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E.

E: experiência de encontro com o Cristo das estradas


poeirentas
“Se você não mover os pés, não reconhecerá o ritmo da vida”

Os Exercícios Espirituais são o fruto de um caminho de fé vivido por S. Inácio.


Para ele, o caminho não é só o trajeto de uma pessoa para Deus, mas também o
trajeto de Deus em sua aproximação à pessoa.
A realidade está dominada por um Deus que também empreendeu um caminho
para o homem.
O ser peregrino por parte do homem corresponde ao ser peregrino por parte
de Deus.
O caminho se converte, então, em caminho para um encontro mútuo, um
encontro de dois peregrinos.
S. Inácio não fecha em nenhum momento o encontro pessoa-graça; ao
contrário, ele o projeta para o fu-
turo, para situações inéditas, para horizontes desafiadores...
Esse horizonte sempre aberto é, no entanto, essencialmente im-
previsível e em contínuo desafio, ao qual se abre o peregrino.
“Sou uma partida em todas as portas” (Zaratustra).

Os E.E. não ensinam chegadas, só partidas.


Esse é o desafio: “entrar” no caminho de Deus é viver em terra de andanças.
É a pura alegria de navegar; é preferível navegar a atracar no porto.
“Antes navegar, livre, nos mares da incerteza, na esperança de horizontes,
que habitar, seguro, nos charcos onde o naufrágio é impossível...” (Rubem Alves)
Guimarães Rosa dizia que a coisa não estava nem na partida e nem na chegada,
mas na travessia.
“Não tenho caminho novo. O que tenho de novo é o jeito de caminhar” (Thiago de Mello).

Nos E.E., o encontro pessoa-graça evolui como um caminho que basicamente é


inédito. Não há caminho, mas caminhos; não há traçado comum, mas
trajetórias diferentes, ainda que confluentes.
Para S. Inácio, fica possibilitada sempre a aparição de uma resposta de
seguimento que não é única em seu formato final, mas plural. E isso porque em
sua base há uma palavra soberana de Deus dirigida à liberda-
de soberana de sua criatura. De ambas nascerá uma resposta selada por uma
originalidade singular.
A “dynamis” do encontro pessoa-graça se configura como um caminho de
cristificação.
A “busca” ou a “eleição” à qual se convida o exercitante, se há de fazer
“juntamente” (EE. 135) com a contemplação da vida de Cristo. A liberdade
não está desprovida de referência, senão que se apóia nos marcos decisivos da
existência de Cristo.
Cristo é o modelo de toda peregrinação; com sua peregrinação Ele abre possibilidade de outros cami-
nhos. O Rei Eterno convoca a um seguimento que não está desligado de seu próprio destino: sua oferta
é um “quem quiser vir comigo há de trabalhar comigo, para que, seguindo-me na pena,
também
me siga na glória” (EE. 95). Em suma, o parâmetro de evolução espiritual é o próprio Cristo e sua
vida.

Jesus, o Homem dos Caminhos, chama para uma Vida nova. Chama na vida e
para a vida e põe as pessoas em movimento, a caminho. A “pegada” que Ele
deixa ao passar é sua própria Vida partilhada.
Jesus é o homem que se definiu. Ele tem um sonho, um projeto. E surge diante
dos homens com força pessoal capaz de sacudí-los e colocá-los em movimento.
Ele “passa” e sua presença os atrai arrancando-os da acomodação.
Faz-se do chamado um caminho, quando se partilha a vida com quem chamou.
Responder ao chamado feito por Jesus significa tornar esse chamado um caminho
de entrega e de serviço.
- a quê sou chamado?

Textos bíblicos: Lc. 5,1-12 Mt. 4,17-25

Na oração: Jesus das estradas poeirentas


“Dá-me percorrer contigo, Senhor, tua terra de andanças. Dá-me seguir-
te a Ti somente.
Tu passaste deixando tuas “pegadas” no pó da estrada, e sem
perguntar “por que” muitos te seguem. Vás sem
nada, peregrino, caminhando qual romeiro; e vás chamando
seguidores, que te seguem sem nada levar.
Quem se atreve a pisar descalço tuas pegadas, sempre em marcha? A cidade não é teu
caminho, é dura para as tuas sandálias. Gostas de deixar na terra a marca de tuas
pegadas. Senhor dos Caminhos, que tiras as pessoas da segurança, das suas casas, de
seus bens... e as atrai para seguir teu passo, feito atalho estreito, um convite para ir
onde quer que vás.
Quero ser caminhante, de coração pobre e livre, feito tenda aberta em teu chamado.
Amém!”

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