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Março 2003.

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Reformador
Revista de Espiritismo Cristão
EDITORIAL
Intercâmbio abençoado
4

Ano 121 /Março, 2003 / No 2.088 PRESENÇA DE CHICO XAVIER 13


Jesus e mediunidade – André Luiz
ESFLORANDO O EVANGELHO 21
Não tiranizes – Emmanuel
REFORMADOR DE ONTEM 26
O começo da história sem fim – Lino Teles
A FEB E O ESPERANTO 29
O problema lingüístico na atualidade –
Affonso Soares
Fundada em PÁGINAS DA REVUE SPIRITE 32
21 de janeiro de 1883
Fundador: Augusto Elias da Silva Aparições – Allan Kardec
ISSN 1413-1749
SEARA ESPÍRITA 42
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Federação Espírita Brasileira
Direção e Redação O Estado e as religiões – Juvanir Borges de Souza 5
Av. L-2 Norte – Q. 603 – Conj. F (SGAN)
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Os bons médiuns – Manoel Philomeno de Miranda 8
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E-mail: feb@febrasil.org.br Da influência moral do médium – Allan Kardec 9
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Tipos de solo – Richard Simonetti 10
Para o Brasil A Doutrina Espírita tem dono? – Umberto Ferreira 12
Assinatura anual R$ 30,00
Número avulso R$ 4,00
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veira São Thiago; Secretário – Iaponan Albuquerque
da Silva; Gerente – Amaury Alves da Silva; REFOR- Hydesville – Leôncio Correia 25
MADOR: Registro de Publicação no 121.P.209/73
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nistério da Justiça), CNPJ 33.644.857/0002-84 –
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20941-040 – Rio de Janeiro (RJ) – Brasil
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A era Psi – Adésio Alves Machado 38
Capa: Rogério Nascimento Nossos Colaboradores 39
Tema da Capa: O tema deste mês é Mediunidade Por que dizer não ao carnaval? – Bittencourt Rezende di Nápoli 40
– abençoada por Jesus, esclarecida por Kardec e
exemplificada por Chico Xavier. II Encontro Nacional de Coordenadores de ESDE 41
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Editorial
Intercâmbio abençoado

A
História registra as manifestações mediúnicas em todas as épocas da Humanidade. Os Espíritos jamais
deixaram de se comunicar com os homens, estando a mediunidade presente na vida comum dos indi-
víduos, assim como no seio das religiões, desde o totemismo. “Todavia – afirma Emmanuel1 –, onde a
mediunidade atinge culminâncias é justamente no Cristianismo nascituro. Toda a passagem do Mestre ines-
quecível, entre os homens, é um cântico de luz e amor, externando-lhe a condição de Medianeiro da Sabedo-
ria Divina.”
Com os Apóstolos, explode no dia de Pentecostes, quando Pedro, mediunizado, se reporta à profecia de
Joel: “E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vos-
sos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos.”2
Na noite de 31 de março de 1848, em Hydesville, Estado de Nova York (EUA), na casa da família Fox,
as meninas Kate e Margaret estabelecem diálogo publicamente reconhecido com o Espírito Charles B. Ros-
ma, iniciando a fase contemporânea das manifestações mediúnicas, que da América passam para a Europa,
com as mesas girantes e falantes.
Em Paris, o Professor Hippolyte Léon Denizard Rivail examina o fenômeno, aprofunda as investigações,
e, sob a supervisão do Espírito de Verdade, questiona os Espíritos Superiores, coordena metodicamente os
seus ensinos, e lança, em 18 de abril de 1857, com o pseudônimo Allan Kardec, O Livro dos Espíritos, obra
fundamental da Doutrina Espírita, que inaugura uma Nova Era para a Humanidade.
Antes cerceada e estigmatizada, a mediunidade desponta gloriosa, em meado do século XIX, concreti-
zando a vinda do Consolador prometido por Jesus, personificado na presença do Espírito de Verdade, que fi-
cará para sempre conosco.3
Sob a égide do Evangelho de Jesus, e praticada à luz dos ensinos espíritas, a mediunidade vence tanto o
obscurantismo religioso quanto o cepticismo científico-filosófico, e estabelece, em definitivo e de forma os-
tensiva, abençoado intercâmbio entre os dois planos da Vida.
1
XAVIER, Francisco C. e VIEIRA, Waldo. Mecanismos da Mediunidade, prefácio Mediunidade. 20. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001, p. 14.
2
Atos, 2:16-17.
3
João, 14:15-17.

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O Estado e as religiões
Juvanir Borges de Souza

paração e, conseqüentemente, liber- Que dizer dos erros e fanatis-


dade de culto, de consciência, de mo geradores da Inquisição, que
reunião. perseguiu e condenou à fogueira
Foi, sem dúvida, a consagra- milhares de “hereges”, pelo crime
ção, na prática, da liberdade para de não seguirem a religião domi-

D
esde a Antiguidade, passando todos, maiorias e minorias religio- nante?
pelas idades Medieval, Mo- sas, que se deve à argumentação fir- E dos Cruzados, empenhados
derna e Contemporânea, en- me e convincente de Rui Barbosa e na matança de inocentes porque
contramos sempre os governos (Es- Benjamin Constant, dois grandes “Deus assim o deseja” (“Deus
tado) ligados estreitamente às di- trabalhadores contra a opressão. vult”)?
versas denominações religiosas. O Movimento Espírita, refle- Lembremos que outra religião
É notória a união entre os go- tindo os princípios da Doutrina dos impunha a morte da viúva na mes-
vernos da maioria dos países da Espíritos, posiciona-se sempre em ma pira funerária do marido e ain-
Ásia Central e da Ásia Menor com defesa da liberdade, sem prejuízo da da outra denominação religiosa de-
o Islamismo. responsabilidade individual e cole- terminava que os avós deveriam
No Ocidente, não foi menor a tiva. morrer nas geleiras, voltando à na-
vinculação entre a Igreja Romana e Reconhece, por isso, o papel tureza.
os Estados europeus e americanos, importante das religiões, especial- Acima estão alguns exemplos
até os fins do século XIX. mente na formação e aperfeiçoa- de excessos, de presunção, de igno-
O denominado “direito divi- mento moral dos indivíduos. rância e de insensibilidade, preconi-
no”, invocado e defendido por reis, Mas as religiões, que sempre zados por religiosos em nome de
imperadores e aristocracias a eles li- invocam a inspiração divina para suas religiões, a demonstrarem que,
gadas, foi sustentáculo, por muitos fundamentação de seus preceitos, apesar de princípios morais eleva-
séculos, das teocracias diversas. não devem assumir o controle dos dos que fazem parte das doutrinas
As denominadas democracias, governos, seja pelos enganos inter- e crenças, quando no poder seus re-
regimes políticos baseados na sobe- pretativos de seus seguidores, seja presentantes muitas vezes se exce-
rania popular, fortaleceram-se com pelo fanatismo individual que se dem, dando oportunidade à mani-
a conquista da liberdade, que se manifesta em muitos de seus repre- festação de suas paixões e infe-
vem firmando no mundo, por toda sentantes, seja pela presunção de su- rioridades.
parte, apesar de alguns retrocessos perioridade. Daí o inconveniente das teo-
compreensíveis, diante das próprias Provas dessa presunção tivemos cracias de variadas origens, pela fa-
imperfeições humanas. recentemente, quando, após a Con- cilidade das degenerações, em fun-
No Brasil, desde a queda do ferência pela Paz Mundial de Líde- ção das imperfeições de todos os
Império e a proclamação da Repú- res Religiosos e Espirituais, realiza- habitantes do nosso mundo.
blica, em 1889, ocorreu a separação da pela ONU, em Nova York, de Milênios se passaram até que
entre o Estado e a Igreja Católica. 28 a 31 de agosto de 2000, o Papa considerável parcela da população
Apesar das tentativas para o re- declarou que todas as outras reli- terrestre, esclarecida por filósofos,
torno do vínculo Estado-Igreja, to- giões são inferiores ao Catolicismo. pensadores e pela própria prática
das as Constituições que se segui- Declaração semelhante fez o política, chegasse à conclusão de
ram à de 1891 mantiveram a se- Aiatolá Khomeini a respeito do Islã. que o Estado laico e democrático é

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a melhor forma de organização es- sua facção em detrimento das de- A Verdade, as realidades da vi-
tatal, no qual o representante do mais. da devem ser sempre aceitas pelo
poder tem a obrigação de respeitar É, evidentemente, um erro de homem, com liberdade de pensa-
a todos, independentemente de graves conseqüências quando trans- mento e nunca sob coação. Sua
suas convicções religiosas. formado em prática governamen- aceitação deve ser obra do tempo e
tal. da evolução do entendimento hu-
... Os governantes que se posicio- mano.
O Espiritismo e o Movimento nam sempre em favor da religião Assim, pela lei do progresso,
que o pratica e representa no Brasil que representam, em detrimento onde quer estejamos, seja qual for a
bem cedo conheceram os rigores e das demais, agem defendendo o posição social, raça e grau de civili-
inconvenientes do Estado unido princípio de que “os fins justificam zação, todos seremos chamados, no
à religião oficial e majoritária – o os meios”, perigoso e injusto em decorrer dos tempos e através das
Catolicismo. suas conseqüências. sucessivas reencarnações, a aceitar as
Apesar dos predicados de ho- Em substituição a tal princípio verdades eternas, pelo livre entendi-
mem justo e esclarecido, o Impera- eis a regra correta: “à pureza dos mento da razão.
dor D. Pedro II nem sempre pôde fins deve corresponder aos meios A Doutrina Espírita, por seu
evitar as perseguições e incom- justos empregados para alcançá- caráter e por sua índole, não obriga
preensões de que foram vítimas os -los”, uma vez que, prejudicar mi- a ninguém obedecer compulsoria-
espíritas, no final do Império bra- norias, perseguir, desconhecer direi- mente seus princípios e postulados.
sileiro. tos alheios não são meios justos de As leis divinas, as lições que o
Essa foi uma das razões que satisfação de interesses pessoais ou Cristo deixou em sua Mensagem
fundamentaram o empenho de al- de facções, travestidos de bons ob- e o Consolador são claros nesse
guns representantes do povo, na jetivos. sentido.
Constituinte de 1891, a lutarem Na Era atual, a Era Espírita, Em função dessa norma supe-
pela separação da Igreja Católica do torna-se necessário evitar determi- rior, divina, o Espiritismo, assim
Estado brasileiro. nadas práticas e concepções errô- como não impõe seus princípios,
Hoje, já bem distante daquele neas, utilizadas por milênios, em também não aceita a imposição de
ato político-social de grande im- detrimento dos interesses e do pro- outras correntes de pensamento, fi-
portância, sentimos todos – maio- gresso dos próprios homens. losóficas e religiosas.
rias e minorias religiosas – os efei- Uma dessas práticas, aceita ain- Há que se obedecer à liberdade
tos benéficos da separação, dos quais da na atualidade, é a da confusão de convencimento para todos, já
ressalta uma melhor compreensão do poder governamental de uma que o Criador dotou os homens do
e acentuada tolerância entre os re- nação com determinada religião. livre-arbítrio.
ligiosos das diversas denomina- Além do cerceamento da liber- Em lugar da imposição, o cor-
ções. dade, a utilização dessa forma de reto é a persuasão, através do escla-
Se todas as grandes religiões governança é causa de conflitos e recimento, do estudo, do confron-
têm inscrito o princípio do amor a guerras, além da grande injustiça to de princípios, da demonstração,
Deus e ao próximo em seus núcleos cometida contra muitas mentes que da experiência. Em uma palavra, a
de sustentação moral, urge que ca- não se ajustam ao regime. evolução, o progresso individual são
da seguidor dê preeminência a es- As religiões que se impõem obras de educação, tanto no campo
se mandamento comum, superior, através dos governos fogem às suas intelectual quanto no moral-espiri-
em torno do qual todos podem en- finalidades precípuas, transformam- tual.
tender-se. -se em verdadeiras blasfêmias con- As religiões exercem influência
Muitas vezes, por ignorância e tra os princípios morais e éticos e sobre as massas de seguidores. Se
fanatismo, um governante, repre- contra a razão, pela presunção de não há segurança sobre os preceitos
sentando uma determinada religião seus representantes em muitos dos superiores de ordem moral, advin-
no poder, julga necessário favorecer atos que praticam. dos, em geral, através das revela-

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ções, porque os homens neles inter- Suas origens remontam a um -morais e materiais não se transfor-
ferem através de interpretações pes- passado em que a Humanidade vi- ma tão-somente com imposições,
soais, interesses imediatos, presun- via em estágios evolutivos muito com revoluções políticas ou econô-
ção e orgulho, as conseqüências não distantes do atual. micas, mas sim pelo conhecimento
são boas, gerando fanatismos, pseu- Não foi por outra razão que o das verdades eternas que se inter-
doverdades, imposições, como é co- Cristo de Deus prometeu um outro nalizam nas consciências indivi-
mum nas instituições em que o Es- Consolador, que viria para aclarar duais e coletivas, provocando o pro-
tado se apóia na religião e vice- muitos de seus ensinamentos e tra- gresso, a evolução.
-versa. zer novos conhecimentos. Em suma, toda imposição, em
Trabalho, solidariedade, tole- E o Consolador, o Espiritismo, matéria religiosa, revela fanatismo.
rância, a célebre divisa do Codifica- por sua vez, na lição dos Espíritos Se a imposição vem do Estado,
dor, continua sendo segura orienta- Superiores e de Kardec, adverte as conseqüências negativas são mui-
ção para todos os espíritas. que a Doutrina dos Espíritos incor- to maiores.
O Movimento Espírita preci- porará novos conhecimentos, no- Como conclui W. Stainton
sa preocupar-se com a educação vas verdades, desde que comprova- Moses, em sua obra Ensinos Espiri-
das massas, em sentido lato, com a dos. tualistas, pág. 154 da 4. ed. FEB:
divulgação da Doutrina, por todos O Cristo, por outro lado, reti- “Qualquer religião, de qual-
os meios lícitos, mas não com a ficou muitos entendimentos do Ve- quer raça, em qualquer ponto do
conquista do poder transitório, pa- lho Testamento, interpretados li- globo, que tenha a pretensão de
ra impor-se, como ocorre com ou- teralmente, formulando a síntese possuir o monopólio da Verdade
tros movimentos filosóficos e reli- maravilhosa baseada no amor a Divina, é uma ficção humana nas-
giosos. Deus e ao próximo, extensiva aos cida da vaidade e do orgulho do
Não devemos esquecer que as homens de todas as latitudes e de homem.”
obras fundamentais das grandes re- todas as religiões. “Nenhum sistema de teo-
ligiões – Hinduísmo, Budismo, O complexo do comporta- logia tem o monopólio da verda-
Cristianismo, Islamismo – não são mento humano, das crenças, das de (...).”
obras definitivas, absolutas. instituições, dos valores espirituais-

Os fins essenciais Marcelo Paes Barreto


rio, que faz a nossa inteligência vis-
lumbrar um roteiro de etapas, com
amplas possibilidades de progres-
“A encarnação, aliás, precisa lhando, verdadeiramente, para ob- so, no caso de um planejamento
ter um bom lugar na seara do Di- de percurso bem elaborado.
ter um fim útil.” (O Evangelho vino Criador? Será que estamos fa- Conscientes dessa realidade,
segundo o Espiritismo, cap. IV – zendo da nossa passagem por esta é-nos possível a elaboração de um
escola um efetivo meio de alcan- projeto, aproveitando, é claro, a
item 26.)
çarmos o concreto progresso da al- vontade, o esforço e a coragem,
ma? Parece-nos que não! Basta, pa- combustíveis necessários para a

F
ala-se muito em mundos su- ra isso, analisarmos o termômetro transposição das etapas evolutivas
periores, melhores e mais do mundo. Tem estado em tempe- à nossa frente.
adiantados espiritualmente ratura elevada, com muitos e mui- Assim é que os Espíritos Supe-
que o nosso planeta, e muito se es- tos conflitos, desde os menores até riores alertaram, de forma essen-
pera da bondade do Pai Celestial os maiores grupos. cialmente pedagógica, para a en-
para que possamos alcançar essas Nesse contexto é que denota- carnação útil como condição
esferas mais evoluídas. mos a importância do conheci- primordial para o sucesso na estra-
Mas será que estamos traba- mento do mecanismo reencarnató- da terrena.

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Os bons médiuns
encarnada cujo conteúdo as células para o aperfeiçoamento incessante,
orgânicas decodificam, não signifi- a disciplina dos equipamentos ner-
ca manifestação de angelitude ou de vosos, as disposições superiores pa-

I
nerente a todos os seres huma- santificação, como também não re- ra o bem, o nobre e o edificante.
nos, a faculdade mediúnica ex- presenta punição imposta por Deus, Neutra, sob o ponto de vista
pressa-se de maneira variada, a fim de alcançar os calcetas e endi- ético-moral, qual ocorre com as de-
conforme a estrutura evolutiva, os vidados perante as Soberanas Leis. mais faculdades, é direcionada pelo
recursos morais, as conquistas espi- Existente igualmente no ser es- seu portador, que se encarrega de
rituais de cada indivíduo. piritual, é uma faculdade do Espíri- orientá-la conforme as próprias as-
Incipiente em uns e ostensiva to que, através dos delicados equi- pirações, perseguindo os objetivos
noutros, pode ser considerada co- pamentos sutis do seu perispírito, elevados, que são a meta essencial
mo a peculiaridade psíquica que faculta o intercâmbio entre os de- da reencarnação.
permite a comunicação dos homens sencarnados de diferentes esferas da À medida que o médium intro-
com os Espíritos, mediante cujo Erraticidade. jeta reflexões em torno do seu con-
contributo inúmeras interrogações Dessa maneira, não se trata de teúdo valioso, mais se lhe dilatam as
e enigmas encontram respostas e um calvário de padecimentos intér- possibilidades que, disciplinadas, fa-
elucidações claras para o entendi- minos em cujo curso a tristeza e o cultam ensejo para a produção de
mento dos reais mecanismos da sofrimento dão-se as mãos, como resultados compatíveis com o dire-
existência física na Terra. pretendem alguns portadores de cionamento que se lhe aplique.
Distúrbios psíquicos inexplicá- comportamento masoquista, mas A observação cuidadosa dos
veis, desequilíbrios orgânicos injus- também não é característica de su- sintomas através dos quais se ex-
tificáveis, transtornos comporta- perioridade moral, que distingue o pressa favorece a perfeita identifica-
mentais e dificuldades nos relacio- seu possuidor em relação às demais ção daqueles que se comunicam e
namentos sociais e afetivos, malque- pessoas. podem contribuir em favor do pro-
renças e aflições íntimas destituídas Pode ser considerada como a gresso moral do medianeiro.
de significado, exaltação e desdobra- moderna escada de Jacó, que per- O hábito do silêncio interior e
mentos da personalidade, algumas mite a ascensão espiritual daquele da quietação emocional faculta-lhe a
alucinações visuais e auditivas, na que se lhe dedica com abnegação e captação das ondas que permitem o
mediunidade encontram seu campo devotamento. intercâmbio equilibrado, amplian-
de expansão, refletindo os dramas Semelhante às demais faculda- do-lhe a área de serviços espirituais.
espirituais do ser, que procedem das des do ser humano, exige cuidados Concessão divina para a Huma-
experiências anteriores à atual exis- especiais, quais aqueles que se dis- nidade, é a ponte que traz de volta
tência física, alguns transformados pensam à inteligência, à memória, aqueles que abandonaram o corpo fí-
em fenômenos obsessivos profunda- às aptidões artísticas e culturais... sico ou que dele foram expulsos, sem
mente perturbadores. O conhecimento do seu meca- que deixassem a vida, comprovando-
Malcompreendida por largo nismo torna-se indispensável para -lhes a imortalidade em triunfo.
tempo através da História, foi en- que seja exercida com seriedade, ao Ante a impossibilidade de ser
volta em mitos e cercada de supers- lado de cuidados outros que se lhe alcançada a perfeição mediúnica,
tições, que nada têm a ver com a fazem essenciais, quais sejam, a em face da condição predominante
sua realidade. identificação da lei dos fluidos, a de mundo de provações que carac-
Sendo uma percepção da alma aplicação dos dispositivos morais teriza o planeta terrestre e tipifica os

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seus habitantes por enquanto, cada sunção, cujas conquistas são inter- deficiências, não se jacta da faculda-
servidor deve lutar para adquirir a nas e que irradia os valores morais de que possui, reconhecendo que
qualidade de bom médium, isto é, de dentro para fora, qual antena ela pode ser bloqueada ou retirada,
aquele que comunica com facili- que possui os requisitos próprios empenhando-se para torná-la uma
dade, que se faz instrumento dócil para a captação das ondas que serão ferramenta de luz a serviço do
aos Espíritos que o utilizam sob a transformadas em imagens sonoras, Amor em todos os instantes.
orientação do seu Mentor. visuais ou portadoras de força mo- Os bons médiuns, que escas-
Nunca se acreditando imacula- triz para muitas finalidades. seiam, em razão da momentânea
do, sabe que pode ser vítima da mis- Quando esteja açodado pelas inferioridade humana, são os ins-
tificação dos zombeteiros e maus, conjunturas difíceis ou afligido pe- trumentos hábeis para contribuí-
não a temendo, mas trabalhando por las provações iluminativas, que fa- rem em favor do Mundo Novo de
sutilizar as suas percepções psíquicas zem parte do seu processo de evo- amanhã, quando a mediunidade,
e emocionais, e elevando-se moral- lução, nunca deve desanimar, nem melhor compreendida e mais bem
mente para atingir patamares mais esperar fruir de privilégios, que os exercida, se tornará uma conquista
enobrecidos nas faixas da evolução. não possui, seguindo fiel e tranqüi- valiosa do espírito humano creden-
A facilidade com que os desen- lo no desempenho da tarefa que lhe ciado para a felicidade que já estará
carnados o utilizam, especialmente diz respeito, preservando a alegria desfrutando.
por estar disponível sempre que ne- de viver, servir e amar. Manoel Philomeno de Miranda
cessário, propicia-lhe maior sensibi- O trabalho edificante será sem-
lidade e o credencia ao apoio dos pre o seu apoio de segurança, que o (Página psicografada pelo mé-
Guias da Humanidade, que o cer- fortalecerá em todos os momentos da dium Divaldo P. Franco, na sessão
cam de carinho e o inspiram para a existência física, nunca se refugiando mediúnica da noite de 8 de agosto
ascensão contínua. na inoperância, que é geradora de de 2001, no Centro Espírita Ca-
Consciente dos próprios limites mil males que sempre perturbam. minho da Redenção, em Salvador,
e das infinitas possibilidades da Vi- Porque identifica as próprias Bahia.
da, reconhece o quanto necessita de
transformar-se interiormente para
melhor, a fim de ser enganado me-
nos vezes e jamais enganar aos ou-
Da influência moral do médium
tros, pelo menos conscientemente.
A disciplina e o equilíbrio mo- S e o médium, do ponto de vista da execução, não passa de um instrumento,
exerce, todavia, influência muito grande, sob o aspecto moral. Pois que, pa-
ra se comunicar, o Espírito desencarnado se identifica com o Espírito do mé-
ral, os pensamentos e as ações hono-
dium, esta identificação não se pode verificar, senão havendo, entre um e outro,
ráveis, o salutar hábito da oração e da simpatia e, se assim é lícito dizer-se, afinidade. A alma exerce sobre o Espírito li-
meditação precatam-no das investi- vre uma espécie de atração, ou de repulsão, conforme o grau da semelhança exis-
duras dos maus e perversos que pu- tente entre eles. Ora, os bons têm afinidade com os bons e os maus com os maus,
lulam em toda parte, preservando- donde se segue que as qualidades morais do médium exercem influência capital
-lhe os sutis equipamentos mediú- sobre a natureza dos Espíritos que por ele se comunicam. Se o médium é vicio-
nicos dos choques de baixo teor vi- so, em torno dele se vêm grupar os Espíritos inferiores, sempre prontos a tomar
bratório que lhes são inerentes, aju- o lugar aos bons Espíritos evocados. As qualidades que, de preferência, atraem
dando-o, assim, a manter contato os bons Espíritos são: a bondade, a benevolência, a simplicidade do coração, o
com esses infelizes, quando necessá- amor do próximo, o desprendimento das coisas materiais. Os defeitos que os
rio, porém, sob o controle dos Guias afastam são: o orgulho, o egoísmo, a inveja, o ciúme, o ódio, a cupidez, a sen-
sualidade e todas as paixões que escravizam o homem à matéria.
que os conduzem, jamais ao paladar
e apetite da loucura que os avassala. Allan Kardec
O bom médium é simples e
Fonte: O Livro dos Médiuns. 70. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002, cap. XX, item
sem as complexidades do agrado da
227, p. 287-288.
ignorância, do egoísmo e da pre-

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Tipos de solo Richard Simonetti

Mateus, 13:1-9 crifício dos interesses pessoais em Se é assim, por que a cabeça vai
Marcos, 4:1-9 favor do bem comum. se inclinando lentamente, e só não
O solo onde caem as semen- cai porque está fixada no pescoço?
Lucas, 8:4-8 tes divinas é o coração humano. As igrejas tradicionais resolvem
esse problema com o senta-levanta
o semeador saiu a semear. ... do culto, em momentos específicos,

E Uma parte das sementes caiu


à beira do caminho, e vieram
as aves do céu e as comeram, e ou-
Há a turma da “beira”.
É o pessoal do lado de fora,
alheio à palavra.
envolvendo rezas. Impossível dor-
mir.
No culto evangélico há os hi-
tras foram pisadas pelos homens. Seus representantes compare- nos. Quando o pastor percebe que
Outras caíram em lugares pe- cem ao Centro Espírita motivados os fiéis estão se entregando aos
dregosos, onde não havia muita ter- por variados problemas, de ordem braços de Morfeu, logo os con-
ra nem umidade. Logo as sementes física e emocional. vida à cantoria. Soltar a voz é
germinaram porque a terra não era Procuram o hospital. uma boa maneira de afugentar o
profunda, mas ao surgir o sol, quei- Sua intenção é meramente re- sono.
maram-se e, porque não tinham ceber benefícios. Escasso interesse Não obstante, por mais sofisti-
raiz, secaram. quanto às palestras e orientações. cados sejam os recursos para man-
Outras caíram entre os espi- A atenção fica difícil, vêm os tê-los atentos, o aproveitamento
nhos; e os espinhos cresceram e as bocejos; as pálpebras pesam; cer- dos nossos irmãos da “beira” será
sufocaram, e não deram fruto al- ram-se os olhos e o sono triunfa. sempre precário, principalmente
gum. Há quem fale em influência es- em relação à Doutrina Espírita,
Outras, finalmente, caíram em piritual. Espíritos que não querem apelo à razão, que exige atenção e
terra boa, fértil e, brotando, cresce- seu aprendizado. Boa explicação, disposição para assimilar seus con-
ram e produziram frutos. Algumas mas é difícil imaginá-los ao nosso ceitos renovadores.
produziram trinta, outras sessenta lado, exercitando suas artes. E onde
e outras cem por um. fica a proteção dos benfeitores espi- ...
Temos aqui a famosa Parábola rituais, vedando seu acesso ao recin- Há a turma das “pedras”.
do Semeador, a primeira contada to da reunião? Ouvem a palavra e a recebem
por Jesus, dentre dezenas. É uma Estariam a vibrar do lado de com alegria.
das mais populares, com um deta- fora? Assimilam algo, mas não estão
lhe: o Mestre a explicou aos dis- Complicado imaginá-los con- dispostos a enfrentar os dissabores
cípulos. centrados, alhures, a sintonizar com da adesão.
A semente é a “Palavra de Deus”, suas vítimas, sugerindo-lhes dormir O sol abrasador dos preconcei-
representada por seus ensinamen- sentadas. tos e das discriminações torra facil-
tos. E as barreiras vibratórias de mente as frágeis raízes de sua fé.
O que Deus espera de nós? proteção, não funcionam? Acontecia com o Espiritismo
Segundo Jesus, que nos ame- Ouvi um dorminhoco justifi- no passado.
mos uns aos outros; que façamos ao car: Falava-se que os espíritas eram
próximo todo o bem que desejaría- – Fecho os olhos para concen- adoradores do demo. As pessoas re-
mos; que estejamos dispostos ao sa- trar-me melhor. cusavam-se a passar em frente ao

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Centro. Na própria família havia – Reconheço-me despreparado zam, mas permanecem distantes,
problemas. Raros resistiam. para a Doutrina, mas não me preo- preocupados com opiniões alheias?
Ainda hoje, temos simpatizan- cupo. Temos a eternidade pela Por que há os que se aproxi-
tes que não se integram para não frente. mam, mas não estão dispostos a se
criar problemas com o cônjuge, re- Realmente, temos todo o tem- envolver?
nunciando a um dos dons mais po do mundo para atingir a per- Por que, enfim, há os que se
preciosos da existência – a liberda- feição, mas as pessoas esquecem envolvem?
de de consciência, o direito de exer- uma recomendação de Jesus (João, Por que, dentre eles, há os que
citar nossos ideais e convicções. 12:35): produzem pouco e os que produ-
Conheço senhoras que não fre- zem muito?
qüentam o Centro, embora amem Andai enquanto tendes luz. Que fatores determinam rea-
a Doutrina Espírita, para não con- ções tão díspares?
trariar o marido. Imperioso aproveitar as opor- Se a palavra é para todos, por
E o que dá ao marido o direito tunidades de edificação da jornada que não somos todos dadivosos?
de decidir quanto à crença da ca- humana. É para isso que estamos A teologia medieval situava a
ra-metade? Como pode funcionar aqui. turma do “solo fértil” como indiví-
bem um casamento em que um dos Amanhã, poderá nos faltar a duos escolhidos por Deus para a
cônjuges interfere nas convicções luz, a lucidez, a saúde, o vigor físi- santidade, mas isso só complica
religiosas do outro? co, a possibilidade de mudar e pe- a questão, configurando uma injus-
Frágeis as sementes de nossa fé, noso será o futuro se não o fizer- tiça inconcebível.
quando permitimos que isso acon- mos. Por que Deus escolheu o meu
teça. ... irmão ou o meu vizinho ou o meu
... adversário?
E há a turma do “solo fértil”. Por que não eu?
Há a turma dos “espinhos”. É o pessoal que ao primeiro Só a reencarnação pode expli-
Aceitam a palavra, mas as se- contato com a palavra sente um car essa diversidade de solos.
duções do mundo a sufocam. frêmito de emoção, algo que toca o A natureza de nosso envolvi-
Com a ampla visão das realida- mais íntimo do ser, como se sua vi- mento com os valores do Evange-
des espirituais que a Doutrina Espí- da estivesse, até então, em compas- lho e o que produzimos condi-
rita nos oferece, ficam encantados, so de espera. É um maravilhoso cionam-se à maturidade.
mas… despertar, que ilumina os caminhos. A vocação de servir, a disposi-
Conversei, certa feita, com um Estes logo “arregaçam as man- ção de uma participação efetiva são
simpatizante: gas” e tornam-se multiplicadores frutos de experiências pretéritas.
– O Espiritismo é bênção de de sementes, produzindo trinta, Geralmente, o servidor do Evan-
Deus. Amo seus princípios, a ação sessenta ou cem por um, segundo gelho já nasce feito, não por mera
espírita no campo social, o exercí- suas possibilidades, mas sempre es- graça divina, mas como o resulta-
cio da caridade. Gostaria de parti- tendendo o Bem ao redor de seus do de suas experiências anterio-
cipar, mas não me sinto preparado. passos para que o Reino se estenda res.
Sou fumante inveterado e abuso pelo mundo. Veio da “beira” para o “solo da-
dos aperitivos. Como comerciante, ... divoso”, com trânsito pelos “espi-
nem sempre me comporto com li- nhos” e as “pedras”.
sura e reconheço ter gênio difícil. Há um aspecto a ser destacado. ...
O Espiritismo deitou boas raí- Por que, se somos todos filhos
zes nele, mas as fraquezas, espinhos de Deus, há vários tipos de solo? Será que podemos, já na pre-
danosos que não quer eliminar, fa- Por que muitos não se sensibi- sente existência, entrar para a tur-
lam mais alto. lizam? ma especial do “solo dadivoso”?
Outro dizia: Por que há os que se sensibili- Sem dúvida! >

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> O lavrador pode limpar o cam- da indiferença e aplicar o adubo do gos que desenvolvessem estudos so-
po, tirar as pedras e os espinhos, re- trabalho, preparando o solo do co- bre as obras básicas da Doutrina.
volver a terra, aplicar adubo… ração para as sementes do Evange- Um outro ponto importante a
Podemos e devemos fazer isso. lho. ser observado é quanto às con-
Para isso estamos aqui. Então, gloriosa será a nossa cessões. Nenhum espírita tem o di-
Depende de nossa iniciativa. passagem pela Terra, com frutos da- reito de fazer concessões, tanto no
É preciso tão-somente usar a divosos em favor do próximo e que diz respeito ao conteúdo dou-
enxada da vontade, revolver a terra abençoada edificação para nós. trinário quanto à prática espírita,
com o objetivo de agradar a quem
quer que seja.
Um aspecto que requer muito

A Doutrina Espírita
cuidado é a introdução de práticas
novas. Com o argumento de que
tudo evolui e que o Espiritismo não

tem dono?
pode ficar para trás, alguns traba-
lhadores, escudados na liberdade de
que gozam os espíritas, deixam-se
Umberto Ferreira
levar pelo entusiasmo e introduzem
práticas novas no Movimento Es-
pírita. Antes de concretizar a nova
piritismo, à Causa, portanto. Não prática, algumas condições preci-
às pessoas. sam ser observadas: É prática espí-
Cabe a nós, espíritas, o dever rita? A prática está fundamentada
de respeitar e preservar a Doutrina nas obras básicas de Allan Kardec?
Espírita na sua pureza, como nos Para se atingirem os objetivos pro-
foi legada por Kardec, sobretudo postos pelo Espiritismo, há necessi-

D
urante uma palestra sobre porque os seus ensinamentos fun- dade dessas práticas? Elas realmen-
questões éticas, numa jorna- damentais são de ordem moral. Eles te vêm para somar? Se for com-
da médica, um expoente da estão sempre atualizados; são váli- provado que não são práticas ade-
psiquiatria brasileira, a certa altura, dos para todos os tempos. quadas ou até mesmo nocivas ao
comentou que o médico não é do- Poderão argumentar alguns Espiritismo, será fácil retirá-las? Se
no da Medicina. Tanto é que ele adeptos que Kardec deixou uma as respostas forem todas positivas,
não pode ensinar a sua profissão aos abertura para atualização dos ensi- ainda assim há necessidade de cau-
filhos, nem passá-la para eles. E nos espíritas, mas apenas para os tela. Se uma ou mais forem negati-
mais: quando ele morre, a família conhecimentos que são objeto de vas, a prudência recomenda não in-
tem o dever de levar a sua cédula de estudo científico. Afirmou ele que troduzir a prática em exame.
identidade de médico ao Conselho se fosse provado pela Ciência que o O ideal é que a prática espíri-
Regional de Medicina. Espiritismo estivesse errado em al- ta se limite ao que está bem funda-
Podemos aplicar essa lição ao gum ponto, ele poderia atualizar-se mentado na Codificação e tam-
Espiritismo. O espírita não é dono nesse aspecto. Isso só poderia ser bém no opúsculo Orientação ao
dele, nem das casas espíritas. Como feito depois que o conhecimento Centro Espírita, que é um trabalho
o próprio nome indica, a Doutrina estivesse bem consolidado como cuidadosamente elaborado pelo
Espírita pertence aos Espíritos Su- verdade científica. Isso não signifi- Conselho Federativo Nacional da
periores, que, por sua vez, traba- ca que se possa alterar o que o Co- FEB.
lham sob a orientação de Jesus, o dificador escreveu. As alterações só Com certeza, não precisamos ir
Governador Espiritual da Terra. E poderiam ser feitas como comentá- além disso para praticar o ver-
as casas espíritas pertencem ao Es- rios de rodapé ou em livros ou arti- dadeiro Espiritismo.

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PRESENÇA DE CHICO XAVIER

Jesus e mediunidade
vozes dos mensageiros espirituais, se lhe pudessem canalizar os recur-
saudando Aquele que vinha libertar sos.
as nações, não na forma social que E longe de anotarmos aí a pre-
sempre lhes será vestimenta às ne- sença de qualquer instrumento psí-
cessidades de ordem coletiva, mas quico menos seguro do ponto de

D
IVINA MEDIUNIDADE – no ádito das almas, em função da vista moral, encontramos impor-
Em nos reportando a qual- vida eterna. tante núcleo de medianeiros, desas-
quer estudo da mediunidade, Antes dele, grandes comandan- sombrados na confiança e corretos
não podemos olvidar que, em Jesus, tes da idéia haviam pisado o chão na diretriz.
ela assume todas as características do mundo, influenciando multi- Informamo-nos, assim, nos a-
de exaltação divina.19 dões. pontamentos da Boa Nova, de que
Desde a chegada do Excelso Guerreiros e políticos, filósofos Zacarias e Isabel, os pais de João
Benfeitor ao Planeta, observa-se-lhe e profetas alinhavam-se na memó- Batista, precursor do Médium Di-
o pensamento sublime penetrando ria popular, recordados como disci- vino, “eram ambos justos perante
o pensamento da Humanidade. plinadores e heróis, mas todos des- Deus, andando sem repreensão, em
Dir-se-ia que no estábulo se filaram com exércitos e fórmulas, todo os mandamentos e preceitos
reúnem pedras e arbustos, animais e enunciados e avisos, em que se mis- do Senhor” 20, que Maria, a jovem
criaturas humanas, representando os turam retidão e parcialidade, som- simples de Nazaré, que acolheria o
diversos reinos da evolução terrestre, bra e luz. Embaixador Celeste nos braços ma-
para receber-lhe o primeiro toque Ele chega sem qualquer prestí- ternais, se achava “em posição de
mental de aprimoramento e beleza. gio de autoridade humana, mas, louvor diante do Eterno Pai” 21, que
Casam-se os hinos singelos dos com a sua magnitude moral, impri- José da Galiléia, o varão que o to-
pastores aos cânticos de amor nas me novos rumos à vida, por dirigir- maria sob paternal tutela, “era jus-
-se, acima de tudo, ao espírito, em to” 22, que Simeão, o amigo abne-
todos os climas da Terra. gado que o aguardou em prece,
19
Em A Gênese (p. 293 e 294, FEB, 12. ed. ), Transmitindo as ondas mentais durante longo tempo, “era justo e
anota Allan Kardec, com referência aos fenô- das Esferas Superiores de que pro- obediente a Deus” 23, e que Ana, a
menos da mediunidade em Jesus:
cede, transita entre as criaturas, des- viúva que o esperou em oração, no
“Agiria como médium nas curas que
operava? Poder-se-á considerá-lo poderoso mé- pertando-lhes as energias para a Vi- templo de Jerusalém, por vários lus-
dium curador? Não, porquanto o médium é da Maior, como que a tanger-lhes tros, vivia “servindo a Deus”. 24
um intermediário, um instrumento de que se as fibras recônditas, de maneira a Nesse grupo de médiuns admi-
servem os Espíritos desencarnados e o Cristo harmonizá-las com a sinfonia uni- ráveis, não apenas pelas percepções
não precisava de assistência, pois que era ele
versal do Bem Eterno. avançadas que os situavam em con-
quem assistia os outros. Agia por si mesmo, em
virtude do seu poder pessoal, como o podem MÉDIUNS PREPARADO- tacto com os Emissários Celestes,
fazer, em certos casos, os encarnados, na medi- RES – Para recepcionar o influxo mas também pela conduta irrepre-
da de suas forças. Que Espírito, ao demais, mental de Jesus, o Evangelho nos
ousaria insuflar-lhe seus próprios pensamentos dá notícias de uma pequena con- 20
e encarregá-lo de os transmitir? Se algum in- Lucas, 1:5.
gregação de médiuns, à feição de 21
fluxo estranho recebia, esse só de Deus lhe Lucas, 1:30.
poderia vir. Segundo definição dada por um transformadores elétricos conjuga- 22
Mateus, 1:19.
Espírito, ele era médium de Deus.” – (Nota in- dos, para acolher-lhe a força e ar- 23
Lucas, 2:25.
24
dicada pelo Autor espiritual.) mazená-la, de princípio, antes que Lucas, 2:37.

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ensível de que forneciam testemu- nologia física ou metapsíquica sica, e avisa-o quanto ao perigo que
nho, surpreendemos o circuito de objetiva, identificamo-lo em plena isso representa para a fraqueza do
forças a que se ajustou a onda men- levitação, caminhando sobre as apóstolo 34. Nas últimas instruções,
tal do Cristo, para daí expandir-se águas 29, e em prodigiosa ocorrên- ao pé dos amigos, confirmando a
na renovação do mundo. cia de materialização ou ectoplas- profunda lucidez que lhe caracteri-
EFEITOS FÍSICOS – Cedo mia, quando se põe a conversar, zava as apreciações percucientes, de-
começa para o Mestre Divino, er- diante dos aprendizes, com dois monstra conhecer a perturbação
guido à posição de Médium de varões desencarnados que, positi- consciencial de Judas 35, a despeito
Deus, o apostolado excelso em que vamente, apareceram glorificados, das dúvidas que a ponderação sus-
lhe caberia carrear as noções da vi- a lhe falarem de acontecimentos cita entre os ouvintes. Nas preces de
da imperecível para a existência na próximos.30 Getsêmani, aliando clarividência e
Terra. Em Jerusalém, no templo, de- clariaudiência, conversa com um
Aos doze anos, assenta-se entre saparece de chofre, desmateriali- mensageiro espiritual que o recon-
os doutores de Israel, “ouvindo-os e zando-se, ante a espectação geral 31, forta.36
interrogando-os” 25, a provocar ad- e, na mesma cidade, perante a mul- MEDIUNIDADE CURATI-
miração pelos conceitos que expen- tidão, produz-se a voz direta, em VA – No que se refere aos poderes
dia e a entremostrar a sua condição que bênçãos divinas lhe assinalam a curativos, temo-los em Jesus nas
de intermediário entre culturas di- rota. 32 mais altas afirmações de grandeza.
ferentes. Em cada acontecimento, senti- Cercam-no doentes de variada ex-
Iniciando a tarefa pública, na mo-lo a governar a matéria, disso- pressão. Paralíticos estendem-lhe
exteriorização de energias sublimes, ciando-lhe os agentes e reintegran- membros mirrados, obtendo socor-
encontramo-lo em Caná da Gali- do-os à vontade, com a colaboração ro. Cegos recuperam a visão. Ulce-
léia, oferecendo notável demonstra- dos servidores espirituais que lhe as- rados mostram-se limpos. Aliena-
ção de efeitos físicos, com ação a sessoram o ministério de luz. dos mentais, notadamente obsi-
distância sobre a matéria, em trans- EFEITOS INTELECTUAIS – diados diversos, recobram equilí-
formando a água em vinho 26. Mas, No capítulo dos efeitos intelectuais brio.
o acontecimento não permanece ou, se quisermos, nas provas da me- É importante considerar, po-
circunscrito ao âmbito doméstico, tapsíquica subjetiva, que reconhece rém, que o Grande Benfeitor a to-
porquanto, evidenciando a extensão a inteligência humana como pos- dos convida para a valorização das
dos seus poderes, associados ao con- suidora de outras vias de conheci- próprias energias.
curso dos mensageiros espirituais mento, além daquelas que se cons- Reajustando as células enfermas
que, de ordinário, lhe obedeciam às tituem dos sentidos normais, re- da mulher hemorroíssa, diz-lhe,
ordens e sugestões, nós o encontra- conhecemos Jesus nos mais altos convincente: – “Filha, tem bom âni-
mos, de outra feita, a multiplicar testemunhos. mo! A tua fé te curou.” 37 Logo
pães e peixes 27, no tope do monte, A distância da sociedade hiero- após, tocando os olhos de dois cegos
para saciar a fome da turba inquie- solimita, vaticina os sucessos amar- que lhe recorrem à caridade, excla-
ta que lhe ouvia os ensinamentos, e gos que culminariam com a sua ma: – “Seja feito, segundo a vossa
a tranqüilizar a Natureza em desva- morte na cruz 33. Utilizando a clari- fé.” 38
rio 28, quando os discípulos assusta- vidência que lhe era peculiar, ante- Não salienta a confiança por
dos lhe pedem socorro, diante da vê Simão Pedro cercado de persona- simples ingrediente de natureza mís-
tormenta. lidades inferiores da esfera extrafi- tica, mas sim por recurso de ajusta-
Ainda no campo da fenome-
29 34
Marcos, 6:49-50. Lucas, 22:31-34.
30 35
25
Lucas, 2:46. Lucas, 9:28-32. João, 13:21-22.
26 31 36
João, 2:1-12. João, 7:30. Lucas, 22:43.
27 32 37
João, 6:1-15. João, 12:28-30. Mateus, 9:22.
28 33 38
Marcos, 4:35-41. Lucas, 18:31-34. Mateus, 9:29.

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mento dos princípios mentais, na doria, na qual os regulamentos divi- ciência à imortalidade, na revelação
direção da cura. nos, em todos os mundos, instituem da qual Nosso Senhor Jesus-Cristo
E encarecendo o imperativo do a responsabilidade moral segundo o empregou a mediunidade sublime
pensamento reto para a harmonia grau de conhecimento, situando-se, como agente de luz eterna, exaltan-
do binômio mente-corpo, por vá- desse modo, a Justiça Perfeita, no do a vida e aniquilando a morte,
rias vezes o vemos impelir os sofre- íntimo de cada um, para que se ou- abolindo o mal e glorificando o
dores aliviados à vida nobre, como torgue isso ou aquilo, a cada Espíri- bem, a fim de que as leis humanas
no caso do paralítico de Betesda, to, de conformidade com as pró- se purifiquem e se engrandeçam, se
que, devidamente refeito, ao reen- prias obras. santifiquem e se elevem para a inte-
contrá-lo no templo, dele ouviu a O Evangelho, assim, não é o li- gração com as Leis de Deus.
advertência inesquecível: – “Eis que vro de um povo apenas, mas o Có-
já estás são. Não peques mais, para digo de Princípios Morais do Uni- André Luiz
que te não suceda coisa pior.”39 verso, adaptável a todas as pátrias, a
EVANGELHO E MEDIU- todas as comunidades, a todas as ra- Fonte: XAVIER, Francisco C. e VIEIRA,
NIDADE – A prática da mediuni- ças e a todas as criaturas, porque re- Waldo. Mecanismos da Mediunidade.
dade não está somente na passagem presenta, acima de tudo, a carta de 21. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002, p. 181-
do Mestre entre os homens, junto conduta para a ascensão da cons- -188.
dos quais, a cada hora, revela o seu
intercâmbio constante com o Plano
Superior, seja em colóquios com os
emissários de alta estirpe, seja em se Congresso Espírita
dirigindo aos aflitos desencarnados,
no socorro aos obsessos do cami- em Goiânia
nho, mas também na equipe dos
Promovido pela
companheiros, aos quais se apresen-
Federação Espírita do
ta em pessoa, depois da morte, mi-
Estado de Goiás, de 1o a 4
nistrando instruções para o edifício
deste mês, realiza-se no
do Evangelho nascente. Centro de Cultura e
No dia de Pentecostes, vários Convenções de Goiânia o
fenômenos mediúnicos marcam a XIX Congresso Espírita
tarefa dos apóstolos, mesclando-se Estadual, com o tema
efeitos físicos e intelectuais na pra- central Jesus: Guia e
ça pública, a constituir-se a mediu- Modelo da Humanidade,
nidade, desde então, em viga mes- que será abordado, na
tra de todas as construções do Cris- conferência de abertura,
tianismo, nos séculos subseqüentes. por Zalmino
Em Jesus e em seus primitivos Zimmermann, e
continuadores, porém, encontra- desenvolvido, através de
mo-la pura e espontânea, como de- palestras e seminários,
ve ser, distante de particularismos pelos expositores
inferiores, tanto quanto isenta de si- Marlene Rossi Severino
monismo. Neles, mostram-se os va- Nobre, Altivo Ferreira,
lores mediúnicos a serviço da Reli- Otaciro Rangel, Manoel
gião Cósmica do Amor e da Sabe- Tibúrcio Nogueira,
Carlos A. Baccelli,
Nehemias Marien, entre
39
João, 5:14. outros.

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Compromisso mediúnico
André Luiz Rabello

dúvida alguma, faz com que esses diretrizes nobres pelas quais deve
médiuns sejam manipulados por sempre se conduzir.
Entidades espirituais de baixa en- Contamos, também, com a
vergadura moral e fracassem em palavra segura de Emmanuel para
suas tarefas, pois eles acabam vendo confirmar a opinião do Codificador.

N
os últimos tempos pode-se a mediunidade não como uma No seu livro Emmanuel (o primei-
ver um aumento considerável oportunidade de serviço redentor ro que escreveu através da mediu-
de obras espíritas sobre o para auxílio de Espíritos infelizes, nidade de Chico Xavier) retira os
exercício correto da mediunidade. mas como uma plataforma de pro- médiuns de sua posição de superio-
Este quadro aponta, incontestavel- paganda pessoal e um meio de pro- ridade espiritual, ao afirmar na
mente, para uma preocupação cres- jeção do ego. pág. 66: “Os médiuns, em sua gene-
cente por parte da Espiritualidade Allan Kardec, em O Livro dos ralidade, não são missionários na
superior pela maneira como a ativi- Médiuns, no princípio do capítulo acepção comum do termo; são al-
dade mediúnica está sendo executa- 14, deixa bem clara a completa im- mas que fracassaram desastradamen-
da por nós, os médiuns da Terra. propriedade dessa forma de pensa- te, que contrariaram, sobremaneira,
Essa apreensão de nossos esti- mento quando afirma categorica- o curso das leis divinas, e que resga-
mados mentores espirituais infeliz- mente: “Essa faculdade é inerente tam, sob o peso de severos compro-
mente tem fundamento, pois a lei- ao homem; não constitui, portan- missos e ilimitadas responsabilida-
tura desses livros mostra claramente to, um privilégio exclusivo (...).” E des, o passado obscuro e delituoso.”
os desvios morais e emocionais que mais adiante diz: “Pode, pois, dizer- Lendo essa afirmação, pode-
boa parte daqueles reencarnados -se que todos são, mais ou menos, mos concluir que aqueles que têm
com a tarefa da mediunidade trou- médiuns”, esclarecendo definitiva- por tarefa a mediunidade são
xe em sua jornada mediúnica. mente a todos nós que a sensibili- Espíritos moralmente em débito
Os motivos para esta triste rea- dade mediúnica é comum a todas com a Lei, como a quase totalida-
lidade são variáveis, mas não há dú- as pessoas, embora se manifeste de de daqueles reencarnados na Ter-
vida de que o principal deles conti- formas e com intensidades diferen- ra, mundo de provas e expiações,
nua sendo a vaidade cultivada por tes em cada uma delas. Porém, isso mas devido à sua vontade de re-
uma parte dos médiuns, ao acredi- não deve ser justificativa para se su- novar-se espiritualmente recebe-
tarem que os dons mediúnicos que por que existam aptidões mediúni- ram uma oportunidade bendita de
possuem os colocam num pedestal cas superiores a outras, pois o mais reparação de seus erros através do
e que, por isso, devem ser tratados importante é o bom uso que se faz serviço mediúnico correto, prati-
como seres superiores, postura essa dessa nobre faculdade e o quanto cado com o propósito da caridade.
reforçada pela invigilância de mui- ela contribui para o bem do próprio E esse serviço deve ser executa-
tas pessoas que contribuem para médium e dos Espíritos em sofri- do sem vaidade, pois Emmanuel,
que esse comportamento equivoca- mento a quem ele auxilia utilizan- mais à frente, esclarece que os mé-
do recrudesça, endeusando os mé- do-se de sua mediunidade, e não o diuns “não deverão encarar a me-
diuns, incentivando neles, cons- quanto ela chama a atenção daque- diunidade como um dom ou co-
ciente e inconscientemente, essa les que estão em volta, dando à prá- mo um privilégio, sim como ben-
atitude orgulhosa. tica mediúnica um caráter exibicio- dita possibilidade de reparar seus
O conjunto desses fatos, sem nista, completamente afastado das erros de antanho, submetendo-se,

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dessa forma, com humildade, aos materiais para o necessário, regres- pirituais ampla assistência e valiosos
alvitres e conselhos da Verdade”. sáveis à ambição desmedida; ante recursos para serem bem-sucedidos
Todavia, a realidade que vemos o acréscimo de misericórdia do la- em seus labores mediúnicos, mas
no meio espírita no que concerne à bor intensificado, agarrastes a idéia que falharam desastradamente, por
mediunidade é que parte dos mé- da existência cômoda; junto às ex- não conseguirem neutralizar as in-
diuns é vitima da vaidade e do de- periências afetivas, preferistes os fluências negativas das quais foram
sequilíbrio emocional, não só dei- desvios sexuais; ao lado da família, alvo nem domar suas más incli-
xando de cumprir o que prome- voltastes à tirania doméstica.” nações. Esses mesmos Espíritos in-
teram no plano espiritual formam o padecimento
como contraindo dívidas que enfrentaram em zonas
mais graves para si mes- espirituais inferiores logo
mos. após deixarem a vida físi-
Podemos ver esse qua- ca, devido à sua invigilân-
dro doloroso em vários ro- cia moral, tendo agora a
mances espíritas que tra- necessidade urgente de
tam sobre a mediunidade, reencarnar novamente, em
mas para não nos alongar- situações talvez bem mais
mos em demasia, falaremos complicadas, devidas a no-
apenas de um deles. vos compromissos morais
Esse exemplo se refere assumidos.
à obra Os Mensageiros, de Esses fatos, contados
André Luiz. Quando em no segundo livro da série
visita ao centro de mensa- espiritual Nosso Lar, con-
geiros no ministério das co- tudo, não podem nos le-
municações da colônia es- var a crer que todos aque-
piritual Nosso Lar, lugar les que reencarnam com
esse destinado à preparação tarefas no campo mediú-
de médiuns e doutrinadores para O inspirado orador continua nico malogram. Muitos médiuns,
reencarnação no planeta terrestre, dando exemplos de como aqueles mesmo cercados de dificuldades, aci-
André se apercebe pela primeira vez, ex-médiuns terrenos malbarataram catados por diversas tentações, e ten-
desde sua desencarnação, do cuida- as possibilidades que lhes foram ofe- do de suplantar obstáculos imensos,
do e preocupação da Espiritualida- recidas pela misericórdia de Deus, conseguem ser vitoriosos, fazendo
de maior com a atividade mediúni- dando vazão a seus antigos vícios e de suas mediunidades apostolados
ca em nosso planeta. Todos os re- defeitos, esquecendo-se das tarefas divinos.
cursos possíveis são postos à dis- que lhes foram confiadas para sua O primeiro exemplo que vem à
posição dos candidatos à mediuni- própria redenção. E mais adiante, mente de todos nós é o do nosso
dade para que triunfem nos objeti- os expectadores daquela sublime pa- querido Francisco Cândido Xavier.
vos a que se propõem. Entretanto, lestra choram de arrependimento Mesmo tendo nascido pobre, tendo
na maior parte das vezes, esses recur- quando o nobre mentor cessa o uso de conviver com diversas doenças e
sos são utilizados de forma negativa, da palavra, reconhecendo seus des- oportunidades de riqueza e fama,
como nos mostra o instrutor Telés- lizes no pretérito. Posteriormente, nunca se desviou do caminho reto,
foro, na página 37, em preleção a André Luiz ouve depoimentos im- fugindo às tentações do mundo e su-
esses Espíritos aspirantes a retomar pressionantes de Espíritos perten- portando com resignação os males fí-
o exercício mediúnico no orbe ter- centes àquela escola de médiuns no sicos que lhe atacavam a organização
reno e se recuperar dos antigos er- mundo espiritual, que exerceram a corpórea. Agindo assim, fez de sua
ros. Afirma Telésforo: “Quando o mediunidade na Terra e que recebe- mediunidade um instrumento per-
Senhor vos enviava possibilidades ram de seus queridos instrutores es- feitamente afinado, manejado com

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primor pelos bons Espíritos que es- tentou doutrinar, em visita ao am- bilidade e não como instrumento de
creveram através de suas mãos. biente terrestre. Durante a conver- projeção social ou de exacerbação
Dessa forma, psicografou mais sa entre ambos, esse Espírito lhe do orgulho. E mesmo fora do am-
de 400 livros, exaltando o Espiritis- lançou acusações muito fortes sobre biente de trabalho mediúnico, o
mo como o Consolador prometido condutas erradas praticadas por seu médium deve manter uma postura
por Jesus, e balsamizou o coração doutrinador fora da mesa mediúni- evangélica em todas as ocasiões da
de milhares de pessoas que haviam ca, não vendo nele, portanto, auto- sua vida cotidiana, pois ele não é
perdido seus entes queridos, através ridade moral para doutrinar ne- apenas médium no centro espírita,
de suas mais de 10.000 mensagens nhum Espírito sofredor. mas sim em todos os lugares aonde
psicografadas por Espíritos que vi- Profunda tristeza e espanto lhe vai e em todas as situações que vi-
nham dizer a seus amados na Terra causou esse acontecimento. Apenas vencia, como expõe tão bem o ins-
que não mais chorassem, pois eles depois de um certo tempo, através trutor Áulus no capítulo 30 do livro
estavam vivos e esperando ansiosos de muito estudo, paciência, a obser- Nos Domínios da Mediunidade.
pelo reencontro na vida verdadeira. vação de diversas situações, mas Apenas com o estudo constan-
Outro exemplo interessante a principalmente pela conscientização te, os hábitos morais dignos, a dis-
citar é o encontrado no livro Voltei, de sua pequenez espiritual, é que ciplina dos sentimentos, o trabalho
de Frederico Figner (irmão Jacob). Figner consegue, numa ocasião na incessante no bem, o cultivo da
Nascido na Tchecoslováquia, vindo qual, indo de retorno a sua cidade oração e da humildade, é que o mé-
morar no Brasil quando adulto, espiritual após uma excursão a Ter- dium conseguirá ter sucesso em sua
Figner, quando encarnado, traba- ra, foi abordado por um grupo de tarefa mediúnica, afastando de si as
lhou ativamente pelo Espiritismo, clérigos desencarnados que começa- más interferências e granjeando o
principalmente na área de mediu- ram a lhe fazer ameaças e a proferir amoroso apoio de seus mentores es-
nidade de cura e na doutrinação. xingamentos em sua direção. E, pirituais para sua caminhada, fazen-
Nos momentos que antecederam orando humilde e sinceramente, pe- do de sua mediunidade, mesmo
sua morte, surpreendentemente en- dindo proteção à Espiritualidade que seja modesta, uma luz para
contra dificuldades para deixar seu maior, conseguiu criar ao seu redor muitos daqueles irmãos desencarna-
corpo físico, demonstrando ainda, uma leve aura de luz arroxeada. Es- dos que ainda se encontram nas
nos seus primeiros instantes de de- sa sua luminescência perispiritual fez sombras. E mesmo que retorne a
sencarnado, certo apego à vida ter- com que aqueles Espíritos que o pátria espiritual com sua tarefa
rena, que acabara de se extinguir. molestavam se assustassem e se afas- cumprida, seu trabalho nem por is-
Tempos depois, mesmo já acostu- tassem dele. Figner, ao ver isso, ficou so acabará, pois o progresso é inces-
mado ao clima da Erraticidade, se imensamente aliviado e feliz ao mes- sante. Só através do trabalho e da
viu na contingência de realizar in- mo tempo, pois aquele era seu pri- dedicação ao próximo é que pouco
tensos estudos na colônia espiritual meiro passo importante para a extir- a pouco deixaremos para trás nos-
onde se encontrava, sendo acompa- pação do orgulho que ainda reinava sos defeitos e maus hábitos, tor-
nhado de perto por Espíritos de es- no âmago de seu espírito. A partir nando-nos a cada dia melhores.
col como Guillon Ribeiro, Bitten- dali, prosseguiu Frederico Figner es-
court Sampaio e outros. Além dis- tudando, trabalhando e se aperfei- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
so, teve de esforçar-se para se livrar çoando cada vez mais e hoje conti- 1 XAVIER, Francisco Cândido. O Livro dos
do excesso de vaidade que ainda nua laborando em prol do Espiri- Médiuns, 70. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002.
carregava em seu coração, o que tismo do Brasil junto com outros 2 __________. Emmanuel, 21. ed. Rio de

impedia que seu perispírito irradias- valorosos Espíritos. Janeiro: FEB, 2000.
3 ___________. Os Mensageiros, 38. ed. Rio
se qualquer iluminação, contrastan- Analisando todos esses fatos,
de Janeiro: FEB, 2002.
do com a luminosidade de seus ex- podemos ver que a mediunidade é 4 ___________. Voltei, 22. ed. Rio de Janeiro:
celsos companheiros uma tarefa importantíssima para FEB, 2001.
Esse fato acabou sendo perce- aqueles que a realizam e que deve 5 __________. Nos Domínios da Mediu-
bido por um Espírito a quem ele ser tratada com a máxima responsa- nidade, 28. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2001.

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Existência dos seres


Washington Borges de Souza

sublimidade com que devem ser tam com as características dos seus
tratadas as questões atinentes à se- perispíritos, isto é, masculinas ou
xualidade, dada a gravidade das fal- femininas, porém, até quando hão
tas cometidas a esse respeito, em de mantê-las é hipótese que escapa
práticas eróticas lamentáveis que às nossas reflexões, em razão do

A
Doutrina Espírita ensina que deslustram a grandeza da condição nosso atual grau de progresso, so-
a vida resulta da união da ma- humana. mente sendo devidamente elucida-
téria com o princípio vital e se Constitui, também, errônea in- da quando alcançarmos estágios
manifesta e se evidencia, nos seres terpretação das Leis de Deus deixar compatíveis com os das almas evo-
orgânicos, por meio da vitalidade. de atribuir ao sexo a função de ins- luídas.
Os seres vivos, portanto, nascem, trumental divino indispensável ao Verifica-se, também, em Espí-
crescem, reproduzem-se e morrem. aprimoramento espiritual. O esta- ritos pouco adiantados, conceitua-
São dotados de órgãos apropriados do de imperfeição é a causa princi- ção errônea trazida de suas encarna-
à sua existência. pal de graves deslizes morais e, em ções pretéritas referentes a pro-
São muito variados os concei- quase todos eles, há implicações se- cedimentos sexuais infelizes e que
tos a respeito de sexo, tanto em xuais em arrastamentos ignóbeis de- são manifestos em processos obses-
meios científicos quanto entre lei- vidos à ignorância dos preceitos do sivos, que requerem esclarecimento
gos, religiosos ou profanos. amor, cuja ação constrói e sustenta e ajuda fraterna.
Esse tema não tem sido ade- a própria vida. As expressões e vestígios sexuais
quadamente considerado, dada a Ocorrem, também, divergên- são facilmente vistos nos seres orgâ-
sua relevância no contexto das leis cias entre algumas pessoas ligadas nicos inferiores da Natureza, ani-
naturais e na influência que exerce ao Movimento Espírita, a respeito mais e vegetais, o que demonstra
na conduta e nas ações humanas. do sexo dos Espíritos. Allan Kardec, que a Divina Providência se utiliza
Há muitas discussões em torno o insigne Codificador da Doutrina da sexualidade a fim de receberem
desse assunto. Perante as leis da Na- Espírita, indagou sobre isso, na per- o impulso do princípio vital exis-
tureza é indiscutível o que o sexo gunta 200, constante do Capítulo tente no Universo para a criação da
representa na geração e procriação IV, de O Livro dos Espíritos: “Têm vida e perpetuação das espécies.
dos seres. A Doutrina Espírita, por sexos os Espíritos?” E obteve como É sempre oportuno lembrar
isso mesmo, esclarece e enfatiza es- resposta: “Não como o entendeis, que todos os aviltamentos, abusos e
sa importância, por ser ele instru- pois que os sexos dependem da or- desvarios sexuais constituem delitos
mento divino adequado a propor- ganização (...)”. Esclarecem, ainda, graves perante as Leis Divinas e im-
cionar oportunidades de progresso na questão seguinte:“Em nova exis- põem dolorosos resgates.
da alma mediante sucessivas reen- tência, pode o Espírito que animou A reprodução das espécies nos
carnações. Os pronunciamentos es- o corpo de um homem animar o de reinos animal ou vegetal se dá de
pirituais são unânimes ao acentua- uma mulher e vice-versa?” forma sexuada ou assexuada. O
rem a importância do sexo no curso A resposta dada significa que progresso científico e tecnológico
da existência encarnada e das suces- os Espíritos não têm sexo como nós alcançou métodos que permitem a
sivas reencarnações do Espírito. entendemos, ou seja, com órgãos inseminação e as enxertias. A Biolo-
Os Espíritos destacaram sem- masculinos ou femininos. Contu- gia conquistou notáveis progressos
pre, enfaticamente, o respeito e a do, em sua aparência, se apresen- na Terra. A reprodução assexuada,

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com a clonagem conseguida no rei- Ciência esteja impedida de apro- É por meio do sexo que se
no animal, gera discussões acalora- ximar-se dos processos naturais concretiza a encarnação do Espírito
das tendo em vista a possibilidade oriundos do Criador Universal. e as reencarnações sucessivas possi-
de ser estendida aos seres humanos, A Doutrina Espírita ensina que bilitam a cada um alcançar o seu
por envolver questões éticas, religio- o ser humano é formado pelo cor- destino, purificar-se, livrar-se das
sas, filosóficas etc. Os processos de po somático e pela alma ou Espíri- imperfeições.
fertilização são, atualmente, objeto to. Onde não há essa dualidade não O fim do corpo físico se dá
de acurados estudos e aprofundadas existe o ser humano, sendo que a com a morte, mas, o Espírito é
experimentações. Contudo, é sem- criação do Espírito é obra privativa imortal e seu destino é aproximar-
pre oportuno repetir que o dom da de Deus e o corpo físico é também -se do Senhor da Vida, aprimorar-
vida, o de criá-la, é exclusivamente por Ele criado para morada provi- -se e melhor servir e ajudar na obra
de Deus, o que não significa que a sória da alma. da Criação.

Os três toques Toque da alma


“Quando a sinceridade e a boa vontade se ir-
(De Hydesville à Nova Jerusalém) manam dentro de um coração, faz-se no san-
tuário íntimo a luz espiritual para a sublime
Mário Frigéri compreensão da verdade.”
Emmanuel*

Foi em Hydesville que se ouviram toques, No dia seguinte, por gentil menina,
Em mil oitocentos e quarenta e oito. A jovem Baudin – via mediunidade –,
Na casa de tábuas da família Fox Lhe é dito que aquela intervenção divina
Percutiram “raps”, toques e retoques Presente estaria sempre na Doutrina:
Vindos do invisível, de alguém muito afoito. Vinha de seu Guia – O Espírito Verdade.

É o toque-razão... Um luminoso enfoque


Com ele dialogam, no bate-rebate, Trouxe a todo o mundo esse segundo toque.
As adolescentes Kate e Margaret:
Descobrem que, em vida, o ente foi mascate, Mas quem toca o mundo agora é o próprio Cristo:
Morto ali na casa, em traiçoeiro abate... Ele vem joeirar, enfim, Sua seara.
Logo em todo o mundo o fato foi manchete! Pois nenhuma ovelha, nenhum grão benquisto,
Que o Senhor Lhe deu, tal como foi previsto,
Deixará de ornar Sua real tiara.
É o toque-atenção... E, para um mundo em choque,
Foi esse o primeiro e alvissareiro toque. E sussurra meigo ao coração do crente,
Envolvendo-o em Luz e Espiritualidade:
– Eis que estou à porta e bato suavemente,
França. Agora estamos em mil oitocentos Quem me ouvir a voz e abri-la, certamente,
E cinqüenta e seis, na casa de Kardec. Comigo estará por toda a Eternidade.
Ele está escrevendo, nos seus aposentos,
Quando escuta toques, a princípio, lentos, É o toque-emoção... Que o mundo inteiro o evoque,
Que vêm colocar-lhe a redação em xeque. Pois esse é o terceiro e derradeiro toque.
*
Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. O Consolador, 7. ed., Rio de Janeiro: FEB, 1977, pergunta 222, p. 134.

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ESFLORANDO O EVANGELHO
Emmanuel

Não tiranizes
“E, com muitas parábolas semelhantes, lhes dirigia a
palavra, segundo o que podiam compreender.”
– (Marcos, 4:33.)

Na difusão dos ensinamentos evangélicos, de quando em quando en-


contramos pregadores rigorosos e exigentes.
Semelhante anomalia não se verifica apenas no quadro geral do serviço.
Na esfera particular, não raro, surgem amigos severos e fervorosos que recla-
mam desesperadamente a sintonia dos afeiçoados com os princípios religiosos
que abraçaram.
Discussões acerbas se levantam, tocando a azedia venenosa.
Belas expressões afetivas são abaladas nos fundamentos, por ofensas in-
débitas.
Contudo, se o discípulo permanece realmente possuído pelo propósito
de união com o Mestre, tal atitude é fácil de corrigir.
O Senhor somente ensinava aos que o ouviam, “segundo o que podiam
compreender”.
Aos apóstolos conferiu instruções de elevado valor simbológico, enquanto
que à multidão transmitiu verdades fundamentais, através de contos simples.
A conversação dEle diferia, de conformidade com as necessidades espi-
rituais daqueles que o rodeavam. Jamais violentou a posição natural de
ninguém.
Se estás em serviço do Senhor, considera os imperativos da iluminação,
porque o mundo precisa de servidores cristãos e, não, de tiranos dou-
trinários.

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Pão Nosso, 21. ed., Rio de Janeiro: FEB, 2001, cap. 143,
p. 297-298.

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Há Espíritos? Marcos Túlio Larcas

Introdução ver uma teoria que comporte a existência dos Espíritos.


Tal teoria existe e suas implicações serão o tema central

A
pós descortinar a realidade da vida, através de que abordaremos neste artigo.
sua dualidade espírito-matéria, em O Livro dos
Espíritos, Allan Kardec continua estudando es- Além da geometria tridimensional
ta questão e abre a primeira parte de O Livro dos Mé-
diuns elucidando nossa pergunta-título e confirman- No dia 10 de junho de 1854 nasceu uma nova
do a existência dos Espíritos. É o próprio Codificador1 geometria. Seu autor chamava-se Georg Bernhard
que apresenta os prováveis dois maiores escolhos ao Riemann (1826-1866), um dos mais importantes
entendimento desta veracidade espiritual: matemáticos que o mundo conheceu. Riemann foi o
1) “Geralmente são figurados como seres à parte na segundo dos seis filhos de um pastor luterano pau-
criação e de cuja existência não está demonstrada pérrimo que não poupou esforços para educar o fi-
a necessidade.”; lho, o qual, desde muito cedo, apresentava muita fa-
2) “A dúvida, no que concerne à existência dos Espí- cilidade de aprendizado. Ele aprendia tão depressa
ritos, tem como causa primária a ignorância acer- que estava sempre superando o conhecimento dos
ca da verdadeira natureza deles.” seus professores, os quais consideravam impossível
A excessiva crendice de alguns acaba sendo um acompanhá-lo. O diretor da escola secundária, que
desserviço, pois, descompromissada com a lógica, ter- Riemann cursava à época, resolveu mantê-lo ocupa-
mina não resistindo ao mínimo embate, fazendo com do dando-lhe um livro muito árduo. Tratava-se de
que os incrédulos desdenhem da tese apresentando sor- Teoria dos Números, de Adrien-Marie Legendre, uma
risos de mofa. O homem, intelectual por natureza, ne- imensa obra-prima de 859 páginas, o mais avançado
cessita de explicações racionais, e a Doutrina Espírita tratado existente então no mundo sobre a ainda ho-
tem apresentado, para o primeiro item, de Kardec aos je espinhosa matéria da Teoria dos Números. Rie-
dias de hoje, não somente um número incontável de mann devorou todas aquelas dificílimas páginas em
fatos que confirmam a existência dos Espíritos, como somente seis dias. Uma semana após, quando o dire-
também esclarecido que pertencemos todos, encarna- tor perguntou: “– Quanto você já leu?” O jovem res-
dos e desencarnados, a uma mesma realidade. Espíri- pondeu: “– Esse é sem dúvida um livro maravilhoso.
tos somos todos nós, os que nos encontramos na car- Eu o assimilei por completo.” Acreditando tratar-se
ne ou fora dela, e os ditos “fantasmas” são aqueles de de uma fanfarronice do rapaz, o diretor preparou
nós que atravessamos a porteira da vida para acordar- uma vasta gama de obscuras questões, todas extraídas
mos na pátria espiritual portadores dos créditos ou de- daquele livro e, alguns meses mais tarde, aplicou-lhe
méritos acumulados em várias romagens corpóreas. o questionário. Riemann respondeu a todas elas com
O segundo item, porém, é bem mais complexo de perfeição magistral.
ser explicitado. A grande questão a ser respondida é on- Com 19 anos Riemann foi encaminhado para a
de habitam os Espíritos. Pode-se supor que eles existam, prestigiosa Universidade de Göttingen, onde veio a ser
esta, aliás, é a atitude do verdadeiro cientista que nun- aluno de nada menos que Carl Friedrich Gauss (1777-
ca teme suposições, mesmo as mais disparatadas. Mas, -1855), o aclamado “Príncipe dos Matemáticos”. Gauss
enfocado do ponto de vista do espaço-tempo, há de ha- nunca se sentiu satisfeito com os limites da Geome-
tria Euclidiana que, além de plana, era tridimensio-
nal. A realidade é que, quando jovem, Gauss tentou le-
1 KARDEC, A. O Livro dos Médiuns. 62. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1996. var à frente um experimento para tentar provar que a

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soma dos três ângulos de um triângulo não era igual dos lados deste cubo N-dimensional* e h o compri-
a 180 graus e mostrar que o espaço não é plano. O ex- mento de sua diagonal, então pode-se generalizar o
perimento de Gauss falhou porque ele o realizou a dis- Teorema de Pitágoras para c12 + c 22 +...+ c 2n= h2. Ex-
tâncias muito pequenas, postando-se em uma monta- traordinariamente, ainda que nossos cérebros não pos-
nha e posicionando dois de seus assistentes, cada um sam visualizar um cubo N-dimensional, é fácil redigir
em outra montanha, para formarem um triângulo e a fórmula para os seus lados.
medir a soma de seus ângulos internos. Hoje se sabe Aqui é importante fazermos um rápido comentário.
que, de fato, o espaço não é plano, mas curvo. Porém, O leitor, desacostumado com o linguajar técnico, pode-
só é possível fazer esta verificação através das enormes rá não compreender a diferença entre as duas aborda-
distâncias estelares. Gauss já estava velho demais e não gens, a euclideana e a riemanniana. De forma sucinta,
arriscaria sua fama fazendo “conjecturas perigosas”. As- deve-se aperceber que, até então, sempre se pensara que
sim, pediu ao seu brilhante aluno Riemann para pre- a investigação de um mundo proibido, com dimensões
parar uma apresentação oral sobre os “fundamentos espaciais adicionais, originaria terríveis contradições. Pa-
da geometria”. Riemann, contudo, ficou aterrorizado. ra surpresa geral, Riemann estendeu várias equações tri-
Seu mestre lhe pediu para preparar uma palestra sobre dimensionais para o caso N-dimensional, construiu no-
o mais difícil problema matemático do século. Devi- vos objetos matemáticos e, sobretudo, erigiu um po-
do à pobreza, que o acompanhou durante toda a vi- deroso formalismo para descrever não somente espaços
da, o menino Riemann nunca teve uma boa alimen- N-dimensionais planos, mas também espaços com qual-
tação. Por este motivo, sua saúde sempre foi muito quer número de dimensões e curvatura arbitrária; e, por
débil. Levar a maior parte de sua vida entre quatro pa- mais incrível que possa parecer, ele não encontrou ne-
redes, estudando febrilmente, só piorou seu estado de nhuma contradição. Qualquer espaço N-dimensional,
saúde. Desta forma, sua saúde finalmente entrou em por ele estudado, era bem definido e coerente.
colapso e ele sofreu um esgotamento nervoso no iní-
cio de 1854. Mesmo assim, ainda naquele ano, ele Conseqüências da quarta dimensão
conseguiu apresentar uma conferência que foi consi-
derada a mais importante da história da matemática. Imagine-se com visão de raio X capaz de, cami-
Como ocorre em muitas das mais importantes nhando, atravessar paredes, desaparecer ou reaparecer
obras de física ou matemática, o cerne essencial da teo- à vontade. O que um criminoso poderia fazer com tais
ria geométrica riemanniana é de fácil compreensão. O poderes? Entraria no banco mais fortemente protegi-
Teorema de Pitágoras, um dos mais importantes acha- do, localizaria os valores e o dinheiro através das maci-
dos dos gregos no campo da matemática, estabelece a ças paredes, enfiaria a mão tirando tudo que quisesse
relação entre os comprimentos dos três lados de um para fora, depois, simplesmente iria embora. Nenhu-
triângulo retângulo. Os dois lados menores de um ma prisão poderia detê-lo. Que ser possuiria um poder
triângulo retângulo são chamados “catetos”. O lado tão divino? Resposta: um ser do mundo multidimen-
maior denomina-se “hipotenusa”. Por este teorema, a sional. Evidentemente, estas proezas estão acima da ca-
soma dos quadrados dos catetos de qualquer triângu- pacidade de qualquer pessoa tridimensional.
lo retângulo é igual ao quadrado da hipotenusa; ou se- O que é exatamente viver em múltiplas dimensões?
ja, se nomearmos os catetos por c1 e c2 e a hipotenusa Vamos fazer uma correspondência entre os seres 4-di-
por h, o Teorema de Pitágoras será c12+ c 22 = h2. Este mensionais e nós, 3-dimensionais, usando de uma ana-
é o formato bidimensional do Teorema de Pitágoras. logia entre nós e supostos seres 2-dimensionais que vi-
Escrevê-lo em três dimensões é bastante simples. vessem numa folha de papel. Neste mundo hipotético
Suponha-se um paralelepípedo cujas três arestas adja- não haveria objetos sólidos. Tudo seria chato. Para os se-
centes sejam c1, c2 e c3. Se sua hipotenusa for h, então res que lá vivessem não haveria sentido falar-se em al-
vale a relação c12 + c22 + c32= h2. O ponto de partida de
Riemann foi supor a existência de um sólido, que cha- *O N que aparece em N-dimensional indica um número genérico pa-
maremos de “hipercubo”, num espaço de dimensão ra as dimensões espaço-temporais. Este N, ou n, pode ser, por exem-
superior a três. Se c1, c2,...,cn forem os comprimentos plo, 3 , 4, 5, bem como qualquer número inteiro que se queira.

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tura. Eles só conseguiriam enxergar comprimento e lar- obsessores que preferem a convivência mais próxima à ma-
gura. Lá, o indivíduo que falasse ser possível saltar para téria, como também há os mentores espirituais, ditos Es-
fora daquele mundo-folha, usando uma “fantasmagóri- píritos de Luz, mais refinados e purificados. A literatura es-
ca” terceira dimensão, estapafurdiamente chamada altu- pírita nos informa que, em geral, os Espíritos sofredores
ra, imediatamente seria tachado de louco ou charlatão. não conseguem enxergar os Espíritos superiores. São ex-
No nosso mundo tridimensional, para se aprisio- tensos os relatos de materializações ocorridas na esfera es-
nar alguém, é necessário construirem-se caixas conten- piritual. O Espírito Matilde materializou-se diante de An-
do comprimento, largura e altura. No mundo-folha, dré Luiz e Gúbio para poder conversar com eles, e, mais
como só existem duas dimensões, para encarcerar-se tarde, foram ambos que se materializaram ao chegarem a
um criminoso, basta fazer um quadrado, com uma li- uma esfera espiritual menos elevada, para que os seres da-
nha fechada, envolvendo o indivíduo. Em duas di- quela região pudessem enxergá-los2. Também é comum
mensões é impossível escapar deste quadrado. No en- associarmos aos Espíritos de escol maior poder, e, conse-
tanto, uma pessoa tridimensional pode puxar o qüentemente, maior capacidade energética. Daí cogitamos
encarcerado para fora da cadeia, levando-o para a ter- possível haver Espíritos que conseguiriam dar saltos ao hi-
ceira dimensão. Do ponto de vista do carcereiro, o pri- perespaço em dimensões mais elevadas que outros. Esta
sioneiro pareceria ter evaporado misteriosamente. conclusão parece-nos bastante razoável. Dizemos isto não
A verdade é que o mundo-folha, bidimensional, es- somente para Espíritos desencarnados, mas também entre
tá imerso no mundo tridimensional. Os seres bidimen- alguns encarnados no desprendimento pelo sono, ou no
sionais não possuem energia suficiente para trafegar atra- estado sonambúlico (transe mediúnico, por exemplo).
vés da dimensão extra (altura). Da mesma forma, nós, Matemáticos e físicos teóricos de todo o Planeta,
seres tridimensionais, estamos imersos no espaço N-di- da década de 70 aos dias de hoje, vêm febrilmente de-
mensional. Após aprofundarmos o conhecimento da senvolvendo a denominada Teoria das Supercordas.
matemática e da física, conseguimos perceber (intelec- Esta tem sido chamada de “teoria do tudo”, pois se
tualmente, é claro) a existência das múltiplas dimensões pretende que ela contenha em seu bojo as quatro teo-
espaciais. Desafortunadamente, não sabemos ainda com rias fundamentais do Universo que se conhecem. A
exatidão qual quantidade de energia está envolvida no Teoria das Supercordas não alcançou ainda o status de
processo que nos permitiria saltar para o hiperespaço. É “teoria do tudo”, devido à impossibilidade operacio-
até provável que a energia necessária para tal salto seja nal de se testar experimentalmente suas conclusões.
superior a tudo que existe hoje disponível na Terra. Por Segundo esta, vivemos em um espaço de múltiplas di-
outro lado, mesmo que já dispuséssemos da quantidade mensões, mas a quantidade de energia para saltarmos
energética necessária, não conhecemos o mecanismo pa- ao hiperespaço, tudo indica, vai além de nossa capa-
ra “abrir” aquelas dimensões extras e realizar o estupen- cidade tecnológica atual. Dia virá, podemos imaginar,
do salto ao hiperespaço. em que nós, os encarnados, construiremos máquinas
para abrir portais multidimensionais e realizar proe-
Conclusão zas impensáveis através de distâncias incomensuráveis,
em frações de segundo, o que hoje só é possível por
O universo em que vivemos é multidimensional. Is- meio da mediunidade. Neste dia, haveremos de en-
to é certo. Para se ter uma idéia da veracidade desta afirma- contrar os seres, amados de nossos corações, que se li-
tiva, deve atentar-se para o fato de que as teorias da relati- bertaram das algemas tridimensionais e se encontram
vidade de Einstein e a mecânica quântica assentam suas livres e vivos no espaço multidimensional. A comuni-
bases na geometria multidimensional riemanniana. Nos- cação entre estes dois mundos será uma constante e
sa percepção sensorial limitada permite-nos enxergar so- receberemos, felizes, diretamente dos mentores espi-
mente três das infinitamente possíveis. Nós e os Espíritos rituais, as imorredouras lições para nosso aperfeiçoa-
vivemos no mesmo universo. Eles conseguem trafegar, li- mento intelecto-espiritual.
vremente, através de dimensões superiores, enquanto esta-
mos momentaneamente encarcerados em três. Mesmo en- 2 XAVIER, F. C. Libertação. 16. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1994.
tre os Espíritos, isto sabemos, existem gradações. Há

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Hydesville
“Recordas a Belém de nossa fé, Manjedoura
feliz do Espiritismo!”

Nas telas sucessivas da verdade,


Brilharás como estrela para os povos
Na alegria recôndita que invade
A existência ideal dos homens novos!

Todo o roteiro espírita cristão


Algo de teu caminho nos descerra;
Concha acústica da Revelação,
Teus raps ecoaram pela Terra!

Contigo, um lar humilde e ignorado


Trouxe o verbo do Além, sereno e forte,
Revelando às Nações, em grande brado,
Para a glória da vida que há na morte.

Três jovens médiuns contra os preconceitos


Venceram emboscadas e sofismas,
Mostrando aos olhos cegos e imperfeitos
Lições da Antigüidade noutros prismas.

Fulguras como excelsa encruzilhada


Aos destinos humanos sofredores,
E és ainda a baliza iluminada
Por doce lenitivo às nossas dores.

Hydesville! Saudamos-te de pé,


Na luta contra as sombras do ateísmo!
Recordas a Belém de nossa fé,
Manjedoura feliz do Espiritismo!

LEÔNCIO CORREIA

(Poema recebido pelo médium Waldo Vieira, em 7/11/1960, na Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba, MG.)
Fonte: REFORMADOR de março de 1998, p. 9.

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REFORMADOR DE ONTEM

O começo da história sem fim


1
Lino Teles

N
a noite de 28 de março de
1848, nas paredes de madei-
ra do barracão de John D.
Fox, começaram a soar pancadas
incomodativas, perturbando o sono
da família, toda ela metodista. As
meninas Katherine (Katie ou Kate),
de nove anos de idade, e Margaret-
ta, de doze anos 2, correram para o
quarto dos pais, assustadas com os
golpes fortes nas paredes e teto de
seu quarto.
Esse barracão, na aldeia de A cabana Fox, Condado de Wayne, Hydesville, N. Y., 31 de março de 1848
Hydesville, no Condado de Wayne,
Estado de New York, era construí- que de costume, pois havia três noi- sal, muito viva e já um tanto acos-
do em terreno pantanoso. Os ali- tes seguidas que não podiam conci- tumada ao fenômeno, pôs-se em
cerces eram de pedra e tijolos até à liar o sono. Foi severamente reco- dado momento a imitar as panca-
altura da adega e daí para cima sur- mendado às crianças, agora dor- das, batendo com os seus dedos so-
giam paredes de tábuas. Seus últi- mindo no quarto dos pais, que não bre um móvel, enquanto exclama-
mos ocupantes haviam sido os se referissem aos tais ruídos, mesmo va em direção ao ponto onde os
Weekmans, que posteriormente que elas os ouvissem. ruídos eram mais constantes: “Va-
também confessaram ter ouvido ali Nada, porém, obstou a que mos, Old Splitfoot, faça o que eu
batidas na porta, passos na adega e pouco depois as pancadas voltas- faço.” Prontamente as pancadas do
fenômenos outros inexplicáveis. sem, tornando-se às vezes em verda- “desconhecido” se fizeram ouvir, em
No dia 31 de março de 1848 a deiros estrondos, que faziam tremer igual número, e paravam quando a
família Fox deitou-se mais cedo do até os móveis do quarto. menina também parava.
As meninas assentaram-se na Margaretta, brincando, disse:
1 Pseudônimo de Ismael Gomes Braga. cama, e o Sr. John Fox resolveu dar “Agora, faça o mesmo que eu: con-
2
Há, com relação a essas idades, pequenas uma busca completa pelo interior e te um, dois, três, quatro”, e ao mes-
diferenças entre os autores, seja para menos, se- pelo exterior da pequena vivenda, mo tempo dava pequenas pancadas
ja para mais. As idades que anotamos são devi- mas nada encontrou que explicasse com os dedos. Foi-lhe plenamente
das a Robert Dale Owen, e parecem ser as cor-
retas. (Veja-se a obra Kate Fox, de W. G. aquele mistério. satisfeito esse pedido, deixando a
Langworthy Taylor, 1933, págs. 47/48.) Kate, a filha mais jovem do ca- todos estupefatos e medrosos.

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hóspede pernoitasse no quarto dela.


Pela manhã compareceu ela em ca-
sa dos patrões e soube que o vende-
dor partira muito cedo.
Diante do depoimento obtido
pelos golpes do batedor invisível,
foram feitas escavações no porão,
mas era tempo de chuvas e, como a
água enchia logo a fossa que se
abria no terreno pantanoso, resol-
veram realizar a busca em época
propícia. No verão, continuaram a
escavação e, a cinco pés de profun-
didade, foram encontrados carvão,
cal e alguns ossos humanos. Por ser
muito incompleto o achado, os in-
Primeira comunicação obtida em Hydesville, quando Kate Fox recebe crédulos teceram suas dúvidas sobre
resposta aos seus sinais. Desenho de S. Drigin a verdade da revelação.
As pancadas continuavam, ten-
Estava estabelecida a comuni- do-as testemunhado várias centenas
cação dos vivos com os mortos e as- de curiosos. A pouco e pouco fo-
sentada uma nova era de mais di- ram estabelecendo uma convenção
latadas esperanças, com a prova para receberem respostas mais
provada da continuidade da vida detalhadas às perguntas que se
além do túmulo. faziam aos autores invisíveis.
Naquela mesma noite de 31 Convencionou-se um alfabe-
de março várias perguntas fo- to em que cada letra represen-
ram feitas pelos donos da hu- taria determinado número de
milde casa e por alguns dos inú- batidas: o A seria uma, o B
meros vizinhos ali chamados, seria duas, o C, três, e assim
obtendo-se sempre, por meio de por diante.
certo número de pancadas, res- As meninas Fox viaja-
postas exatas às questões formu- ram, e também em outras ca-
ladas. O comunicante invisível sas, onde se hospedavam, ou-
forneceu ainda a sua história: fora viam-se as tais pancadas, tra-
um vendedor ambulante, que anti- vavam-se novas conversações com
gos moradores daquela casa assassi- os Espíritos, processando-se ainda
naram, havia uns cinco anos, para outros fenômenos interessantíssi-
furtar-lhe o dinheiro que trazia; seu mos. Notou-se que possuíam elas
corpo se achava sepultado no po- As irmãs Fox (Margaret, Kate e Leah), uma faculdade especial, e pouco
rão, a dez pés de profundidade. litografia de 1850 depois se observou que outras pes-
No barracão havia residido, em soas eram dotadas de semelhantes
1844, o casal Bell, sem filhos, e que via desaparecido do lugar. Lembra- faculdades: ao contacto de suas
só tinha uma criadinha, Lucretia va-se de um vendedor ambulante mãos uma mesa se levantava, dava
Pulver, que não raro dormia fora, que certo dia aparecera no barracão, pancadas com os pés, e essas pan-
em casa dos pais. Feito um inquéri- e que os patrões a mandaram dor- cadas respondiam com inteligên-
to, foi ela ouvida, pois o casal já ha- mir na casa dos pais, para que o cia a perguntas. Nomes de respei-

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são de notícias e fora enterrado no centro do porão.


informações de Depois, conforme argumenta Sir
além-túmulo. O Arthur Conan Doyle, alarmado o
barracão de John criminoso pela facilidade que havia
Fox envelheceu e em ser descoberto o crime, exumou
desmoronou em o corpo para junto do muro. Ou
parte3, esquecido porque a transferência se verificasse
de todos, visto com muita precipitação, ou porque
que surgiram fe- a luz era escassa, ficaram vestígios
nômenos muito da inumação anterior.
mais expressivos, Hoje, esses ossos e o baú se
formas de identi- acham em Lily Dale, em um mu-
ficação de Espíri- seu, registrando a triste história da
tos comunicantes inferioridade humana, e recordan-
Situação atual do barracão de Hydesville transferido por Benjamin F. muito mais con- do o nascimento de uma Nova His-
Bartlett, em maio de 1916, para Lily Dale Spiritualist Camp. N. Y.
vincentes que le- tória para a Humanidade.
varam os estu- Um mundo de novos fenôme-
táveis personalidades já falecidas diosos à certeza da continuação da nos mediúnicos, que se seguiram ao
assinavam belas mensagens anun- vida post mortem. episódio de Hydesville, abriu outros
ciadoras de uma revolução no Passou meio século de esqueci- caminhos aos estudiosos. Allan Kar-
campo moral das criaturas huma- mento sobre Hydesville. Eis senão dec dilatou ainda mais os conheci-
nas, dizendo que afinal os tempos quando, alguns escolares da aldeia, mentos a esse respeito, sabiamente
eram chegados para que novos ho- brincando no local das ruínas do coordenando-os para uma com-
rizontes se descortinassem aos des- barracão, notaram que havia caído preensão menos imperfeita e mais
tinos do homem. parte de uma parede interna, junto justa do todo. Posteriormente, céle-
Surgiu a época das mesas gi- do alicerce, deixando visível um es- bres trabalhos, devidos a homens
rantes que se tornou epidemia no queleto humano quase inteiro e um notáveis, trouxeram subsídios im-
mundo, como se pode ver da inte- baú de ferro. Reconfirmava-se, as- portantes à obra do Codificador,
ressante obra de Zêus Wantuil, As sim, a declaração do Espírito do muitos deles incorporando-se à Co-
Mesas Girantes e o Espiritismo. vendedor ambulante feita havia cin- dificação, pois que esta não poderia
Foram as mesas girantes, e de- qüenta e cinco anos. O casal Bell ficar estática em determinado tem-
pois falantes, que chamaram a aten- ocultara o cadáver e o baú junto da po, tendo de viver e crescer sempre,
ção do Prof. Hippolyte Léon Deni- parede da adega e construíra pelo confirmada e apoiada por novos fa-
zard Rivail para os fenômenos lado interior outra parede. O fato tos bem verificsados e inteligente-
espíritas. foi consignado pelo Boston Journal mente interpretados.
Depois das mesas surgiu a es- de 23 de novembro de 1904, que O começo da História do Es-
crita com o lápis preso a uma cesti- disse terem ficado assim desvaneci- piritismo é a noite de 31 de março
nha de vime e, finalmente, com a das as últimas sombras de dúvida para 1o de abril de 1848, mas o
mão do médium. Servindo-se des- ainda existentes. nascimento da Codificação é o dia
ses últimos meios, Rivail elaborou Ao que tudo indica, o cadáver 18 de abril de 1857. Houve nove
a grandiosa Codificação do Espi- anos de estudos e observações dos
ritismo. 3
Em 1916, Benjamin F. Bartlett adquiriu os fenômenos, antes de aparecer o
Outros casos de depoimentos restos do velho barracão, reconstruindo-o na livro primeiro de Allan Kardec.
pessoais de mortos foram registra- cidade de Lily Dale, N. Y., onde é conservado Essa história teve começo, mas
dos e alguns confirmados poste- até os dias atuais. (Veja-se o Grand Souvenir
Book of the World Centennial Celebration of
não terá fim.
riormente. Os rappings e knockings Modern Spiritualism, obra publicada nos Esta- Fonte: Reformador de abril de 1978,
não mais se usaram na transmis- dos Unidos, em 1948, p. 12.) p. 129-130.

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A FEB E O ESPERANTO

O problema lingüístico na atualidade


Affonso Soares

quando muitos homens, como é o em outros campos. Aqui Trevor fo-


caso dos holandeses, abraçam a cau- caliza um traço bastante significati-
sa do inglês sem, aparentemente, vo da posição dos homens em geral
sofrerem quaisquer pressões. Não a respeito da diversidade lingüística
obstante, menciona o fato, igual- e dos problemas que ela acarreta: a

O
número de julho/2002 da re- mente constatado, de que pessoas e questão não reveste prioridade para
vista Esperanto, órgão oficial organizações tiram, conscientemen- a imensa maioria, não obstante os
da Associação Universal de te, proveito econômico e cultural nexos existentes entre diversidade
Esperanto (Rotterdam, Holanda), da difusão de sua língua todo-pode- lingüística e desigualdades econô-
estampou interessante texto de seu rosa. micas e culturais.
Diretor Geral, Trevor Steele, sob o Evidencia também prováveis A análise das esperanças que o
título “Nós e o inglês”, em que são brechas no argumento de que o Es- movimento esperantista tem ali-
avaliadas as perspectivas do Espe- peranto desempenharia, no mundo mentado, ao longo das décadas, a
ranto diante da crescente presença moderno, o papel de protetor das respeito da desejada, e adiada, vitó-
da língua inglesa no campo das re- línguas fracas. Trevor formula a in- ria final, assume especial interesse,
lações internacionais. dagação: não seria natural o fato de uma vez que Trevor Steele nela
Tem-se ali, inegavelmente, uma que línguas e dialetos tendem a também inclui as relações entre Es-
realística configuração do problema “morrer” por contingências sociais peranto e Espiritismo no Brasil. Os
lingüístico na atualidade, pela qual a que estão submetidos? pioneiros do Esperanto puseram as
Trevor Steele, sendo ativo esperan- O argumento da relativa facili- bases da vitória no apoio de elites
tista e fecundo literato na Língua dade do Esperanto, embora reflita intelectuais com mentalidade inter-
Internacional Neutra, procura evi- uma verdade indiscutível, não re- nacionalista. Nos anos 20 e 30, pre-
denciar forças e deficiências, verda- vestiria a importância que lhe tem tendeu-se ver no triunfo do socia-
des e mitos na argumentação que sido atribuída, pois se a questão fos- lismo a condição para a generali-
os esperantistas vêm mobilizan- se apenas em torno de facilidade, o zação do Esperanto, e, segundo Tre-
do na defesa e sustentação de seu Esperanto já teria vencido há mui- vor, uma expectativa semelhante
ideal. Ao mesmo tempo, Trevor to tempo. A facilidade, por si só, parece reinar nos círculos espíritas
Steele formula prognóstico igual- questiona Trevor, não constituiria do Brasil. E as grandes organizações
mente realístico para a evolução das motivação suficiente num contexto internacionais, não obstante apoios
tendências que agora se manifestam em que ainda prevalecem condicio- simbólicos, reconhecimentos for-
com respeito à adoção de uma lín- namentos ditados por interesses ex- mais do valor do Esperanto, não
gua internacional para a Humani- clusivamente econômicos e finan- demonstram inclinar-se a qualquer
dade, encorajando os esperantistas ceiros. atitude mais objetiva, concreta, em
à atitude que, no presente estágio, Um forte argumento em favor favor da grande causa, aparente-
melhor lhes convém nos serviços do Esperanto é o de que ele assegu- mente enfraquecida no contexto
em favor da nobre causa. ra igualdade a todos, indivíduos e atual, ainda bastante impregnado de
Trevor questiona a existência povos, ao mesmo tempo que ense- sentimentos de exagerado naciona-
de um imperialismo lingüístico, ja economia de recursos aplicáveis lismo, de autarquismos de diversa

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natureza, de egoísmo particularis- durecer mais para ter uma justa meu irmão, não te sintas abando-
ta.Trevor Steele conclui suas análi- compreensão das questões que temos nado. Devotados samideanos do
ses com criteriosa exortação em levantado como motivo de nossa Além colaboram contigo em teus es-
que, reunindo realismo e idealismo, atividade. forços. A luta é árdua, mas é neces-
convoca todos os adeptos da causa ......................................................... sária, em face da vitória indis-
esperantista à atitude que melhor Trabalhemos por essa nobre cutível. A missão do Esperanto é
lhes convém e que, a rigor, pode causa, mesmo que não vejamos re- grandiosa e profunda junto das co-
aplicar-se a outros grandes ideais sultados imediatos. E o que fizer- letividades humanas. Não te en-
que, como o Esperanto, marcham mos, façamos com empenho, de mo- tristeças, contudo, se os resultados
ainda bem distantes da sonhada do criativo e prazeroso. Nossa da difusão da linguagem interna-
generalização. contribuição é necessária, mas de- cional parecem, por vezes, medío-
Aqui passamos a palavra ao cisiva apenas quanto ao dever de cres em extensão. A tarefa esperan-
próprio autor do artigo, transcre- manter vivas a língua e sua idéia tista é muito grande e as realizações
vendo, em tradução, trechos do tex- até que a própria Humanidade de- já efetuadas no orbe, pelos seus tra-
to em foco: cida. balhadores, são numerosas e consis-
A propósito, um último pensa- tentes, pressagiando as edificações
“Penso que devemos aceitar, mento: o mundo se modifica com do futuro.
com realismo, estarmos atravessan- grande rapidez. Consideremos as (...) Não te entristeças, repito,
do uma época desfavorável à idéia diferenças entre o planeta em 1900 e nem te atormentes em face da in-
de uma língua internacional neu- e em 2000. É fora de dúvida que diferença do mundo. Toda impassi-
tra. Se não aceitarmos esse fato, as modificações serão maiores nos bilidade é transitória. Além disso,
corremos o risco de ficar batendo a próximos cinqüenta anos do que o a missão de Zamenhof é de ontem.
cabeça contra muros inamovíveis. foram nos cem últimos. Em 2002 o Poucos lustros assinalam as suas es-
......................................................... Esperanto está sendo usado por peranças do princípio. E Jesus? Não
Devemos, porém, recolher-nos uma porcentagem muitíssimo pe- podemos esquecer que o Evangelho
em nosso acampamento, cuidar de quena da Humanidade. Talvez em espera a adesão do mundo há qua-
nosso pequeno jardim e desfrutar o 2052 sua popularidade venha a su- se dois mil anos.
calor aconchegante de um grupinho perar a que o inglês hoje desfruta.” Continuemos, pois, em nossos
íntimo? esforços e não duvidemos dAquele
Tanto a tentativa quixotesca ... que é a luz e o amor de nossas al-
de lutar contra o atual estágio evo- Muitas considerações podería- mas.
lutivo, quanto uma quase-renúncia mos tecer em torno do pensamen- Que Deus te abençoe. – Em-
à expansão externa, se me afiguram to de Trevor Steele, um valoroso manuel.”
uma visão deficiente das dimensões idealista que, não tendo seu pensa-
de nossa campanha. Temos, afinal mento fecundado pelas
de contas, tentado resolver um pro- perspectivas oferecidas pe-
blema provavelmente tão velho la Revelação Espírita, delas
quanto a Humanidade, e ainda as- se aproxima por um sadio,
sim deixamo-nos subjugar pela im- esclarecido e equilibrado
paciência apenas porque já mais de otimismo. Mas vamos ape-
um século tem passado sem o ad- nas reapresentar exortações
vento da vitória final! que o venerando Espírito
A língua Esperanto está pron- Emmanuel dirigiu a Ismael
ta, é um belo instrumento suscetí- Gomes Braga através da
vel de evolução, mas será que o mediunidade de Chico Xa-
mundo está preparado para aceitá- vier:
-la? A Humanidade precisa ama- “(...) Em tuas lutas,

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A Mensagem de Deus Passos Lírio

vida e beleza à paisagem nebulosa e sentimentos; nós sabemos que há ou-


sombria das nações. tras mentes – inúmeras mentes –
Elas são efetivamente os marcos suscetíveis de mentalizar o melhor e
luminosos da Esperança Celestial, superior, de pensar somente no sen-
deitando suaves e doces claridades tido do Bem, da Luz e da Verdade,

C
onhecido banco paulista, por por sobre os caminhos nevoentos e de formular raciocínios altamente lu-
intermédio de sua agência no empoeirados da Crosta Planetária. minosos e benéficos, de delinear pla-
Rio de Janeiro, fez afixar em Elas falam de um futuro que nos humanitários e beneméritos, de
vários pontos da cidade, de fácil poderá ser a mais empolgante e ra- conceber idéias generosas e emitir vi-
acesso à visão, expressivo outdoor diosa realidade dos nossos sonhos brações construtivas.
com o seguinte fundo publicitário: no presente. Enquanto houver crianças no
de um lado oito crianças, de tama- Elas apontam uma posteridade Mundo, estará de pé a esperança de
nhos e raças diferentes; de outro, os integrada nas verdades e virtudes da chegarmos um dia a Deus e de ser
dizeres: “As crianças são a Mensa- Vida Imortal. a Terra promovida a Paraíso.
gem de que Deus não perdeu a es- Graças a Deus existem crianças Enquanto lhes ouvirmos as vo-
perança nos homens.” (Tagore.) no Brasil, nas Américas, na Europa, zes ricas de doces e penetrantes so-
Por várias vezes, detivemo-nos na Ásia, na África, na Oceania, em noridades; enquanto lhes surpreen-
em contemplar o grupo infantil, to- todos os continentes, “como estre- dermos nos lábios os risos cândidos
do ele formado de criaturinhas riso- las caídas da amplidão” nos recessos e atraentes; enquanto lhes virmos os
nhas, tranqüilas e felizes: cinco me- promissores dos lares e no caricioso gestos espontâneos, encantadores e
ninos e três meninas. regaço das famílias. graciosos; enquanto pudermos
Do conjunto liliputiano, passá- Graças ao Senhor há meninos apreender-lhes nos olhos o brilho
vamos ao texto do imortal pensador e meninas cheios de vivacidade e da candura, irradiando doce mag-
e filósofo indiano. inocência, de encantos e atrativos, netismo e impregnando-nos a alma
Ligávamos as duas coisas – as flores em botão apendoados no Jar- de blandiciosos eflúvios; enquanto
crianças às palavras – para concluir dim da Vida, frutos em maturação tudo isto puder ser visto, ouvido e
que ali estava expressa uma das maio- no imenso Pomar do Mundo, en- sentido, haverá promessas de felici-
res e mais consoladoras verdades de feitando o panorama conturbado dade para a Humanidade inteira.
todos os tempos. Sobretudo nas con- da existência humana. Mas, para que essas promessas
dições em que era feita a apresenta- “As crianças são a Mensagem se concretizem em dulçorosas reali-
ção do pensamento do autor e do de que Deus não perdeu a esperan- dades, é mister que semeemos na
objeto a que ele se reportava. ça nos homens.” (Tagore.) criança as noções grandiosas dos
Crianças de nacionalidades e Não há dúvida de que assim é. ensinamentos de Jesus, educan-
raças diferentes, formando um blo- Vendo-as espalhadas pelos quadran- do-as para Deus.
co feliz e esperançoso... tes do Planeta, como promissoras se- Só então a Sua Mensagem de
Elas realmente se acham espa- mentes atiradas à Gleba Terrena pe- Esperança será encontrada em cada
lhadas por todas as partes do mun- las mãos misericordiosas do Pai, nós um de nós e dos nossos, depois de
do, vicejando e florescendo em so- sabemos que há outros corações, ain- adultos, pois fazermo-nos homens
los pátrios diferentes, entrosadas no da virgens das maldades humanas, e mulheres, com valores divinos em
organismo social de vários povos, capazes de amar, de esperar, de orar, movimentação em nossas almas, é a
cobrindo a superfície da Terra co- de trabalhar, de servir, de entender, única maneira de assegurar a nossa
mo peças vivas da Natureza, dando de alcandorar-se nos altiplanos dos própria felicidade e a de todos.

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PÁGINAS DA REVUE SPIRITE

Aparições
espíritas; após a morte, é o agente zíamos, pode ser de tal intensidade
intermediário entre o Espírito e a que o perispírito passa a adquirir as
matéria, assim como o corpo du- propriedades de um corpo sólido e
rante a vida. Por aí se explica uma tangível, embora seja capaz de reto-
porção de problemas até então in- mar instantaneamente o seu estado

O
fenômeno das aparições apre- solúveis. Veremos, em artigo subse- etéreo e invisível. Podemos ter uma
senta-se hoje sob um aspecto qüente, o papel que ele representa idéia desse efeito pelo vapor, que é
de certo modo novo, proje- nas sensações dos Espíritos. A des- capaz de passar da invisibilidade ao
tando uma viva luz sobre os misté- coberta do perispírito, portanto, se estado brumoso, depois ao líquido,
rios da vida de além-túmulo. Antes assim nos podemos expressar, per- em seguida ao sólido e vice-versa.
de abordar os estranhos fatos que mitiu que a ciência espírita desse Esses diferentes estados do perispí-
vamos relatar, julgamos de nosso um passo enorme e entrasse numa rito são o produto da vontade do
dever repetir a explicação que foi via inteiramente nova. Mas, direis, Espírito, e não de uma causa física
dada e completá-la. não será esse perispírito uma cria- exterior. Quando ele nos aparece é
Não se deve de maneira algu- ção fantástica da imaginação? Não que dá ao seu perispírito a proprie-
ma perder de vista que, durante a seria mais uma dessas suposições dade necessária para o tornar visí-
vida, o Espírito encontra-se unido feitas pela ciência para explicar cer- vel, e essa propriedade ele a pode
ao corpo por uma substância semi- tos efeitos? Não; não é obra da ima- estender, restringir e fazer cessar à
material que constitui um primeiro ginação, porque foram os próprios vontade.
envoltório que designamos sob o Espíritos que o revelaram; não se Uma outra propriedade da
nome de perispírito. Tem, pois, trata de idéia fantástica, desde que substância do perispírito é a de pe-
o Espírito dois envoltórios: um pode ser constatado pelos sentidos, netrabilidade. Nenhuma matéria
grosseiro, pesado e destrutível – o ser visto e tocado. A coisa existe; lhe opõe obstáculo: ele as atravessa
corpo; e outro etéreo, vaporoso e apenas o termo é nosso. Necessita- todas, como a luz atravessa os cor-
indestrutível – o perispírito. A mor- mos de palavras novas para expri- pos transparentes.
te nada mais é que a destruição do mir coisas novas. Os próprios Espí- Separado do corpo, o perispíri-
envoltório grosseiro, é a roupa usa- ritos o adotaram nas comunicações to assume uma forma determinada
da que deixamos; o envoltório se- que tivemos com eles. e limitada, e essa forma normal é a
mimaterial persiste, constituindo, Por sua natureza e em seu esta- do corpo humano, embora não se-
por assim dizer, um novo corpo pa- do normal, o perispírito é invisível ja constante; o Espírito pode dar-
ra o Espírito. Essa matéria eterizada para nós, embora possa sofrer mo- -lhe, à vontade, as mais variadas
– é bom que notemos – absoluta- dificações que o tornam perceptível aparências, até mesmo a de um ani-
mente não é a alma, é apenas o seu à vista, seja por uma espécie de con- mal ou de uma chama. Aliás, con-
primeiro envoltório. A natureza ín- densação, seja por uma mudança cebe-se isso muito facilmente. Não
tima dessa substância ainda não é em sua disposição molecular: é en- vemos homens que imprimem ao
perfeitamente conhecida, mas a ob- tão que nos aparece sob uma forma rosto as mais diversas expressões,
servação nos colocou no caminho vaporosa. A condensação – termo imitando, a ponto de nos engana-
de algumas de suas propriedades. que utilizamos à falta de outro me- rem, a voz e as expressões de outras
Sabemos que desempenha um pa- lhor, mas que não deve ser tomado pessoas, parecerem corcundas, co-
pel capital em todos os fenômenos ao pé da letra – a condensação, di- xas, etc.? Quem na rua reconhece-

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ria certos atores que só são vistos ca- tes sobretudo nos casos de morte de corpos inteiros sob essa forma tan-
racterizados no palco? Se, portanto, pessoas ausentes, que vêm visitar gível, embora esse fato não seja im-
o homem pode assim dar ao seu seus parentes ou amigos. Muitas ve- possível. Numa família do conheci-
corpo material e rígido aparências zes não têm um fim determinado mento íntimo de um de nossos
tão contrárias, com mais forte razão mas, em geral, podemos dizer que assinantes, um Espírito se vinculou
o Espírito poderá fazê-lo com um os Espíritos que assim nos apare- à filha do dono da casa, menina de
envoltório eminentemente flexível cem a nós são atraídos por simpa- seus dez a onze anos, sob a forma
e que se pode prestar a todos os ca- tia. Conhecemos uma jovem se- de um belo garoto da mesma idade.
prichos da vontade. nhora que à noite, em sua casa, Fazia-se visível para ela qual se fora
Os Espíritos, pois, geralmente com ou sem iluminação, via ho- uma pessoa comum, e visível ou in-
nos aparecem sob a forma humana; mens que entravam e saíam, embo- visível para os outros conforme lhe
em seu estado normal não tem essa ra as portas estivessem fechadas. Is- aprouvesse; prestava-lhe toda sorte
forma nada de bem característico, so a deixava muito espantada, de bons serviços, trazia-lhe brinque-
nada que os distinga uns dos outros tornando-a de uma pusilanimidade dos, bombons, fazia o serviço do-
de uma maneira muito nítida; nos que tocava as raias do ridículo. Cer- méstico, ia comprar aquilo de que
bons Espíritos, ela é ordinariamen- to dia viu distintamente seu irmão, precisavam e o que mais o valha.
te bela e regular: longos cabelos flu- então na Califórnia e que absoluta- Não se trata absolutamente de uma
tuantes sobre os ombros e túnicas a mente não havia morrido, o que lenda da mística Alemanha, e de
envolver-lhes o corpo. Mas quando vem provar que o Espírito dos vivos forma alguma é uma estória da Ida-
querem fazer-se conhecidos, tomam pode vencer as distâncias e aparecer de Média, mas, sim, de um fato
exatamente todos os traços sob os num determinado lugar, enquanto atual, que se passa no momento em
quais eram conhecidos e, quando seu corpo repousa alhures. Desde que escrevemos, numa cidade da
necessário, até mesmo a aparência que foi iniciada no Espiritismo essa França e numa família muito hon-
do vestuário. Assim, para exempli- senhora não mais teve medo, por- rada. Fizemos até mesmo estudos
ficar, como Espírito, Esopo não é que se deu conta das visões e sabe bastante interessantes sobre esse fa-
disforme: mas se for evocado como que os Espíritos que a vêm visitar to, os quais nos forneceram as mais
Esopo, ainda que tivesse tido várias não podem fazer-lhe nenhum mal. estranhas e inesperadas revelações.
existências posteriores, apareceria Quando seu irmão apareceu, é pro- Haveremos de entreter nossos leito-
feio e corcunda, com a indumentá- vável que estivesse dormindo; se res de modo mais completo em ar-
ria tradicional. Essa vestimenta, tal- pudesse ter explicado a sua presen- tigo especial que publicaremos bre-
vez, é o que mais espanta; porém, se ça poderia ter mantido conversação vemente.
considerarmos que faz parte inte- com ele, o qual, ao despertar, talvez Allan Kardec
grante do envoltório semimaterial, conservasse uma vaga lembrança
concebe-se que o Espírito possa dar desse encontro. Além disso, é pro- Fonte: Revista Espírita — dezembro de
a esse envoltório a aparência de tal vável que nesse momento ele so- 1858. Tradução de Evandro Noleto Be-
ou qual vestuário, como a de tal ou nhasse que se achava ao lado da zerra.
qual fisionomia. irmã.
Tanto podem os Espíritos apa- Dissemos que o perispírito po-
recer em sonho como em estado de de adquirir a tangibilidade; já fala-
vigília; essas últimas não são raras mos desse assunto quando nos refe- NOTA
nem novas; sempre existiram em rimos às manifestações produzidas A partir deste mês, passamos a
todos os tempos e a História as re- pelo Sr. Home. Sabemos que por publicar a seção PÁGINAS DA
gistra em grande número; mas sem diversas vezes fez aparecessem mãos, REVUE SPIRITE – fundada
retroceder tanto, hoje essas visões que se podia apalpar como se fos- por Allan Kardec –, traduzidas
são bastante freqüentes e muita sem vivas mas que, repentinamen- por Evandro Noleto Bezerra e
gente, num primeiro instante, as to- te, se desvaneciam como uma som- por ele selecionadas.
mou por alucinações. São freqüen- bra; mas não se tinham visto ainda

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Os Espíritos intervêm em nossas vidas!


Jorge Leite de Oliveira

(Lucas, 9:60) significassem que não de um bom ou um mau Espírito é


há qualquer possibilidade de comu- adquirida pelo estudo de cada caso.
nicação com os Espíritos, não fa- Como pode ser lido na questão
riam sentido as narrativas de Ma- 464: “Estudai o caso. Os bons Es-
teus (18:3-4) e Lucas (9:28-36), nas píritos só para o bem aconselham.

A
fora aquelas pessoas que não quais Jesus toma consigo Pedro, Compete-vos discernir.”
crêem na sobrevivência da al- Tiago e João, condu-los a um alto Orientam-nos, ainda, os Espí-
ma após a morte do corpo fí- monte e, ali, após o Cristo irradiar ritos superiores, que podemos nos
sico, muitas outras existem que intensa luz, às vistas desses apósto- eximir da influência dos Espíri-
imaginam ser a desencarnação a se- los, surgem os Espíritos Moisés e tos que procuram nos arrastar para
paração definitiva entre os chama- Elias, que conversam com o Mestre. o mal “(...) visto que tais Espíritos
dos vivos e os mortos. A visão foi tão real que Pedro só se apegam aos que, pelos seus de-
Algumas narrações evangélicas propôs a Jesus fazer três tabernácu- sejos, os chamam, ou aos que, pe-
parecem confirmar essa última su- los, um para este e os outros dois los seus pensamentos, os atraem.”
posição. Em Lucas (16:27-31), Je- para Moisés e Elias (Mateus, 17:4). (Op. cit., q. 467.)
sus narra a parábola de Lázaro, o Coube aos Espíritos superiores A forma de neutralizar a in-
mendigo, e do homem rico. Após restabelecerem a verdade sobre o in- fluência dos maus Espíritos é a prá-
a desencarnação de ambos, o últi- tercâmbio entre os dois planos de tica do bem e a confiança em Deus.
mo pede ao Espírito Abraão para uma mesma existência: a física e a (Op. cit., q. 469.)
enviar Lázaro, que gozava das bem- espiritual. Na questão 459 de O Li- Se observarmos atentamente os
-aventuranças celestes, para avisar vro dos Espíritos, somos informa- inúmeros acontecimentos de nossas
os cinco irmãos do rico sobre os dos de que os Espíritos influem de existências físicas, podemos encon-
tormentos morais dos que, como tal modo em nossas vidas que, ge- trar, de forma incontestável, a con-
este, desfrutaram egoisticamente das ralmente, eles nos “dirigem”. firmação das informações transmi-
riquezas materiais quando encar- Nossa alma é um Espírito que tidas pelos Espíritos a Allan Kardec.
nados. pensa. E, muitas vezes, vários pen- Sim, nossas vidas e as das pes-
Em resposta, ouve o seguinte: samentos nos ocorrem simultanea- soas que conhecemos, ou não, são
“Têm Moisés e os profetas; ouçam- mente sobre um mesmo assunto. É ricas de fatos atestatórios das in-
-nos.” aí que se misturam com os nossos fluências dos Espíritos sobre os cha-
O rico então replica que se al- os pensamentos dos Espíritos, con- mados vivos. E a destes sobre aque-
gum dos mortos fosse ter com eles, forme lemos na questão 460 da les também é normal, embora nem
arrepender-se-iam. obra supracitada. sempre conscientes disso, assim co-
Mas Abraão lhe diz: “Se não A liberdade de ação cabe a nós, mo as influências dos encarnados
ouvem a Moisés e aos profetas, por isso, afirmam os Espíritos a entre si, que também podem ser os-
tampouco acreditarão, ainda que al- Kardec, não é muito importante tensivas ou ocultas.
gum dos mortos ressuscite.” distinguirmos nossos próprios pen- Filho de pai espírita convicto,
Se essa parábola, ou mesmo samentos dos que nos são sugeri- embora este tenha falecido preco-
a passagem evangélica em que Jesus dos. (Op. cit., q. 461.) cemente, aos cinqüenta e poucos
pede para deixar “aos mortos o A capacidade de distinguir se anos, quando tínhamos onze anos,
cuidado de enterrar seus mortos” um pensamento sugerido procede aos vinte anos iniciamos, de fato,

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nossa participação no Movimento na casa materna, recebemos a liga- “Assim como a Ciência propria-
Espírita do Rio de Janeiro. Por vá- ção de um primo, que mora em mente dita tem por objeto o estu-
rias décadas, ansiávamos por ter Niterói. Espontaneamente, falou- do das leis do princípio material,
uma demonstração patente da so- -nos ter assistido a uma reunião o objeto especial do Espiritismo é
brevivência do Espírito paterno, mediúnica em Minas Gerais, na ca- o conhecimento das leis do prin-
embora tenhamos tido sonhos va- sa da esposa de seu irmão. Essa se- cípio espiritual.” (KARDEC, Al-
gos com ele. Casamo-nos e... nada. nhora, também médium vidente e lan. A Gênese. 22. ed. Rio de Ja-
A esposa, médium vidente, após al- de psicofonia, embora sem nunca neiro: FEB, 1980, cap. I, item 16,
guns anos de casados, afirmou-nos ter conhecido nosso pai, afirmou p. 21.)
tê-lo visto em certa ocasião e, ao para todos os presentes a uma reu- Há poucos anos, participan-
perguntar-lhe, mentalmente, se ele nião do culto do Evangelho em seu do de uma atividade de pesquisa
ficaria conosco, respondeu-lhe que lar que fora informada sobre a si- na Biblioteca de Obras Raras, na
sim, espiritualmente. tuação de diversos Espíritos familia- FEB/Brasília, tivemos a felicidade
Os anos passaram, a vontade de res desencarnados. Concluiu afir- de ler artigos de um “ex-inimigo do
receber notícias do pai inesquecível mando: “De todos, o que está em Espiritismo”: César Lombroso, o
permaneceu, mas também perma- melhor situação espiritual é o famoso psiquiatra e antropologista
necemos calado. Jamais havíamos Sr. Sebastião.” E o identificou co- italiano, criador de uma tese famo-
falado com ninguém sobre esse de- mo tio do meu primo e meu ines- sa, utilizada ainda hoje, pela ciência
sejo. Desde que nos casamos, e há quecível pai. criminológica, para identificar, pe-
mais de vinte anos, cultuamos o los caracteres psicofísicos, a tendên-
Evangelho no lar. Durante esse pe- cia de uma pessoa às atitudes crimi-
ríodo, sempre ouvimos de nossa “O objeto especial nosas, além de outras tendências.
companheira a notícia de que temos Era, então, César, materialista con-
um mentor espiritual, mas nunca fi- do Espiritismo é o victo. (LOMBROSO, César. Hip-
zemos qualquer correlação deste notismo e Mediunidade. Trad. Al-
com a figura paterna. Até que, há al- conhecimento das merindo Martins de Castro. 2. ed.
guns meses, a esposa tornou a vê-lo Rio de Janeiro: FEB, 1974, p. 38).
e, discretamente, transmitiu-nos me- leis do princípio Até ter resolvido participar de algu-
diunicamente a seguinte mensagem: mas reuniões mediúnicas em casa
“Meus filhos queridos, tenho acom- espiritual” de médium famosa, Eusápia Paladi-
panhado-os por todos esses anos. no, que materializou o Espírito da
Presenciei o renascimento de cada mãe de Lombroso. Este ficou tão
um dos seus três filhos e fui encar- É como disse um dia Chico emocionado e estupefato com a
regado de ser o mentor espiritual do Xavier: “o telefone toca de lá para presença e expressões maternas, que
Evangelho no lar de sua família. cá e não de cá para lá”. Quando os não teve mais qualquer dúvida: o
Deixo aqui o meu abraço para todos Espíritos nos julgam merecedores, Espírito de sua mãe viera dar-lhe a
vocês...” E identificou-se. se apresentam para nós, e se fazem certeza da imortalidade da alma.
Era demais; a Espiritualidade conhecer, mas é preciso ter “olhos (Op. cit., p. 56.)
coroava-nos a paciência da espera para ver e ouvidos para ouvir”, co- A partir desse dia, Lombroso se
de mais de trinta anos com a men- mo falava Jesus. Por isso, dizia tornou um dos mais fervorosos di-
sagem daquele que, em vida, na Kardec que o Espiritismo não é vulgadores da Doutrina Espírita e
curta convivência dos nossos onze Ciência, no sentido comum dessa autor da obra Hipnotismo e Me-
anos, tínhamos como o modelo de palavra. É Ciência de observação. diunidade, traduzida pela Federa-
honestidade, de elevação moral e de Embora também se lhe aplique o ção Espírita Brasileira, em que en-
pai ideal. método experimental, requer todo foca, à luz da Ciência espírita, a
Pouco tempo após, viajamos um procedimento que deman- realidade dos fenômenos mediú-
para o Rio de Janeiro e, abrigados da esforço, crescimento espiritual. nicos. >

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> Na obra E a Vida Continua..., Espíritos inspiram-nos bons pensa- piritual”.) afirma-nos: “Nos transes
cap. 25, “Nova diretriz”, ditada pe- mentos, fazem-nos todo o bem que aflitivos a criatura demonstra sem-
lo Espírito André Luiz a Francisco podem e se rejubilam com as nos- pre onde se localizam as forças ex-
Cândido Xavier, é narrado o caso sas alegrias. Os nossos males morais teriores que lhe subjugam a alma.”
da influência, mente a mente, entre os afligem mais do que os físicos. E, como mais elevada companhia,
o Espírito Evelina Serpa e seu ex- (O Livro dos Espíritos, q. 486 e cita a do próprio Criador junto de
-marido, Caio Serpa, que ainda se 487.) nós, como sempre esteve junto do
encontrava encarnado. Temos, ainda, além da prote- Cristo, conforme atestam suas pa-
A esposa desencarnada busca- ção dos parentes e amigos que nos lavras em João, 16:32: “Não estou
va atuar sobre os pensamentos de precederam na “outra vida”, a do só, porque o Pai está comigo.”
Caio, objetivando influenciá-lo na nosso Espírito protetor, comumen- Se também estivermos em per-
decisão de consorciar-se com Vera, te chamado anjo de guarda. (Op. feita sintonia com Jesus, o Pai tam-
jovem por quem ele se apaixonara, cit., q. 489 e seguintes.) bém estará conosco, assim como to-
mas se encontrava indeciso entre as- Todo o nosso relacionamento dos os Espíritos que Ele destinou
sumir ou não um compromisso de com os Espíritos está na base da para nos instruir, testar o nosso
maior responsabilidade, como o de sintonia. Se nos ligarmos aos maus, equilíbrio, evoluir conosco.
um segundo casamento. os bons se afastam, se cultivarmos o É a lei de solidariedade, junto
O casamento entre Caio e Ve- bem, estes se aproximam e aqueles à de justiça, amor e caridade, que
ra ajudá-los-ia a se reajustarem an- se afastam ou se convertem ao bem. regem os nossos destinos e nos soli-
te a lei de causa e efeito, como de Não foi por outra razão que Jesus citam, permanentemente, o bom
fato ocorreu. nos recomendou: “Vigiai e orai, pa- uso do livre-arbítrio, a fim de que
A influência dos Espíritos po- ra não entrardes em tentação.” as boas influências espirituais se re-
de, entretanto, ser boa ou má. Os (Mateus, 26:41; Marcos, 14:38.) flitam em nossos pensamentos, pa-
maus inspiram-nos maus pensa- O Espírito Emmanuel, no li- lavras e atos. Por isso, a sabedoria
mentos, “sopram a discórdia” entre vro Caminho, Verdade e Vida, psi- popular já afirma: “Dize-me com
nós, insuflam-nos as “más paixões” cografado por Francisco Cândido quem andas e te direi quem és”.
e nos “exaltam o orgulho”. Os bons Xavier (Lição 170: “Domínio Es-

Isolamento
Corydes Monsores

Se nos fosse possível o isolamento


e, isolados, pudéssemos seguir Na convivência a alma cai em si,
sem sofrer nem causar constrangimento se chora, se padece, também ri
que nos prejudicasse no porvir; ao descobrir, na caridade, a luz.

se nos fosse possível o encantamento


dos prazeres viver, sem dor sentir, Por isso conviver é importante
bloquearíamos nosso sentimento troca de experiências, incessante
prejudicando o eterno progredir. aprendizado aos olhos de Jesus.

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O Espiritismo hoje Robinson Soares Pereira

Ao contrário do que pensam não à salvação dos espíritas, como


alguns poucos pessimistas, o Espi- costumam pregar nos seus cultos,
ritismo tem crescido sim, e muito. mas como uma real possibilidade
O esvaziamento verificado em de- de perda de seus fiéis, caso esses
terminados agrupamentos espíritas descubram o que de fato é o Espiri-

N
ascido há 146 anos, o Espiri- dá-se, não raro, por dirigentes des- tismo como doutrina do amor ver-
tismo surgiu como o Conso- preparados para a função de direção dadeiro, não discriminatório, nem
lador prometido por Jesus, de uma instituição espírita, que aca- apelativo, mas de acordo com o
conforme João (14:15-17 e 26), pa- bam arvorando-se como verdadei- Mandamento Maior da Lei, dado
ra trazer ao mundo a revelação da ros “donos do centro espírita”, afas- por Jesus (Mateus, 22:34-40).
Boa Nova do Cristo visando à liber- tando muitos potenciais trabalha- De outro lado, caminhando
tação da Humanidade de dogmas, dores que, por seu lado, também junto com a Ciência, o Espiritis-
ao ensinamento de novas verdades, são incapazes de superar os melin- mo, em alguns centros de estudo
à correção dos desvirtuamentos na dres para fazerem prevalecer, sobre sérios, está colaborando para des-
doutrina original do Cristo e à con- os seus sentimentos, o sentimento vendar o grande mistério da Ciên-
solação dos aflitos de todos os ma- maior pelo engrandecimento da cia do Espírito, que em futuro, já
tizes. Causa de Deus. não tão longínquo como outrora,
Sem a preocupação de fazer possibilitará esclarecer os enigmas
prosélitos a todo custo, como ensi- da vida pós-matéria e os grandes
nava Allan Kardec, o Codificador, conflitos do homem vivente no
a divulgação da Doutrina Espírita O Espiritismo, em corpo material, preocupando-se
vem crescendo muito através do não com o “Ter”, mas com o “Ser”
Movimento Espírita, graças à tare- alguns centros de de todos nós: o maior desafio de
fa abnegada de muitos dos seus di- conquistarmos a nós mesmos, ven-
rigentes, sobretudo pela necessida- estudo sérios, está cendo primeiro a luta interior con-
de premente da população de tra as nossas imperfeições, para de-
encontrar uma religião segura, sem colaborando para pois podermos dizer que vencemos
falsas promessas, ou engodos de to- o mundo: o mundo da indiferen-
da a sorte. desvendar o grande ça diante do sofrimento alheio, do
Com milhões de seguidores egoísmo destruidor, do orgulho
no Brasil e no Exterior, a Doutri- mistério da Ciência sem sentido; enfim, das nossas ma-
na dos Espíritos Superiores está zelas humanas na busca da angeli-
paulatinamente ocupando um lu- do Espírito tude, já que nascidos de Deus, pa-
gar de destaque nos meios científi- ra Deus estamos voltando.
cos, acadêmicos, artísticos e cul- O Espiritismo tem demonstra-
turais. Mas não deixando de avan- O Espiritismo, em função do do que nos dias atuais é, sem dúvi-
çar na grande camada humilde da seu crescimento, tem incomodado da alguma, a doutrina mais apta a
população, que é seu maior objeti- alguns dirigentes de seitas e até secundar o movimento de regene-
vo, já que esses são os mais necessi- mesmo de algumas religiões cente- ração da Humanidade na busca de
tados de consolo. nárias, que vêem nele uma ameaça, dias melhores.

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A era Psi
Adésio Alves Machado

píritos. Abriam-se os caminhos, era dos, fez-se visível; facilmente verifi-


indubitável. cáveis se tornaram seus fenômenos
Nessa época, o Clero mostrou- quando, nas experimentações, ha-
-se ainda mais preocupado, sofreu via a ausência do preconceito, da
forte abalo, tendo em vista que ho- má-vontade, ou seja, quando eram

O
homem navega desde muito mens sérios, de ciência, seus gran- eles observados por pessoas experi-
tempo na era Psi, a letra gre- des e ferrenhos adversários, tivessem mentadas na prática da mediunida-
ga designadora dos fenôme- passado a estudar com freqüência de, e não pelos que nada sabiam, e
nos parapsicológicos que se vêm os fenômenos estranhos, com isso que se limitavam a negar o incom-
tornando constantes no campo chegando cada vez mais perto das preendido.
psicológico da vida humana. afirmações fenomenológicas espiri- Chegou-se, como explicação, a
Joseph Banks Rhine forneceu, tistas. aventar a idéia de que a materializa-
com suas pesquisas, as armas ou os O corpo bioplásmico surgiu na ção de Espírito, realizada com a
elementos aos que combatiam, e Rússia, na Universidade de Kirov, participação da médium russa Sta-
quiçá ainda hoje continuem a com- justamente numa terra em que há nislava, era um desdobramento de
bater, os fenômenos espíritas. Não até hoje, menos agora do que anti- sua metade, ou seja, ela se dividia
era, em verdade, uma negação da gamente, um certo predomínio das em duas personalidades, o que con-
existência dos fenômenos, pois que idéias marxistas materialistas, ou, trariava, frontalmente, o que ocor-
se constituíam em fatos difíceis de no mínimo, uma reminiscência do ria, tendo em vista que eram duas
não serem aceitos, porém, a nega- materialismo científico. A prova personalidades a se mostrarem psi-
ção do modelo de explicações espí- científica da sobrevivência da alma cológica e fisicamente distintas.
ritas quanto aos seus fenômenos, os desenhava-se a olhos vistos. O cor- Os recursos utilizados pelos
quais eram tidos como fora do na- po espiritual decantado pelo Após- misoneístas de todos os tempos são,
tural... tolo Paulo mostrava-se às vistas atô- foram e serão sempre os mesmos,
J. B. Rhine continuou os seus nitas dos homens de ciência da pois que se baseiam em não quere-
esforços de pesquisador e, por fim, Rússia, causando perplexidade, cla- rem acreditar. Para eles é o que bas-
chegou à evidência de que “há no ro, dando cabal razão às realidades ta, mesmo que as provas os agridam
homem um conteúdo extrafísico e anunciadas pelo ousado Espiritis- afrontosamente.
que a mente sobrevive à morte do mo. Segundo Herculano Pires, hou- Arthur Colan Doyle, famoso
corpo, a percepção extrasensorial ve verdadeiro alvoroço nas hostes escritor inglês, autor das histórias de
era uma realidade”. dos “mágicos de picadeiro, jejunos Sherlock Holmes, que chamou
Não obstante todas as negati- em ciências, trânsfugas da razão, Léon Denis de o Druida de Lorena,
vas que tentavam obstaculizar o intoxicados de incoerência cantan- e que mais tarde escreveu a Histó-
avanço do Espiritismo, foram um do de galo nas rinhas da ignorân- ria do Espiritismo, numa de suas
sucesso as experiências de voz-dire- cia”. Referia-se ele aos cientistas in- conferências, realizada em Paris, em
ta levadas a efeito em Londres e as transigentes e aos clérigos obsti- 1920, ressaltou palavras deste após-
explicações sobre as assombrações, nados. tolo de Allan Kardec, segundo o
muito comuns em palácios e resi- A mediunidade, que outra coi- qual estava mais do que claro que
dências da capital inglesa, que nada sa não é senão o intercâmbio de o século XX veria a vitória do Es-
mais seriam do que manifestações idéias realizado pelas mentes dos piritismo. Léon Denis não se enga-
dos chamados mortos, ou dos Es- Espíritos encarnados e desencarna- nou, porque, exatamente, é isto que

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mais se comprova com o passar dos nar os sentidos arrefeceu, trocou de serem estudadas pelo ser humano.
anos. lugar com o uso da razão, da lógica Ali ele certamente encontrará recur-
Nesse século, então, presen- e do bom senso, qualidades carac- sos inteligentes para uma transfor-
ciou-se não os adeptos espíritas em- terísticas do nobre Codificador do mação intelecto-moral, a qual via-
penhados em comprovar suas afir- Espiritismo, Allan Kardec, que sou- bilizará o seu ingresso na falange de
mações fenomênicas mediúnicas, be assentar toda a sua inteligência fiéis trabalhadores de Jesus.
mas os cientistas bafejados pelas lu- no princípio científico de que “to- Os Espíritos desencarnados es-
zes da Espiritualidade aceitando co- do efeito tem sua causa, e que se o tão associados aos encarnados, nu-
mo fatos os fenômenos espíritas. efeito é inteligente a causa há de ser ma tarefa santificante, como diz o
Chega a era de Freud no cam- também inteligente”. Assim ele che- Espírito Lacordaire, em mensagem
po psicológico, a qual inaugura os gou aos Espíritos e aos fenômenos encontrada em O Evangelho segun-
tempos da Psicanálise, que atingiu provocados por eles. Rapidamente do o Espiritismo (capítulo XVI,
o seu auge com Jung revelando os compreendeu que tudo quanto item 14), para, juntos, consegui-
seus arquétipos, os quais somente acontecia de estranho no lado es- rem a regeneração do homem,
tiveram realidade, devidamente piritual da vida podia ser estudado usando estas palavras: “(...) Nós nos
comprovável, porque vicejaram na e que havia uma finalidade prepon- devemos uns aos outros; somente
dimensão dos Espíritos. O espiri- derante: a de acordar a mente hu- pela união sincera e fraternal entre
tual seria, como está sendo, bem mana para a nossa imortalidade, os Espíritos e os encarnados será
conhecido de todos, numa aceita- para a vida além da sepultura e que possível a regeneração.” Depois de-
ção crescente, sem o enfrentamen- Jesus era e é o Guia e Modelo da monstra que os bens terrenos são
to de maiores barreiras. Humanidade. um dos maiores óbices para o nos-
A era Psi prossegue com as lu- Não cessarão jamais os fenô- so adiantamento moral e espiritual.
zes cada vez mais brilhantes e difun- menos e o crescente número dos Desapeguemo-nos deles, antes que
didas pelas terras do Brasil e de que adotam o Espiritismo como deles sejamos prisioneiros, escra-
além-mar, malgrado os ventos bra- a Ciência, a Filosofia e a Religião a vos.
vios da ignorância humana, cuja
predisposição atávica é pelo como-
Nossos Colaboradores
dismo, pelo mais fácil, não se empe-
nhando pelo estudo que leva à acei-

A
tação das verdades espíritas, tendo gradecemos aos nossos colaboradores a sua valiosa con-
por meta conduzir a todos, que a ele
tribuição para que Reformador continue mantendo sua linha
se filiarem, à perfeição espiritual,
desde que abracem de forma deste- editorial de divulgação da Doutrina Espírita no tríplice aspecto
mida e com amor os ensinos crísti- de Ciência, Filosofia e Religião. A limitação de espaço nem sem-
cos como norma de conduta. pre nos permitiu publicar os artigos logo após seu recebimento
Saibamos, e nunca é demais sa- pela Redação, obrigando-nos a retê-los para inclusão em edições
lientar, que não basta abraçar o Es- futuras. A fim de evitar esse transtorno, aumentamos a quanti-
piritismo. É necessário, imprescin- dade de páginas de texto, de 32 para 40, a partir de janeiro deste
dível mesmo, sermos por ele abra- ano.
çados, o que significa vivermos os
seus postulados doutrinários. Em face de programarmos nossas edições com antecedência,
Os fenômenos que envolvem o solicitamos aos colaboradores o obséquio de anteciparem de dois
psiquismo são os mesmos de antes, a três meses a remessa dos artigos que se reportarem a datas e
comandados pela mediunidade, só temas específicos: Ano-Novo, Allan Kardec, O Livro dos Espíri-
que menos freqüentes, tendo em tos, Dia das Mães, Natal, etc.
vista que a fase de despertamento
através da necessidade de impressio-

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Por que dizer não ao carnaval?


Bittencourt Rezende di Nápoli

os títulos de civilização. Enquanto vida, afim de que se transforme o


os trabalhos e as dores abençoadas, supérfluo na migalha abençoada de
geralmente incompreendidos pelos pão e de carinho que será a esperan-
homens, lhes burilam o caráter e ça dos que choram e sofrem? Que
os sentimentos, prodigalizando-lhes os nossos irmãos espíritas com-

E
ncontramos na humilde bi- os benefícios inapreciáveis do pro- preendam semelhantes objetivos de
blioteca de nosso estimado gresso espiritual, a licenciosidade nossas despretensiosas opiniões, co-
pai, o Sr. Leonardo di Nápoli desses dias prejudiciais opera, nas al- laborando conosco, dentro das suas
Filho, em um livro intitulado Se- mas indecisas e necessitadas do am- possibilidades, para que possamos
menteira Cristã, publicado pela paro moral dos outros espíritos mais reconstruir e reedificar os costumes
FEB em 1939, de autoria de Clovis esclarecidos, a revivescência de ani- para o bem de todas as almas.
Tavares, dedicado estudioso espírita malidades que só os longos apren- É incontestável que a sociedade
de Campos, Estado do Rio de Janei- dizados fazem desaparecer. pode, com o seu livre-arbítrio cole-
ro, no capítulo XXIII, bela historie- Há nesses momentos de indis- tivo, exibir superfluidades e luxos na-
ta denominada “Nos três dias de ciplina sentimental o largo acesso babescos, mas, enquanto houver um
Carnaval”. Na parte final deste capí- das forças da treva nos corações e, mendigo abandonado junto de seu
tulo foi colocada a bibliografia e a às vezes, toda uma existência não fastígio e de sua grandeza, ela só po-
linda mensagem de nosso querido basta para realizar os reparos preci- derá fornecer com isso um eloqüen-
Emmanuel, guia do Apóstolo da sos de uma hora de insânia e de es- te atestado de sua miséria moral.”
Mediunidade Francisco Cândido quecimento do dever.
Xavier, por este psicografada em ju- Enquanto há miseráveis que ...
lho de 1939, a qual transcrevemos estendem as mãos súplices, cheios Amigo leitor, esta mensagem já
abaixo: de necessidade e de fome, sobram completou 63 anos e continua
as fartas contribuições para que os atualíssima.
Sobre o carnaval salões se enfeitem e se intensifique Sabemos que nós, espíritas, que
o olvido de obrigações sagradas por desejamos cumprir nossos deveres
“Nenhum espírito equilibrado parte das almas cuja evolução de- diante da oportunidade que Jesus
em face do bom senso, que deve pende do cumprimento austero dos nos concede na reencarnação atual,
presidir a existência das criaturas, deveres sociais e divinos. devemos analisar com segurança a
pode fazer a apologia da loucura ge- Ação altamente meritória seria orientação de nosso instrutor espiri-
neralizada que adormece as cons- a de empregar todas as verbas con- tual, justamente pela clareza de sua
ciências nas festas carnavalescas. sumidas em semelhantes festejos, exposição de idéias, principalmente
É lamentável que, na época na assistência social aos necessitados no que diz respeito ao encaminha-
atual, quando os conhecimentos no- de um pão e de um carinho. mento melhor dos recursos pecuniá-
vos felicitam a mentalidade huma- Ao lado dos mascarados da rios que são desperdiçados por oca-
na, fornecendo-lhe a chave maravi- pseuda-alegria, passam os leprosos, sião dos festejos de Momo.
lhosa dos seus elevados destinos, os cegos, as crianças abandonadas, Não podemos entregar-nos a
descerrando-lhe as belezas e os obje- as mães aflitas e sofredoras. Por que estes desvios que nos conduzem ao
tivos sagrados da Vida, se verifi- protelar essa ação necessária das for- “materialismo dissolvente”.
quem excessos dessa natureza entre ças conjuntas dos que se preocu- Nestes festejos, em seus quatro
as sociedades que se pavoneiam com pam com os problemas nobres da principais dias, ocorrem as grandes

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calamidades sociais como: atropela-


mentos, crimes, assaltos e outras
infelizes barbaridades catalogáveis
II Encontro Nacional de
pela polícia e pela medicina socor-
rista.
Nosso elevado destino é o pro-
Coordenadores de ESDE
gresso, a evolução espiritual para
atingirmos melhor patamar na es- Transformai-vos pela reno- ESDE; e) propor ações para a di-
piritualidade que cedo ou tarde nos vação da vossa mente. Pau- namização da Campanha do ES-
aguarda. DE; f ) comemorar os 20 anos do
O instrutor espiritual Hum- lo (Romanos, 12:2). lançamento da Campanha do ES-
berto de Campos, que posterior- DE em nível nacional.
mente se cognominou Irmão X, pe- A Federação Espírita Brasileira O II Encontro Nacional de
la singular psicografia de Chico realizará, nos dias 25, 26 e 27 de Coordenadores de ESDE consti-
Xavier, nos informa que “as pessoas julho de 2003, em sua sede em tuir-se-á, dessa forma, em oportu-
passam o ano inteiro mascaradas e Brasília, o II Encontro Nacional de nidade excelente não só para a ava-
nos dias de Momo retiram as más- Coordenadores de ESDE, em co- liação do estágio atual do ESDE
caras”; muitos companheiros, até memoração dos vinte anos da em todo o Brasil, como também
dentro das hostes espíritas, nos di- Campanha do Estudo Sistematiza- para a elaboração de metas com vis-
zem que o carnaval é alegria; pode do da Doutrina Espírita, lançada, tas à dinamização da Campanha
até ser, mas é uma alegria negativa. em novembro de 1983 pelo Con- em referência.
Nestes dias de Momo os Espí- selho Federativo Nacional da FEB. Assim, a participação no even-
ritos vinculados às regiões umbrali- Os Coordenadores e Monitores de to e o empenho na aplicação dos
nas aproveitam para exercer suas fa- ESDE serão o público-alvo desse seus resultados serão a nossa melhor
culdades de vampirismo, sugando Encontro, podendo cada Federati- contribuição para que o Estudo Sis-
as energias dos nossos desavisados e va dele participar com até quatro tematizado da Doutrina Espírita
incautos irmãos. representantes. possa, de fato, como afirmou Kar-
Precisamos ajudar os nossos jo- Tendo por eixo temático a dec em Obras Póstumas, exercer
vens a definirem o que deverão fa- exortação de Paulo de Tarso, em capital influência sobre o futuro do
zer nesses dias em que ocorrem tais epígrafe, o II Encontro Nacional de Espiritismo e sobre suas conseqüên-
festejos, que têm causado tantas in- Coordenadores de ESDE buscará cias.
felicidades em nossa comunidade; atingir os seguintes objetivos:
existem tantas tarefas a executar e Objetivo geral: refletir sobre o REFORMADOR ENCADERNADO
muitas delas bastante inovadoras objetivo do ESDE e sua importân-
A coleção completa, com ín-
abrindo um grande leque para se cia como instrumento de transfor-
dice alfabético das matérias, de Re-
portarem com legítima fraternida- mação do ser. formador de 2002, título em grava-
de e solidariedade cristã. Objetivos específicos: a) evi- ção dourada, está à venda na
Neste Terceiro Milênio, necessi- denciar as conseqüências do ESDE Livraria da FEB, na Avenida Pas-
tamos oferecer o melhor a Jesus, pa- para o indivíduo, para as Casas sos, 30, Rio de Janeiro-RJ.
ra que a Doutrina Espírita seja com Espíritas e para a Sociedade; Os interessados não-residentes
toda força “Uma Nova Era para a b) apontar problemas e propor so- no Rio de Janeiro poderão endere-
Humanidade”, conforme nos infor- luções para o bom funcionamento çar o pedido de seu exemplar para a
mou o Codificador – Allan Kardec. do ESDE; c) avaliar a atual situa- Rua Souza Valente, 17, CEP 20941-
Façamos o que nos dizem os ção da Campanha do ESDE; -040 – Rio de Janeiro-RJ.
instrutores espirituais: “Valorize- d) trocar experiências sobre a im- Algumas coleções de anos an-
mos o tempo para que o tempo plantação, a manutenção e o acom- teriores igualmente estão à venda.
nos valorize.” panhamento da Campanha do

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SEARA ESPÍRITA

Paraná: Reunião Inter-Regional sidente da FEB, Nestor João Masotti. Tema central –
A Comissão Inter-Regional, que abrange as áreas das A Contribuição da Doutrina Espírita na Transfor-
Uniões Regionais Espíritas das 2a e 12a Regiões – ór- mação Social.
gãos da Federação Espírita do Paraná –, realiza no dia
16 do corrente mês, no Centro de Desenvolvimento São Carlos (SP): CONRESPI 2003
Tecnológico de Guarapuava, a Reunião Inter-Regio- A USE Intermunicipal de São Carlos sedia, no perío-
nal Centro, com o seguinte programa: Seminário Ge- do de 1o a 4 de março corrente, a XXI CONRESPI –
ral – Influência espiritual paralisante; Seminários Se- Confraternização Regional Espírita – promovida pela
toriais: a) Área Administrativa/Institucional – Coe- USE Regional de Ribeirão Preto, com o tema central
rência administrativa; b) Área Doutrinária/Difusão – Sexualidade – Uma abordagem espírita, subdividido
O espírita: lucidez; c) Área de Infância e Juventude – em quatro módulos: O Espírito e o sexo, Espíritos, co-
A pedagogia do amor; d) Área de Assistência Social -criadores com Deus, O Jovem no Mundo e Sexo com
Espírita – A caridade do esclarecimento. responsabilidade. A palestra de abertura é proferida por
Júlia Nezu,Vice-Presidente da USE Estadual, com o
FEERJ (RJ): Projeto Água Viva tema A influência moral do médium.
A Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro pro-
moveu, nos dias 1o e 2 de fevereiro, o Seminário “Pro- Suécia: Reunião da Coordenadoria Europa do CEI
jeto Água Viva” – Os pilares da Educação sob a ótica A Coordenadoria Europa do Conselho Espírita Inter-
espírita –, com os educadores de Natal (RN) Sandra nacional (CEI) realizará sua sexta reunião em Esto-
Borba Pereira e Francisco de Assis Pereira. colmo, de 9 a 11 de maio de 2003, a qual tratará de
diversos assuntos de interesse dos países-membros do
Itália: Livros espíritas em italiano CEI, assim como da realização, em 2004, do 4o Con-
O novo catálogo das “Ediziones Mediterranee”, com gresso Espírita Mundial, em Paris.
116 páginas, contém as obras completas de Allan
Kardec, grande parte das obras escritas por León De- Congresso de Cegos Espíritas
nis, Emanuel Swedenborg, Ernesto Bozzano e Arthur O I Congresso Internacional de Cegos Espíritas deve-
Conan Doyle. rá realizar-se no Rio de Janeiro (RJ), de 17 a 20 de
As Casas Fraternais O Nazareno, de Santo André abril deste ano, com um programa de palestras, reu-
(SP), presididas por Dorival Sortini, já traduziram pa- niões de grupos e atividades artísticas, cujos temas
ra o italiano mais de 40 títulos de livros espíritas psi- abordarão a deficiência visual à luz do Espiritismo, o
cografados por Francisco Cândido Xavier e Divaldo livro espírita em Braille, entre outros. A promoção é
Pereira Franco, de autoria dos Espíritos Emmanuel e da Sociedade Pró-Livro Espírita em Braille (SPLEB)
Joanna de Ângelis. As obras são distribuídas na Itália e as informações sobre o evento podem ser obtidas pe-
através da Livraria “Ilponte” (Via Delle Legue, 5 – lo telefone (21) 288-9844 e fax (21) 572-0049.
Milão - Itália; e-mail: libreria@ilponte.it).
Porto Rico: Congresso Espírita
Encontro Espírita de Sergipe e Alagoas A Escuela de Consejo Moral De Puerto Rico, Inc. no
Realizou-se na cidade de Penedo (AL), no Teatro 7 de 499 promoveu, no período de 27 de fevereiro a 2 de
Setembro, em 16 de fevereiro passado (e não em 16 março corrente, o Congresso Espírita Portorriquenho
de dezembro/2002, como noticiado na Seara Espíri- 2003, no Centro de Belas Artes Angel O. Berríos, ci-
ta de janeiro) o I ENESEAL – Encontro Espírita de dade de Caguas, com o tema central Espiritismo: O
Sergipe e Alagoas –, promovido pelas Federações Es- Consolador Prometido para a Transformação da Hu-
píritas dos referidos Estados, com o apoio da Prefei- manidade, desdobrado em 18 subtemas. O evento
tura Municipal de Penedo, do qual participou o Pre- contou com a participação de Divaldo Pereira Franco.

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