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Nada fica igual após a morte dos pais

Apesar de ser a única certeza dessa vida, a morte ainda parece ser colocada em recantos onde não possa ser vista,
falada e refletida. Porém, ela inevitavelmente chega a nossas vidas e enfrentá-la requer juntar e digerir, dentro da
gente, tudo o que ficou oculto, tudo o que evitamos por muito tempo. Perder minha mãe, há oito anos, foi uma
jornada extremamente dolorosa. Perder meu pai, recentemente, também foi. Cada vez mais, a morte vem sendo
excluída dos ambientes e da vida das pessoas. Quando eu era criança, a grande maioria das pessoas morria em casa e
os corpos eram velados nas casas de família. Hoje, a morte quase que se confina tão somente nos hospitais e
clínicas, lá longe de nosso cotidiano, longe das crianças, dos familiares, dos amigos. Longe do curso da vida. Daí
ninguém pensa sobre as perdas e tem que lidar com ela de supetão, como algo inconcebível. Com exceção da partida
precoce de um filho – essa não há quem entenda -, a morte faz parte do curso natural do ciclo da vida, ou ao menos
deveria fazer.

E cá estou eu a refletir novamente diante da partida de meu pai, para a qual, como a maioria das pessoas, eu não
estava preparado. Não imaginava que eu sofreria tanto com sua morte, porque nem eu mesmo tinha noção do meu
amor por ele. Eu amei minha mãe desde que abri os olhos; todas as minhas lembranças têm o meu amor por ela.
Com meu pai foi diferente. Eu não o amei desde o início naturalmente – foi um amor construído, lapidado, suado,
maturado, conquistado -, mas, nem por isso, foi menos verdadeiro. Como ele se foi aos poucos, ao longo deste
ano, pude refletir muito sobre nossa relação, que nem sempre foi tranquila. Fui puxando as memórias e assistindo ao
filme de minha vida com meu pai, sob meu olhar mais maduro, meu olhar de pai – criar filhos nos traz um
entendimento incrível sobre a forma como fomos criados. Eu então me vi agindo com meu filho tal qual meu pai
agia comigo; sim, daquele jeito que eu tanto relutava em aceitar. Ouvi a mim dizendo ao meu filho o que meu pai
dizia, exatamente o que meu pai me dizia e me deixava irritado.

E fui me lembrando de tanta coisa boa que vivi com ele. Meu pai sambava super bem, dançava com minha mãe,
cheios de elegância – amava vê-los dançando -, imitava uns passinhos do Didi dos Trapalhões, cantando “eu fui às
touradas de Madri”. Muitas vezes, ele saía de carro comigo e com meu irmão, e, lá pelas tantas, dizia que estava
perdido. Parava e perguntava às pessoas como fazia para chegar ao centro e a gente ficava aliviado quando achava o
caminho de volta, mesmo, no fundo, sabendo que ele estava blefando – era o modo de ele dizer que nos amava e que
jamais nos perderíamos enquanto ele estivesse no comando. Eu me lembrei de que, na minha infância, sempre que
eu estava com febre, eu sentia, madrugada adentro, a mão de meu pai sobre a minha testa, checando se minha
temperatura abaixara. E isso me trazia uma segurança imensa. Foi assim que eu cresci tendo a certeza de que,
sempre que a vida me derrubasse, eu poderia contar com ele. Meu pai sempre me motivou a publicar meus textos,
sempre me falava disso. Revisitar o passado com um olhar maduro nos traz uma compreensão tão clara da
importância de algumas pessoas em nossa jornada.

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A vida é perfeita e sempre encontra um jeito de nos aliviar a barra, assim como descobri que a morte faz com que a
gente se lembre do melhor da pessoa que se foi. Não fica nada de ruim. Nossas lembranças se preenchem dos bons
momentos que vivemos juntos, clareando nossa consciência quanto à verdade do que se foi. Hoje, percebo, por
exemplo, que, quando meu pai era ríspido comigo, ele estava me preparando para os tombos da vida adulta. Ele
me conhecia, percebia que eu era muito sensível e me colocava de frente com a dureza, para que eu me fortalecesse,
para que eu não viesse a me machucar quando me tornasse gente grande.

Por isso, é besteira ficar remoendo o que se disse ou não, o que se fez ou não, carregando remorsos inúteis. Se
a gente que fica só guarda o que foi bom, o que nos fez bem e nos fez sorrir, é lógico que quem parte leva consigo
somente o que foi bom. O amor fica e vai junto, alimentando as memórias que nos fazem reviver todas as cores, os
sons, os cheiros e vozes que nos tornaram o que somos – sobreviventes no amor. Amor que sempre está dentro de
cada um, embora muitos resistam a enxergá-lo.

Enfim, nada como a maturidade para conseguirmos compreender, aceitar e agradecer tudo o que nossos pais fizeram
por nós. Nada como o tempo, para trazer as verdades, apagar as dúvidas, consolidar o que foi bom e teve que
acontecer para que chegássemos onde estamos. Eu não seria nem sombra do que sou hoje, sem essa estrutura, esse
pilar que meus pais eram, agindo exatamente como agiram. Entender que eles deram o que podiam e foram o que
possuíam dentro de si traz compreensão e gratidão. E agora, como pai, transmito toda essa riqueza afetiva que eles
me deixaram, para que meu filho continue levando em frente esse sentimento tão essencial, que é o amor – sempre o
amor.

Ser pai é amar cada filho exatamente pelo que cada um possui dentro de si. É chorar escondido, para
permanecer fortaleza; é dizer não com o coração apertado. Ser pai é ser humano, é falhar, é errar também. É
amor que continua, é luz que não se apaga, é eternidade afetiva. Ser pai é, sobretudo, entender o pai que
tivemos.

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Por que as mentes mais brilhantes necessitam da solidão

Segundo o professor Robert Lang, da Universidade de Nevada (Las Vegas), especialista em dinâmicas sociais,
muitos de nós acabarão vivendo sozinhos em algum momento, porque a cada dia nos casamos mais tarde, a taxa de
divórcio aumenta, e as pessoas vivem mais. A prosperidade também incentiva esse estilo de vida, escolhido na
maioria dos casos voluntariamente, pelo luxo que representa. A jornalista Maruja Torres, em sua autobiografia,
Mujer en Guerra (da editora Planeta España, não publicada em português), já se vangloriava do prazer que lhe dava
cair na cama e dormir sozinha, com pernas e braços em X. A isso se soma a comodidade de dispor do sofá, poder
trocar de canal sem ter que negociar, improvisar planos sem avisar nem dar explicações, andar pela casa de qualquer
jeito, comer a qualquer hora…

Como se fosse pouco, o sociólogo Eric Klinenberg, da Universidade de Nova York, autor do estudo GOING SOLO:
The Extraordinary Rise and Surprising Appeal of Living Alone (ficando só: o extraordinário aumento e
surpreendente apelo de viver sozinho, em tradução livre), está convencido de que viver só significa, também,
desfrutar de relações com mais qualidade, já que a maioria dos solteiros vê claramente que a solidão é muito melhor
que se sentir mal-acompanhado. Há até estudos que asseguram que a solidão facilita o desenvolvimento da empatia.
Outra socióloga, Erin Cornwell, da Universidade Cornell, em Ítaca (Nova York), concluiu, depois de diversas
análises, que pessoas com mais de 35 anos que moram sozinhas têm maior probabilidade de sair com amigos que as
que vivem como casais. O mesmo acontece com as pessoas adultas que, embora vivendo sozinhas, têm uma rede
social de amizades tão grande ou maior que a das pessoas da mesma idade que vivem acompanhadas. É a conclusão
do estudo feito pelo sociólogo Benjamin Cornwell publicado na American Sociological Review.

A base da criatividade e da inovação


As pessoas são seres sociais, mas depois de passar o dia rodeadas de gente, de reunião em reunião, atentas às redes
sociais e ao celular, hiperativas e hiperconectadas, a solidão oferece um espaço de repouso capaz de curar. Uma das
conclusões mais surpreendentes é que a solidão é fundamental para a criatividade, a inovação e a boa liderança.
Estudo realizado em 1994 por Mihaly Csikszentmihalyi (o grande psicólogo da felicidade) comprovou que os
adolescentes que não aguentam a solidão são incapazes de desenvolver seu talento criativo.

Susan Cain, autora do livro Quiet: The Power of Introverts in a World That Can’t Stop Talking (silêncio: o poder
dos introvertidos num mundo que não consegue parar de falar), cuja conferência na plataforma de ideias TED Talks
é uma das favoritas de Bill Gates, defende ao extremo a riqueza criativa que surge da solidão e pede, pelo bem de
todos, que se pratique a introversão. “Sempre me disseram que eu deveria ser mais aberta, embora eu sentisse que
ser introvertida não era algo ruim.

Durante anos fui a bares lotados, muitos introvertidos fazem isso, o que representa uma perda de criatividade e de

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liderança que nossa sociedade não pode se permitir. Temos a crença de que toda criatividade e produtividade vem de
um lugar particularmente sociável. Só que a solidão é o ingrediente essencial da criatividade. Darwin fazia longas
caminhadas pelo bosque e recusava enfaticamente convites para festas. Steve Wozniak inventou o primeiro
computador Apple sentado sozinho em um cubículo na Hewlett Packard, onde então trabalhava. Solidão é
importante. Para algumas pessoas, inclusive, é o ar que respiram.”

Cain lembra que quando estão rodeadas de gente, as pessoas se limitam a seguir as crenças dos outros, para
não romper a dinâmica do grupo. A solidão, por sua vez, significa se abrir ao pensamento próprio e original.
Reclama que as sociedades ocidentais privilegiam a pessoa ativa à contemplativa. E pede: “Parem a loucura do
trabalho constante em equipe. Vão ao deserto para ter suas próprias revelações”.

A conquista da liberdade
“Só quando estou sozinha me sinto totalmente livre. Reencontro-me comigo mesma e isso é agradável e reparador. É
certo que, por inércia, quanto menos só se está, mais difícil é ficá-lo. Mesmo assim, em uma sociedade que obriga a
ser enormemente dependente do que é externo, os espaços de solidão representam a única possibilidade se fazer
contato novamente consigo. É um movimento de contração necessário para recuperar o equilíbrio”, diz Mireia
Darder, autora do livro Nascidas para o Prazer (Ed. Rigden, não publicado em português).

Também o grande filósofo do momento, Byung-Chul Han, autor de A Sociedade do Cansaço (Ed. Relogio D’Agua,
de Portugal), defende a necessidade de recuperar nossa capacidade contemplativa para compensar nossa
hiperatividade destrutiva. Segundo esse autor, somente tolerando o tédio e o vácuo seremos capazes de desenvolver
algo novo e de nos desintoxicarmos de um mundo cheio de estímulos e de sobrecarga informativa. Byung-Chul Han
preza as palavras de Catão: “Esquecemos que ninguém está mais ativo do que quando não faz nada, nunca está
menos sozinho do que quando está consigo mesmo”.

Autoconsciência e análise interior


“Para mim a solidão representa a oportunidade de revisar nosso gerenciamento, de projetar o futuro e avaliar a
qualidade dos vínculos que construímos. É um espaço para executar uma auditoria existencial e perguntar o que é
essencial para nós, além das exigências do ambiente social”, diz o filósofo Francesc Torralba, autor de A Arte de
Ficar Só (Ed. Milenio) e diretor da cátedra Ethos da Universidade Ramon Llull. Na solidão deixamos esse espaço
em branco para ouvir sem interferências o que sentimos e precisamos. “A solidão nos dá medo porque com
ela caem todas as máscaras. Vivemos sempre mantendo as aparências, em busca de reconhecimento, mas
raramente tiramos tempo para olhar para dentro”, diz Torralba.

Por SILVIA DÍEZ

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Não se lamente por envelhecer: é um privilégio negado a muitos

Envelhecer é um privilégio, uma arte, um presente. Somar cabelos brancos, arrancar folhas no calendário e fazer
aniversário deveria ser sempre um motivo de alegria. De alegria pela vida e pelo que estar aqui representa.

Todas as nossas mudanças físicas são reflexo da vida, algo do que nos podemos sentir muito orgulhosos.

Temos que agradecer pela oportunidade de fazer aniversário, pois graças a ele, cada dia podemos compartilhar
momentos com aquelas pessoas que mais gostamos, podemos desfrutar dos prazeres da vida, desenhar sorrisos e
construir com nossa presença um mundo melhor…

As rugas nos fazem lembrar onde estiveram os sorrisos

As rugas são um sincero e bonito reflexo da idade, contada com os sorrisos dos nossos rostos. Mas quando começam
a aparecer, nos fazem perceber quão efêmera e fugaz é a vida. Como consequência, frequentemente isso nos faz
sentir desajustados e incômodos quando, na verdade, deveria ser um motivo de alegria. Como é possível que nos
entristeça ter a oportunidade de fazer aniversário?

Porque temos medo de que, ao envelhecermos, percamos capacidades. Porque pensamos na velhice como um
castigo, de maneira pejorativa e humilhante. Do mesmo modo, fazer aniversário nos faz olhar para trás e nos expõe
ao que fizemos durante nossa vida.

Dizer obrigado por cada ano completo


Deveríamos agradecer à vida pela oportunidade de permanecer e de ter a capacidade e a consciência de desfrutar.
Que sentido tem nos lamentarmos e nos queixarmos por termos possibilidades? Não é verdade que daríamos o que
fosse para ter aqueles que perdemos do nosso lado? Por que não colocamos vontade na vida e deixamos de
dissimular nosso caminhar?

Fazer aniversário deveria ser um motivo de alegria. Cada dia conta com 1440 minutos de novas opções, de
maravilhosos pensamentos, de centenas de matizes em nossos sentimentos. Cada segundo nos faz mais capazes de
experimentar e de aproveitar todas as opções que surgem ao nosso redor.

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Cada ano é uma medalha, uma oportunidade para acumular lembranças, para fazer nossos os instantes, para soprar
as velas com força e orgulho. Deseje continuar cumprindo sonhos, segundos, minutos, horas, dias, meses e anos…
E, sobretudo, poder celebrá-los com a vida e com as pessoas que o rodeiam.

Abaixo, um sábio texto de José Saramago sobre o assunto:

QUANTOS ANOS TENHO?

Tenho a idade em que as coisas se olham com mais calma, mas com o interesse de seguir crescendo.

Tenho os anos em que os sonhos começam a se acariciar com os dedos e as ilusões se tornam esperança.

Tenho os anos em que o amor, às vezes, é uma louca labareda, ansiosa para se consumir no fogo de uma paixão
desejada. E outras, é um remanso de paz, como o entardecer na praia.

Quantos anos tenho? Não preciso de um número marcar, pois meus desejos alcançados, as lágrimas que pelo
caminho derramei ao ver minhas ilusões quebradas…
Valem muito mais do que isso.
O que importa se fizer vinte, quarenta, ou sessenta!
O que importa é a idade que sinto.

Tenho os anos que preciso para viver livre e sem medos.


Para seguir sem temor pelo atalho, pois levo comigo a experiência adquirida e a força de meus desejos.

Quantos anos tenho? Isso a quem importa!


Tenho os anos necessários para perder o medo e fazer o que quero e sinto.

José Saramago

Não se lamente por envelhecer. A vida é um presente que nem todos temos o privilégio de desfrutar. É um frasco de
suspiros, de tropeços, de aprendizagens, de prazeres e de sofrimentos. Por isso, em si mesma, é maravilhosa.

E também por isso é imprescindível aproveitar cada momento, fazê-lo nosso, nos sentirmos afortunados. Acumular
juventude é uma arte que consiste em fazer com que seja mais importante a vida dos anos do que os anos de vida.

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Não é tão importante se somamos cabelos brancos, rugas ou se nosso corpo nos pede trégua a cada manhã. O que
verdadeiramente é relevante é crescer, porque no final das contas, fazer aniversário é inevitável, mas envelhecer é
opcional.

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Dez marcantes frases de Steve Jobs

Jobs, ex-CEO do Apple. era um mestre na arte da comunicação. De alguns anos para cá, especialmente após a sua
morte, a internet se viu repleta de frases de efeito de sua autoria, sempre com caráter motivacional. Vejamos
algumas:

* Não há motivo para não se seguir o coração… Nunca deixe de ter fome. Nunca deixe de ser insensato.

*Seu tempo é limitado, então não o desperdice vivendo a vida de outra pessoa. Não se deixe aprisionar pelo dogma
– que é viver segundo os resultados dos pensamentos de outras pessoas. Não deixe o barulho da opinião dos outros
sufocar sua própria voz interior.

* A morte é provavelmente a melhor invenção da vida. É o agente de mudança da vida. Tira o velho do caminho
para dar lugar para o novo.

* Você não pode ligar os pontos olhando para a frente; você só pode fazer isso olhando para trás. Então você tem
que confiar que os pontos irão se conectar de alguma forma no futuro. Você tem que confiar em algo – seu instinto,
destino, vida, karma, seja o que for. Esse modo de encarar as coisas nunca me deixou na mão e fez toda a diferença
na minha vida.

* Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço de evitar a armadilha de achar que você tem algo
a perder.

* Estamos sempre pensando em novos mercados para entrar, mas é só dizendo não que você pode concentrar nas
coisas que são realmente importantes.

* Na maioria dos vocabulários das pessoas, design significa superfície. É decoração de interiores. É o tecido da
cortina e do sofá. Mas, para mim, nada pode estar mais distante do signficado de design. Design é a alma
fundamental de uma criação humana que acaba se expressando em sucessivas camadas externas do produto ou do
serviço.

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* Nada me deixa mais feliz do que receber um email de uma pessoa qualquer no universo que acabou de comprar
um iPad no Reino Unido e que me conta como é o produto mais bacana que ela já trouxe pra casa em toda sua vida.
Isso é o que me motiva.

* Simples pode ser mais difícil que complexo. Você tem que trabalhar muito para chegar a um pensamento claro e
fazer o simples.

* Picasso dizia que ‘bons artistas copiam e grande artistas roubam’. E eu nunca tive vergonha de roubar grandes
ideias… Acho que parte do que fez a Macintosh grande foi que as pessoas trabalhando aqui eram músicos e poetas e
artistas e zoólogos e historiadores que por acaso eram também os melhores cientistas da computação do mundo.

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“As possibilidades perdidas”, texto original de Martha Medeiros

Fiquei sabendo que um poeta mineiro que eu não conhecia, chamado Emilio Moura, teria completado 100 anos neste
mês de agosto, caso vivo fosse. Era amigo de outro grande poeta, Drummond. Chegaram a mim alguns versos dele,
e um em especial me chamou a atenção: “Viver não dói. O que dói é a vida que não se vive”.

Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram
sonhadas e não se cumpriram. Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas
agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos
fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz. Sofremos por quê?

Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas,
por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos
que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter
compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade interrompida. Sofremos
não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao
cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar. Sofremos não porque nossa mãe é impaciente
conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas
angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela
euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós,

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impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a
experimentar. Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: se iludindo menos e
vivendo mais.

Como sabotamos a nossa vida sem perceber

A vida não é como uma linha reta. Ela não é um conjunto de horários e de gráficos. Não há nada errado se você não
terminou os seus estudos numa determinada idade, se você é casado ou não, se encontrou um emprego estável ou se
começou a formar a sua própria família, etc. Você necessita entender que, se você não se casou com seus 25-30
anos, se não se tornou vice-presidente aos 33 ou se não encontrou a felicidade na idade X, ninguém pode julgá-lo ou
condená-lo. E, se porventura alguém o fizer, isso de nada importa. Você pode questionar o caminho traçado a
qualquer tempo. Pode dar um tempo a si mesmo para parar e descobrir o que, de fato, o inspira. Você tem direito a
esse tempo (muitos se esquecem disso).

Não raro começamos o planejamento das nossas vidas no colegial e assim seguimos os planos. Com base nesses
planos vem o curso a ser estudado, o trabalho a executar… Depois de um tempo, levantamos todas as manhãs e
vamos ao trabalho, não por livre escolha diária, mas porque devemos confirmar a decisão que tomamos um dia. Mas
um dia acordamos em meio à mais profunda depressão, intuimos que nos prende e que não nos deixa viver
plenamente, mas não saberemos do que se trata. Assim, destruímos nossa vida.

Destruímos nossa vida escolhendo a pessoa errada.


Por que será que é tão grande a nossa ânsia por relacionamentos? Por que somos tão obcecados pela a ideia de
“estar” com alguém e não com a de “ser” alguém? Esse sentimento que nasce da necessidade de dormir com alguém
que esteja ali para suprir a nossa necessidade de atenção e não os nossos verdadeiros sentimentos, não é o tipo de
amor que vai nos inspirar a acordar às 6h da manhã e abraçar a pessoa que dorme ao lado.

É preciso encontrar um amor que nos transforme no melhor que somos. Não nos ceguemos no vazio do “não
quero dormir sozinho”. Estar sozinho é bom. Passe algum tempo com você mesmo, coma sozinho, durma sozinho
e, dentro de algum tempo, você encontrará coisas novas e interessantes sobre você, coisas de que nem suspeita.
Você vai crescer como pessoa e encontrará o que o inspira, será de fato o dono dos seus sonhos e crenças. Quando
chegar o dia de encontrar aquela pessoa que faça cada uma das células do seu corpo dançar, você se sentirá confiante
com ele ou com ela, porque tem confiança em si mesmo. É preciso saber esperar!

Destruímos nossa vida ao permitir que o passado tenha controle sobre nós.
Na vida flui… Essa é a sua principal característica! Nela, há decepções, frustrações, dias em que você se sente um
nada… Esses sentimentos chegam fortes e de malas feitas. Parece que vieram para ficar por muito tempo, mesmo,
mas não devemos permitir que eles nos controlem.

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Se você permitir que cada situação desagradável se torne o prisma que define sua percepção das coisas, verá o
mundo de forma negativa e distorcida. E, se você permitir isso, corre o risco de ficar parado num mesmo lugar por
anos, por estar convencido, por exemplo, de que é estúpido; de deixar passar o amor, porque você sente que a sua ex
lhe deixou por não ser bom o suficiente e agora você não acredita em mulheres (ou nos homens).

É como um círculo vicioso. Se não se permitir deixar o seu passado para trás, você contuará a ver o mundo através
da janela suja do passado.

Destruímos nossa vida quando nos comparamos com os outros.


A quantidade de seguidores que você tem no Instagram nada diz do seu valor como pessoa. O número de zeros à
direita em sua conta bancária não terá nenhum efeito real sobre a sua compaixão, inteligência ou felicidade. Alguém
que tenha duas vezes mais propriedades do que você poderá não vai experimentar um tipo especial de alegria.

Sinceramente? O fato de aquele velho colega de faculdade ter postado fotos no Facebook naquele resort
fantástico ou no hotel mais bacana da cidade não faz a menor diferença na sua vida. Todo mundo sabe disso,
mas, ainda assim, muitas vezes se compara e se sente “por baixo”, nessas situações. Estamos presos no falso
mundo das redes sociais, ainda que provavelmente isso não nos leve à morte, mas nos destrua gradualmente
ao criar em nós a necessidade de nos sentir “importantes” e pressionar os outros para que também sigam esse
ideal.

Destruímos nossa vida ao nos privar das emoções.


Tememos que os outros saibam o quanto significam a nós. Muitas vezes, o interesse por alguém pode parecer até
uma loucura. Sim, expressar as suas emoções por alguém faz com que você se torne um pouco mais ’vulnerável’,
mas não há nada errado com isso; pelo contrário: pode ser algo mágico e encantador desnudar a alma e mostrar-se
honesta e integralmente.

A pessoa a quem você ama tem o direito de saber o quanto ela o inspira. Diga, por exemplo, à sua mãe que você a
ama. Diga isso mesmo quando você estiver diante dos seus amigos ou nas redes sociais. Seja forte o bastante para
não permitir que a sua alma se torne uma pedra. Destruímos nossa vida quando passamos a suportá-la ao invez de
desfrutá-la. Quando nos conformamos com menos do que desejávamos inicialmente, destruímos as possibilidades
que vivem dentro de nós e é como trair a nós mesmos e a nosso potencial.

Quem disse que o próximo Michelangelo não está sentado agora na frente da tela do computador, organizando
documentos alheios porque precisa para pagar as contas ou porque trabalhar assim é mais fácil do que buscar seus
sonhos?

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A vida, o trabalho e o amor estão inevitavelmente ligados entre si. Estejamos prontos para ver, na diversidade
e na imprevisibilidade, a felicidade que a vida nos dá.

O texto foi livremente adaptado pela Equipe da Revista Pazes.

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Gosto que me digam a verdade; eu decido se ela dói ou não

Ninguém gosta de ouvir mentiras. Não gostamos das mentiras piedosas, nem de que decidam por nós o que devemos
saber ou não. Se a verdade vai nos machucar, somos nós quem temos que decidir isso.

As pessoas têm a mania de ocultar coisas que fazem, dizem ou pensam porque acreditam que assim evitam fazer mal
aos outros. Mas não, na verdade não há nada tão dilacerante quanto a mentira, a omissão e a hipocrisia. Com eles,
nos sentimos pequenos e vulneráveis, e ao mesmo tempo, gera-se desconfiança e insegurança frente ao mundo.

Nenhum sentimento é inválido


Ao longo de nossa vida, sofremos e choramos por centenas de situações causadas pelos outros. Entretanto, todos
esses sentimentos e emoções nunca são inúteis; pelo contrário, grande parte do nosso aprendizado é mediado pela
dor. Do mesmo modo, sofrer nos faz compreender e conhecer a nós mesmos, entender que somos fortes e que nada
dura para sempre. Dessa forma, conseguimos administrar nossas emoções.

Nossa vida é nossa. Devemos vivê-la como quisermos e não como julgam os outros. Decidiríamos por alguém a
quem ele ou dela deve amar e de que maneira? Não, isso é uma loucura. É injusto tentar decidir pelos outros.

O poder de dizer as coisas de frente


Dizer as coisas cara a cara é ser sincero, nada mais e nada menos. As pessoas confundem isso com a falta de
educação, de tato ou de prudência. Como a sinceridade é um termo que leva a confusões e cada um tem sua própria
versão do conto, vejamos algo mais sobre ela. Ser sincero não quer dizer que devemos falar tudo o que nos vem à
cabeça, de forma brusca ou a qualquer momento. Ser sincero com critério, empatia e ética não significa maquiar a
realidade, mas adequar sua comunicação ao momento e à pessoa.

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A sinceridade faz com que encontremos companheiros, gente leal, íntegra. Ou seja, boa gente. Como é óbvio, muitas
vezes a intenção não é ruim, mas devemos saber que ao não dizer a verdade, estamos faltando ao respeito com a
pessoa “afetada”.

De fato, mentindo para alguém privamos tal pessoa da oportunidade de dirigir sua dor e aprender a lição que ela tem
que aprender. Por isso, é algo tremendamente injusto e abusivo.

A sinceridade dói naquelas pessoas que vivem em um mundo de mentira


A sinceridade nunca dói, o que dói são as realidades. Ser sincero sempre é um grande gesto, apesar de tudo e de
quem for. Entretanto, pode acontecer de alguém preferir viver em um mundo de fantasia, sem querer enxergar a
realidade. Nesse caso, tudo é respeitável.
Entretanto, o mal de mentir ou de ocultar a verdade é que a partir daí ficam em dúvida mil verdades que quebram a
confiança, a segurança e os sentimentos de amor mais potentes.
Em resumo, a verdade constrói e a mentira destrói. Cada um de nós está capacitado para assumir a realidade do que
nos corresponde e, portanto, de resolver os possíveis danos que possamos sofrer. Não podemos viver esperando que
a vida seja um caminho de rosas nem para nós, nem para os outros. Assim, sempre que nos corresponda, deveríamos
optar por sermos sinceros e não privar as pessoas da oportunidade de crescer superando as adversidades ou
desconfortos de sua própria existência. Lembremos que proteger alguém de um dano com a possibilidade de causar
outro ainda pior não faz sentido.

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