You are on page 1of 55
AQUISIGAD POR.COMPRA | ADQUIRIDO OP iurminion 1 8 mag, 2010 gwateaw> - a REGISTRO 23 ONAOORECISTEO “SL LO. FICHA CATALOGRAFICA BLABORADA FELA BisuoTeca Cesvet ox sic Baptista, Abel Barros, A formagio do nome ~ Duas interrogagies sobre Machado de Assis / Abel Barros B229m Baptista. — Campinas, SP: Editora da UNtcaN, 2003. 1. Assis, Machado de, 1839-1908 — Critica ¢ interpretagio, 2. Assis. Machado de, Magma péstumas de Brds Cubas. 3, Assis, Machado de, 1839-1908 ~ ‘Literatura brasileira ~ Histéria e erftica. 5. Nacionalismo e literatura 6, Nome. L. Titulo, CDD -B869.341 - 8869.09 ISBN: 85-268-0628-9 401 Indices para catélogo sistemético: 1. Assis, Machado de, 1939-1908 ~ Critica ¢ interpretagso 869.341 2. Assis, Machado de, 1839-1908 ~ Memérias postumas de Brés Cubas BE69.341 3. Assis, Machado de, 1839-1908 ~ Critica textual B869.341 4, Literatura brasileira — Historia & critica 8869.09 5. Nacionalismo e lireratura 3869.09 6.Nome 401 Copyright © by Editora da Unica, 2003 ‘Nenhuma parte desta publicasfo poske ser gravada, armazenada cm sistema elctrénico, forocopiada, reprodurida por micios mecdnicos ou outros quaisquer sem autorizagio prévia do editor, $C001180135 Y4G4/0 Capitulo 7 AUTOR DEFUNTO 1 O que é um autor suposto? Comecemos por um exemplo curioso do procedimento de in- trodugao do autor suposto e das conseqtiéncias que arrasta para a figura do autor efetivo: The narrative of Arthur Gordon Pym of Nantucket, de Edgar Allan Poe. O romance abre com um prefacio assinado pelo pré- prio Arthur Gordon Pym, que nele conta a historia do livro nos seguin- tes termos: regressado aos Estados Unidos depois de uma série de aven- turas, Gordon Pym foi instigado por diversas pessoas a escrever 0 relato das suas viagens, que no estava disposto a fazer por diversos motivos, 0 principal dos quais consistia no receio de a maior parte dos leitores tomar como descarada mentira a narrativa de acontecimentos to fan- tasticos; surge entio o sr. Edgar Poe, que se dispde a contar em seu nome, como se de ficc4o se tratasse, as aventuras de Arthur Pym, basean- do-se naturalmente no relato que este the fizera. Mas 0 inesperado so- brevém: os leitores recusam-se a aceitar como ficcio o relato assinado por Poe. “Disto conclui”, escreve Gordon Pym no prefacio, “que os fatos da minha narrativa mostraram-se capazes de conter em si as provas da propria autenticidade, nao tendo eu, portanto, muito a recear da possivel incredulidade do piiblico” (Poe, 1838, pp. 45). O st. Poe é despedido do 135 trabalho de escriba, e o herdi das aventuras retoma o relato onde cle 0 deixara, tendo o cuidado de esclarecer que o leitor notara devidamente onde acaba 0 texto de um e comeca 0 outro, uma vez que, diz, “a diferenga em matéria de estilo percebe-se perfeitamente” (Poe, op. cit., p. 5). Donde resulta que estilo de Poe nao afetou o efeito decisivo: a narrativa escrita por Poe nao anulava as marcas de autenticidade ja presentes na narrativa que ouvira de Pym. Assim, o processo convencional aparece claramente invertido: nao é a figura do autor suposto que, apoiado na experiéncia do que viveu, afirma a autenticidade do que se conta, mas a mesma narrativa que se revela capaz de impor a propria autenticidade, sem garantias prévias c até com indicagdo manifesta de que se tratava de ficcdo. Pode entender-se tudo isto como um processo de conjurar a inverossimilhanca. Mas esta em jogo muito mais. Estd em jogo, desde logo, uma entre narrativa e narrador que nao se esgota no caso singular de The narrative of Arthur Gordon Pym: uma narrativa que se reporta a uma experiéncia prévia, podendo transmitirse de narrador em narrador sem perder a autenticidade. E esta em jogo, em conseqiiéncia, a imagem do estilo como suplemento ornamental incapaz de lesar a autenticidade, porque incapaz de dissolver as marcas da presenga dessa experiéncia prévia. Essa dupla imagem constitui a primeira ficcdo, a ficgdo inaugural do romance, a qual, ao mesmo tempo que o integra numa tradicio de narrativa (a narrativa de experiéncias, com o seu tipo de narrador, aquele que viajou, anterior ao género romanesco e diferente dele), caracteriza quer a natureza da narrativa que vai ler-se, quer o tipo de narrador a que pertence Gordon Pym (aquele que no precisa de um estilo apurado, que sabe que “mesmo que o meu livro estivesse mal escrito, a sua extra- vagancia, se acaso a tivesse, seria a melhor forma de ser aceito como verdade” (Poe, op. cit, p. 4)). Resta saber, todavia, se uma tal imagem nao ¢ incompativel com a inscricdo de Gordon Pym na posi¢do de autor, isto é, se a sua constitui¢ao em autor nao 0 afasta do tipo de narrador a que reclama pertencer. agem de narrativa ¢ de relacio De fato, podemos notar que tudo isto arrasta um efeito parado- xal sobre a condicao do autor: se a narrativa gera a propria imagem de narrador, se as caracteristicas de estilo nao lhe afetam a autenticidade, entio, do ponto de vista da recepgdo da narrativa enquanto narrativa 136

You might also like