da natureza, mas não aceitam reduzir seu
consumo de energia, a fim de conter, entre outros, o "efeito estufa" e as emissões de
gases que destroem o ozônio da atmosfera. Ainda agora se informa que imenso buraco
na camada de ozônio paira sobre o Rio Grande do Sul. Continuam sem aderir ao
Protocolo de Kyoto e sem adotar medidas internas para amenizar o futuro do homem.
Os americanos, com sua excitação pelo poder que disputam com a natureza, fazem
lembrar os lobos do Ártico, que algumas tribos esquimós caçam de forma astuta. Os
caçadores quebram lascas de gelo, de quinas agudas, e as cobrem com gordura de foca.
Os lobos, ao lamber a gordura, cortam a língua e sentem o gosto do próprio sangue, que
os excita sempre mais. Assim, morrem recheados do próprio sangue - e os caçadores
colhem as peças sem perigo. A natureza está destinada a ganhar a partida.
Talvez, não.