Professional Documents
Culture Documents
ÌYÉ ORÒ
Ìkódíde, Agbè, àlùkò e Lékeléke são as quatros penas sagradas de nossa religião, somente
sendo utilizadas dentro da ritualística e nunca como um simples adorno. Elementos
primordiais e indispensáveis dentro dos Ìgbèrè – Ritos Iniciáticos e de Passagens de qualquer
divindade do Panteão Yorùbá. Não existem penas semelhantes, são únicas em suas essências
simbologia e significado, ou seja, são insubstituíveis. Dentro do Corpo Literário de Ìfá, são
mencionadas nos mais diversos Oba Odù e seus Omo Odù.
(Ìkódíde)
Àlùkò pena de cor púrpura (entre escarlate e violeta) extraída das asas da ave africana Turaco.
Descritos nos mitos, como o pássaro que carregava a boa sorte e a riqueza para Òlòsà – A
Divindade das Águas Doces. Da mesma forma que sua contrapartida, somente age em
companhia do Agbè.
(garça) Lékeléke pena de cor branca, extraída da ave garça-vaqueira ou garça-boieira, nativa
da África e do Sul da Europa, que invadiu a América do Norte no início do Século XX e atingiu o
Brasil na década de1960. Descritos nos mitos como o pássaro que carregava a boa sorte e a
riqueza. Símbolo por excelência de todos os Òrìsà Funfun.
O pássaro Agbè carrega a benção de Olóòkun .O pássaro Àlùkò carrega a benção de Òlòsà. O
papagaio do Rio Mogba, descendência de um poderoso exército carrega uma cabaça com a
fortuna para o Rei de Iwó.
Os pássaros Agbè e Àkùkò são agentes intermediários entre o poder da imensidão das águas.
Oluwoo é um título do Rei de Iwó a Legendária Cidade, reduto da ave Odíderé.
Ojúure l'Agbè fi í w'aró Agbè won jí t'aró t'aró Ojúure l'Àlùkò fi í w'osùn Àlùkò won jí t'osùn
t'osùn Ojúure l'Lékeléke fi í w'efun Lékeléke won jí re pel'efun
O pássaro Agbè desperta com aro. O pássaro Agbè olha com bondade para aro. O pássaro
Àlùkò desperta com osùn. O pássaro Àlùkò olha com bondade para osùn O pássaro Lékeléke
desperta com efun
O pássaro Lékeléke olha com bondade para efun.
Agbe ló l’aró, kìí rá’hùn aro Àlùkò ló l’osùn, kìí rá’hùn osùn Lékèélékèé ló l’efun, kìí rá’hùn efun
.
O pássaro Agbè não se lamenta por muito tempo ao aró
O pássaro Àlùkò não se lamenta por muito tempo ao osùn
O pássaro Lékèélékèé não se lamenta por muito tempo ao efun.
Neste fragmento dos Textos Sagrados de Ìfá relata a ligação das aves
Agbè, Àlùkò e Lékeléke com as pinturas sagradas aró, osùn e efun. Essa expressão “despertar”
tem a conotação de “ao amanhecer de cada dia” as aves sagradas carregam em si o poder e a
essência de três dos quatros Oba Odù primordiais da existência universal; Ogbè Méjì
relacionado com o efun, Òyèkú Méjì e sua relação com o osùn e ligação de Ìwòri Méjì com o
aró. O fato de não se “lamentar por muito tempo” está baseado em uma oferenda cujo quais
os principais ingredientes são as penas e as pinturas citadas.
O grande e velho papagaio olha com bondade para Iwó. O poder da pena Ìkódíde enche de
suplicas os seres deste mundo.
A PENA DO ÌKÓDÍDE
Existia numa aldeia uma sociedade só de mulheres virgens. Essas mulheres eram compradas
por homens de posse só para casar com reis e príncipes, e elas passavam por ensinamento das
anciãs. Existia, nesta aldeia, uma mocinha muito pobre e feia. Seu pai vivia muito triste e, um
dia,disse:
- Eu sei que nunca vou achar um comprador para você, Por isso vou te levar eu mesmo para o
ensinamento das anciãs. A menina ficou muito triste, chorou e foi deitar. Então, chegou uma
mulher muito bonita à sua cama, com uma cuia tampada na mão, e disse: Olhe, amanhã é dia
dos compradores virem. Eles vêm trazendo um príncipe para ele mesmo escolher uma mulher.
Tem aqui osùn, waji, obi e Ìkódíde. Você come o obi e o resto passa no corpo. A pena de
Ìkódíde você coloca na testa como enfeite. Fique na janela, porém não diga nada a seu pai,
pois ele vai para a roça e não deve saber. A mulher entregou-lhe a cuia e a mocinha tornou a
pegar no sono. De manhã, deixou o pai sair e fez tudo como a mulher mandou. Atou a pena na
testa com uma iko, uma palha da costa. Neste momento, vinha passando uma caravana com o
príncipe. Ele olhou para a janela e, vendo a mocinha, ficou encantado.
-Que coisa linda! Será que é o que estou vendo? Chegou perto da janela:
-Minha iyaô! Minha noiva! Todos ficaram boquiabertos e ajoelharam-se em frente à janela,
admirados com tanta beleza e com a luz que emanava da bela donzela. O pai da menina veio
chegando e o príncipe fez a oferta de casamento. Até o pai ficou admirado com tanta beleza. O
casamento foi no outro dia e, quando ela foi dormir, sonhou que outra vez chegava junto à sua
cama à mulher, que lhe dizia: Olha, eu sou Òsún. Você é minha filha! – e sumiu. E a menina
tornou-se princesa.
Asé.