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ARCADISMO

ARCADISMO

Literatura
Literatura do
do séc.
séc. XVIII
XVIII –– Setecentismo
Setecentismo ou
ou Neoclassicismo
Neoclassicismo

Domínio
Domínio histórico
histórico no
no Brasil:
Brasil:

1768: “Obras”,
1768: “Obras”, de
de Cláudio
Cláudio Manuel
Manuel da
da Costa
Costa

1836: “Suspiros
1836: “Suspiros poéticos
poéticos ee Saudades”,
Saudades”, de
de Gonçalves
Gonçalves de
de Magalhães
Magalhães
TENDÊNCIAS ÁRCADES :  o momento poético: valorização da
natureza e dos afetos comuns do
homem – inspiração na tradição
clássica (Mimese e Arcádia)

“O conceito de arte, herdado da


poética renascentista, tem por
fundamentos a noção de arte como
cópia da natureza e a idéia de que tal
mimese se pode fazer por graus; de
onde o matiz idealizante que esbate
qualquer pretensão de um realismo
absoluto.” (A. Bosi)

 o momento ideológico: crítica da


burguesia aos abusos da nobreza e do
clero (Ilustração) ‘
 Arte mimética: apreço pelo simples e verossímil, pois “um conceito
que não é justo, nem fundado sobre a natureza das coisas, não pode ser
belo, porque o fundamento de todo conceito engenhoso é a verdade.”

 Pastoralismo: exaltação da vida campesina,opondo-se à vida citadina


– tema que transforma o campo num bem perdido, que encarna
facilmente os sentimentos de frustração ao ver o mundo contaminado
pela indústria e pelo comércio.

 Bucolismo: idealização do ambiente natural, em oposição aos de


requintada cultura urbana, a fim de burlar as restrições das etiquetas da
corte e alargar as margens do espontaneísmo.

 Foco no homem natural, “o bom selvagem” rousseauniano:


rejeição ao universo hierárquico do absolutismo instaurado pela nobreza
e pelo alto clero desde fins do séc. XVI; e fazem-no recorrendo à
liberdade que natureza e razão teriam dado ao homem.

 Linguagem simplificada: gosto da clareza e da singeleza para


erradicar a maquinaria cultista e demais torneios barrocos.
Retomada dos lemas latinos:

• fugere urbem
• locus amoenus
• aurea mediocritas
• carpe diem
• inutilia truncat
Além do Horizonte
Se
Se você
você não
não vem
vem comigo
comigo
Nada
Nada disso
disso tem
tem valor
valor
Jota
Jota Quest
Quest
Composição: De
De que
que vale
vale oo paraíso
paraíso sem
sem oo amor
amor
Composição: Roberto
Roberto ee Erasmo
Erasmo Carlos
Carlos
Se
Se você
você não
não vem
vem comigo
comigo
Tudo
Tudo isso
isso vai
vai ficar
ficar
Além
Além do
do horizonte
horizonte deve
deve ter
ter
Algum No
No horizonte
horizonte esperando
esperando por
por nós
nós dois
dois
Algum lugar
lugar bonito
bonito pra
pra viver
viver em
em paz
paz
Onde
Onde eu
eu possa
possa encontrar
encontrar aa natureza
natureza
Alegria Além
Além do
do horizonte
horizonte existe
existe um
um lugar
lugar
Alegria ee felicidade
felicidade com
com certeza
certeza
Lá Bonito
Bonito ee tranqüilo
tranqüilo
Lá nesse
nesse lugar
lugar oo amanhecer
amanhecer éé lindo
lindo
Pra
Pra gente
gente sese amar
amar
Com
Com flores
flores festejando
festejando
Mais
Mais um
um dia
dia que
que vem
vem vindo
vindo
Onde Se
Se você
você não
não vem
vem comigo
comigo
Onde aa gente
gente pode
pode se
se deitar
deitar no
no campo
campo
Se Nada
Nada disso
disso tem
tem valor
valor
Se amar
amar nana relva
relva
Escutando De
De que
que vale
vale oo paraíso
paraíso sem
sem amor
amor
Escutando oo canto
canto dos
dos pássaros
pássaros
Se
Se você
você não
não vem
vem comigo
comigo
Aproveitar Tudo
Tudo isso
isso vai
vai ficar
ficar
Aproveitar aa tarde
tarde sem
sem pensar
pensar na
na vida
vida
Andar No
No horizonte
horizonte esperando
esperando por
por nós
nós dois
dois
Andar despreocupado
despreocupado
Sem
Sem saber
saber aa hora
hora de
de voltar
voltar
Bronzear Além
Além do
do horizonte
horizonte existe
existe um
um lugar
lugar
Bronzear oo corpo
corpo todo
todo sem
sem censura
censura
Gozar Bonito
Bonito ee tranqüilo
tranqüilo
Gozar aa liberdade
liberdade de
de uma
uma vida
vida
Sem Pra
Pra gente
gente sese amar
amar
Sem frescura
frescura
CLÁUDIO MANUEL DA COSTA

 Influência de Petrarca e Camões (sonetos);


 Resíduos cultistas (transição Barroco/Arcadismo);
 Fixação pelo cenário rochoso de Minas (“a imaginação
da pedra”);
 Conflito interior provocado pelo contraste entre
o rústico mineiro e a vivência intelectual e social na
Europa ;
 Ambigüidade: “nativismo” X “colonialismo”;
 Platonismo amoroso: Nise é a musa freqüente;
 Temática: o amante infeliz; o contraste rústico X
civilizado; a tristeza da mudança das coisas em
relação à permanência dos sentimentos.
“Destes penhascos fez a natureza”

Destes penhascos fez a natureza


O berço em que nasci: oh! quem cuidara
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna, um peito sem dureza!

Amor, que vence os tigres, por empresa


Tomou logo render-me; ele declara
Contra meu coração guerra tão rara
Que não me foi bastante a fortaleza.

Por mais que eu mesmo conhecesse o dano


A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano;

Vós que ostentais a condição mais dura,


Temei, penhas, temei: que Amor tirano
Onde há mais resistência mais se apura.
Cláudio M anuel da Costa
LXXII

Já rompe, Nise, a matutina aurora


O negro manto, com que a noite escura,
Sufocando do Sol a face pura,
Tinha escondido a chama brilhadora

Que alegre, que suave, que sonora,


Aquela fontezinha aqui murmura!
E nestes campos cheios de verdura
Que avultado o prazer tanto melhora!

Só minha alma em fatal melancolia


Por te não poder ver, Nise adorada,
Não sabe inda, que coisa é alegria;

E a suavidade do prazer trocada,


Tanto mais aborrece a luz do dia,
Quanto a sombra da noite lhe agrada.

Cláudio M anuel da Costa


TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA

 Elementos não-convencionais:
– representação direta da natureza mineira, e não clássica;
– lirismo pessoal (depressivo) decalcado da biografia, mas
sem exageros .

 Obra lírica: “MARÍLIA DE DIRCEU”

•Eu, Marília,
•Eu, Marília, não
não sou
sou algum
algum vaqueiro,
vaqueiro, •Eu vi
•Eu vi oo meu
meu semblante
semblante numa
numa fonte,
fonte,
Que
Que viva
viva de
de guardar
guardar alheio
alheio gado,
gado, Dos
Dos anos
anos inda
inda não
não está
está cortado;
cortado;
De
De tosco
tosco trato,
trato, de
de expressões
expressões grosseiro,
grosseiro, Os
Os Pastores,
Pastores, que que habitam
habitam este
este monte,
monte,
Dos
Dos frios
frios gelos
gelos ee dos
dos sóis
sóis queimado.
queimado. Respeitam
Respeitam oo poder
poder dodo meu
meu cajado.
cajado.
Tenho
Tenho próprio
próprio casal
casal ee nele
nele assisto;
assisto; Com
Com taltal destreza
destreza toco
toco aa sanfoninha,
sanfoninha,
Dá-me
Dá-me vinho,
vinho, legume,
legume, fruta,
fruta, azeite;
azeite; Que
Que inveja
inveja até
até me
me tem
tem oo próprio
próprio Alceste:
Alceste:
Das
Das brancas
brancas ovelhinhas
ovelhinhas tiro
tiro oo leite,
leite, Ao
Ao som
som dela
dela concerto
concerto aa voz
voz celeste
celeste
E
E mais
mais asas finas
finas lãs,
lãs, de
de que
que visto.
visto. Nem
Nem canto
canto letra
letra que
que não
não seja
seja minha.
minha.

Graças,
Graças, Marília
Marília bela,
bela, Graças,
Graças, Marília
Marília bela,
bela,
Graças
Graças àà minha
minha estrela!
estrela! Graças
Graças àà minha
minha estrela!
estrela! ...
...
1ª.
1ª. parte
parte
-- Valorização
Valorização da
da figura
figura da
da mulher
mulher
“MARÍLIA DE DIRCEU”
amada;
amada;

-- A
A natureza
natureza éé o
o cenário
cenário perfeito
perfeito
para
para o
o idílio;
idílio;

-- Declaração
Declaração de
de Dirceu
Dirceu aa Marília;
Marília;

-- Dirceu
Dirceu assume-se
assume-se como
como pastor;
pastor;

-- Sonhos
Sonhos de
de felicidade
felicidade futura.
futura.


2ª parte
parte

-- Escrita
Escrita no
no cárcere
cárcere pelo
pelo inconfidente;
inconfidente;

-- Substitui-se
Substitui-se o
o locus amoenus pelo
locus amoenus pelo
locus
locus horrendus;
horrendus;

-- Pré-Romantismo:
Pré-Romantismo: melancolia,
melancolia,
saudade,
saudade, depressão
depressão
Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces, que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d’ouro;
Teu lindo corpo bálsamos vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela! (...)

Os seus compridos cabelos,


Que sobre as costas ondeiam,
São que os de Apolo mais belos;
Mas de loura cor não são.
Têm a cor da negra noite;
E com o branco do rosto
Fazem, Marília, um composto
Da mais formosa união.
 Pastoralismo e bucolismo: entendimento de que felicidade e
beleza decorrem da vida no campo;
 Convencionalismo: pseudônimos árcades (Tomás = Dirceu;
Maria Dorotéia Joaquina = Marília)
 Texto monologal: Marília é vocativo, pretexto para o autor falar
de si mesmo
 Otimismo e narcisismo: satisfação com o próprio destino,
autovalorização, exaltação à sensibilidade artística e alusão à
virilidade;
 Ideal burguês de vida: afirmação da privilegiada situação
econômica e da posse da terra;
 Simplicidade: predomínio da ordem da frase, sem muitas figuras.
 Realismo descritivo: captação da rusticidade da paisagem e da
vida da Colônia.
 Amor serôdio: valorização do “carpe diem” devido à consciência
da fugacidade do tempo.
Minha bela Marília, tudo passa; Com os anos, Marília, o gosto falta,
A sorte deste mundo é mal segura; E se entorpece o corpo já cansado;
Se vem depois dos males a ventura, triste o velho cordeiro está deitado,
Vem depois dos prazeres a desgraça. e o leve filho sempre alegre salta.
Ah! enquanto os Destinos impiedosos A mesma formosura
Não voltam contra nós a face irada, É dote, que só goza a mocidade:
Façamos, sim façamos, doce amada, Rugam-se as faces, o cabelo alveja,
Os nossos breves dias mais ditosos. Mal chega a longa idade.
Um coração, que frouxo
A grata posse de seu bem difere, Que havemos de esperar, Marília bela?
A si, Marília, a si próprio rouba, Que vão passando os florescentes dias?
E a si próprio fere. As glórias, que vêm tarde, já vêm frias;
E pode enfim mudar-se a nossa estrela.
Ah! Não, minha Marília,
Aproveite-se o tempo, antes que faça
Ornemos nossas testas com as flores. O estrago de roubar ao corpo as forças
E façamos de feno um brando leito, E ao semblante a graça.
Prendamo-nos, Marília, em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos Amores.
Sobre as nossas cabeças,
Sem que o possam deter, o tempo corre;
E para nós o tempo, que se passa,
Também, Marília, morre.
Tomás Antônio Gonzaga – satírico
Obra: “CARTAS CHILENAS”

Forma e conteúdo:
 Treze cartas anônimas



 Decassílabos brancos


 Critilo (Gonzaga) escreve a seu amigo Doroteu (Cláudio
M. da Costa), criticando os atos do governador do
“Chile”, Fanfarrão Minésio, (o governador de Minas
Gerais, Luís da Cunha Menezes)
BASÍLIO DA GAMA

 Poema épico: “O URAGUAI”

 Tema central: a história das tropas luso-espanholas


enviadas à região das missões jesuíticas para desalojar
os índios e jesuítas (após o Tratado de Madri ) e
subseqüente destruição de São Miguel. O poema é a
narração da luta pela posse da terra, travada em 1757 e
foi dedicado ao irmão do Marquês de Pombal.
Personagens:

- General Gomes Freire de Andrade (chefe português);


- Catâneo (chefe das tropas espanholas);
- Cacambo (chefe indígena);
- Cepé (guerreiro índio);
- Balda (jesuíta administrador de Sete Povos das Missões);
- Caitutu (guerreiro indígena, irmão de Lindóia);
- Lindóia (esposa de cacambo);
- Tanajura (indígena feiticeira).
Este lugar delicioso e triste, Deixou cravados no vizinho tronco.
Cansada de viver, tinha escolhido Açouta o campo co'a ligeira cauda
Para morrer a mísera Lindóia. O irado monstro, e em tortuosos giros
Lá reclinada, como que dormia, Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Na branda relva e nas mimosas flores, Em negro sangue o lívido veneno.
Tinha a face na mão, e a mão no tronco Leva nos braços a infeliz Lindóia
De um fúnebre cipreste, que espalhava O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Melancólica sombra. Mais de perto Conhece, com que dor! no frio rosto
Descobrem que se enrola no seu corpo Os sinais do veneno, e vê ferido
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge Pelo dente sutil o brando peito.
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio. Os olhos, em que Amor reinava, um dia,
Fogem de a ver assim, sobressaltados, Cheios de morte; e muda aquela língua
E param cheios de temor ao longe; Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes
E nem se atrevem a chamá-la, e temem Contou a larga história de seus males.
Que desperte assustada, e irrite o monstro, Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,
E fuja, e apresse no fugir a morte. E rompe em profundíssimos suspiros,
Porém o destro Caitutu, que treme Lendo na testa da fronteira gruta
Do perigo da irmã, sem mais demora De sua mão já trêmula gravado
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes O alheio crime e a voluntária morte.
Soltar o tiro, e vacilou três vezes E por todas as partes repetido
Entre a ira e o temor. Enfim sacode O suspirado nome de Cacambo.
O arco e faz voar a aguda seta, Inda conserva o pálido semblante
Que toca o peito de Lindóia, e fere Um não sei quê de magoado e triste,
A serpente na testa, e a boca e os dentes Que os corações mais duros enternece
Tanto era bela no seu rosto a morte!
SANTA RITA DURÃO

Obra épica: “Caramuru”

 Modelo camoniano (estrutura em cinco partes em oitava-


rima, presença do maravilhoso cristão e pagão).

 Tema: o naufrágio de Diogo Álvares Correia e seus amores


com as índias, sobretudo com Paraguaçu.

 Personagens:
- Diogo Álvares Correia (Caramuru, náufrago português)
- Paraguaçu (filha do cacique Taparica)
- Gupeva e Sergipe (chefes indígenas)
- Moema (índia amante de Diogo)
Características de “Caramuru”:


 Tradicionalismo épico: duros trabalhos dum heróis,
contato entre gentes diversas, visão duma seqüência
histórica (uma “brasilíada”!);

 Referência a fatos históricos desde o Descobrimento


até a época do autor;

 Destaque ao teor informativo e descritivo: louvação da


terra, dos costumes, dos ritos indígenas...

 Inspiração religiosa: louva a colonização como


empresa religiosa desinteressada (objetivo:
catequese!);

 Desprezo à visão laica e civil – a qual se observa em


“O Uraguai” e nos poemas satíricos.
XLI
Enfim, tens coração de ver-me aflita,
Flutuar moribunda entre estas ondas;
Nem o passado amor teu peito incita
A um ai somente com que aos meus respondas! XLIII
Bárbaro, se esta fé teu peito irrita,
(Disse, vendo-o fugir), ah! não te escondas Perde o lume dos olhos, pasma e trema,
Dispara sobre mim teu cruel raio... Pálida a cor, o aspecto moribundo,
E indo a dizer o mais, cai num desmaio. Com mão já sem vigor, soltando o leme,
Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas na onda do mar, que irado freme,
Tornando a aparecer desde o profundo:
'Ah! Diogo cruel!' disse com mágoa,
E, sem mais vista ser, sorveu-se n’água.
XXXVIII

'Bárbaro (a bela diz), tigre e não homem


Porém o tigre, por cruel que brame,
Acha forças amor que enfim o domem;
Só a ti não domou, por mais que eu te ame.
Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem,
Como não consumis aquele infame?
Mas pagar tanto amor com tédio e asco...
Ah! que corisco és tu... raio... penhasco!

XXXIX XL
Bem puderes, cruel, ter sido esquivo, Tão dura ingratidão menos sentira,
Quando eu a fé rendia ao teu engano; E esse fado cruel doce me fora,
Nem me ofenderas a escutar-me altivo, Se a meu despeito triunfar não vira
Que é favor, dado a tempo, um desengano; Essa indigna, essa infame, essa traidora!
Porém, deixando o coração cativo Por serva, por escrava, te seguira,
Com fazer-te a meus rogos sempre humano, Se não temera de chamar senhora
Fugiste-me, traidor, e desta sorte A vil Paraguassu, que, sem que o creia,
Paga meu fino amor tão crua morte? Sobre ser-me inferior é néscia e feia.

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