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Vestibular Cidadão

Disciplina: Literatura
Professora: Michelle Maciel

Boucher, F. Pastoural de Outono. 1749. O tema do pastoralismo alimenta a imaginação árcade:


os amantes felizes levam uma vida simples em meio à natureza bucólica.

Arcadismo ou Neoclassicismo: contexto histórico


 O nome Arcadismo designa, especialmente, um novo estilo de época
na literatura e provém da palavra Arcádia, região lendária da Grécia,
habitadas por pastores e protegida pelo deus Pan. Vivia-se ali em
perfeita integração com a natureza. A arcádia simbolizava, portanto, “o
paraíso”. O Arcadismo é chamado também de Neoclassicismo, porque é
uma volta à Antiguidade Clássica greco-romana, propondo-se a
explorara a estética desta época e também a do Renascimento, no
século XVI.
 O ano de 1768 é considerado a data inicial do Arcadismo no Brasil, com
a publicação de “Obras poéticas” de Claudio Manuel da Costa e com a
fundação da Arcádia Ultramarina, em Vila Rica.
 Iluminados pela razão e pela ciência, os árcades pretendem combater o
rebuscamento barroco, revolucionar a mentalidade das elites e divulgar
os ideais de uma sociedade mais justa e igualitária.
 Expressões latinas relacionadas ao Arcadismo:
a) “Inutilia truncat” – acaba-se com as instituições (oposição ao
rebuscamento, à complexidade, à ornamentação excessiva do
Barroco)
b) “Fugere Urbem” – fugir para o campo (fugir da cidade) por meio da
poesia.
c) “Locus Amenus” – o campo como lugar tranquilo, com paisagens
amenas.
d) “Aurea mediocritas” – mediocridade áurea – existência tranquilo, sem
excessos.
e) “Carpe diem” – viver o presente, o momento, o dia.

Características do Arcadismo
 Antropocentrismo; racionalismo, busca de equilíbrio; paganismo –
elementos da cultura greco-latina; imitação aos clássicos renascentistas;
idealização amorosa, neoplatonismo, convencionalismo amoroso; busca
da clareza das ideias; pastoralismo, bucolismo; universalismo; ideias
iluministas; vocabulário simples; gosto pela ordem direta e pela
simplicidade da linguagem; gosto pelo soneto e pelo decassílabo;
ausência quase total de figuras de linguagem.

Arcadismo brasileiro: febre do ouro


 Graças à descoberta de ouro em Minas Gerais, no século XXIII, o
desenvolvimento urbano por ela gerado trouxe o deslocamento da
produção cultural para a cidade de Vila Rica (atual Ouro Preto). As
cidades mineiras eram habitadas por ouvires, comerciantes, mercadores
e artistas: a diversidade social, que marca o início do povoamento da
região, cresceu junto com a exploração das riquezas mineiras.
 Com o crescimento do comércio e das cidades, a burguesia viu
aumentar seu poder político e forçou a nobreza a abrir mão de seus
privilégios. A independência da colônia norte-americana em relação à
coroa Inglesa, em 1776, inspirou os jovens brasileiros, que há haviam
tido contato com os textos dos filósofos iluministas na Europa, a mudar o
destino do Brasil. Brotavam as ideias revolucionárias de conquistar
independência política e cultural para a tão explorada colônia brasileira.
A participação dos poetas brasileiros na Inconfidência fez com que
muitos dos princípios políticos aparecessem direta ou indiretamente nos
versos que eles compunham.
 A opressão administrativa portuguesa, o declínio da produção de ouro, a
convivência com as ideias liberais iluministas e a independência norte-
americana foram os principais fatores para o início da Inconfidência
Mineira. Os inconfidentes pretendiam proclamar a República e tornar o
Brasil independente de Portugal, fundar uma universidade em Vila Rica
e construir fábricas nas regiões mais importantes do país. Joaquim
Silvério dos Reis, o delator do movimento, nomeou Tomás Antônio
Gonzaga como “primeira cabeça da inconfidência”. Ele e os demais
líderes foram presos pela coroa portuguesa.
 Cláudio Manuel da Costa é considerado o iniciador do Arcadismo no
Brasil (Obras, 1768). Adotou o pseudônimo árcade Glauceste Satúrnio,
escreveu muitos sonetos e o poema épico Vila Rica, de valor mais
histórico do que literário. Teve grande influência do mestre do
Classicismo português, Luís Vaz de Camões, e também de Petrarca: a
louvação da mulher amada é feita a partir de escolha de um aspecto
físico em que sua beleza se iguale à perfeição da natureza
 Tomás Antônio Gonzaga é o mais conhecido entre os árcades
brasileiros, celebrado até hoje pela publicação de Marília de Dirceu,
versos escritos no período em que o poeta se encontrava encarcerado e
por meio dos quais ele reconta sua paixão pela jovem Marília Doroteia
de Seixas Brandão (a sua Marília)
 A obra “Marília de Dirceu” é dividida em duas partes, manifestando a
transformação sofrida no olhar poético de Gonzaga após a sua prisão:
 Primeira parte: o tom característico da lira é mais otimista; Dirceu
(pseudônimo árcade do poeta) descreve a amada Marília e fala sobre a
vida futura que terão quando casados. Ao lado das referências bucólicas
exemplares e da criação do locus amoenus, Dirceu faz o elogio do
saber intelectual, importante inovação promovida por Gonzaga.
 Segunda parte (composta na prisão): predominam sentimentos
melancólicos, como a saudade, antecipando algumas características
românticas.
 O sucesso dos versos de Gonzaga em muito nos ajuda a identificar o
momento em que se inicia a formação de um público leitor no Brasil.
Ele e outros poetas árcades abrem caminho para que, no início do
século XIX, os escritores românticos já encontrem um público que lê
sistematicamente e se interessa por autores brasileiros.
 Em Cartas Chilenas, os desmandos morais e administrativos do
governador “Fanfarrão Minésio” são duramente criticados de forma
satírica. Nesse texto, o Chile representa Minas Gerais, e sua capital,
Santiago, é Vila Rica. Durante muito tempo, houve dúvidas sobre sua
autoria, mas hoje ela é atribuída a Tomás Antônio Gonzaga, sob o
pseudônimo de Critilo, o qual dialoga com o amigo Doroteu.
 Os poemas épicos árcades de destaque produzidos no Brasil são:
 “O Uruguai”, de José Basílio da Gama (1741-1795, sob o pseudônimo
Termindo Sepílo: o poema foi escrito em versos sem rima e sem
estrofação, cuja divisão segue o modelo épico (proposição, invocação,
narração e epílogo). Narra a luta entre os índios que viviam nas missões
dos Sete Povos (Uruguai) e um exército luso-espanhol. O trecho mais
conhecido do poema é uma passagem lírica, do canto IV, da morte de
Índia Lindoia.
 “Caramuru”, do frei José de Santo Rita Durão (1722-1784): o poema
segue o modelo camoniano (divisão em dez cantos, todos compostos
de oitava rima). Narra o descobrimento e a conquista da Bahia por Diogo
Álvares Correia, um náufrago português.
 Nas obras “O Uruguai” e “Caramuru”, é possível identificar o embrião
dos símbolos da nacionalidade romântica: a natureza exuberante e os
índios valorizados.

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