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A paz de Duque é uma política de mão-dura
A concessão de dispositivos, criados especialmente para lidar com ex-guerrilheiros
das Farc, é a medida do presidente Ivan Duque que divide Colômbia e sua tentativa de paz.
É preciso perceber que a vitória de Duque desde as urnas confirmou que muitos
colombianos ainda não estão preparados para perdoar a guerrilha marxista depois de mais
de 50 anos de conflito armado. Isso porque os uribistas não tem como objetivo político um
acordo de paz com as Farc. Gostam de ter a guerrilha como inimiga para unificar o país
detrás de si e assim justificar sua política de mão-dura. Esse é o resultado final de uma
conciliação com os meios de uma guerra.
Desde sua campanha em 2016, Duque prometeu que não destruiria o acordo, mas
que faria as coisas à sua maneira. Basicamente, isso significou atrasar o quanto fosse
possível o trabalho da JEP (Justiça Especial de Paz), o tribunal para ex-guerrilheiros e
ex-militares que define as polêmicas anistias e penas alternativas, tentar remendar o acordo
no quesito que trata o narcotráfico como crime passível de indulto e colocar o foco mesmo
apenas no mais fácil, a política de reinserção dos ex-guerrilheiros na sociedade.
Esse processo resumidamente intitulado “Farc” é só um dos capítulos da violência
histórica na Colômbia. No campo colombiano, diferente dos antigos guerrilheiros brasileiros
comandados pelos nordestinos, se enfrentam diversos grupos ideológicos como o ELN
(Exército de Libertação Nacional), os ex-paramilitares e os cartéis da droga (Bacrim ou
bandas criminales). É certo que a guerrilha colocava muitas dificuldades para as
negociações, uma vez que não parava, como era requisitado, de sequestrar e extorquir
enquanto estava dialogando, com a desculpa de que, sem isso, não tinha meios de
sobreviver.
Era sabido desde a negociação com as Farc que não bastava assinar a paz com
essa guerrilha, era necessário também pacificar o resto do país, neutralizando as outras
guerrilhas, cartéis e ex-guerrilheiros. Se isso não ocorrer e for prioridade de política séria e
estatal, outras mortes dos líderes sociais por exemplo também irão continuar, outro efeito
colateral negativo do acordo de paz ainda mal implementado. O conflito foi negociado em
um modelo de justiça transicional, portanto não convencional. A narrativa que sempre deve
estar em rigor é o papel central da paz como elemento político e capaz de dar baixas a
homicídios no país. Com respaldo internacional sem precedentes, Duque não conseguirá
investimentos relacionados à paz se for para cima do acordo como propõe e é criticado.
Consertar os pontos que considera problemáticos é possível, mas deveriam ser
feitos não só com tato político e inteligência estratégica, mas respeitando uma legislação
que o Congresso colombiano aprovou e do qual a Corte Suprema é hoje sua guardiã. A
ação mais agressiva neste último ponto pode ser considerada abuso de poder. Dado a
tomadas brutais de decisão de seu padrinho político, ex-presidente Álvaro Uribe, não é de
se esperar muito.