You are on page 1of 23

MBA-Empresarial em Planejamento e

Gestão de Negócios
Disciplina: Economia para Executivos

APOSTILA:

Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................................................... 1

CENÁRIO MICROECONÔMICO....................................................................................................................... 3

Planejamento estratégico .................................................................................................................................. 3

1. O que vem a ser Planejamento Estratégico.................................................................................................. 3

2. Por que planejar ............................................................................................................................................ 3

3. Como aplicar o Planejamento Estratégico .................................................................................................... 3

4. O planejamento estratégico de negócios ...................................................................................................... 3

CENÁRIOS MACROECONÔMICOS ................................................................................................................ 8

1. Os indicadores econômicos agregados PIB e PNB ...................................................................................... 8


1. PIB nominal e PIB real .............................................................................................................................. 8
2. PIB e PNB (produto nacional bruto).......................................................................................................... 8
3. PIB per capita............................................................................................................................................ 8
4. Fatores em geral ....................................................................................................................................... 9

2. Inflação .......................................................................................................................................................... 9
1. Conceito de inflação................................................................................................................................ 10
2. Distorções do processo inflacionário ...................................................................................................... 10
3. Indicadores de inflação ........................................................................................................................... 11

3. A formação da Taxa de Câmbio.................................................................................................................. 13

4. O Balanço de Pagamentos.......................................................................................................................... 14

5. Risco Brasil e o Custo Brasil ....................................................................................................................... 18

2
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
INTRODUÇÃO

O ambiente empresarial brasileiro é muito dinâmico e mutável, devido à globalização, a mudanças


tecnológicas e à evolução político – econômica do país em busca do desenvolvimento, o que cria a
necessidade, entre as empresas brasileiras, de encontrar abordagens explícitas para lidar com a turbulência
e com a incerteza.
A estrutura industrial está em constante modificação, e as empresas, dentro de cada uma as indústrias,
enfrentam incertezas quanto ao rumo que estas mudanças podem tomar. A partir desta percepção, muitos
métodos tem sido desenvolvidos por pesquisadores e empresas para lidar com estas incertezas.
Porter (1990) trabalha diretamente com cenários industriais e baseia seu método no conceito das cinco
forças competitivas. Essas forças são fatores motores do mercado e grandes fontes de incerteza. Elas
estão representadas no diagrama que segue:

Fonte: Porter (1990)


Porter inicia a construção de cenários analisando a estrutura atual da indústria e monitorando todas as
incertezas que podem afetá-la. Enquanto Shoemaker (1995) começa definindo especificações do método,
Porter define o escopo e o método conforme a projeção evolui. Vamos dar preferência ao método de Porter
por ser mais analítico e conciso.
O método proposto por esse autor, a princípio parece simples, porém a determinação integral das
incertezas pode ser difícil até que tenham sido analisados alguns cenários preliminares, daí a importância
do ciclo de feedbacks. Porter a propõe durante diversas etapas do método, conforme mostra o diagrama a
seguir:

1
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
Fonte: Porter (1990)

Buscando uma visão mais detalhada do processo, pode-se identificar as seguintes etapas:
O processo começa com a identificação da incerteza nas indústrias, para o que, os elementos da estrutura
industrial devem ser divididos em: constantes, predeterminados e incertos. Elementos constantes são os
que raramente sofrem mudanças. Elementos predeterminados são áreas sujeitas a mudanças, mas estas
são, em grande parte, previsíveis. Os elementos incertos são os que, de fato, determinam os diferentes
cenários, são aqueles sobre os quais existe uma grande incerteza e que poderão caracterizar o
desenvolvimento de diferentes cenários.
Todas as tendências relevantes à incerteza devem ser monitoradas, principalmente as menos aparentes,
para se evitar omissão de fontes importantes de incerteza. As mudanças mais difíceis de prever acontecem
fora da indústria, como evolução tecnológica e novos entrantes.
As incertezas podem ser dependentes ou independentes. As incertezas independentes não dependem de
quaisquer outros elementos da estrutura industrial. Estas são de fato as variáveis críticas na formulação de
cenários. As incertezas dependentes são determinadas pelas incertezas independentes. A separação dos
elementos da estrutura industrial em variáveis de cenários e variáveis dependentes exige que se
identifiquem certos fatores causais de elementos da indústria. São esses fatores causais os responsáveis
por determinar a variedade apropriada de suposições a serem feitas sobre cada variável de cenário.
Um cenário tem como base suposições plausíveis sobre as variáveis de cenários, derivadas de fatores
causais. A variedade de suposições sobre os possíveis resultados das variáveis determina o conjunto
apropriado de cenários. Deste modo, existem duas maneiras de limitarmos a proliferação de cenários:
reduzindo o número de variáveis de cenários ou de suposições sobre elas.
O segundo passo seria verificar se as variáveis são realmente incertas e independentes, para depois
verificar se realmente deve haver um impacto potencial sobre a indústria. Em seguida, devem-se especificar
as suposições sobre cada variável, escolhidas segundo os seguintes fatores: necessidade de ressaltar a
incerteza; regularidade do impacto sobre a estrutura; convicções do gerente; e praticidade.
Nossa proposta neste módulo, é trabalhar com algumas idéias propostas por Porter (1990), mas somá-las
as interpretações de Treacy e Wiersema(1999) e Kotler (2000), no que diz respeito a uma análise do setor
industrial e portanto, uma análise microeconômica, juntamente por uma análise que vise aclarar os rumos
da política macroeconômica, fundamental na tomada de posição estratégica em qualquer organização.

2
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
CENÁRIO MICROECONÔMICO

Planejamento estratégico
KOTLER, P. Administração de marketing: edição do milênio. São Paulo: Alas, 2000

É cada vez maior o número de empresas que diante da complexidade no cenário empresarial e de tantas
turbulências e incertezas, estão buscando ferramentas e técnicas para que as auxiliem no processo
gerencial. O Planejamento Estratégico é uma dessas ferramentas. Nas empresas competitivas verificamos
que, uma importante condição para sua sobrevivência está ligada à clara definição de seus objetivos e ao
traçado antecipado dos possíveis caminhos a serem percorridos para atingi-los.

1. O que vem a ser Planejamento Estratégico

Planejamento Estratégico é o processo de desenvolvimento e manutenção de uma referência estratégica


entre os objetivos e capacidades da empresa e as mudanças de suas oportunidades no mercado,
objetivando dar forma aos negócios e produtos de uma empresa, de modo que eles possibilitem os lucros e
o crescimento almejados.

2. Por que planejar

Para que saibamos para onde devemos caminhar. Se não soubermos para onde ir, não iremos para lugar
nenhum.

O planejamento Estratégico é a base do planejamento de uma empresa. Depende do desenvolvimento de


uma missão clara para a empresa, e da definição de objetivos.

3. Como aplicar o Planejamento Estratégico

O planejamento estratégico exige ações em três áreas-chave:

1. gerenciar os negócios da empresa como uma carteira de investimentos;


2. avaliar os pontos forte de cada negócio, considerando a taxa de crescimento de mercado e aposição
competitiva da empresa neste mercado;
3. desenvolver uma plano de ação para cada negócio, a fim de atingir seus objetivos de longo prazo.

No nível corporativo, primeiro a empresa define seu propósito geral ou sua missão, e depois a missão é
transformada em objetivos de apoio detalhados que direcionam toda a empresa.

Por sua vez, cada unidade de negócios e produtos deve desenvolver detalhadamente planos estratégicos
dentro das definições do plano geral da empresa.

4. O planejamento estratégico de negócios

1. Definir a missão do negócio


2. Fazer a análise do ambiente externo e interno
3. Formular as metas a serem alcançadas
4. Formular as estratégias que permitam alcançar as metas
5. Formular os programas
6. Implementar os programas
7. Fazer o controle

1- Definir a missão do negócio

Cada unidade de negócios precisa definir sua missão específica dentro da missão corporativa
3
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
2- Fazer a análise do ambiente externo e interno

A avaliação global das forças, fraquezas (ambiente interno), oportunidades e ameaças (ambiente externo) é
denominada análise SWOT (do inglês strengths, weaknesses, opportinities, threats)

A análise do ambiente interno exige avaliação periódica de suas forças e fraquezas internas nas
competências de: marketing, financeiras, de fabricação e organizacionais, classificando cada fator como
uma: grande força, força, neutra, fraqueza ou grande fraqueza.

O negócio não precisa corrigir todos os seus pontos fracos, ou vangloriar-se de seus pontos fortes, mas
sim, limitar-se a análise das oportunidades para as quais tem os recursos necessários ou para as quais
deve adquirir ou desenvolver maiores forças.

Lista de verificação para análise de forças e fraquezas


desempenho importância
GF Força Neutra Fraco GF Grande Media pequena
marketing
1 reputação da empresa
2 participação do mercado
3 satisfação do cliente
4 Retenção do cliente
5 qualidade do produto
6 qualidade do serviço
7 determinação de preços
8 distribuição
9 promoção
10 força de venda
11 inovações
12 cobertura geográfica

finanças
13 dispon. de capital
14 fluxo de caixa
15 estabilidade financeira

produção
16 instalações
17 economia de escala
18 capacidade
19 força de trabalho
20 atendimento de prazos
21 habilidades técnica

organização
22 liderança visionária
23 funcionários dedicados
24 empreendedora
25 flexibilidade

Fonte: Administração de Marketing: edição do milênio (Kotler, 2000:100)

4
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
A análise do ambiente externo constitui-se no monitoramento das forças macro ambientais ( econômico-
demográficas, tecnológicas, político-legais, e socioculturais) e significativos agentes micro ambientais
(clientes, concorrentes, distribuidores, fornecedores) que afetam sua capacidade de obter lucros. A
administração precisa identificar as oportunidades e ameaças associadas a cada tendência ou
desenvolvimento.

Uma oportunidade existe quando a empresa pode lucrar ao atender às necessidades dos consumidores de
um determinado segmento. As oportunidades podem ser classificadas de acordo com:

- sua atratividade
- sua probabilidade de sucesso

O sucesso dependerá da característica de seu negócio e da superação dos pontos fortes dos concorrentes.

Uma ameaça é um desafio imposto por uma tendência ou desenvolvimento desfavorável que poderia levar
à deterioração das vendas ou dos lucros, caso não exista alguma ação de marketing defensiva. As
ameaças podem ser classificadas de acordo com:

- sua gravidade
- sua probabilidade de ocorrência

Oportunidades e Ameaças dão origem a duas matrizes

Matriz de oportunidades Matriz de ameaças

Probabilidade de sucesso Probabilidade de ocorrência


Alta Baixa Alta Baixa
Alta 1 2 Alta 1 2
Gravidade
Atratividade

Baixa 3 4 Baixa 3 4

Fonte: Administração de Marketing: edição do milênio (Kotler, 2000:99)

Depois de identificar as principais ameaças e oportunidades que uma unidade enfrenta, a gerência pode
caracterizar a atratividade global do negócio. Quatro são os resultados possíveis:

a) Um negócio ideal- apresenta muitas grandes oportunidades e poucas ameaças importantes.


b) Um negócio especulativo- tem grandes oportunidades e ameaças importantes.
c) Um negócio maduro- apresenta poucas oportunidades e poucas ameaças.
d) Um negócio com problemas- apresenta poucas oportunidades e muitas ameaças.

3 - Formular as metas a serem alcançadas

Depois de ter realizado uma análise de SWOT, a empresa necessita estabelecer seus objetivos e
transforma-las em metas mensuráveis. Os objetivos devem ser organizados hierarquicamente, do mais para
o menos importante.

5
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
O objetivo principal de uma unidade de negócios pode, por exemplo, ser o aumento da taxa de retorno
sobre o investimento. Isso pode ser conseguido aumentando o nível de lucros e/ou reduzindo despesas. A
meta é a quantificação do objetivo, ou seja, ‘aumentar a taxa de retorno em 15% em dois anos’, por
exemplo.

Os objetivos devem:

- ser organizados hierarquicamente;


- ser mensuráveis;
- realistas; e
- consistentes.

4 - Formular as estratégias que permitam alcançar as metas

As metas indicam aquilo que uma unidade de negócios deseja alcançar, enquanto que a estratégia ou
opção estratégica é um plano de como chegar lá.Treacy e Wiersema (1995) os condensou em três tipos
genéricos, que fornecem um ponto de partida para o pensamento estratégico:

1- excelência operacional. As empresas que a buscam não são basicamente inovadoras em produtos
ou serviços, nem cultivam relacionamentos profundos e individuais com seus clientes. Em vez
disso, as empresas operacionalmente excelentes oferecem produtos médios em relação ao
mercado ao melhor preço, com o mínimo de inconveniência.

2- liderança de produto. Seus praticantes se concentram em oferecer produtos que alargam as


fronteiras do desempenho. Sua proposição aos clientes é a oferta do melhor produto, e ponto final.
Além disso, os líderes em produtos não constroem suas posições com apenas uma inovação; eles
continuam inovando ano após, anos, ciclo de produto após ciclo de produto.

3- intimidade com o cliente. Seus partidários focalizam não a entrega daquilo que o mercado deseja,
mas daquilo que clientes específicos desejam. As empresas íntimas com clientes não buscam
transações únicas; elas cultivam relacionamentos. Elas se especializam em satisfazer necessidades
únicas que, com freqüência, somente elas reconhecem, em virtude do seu relacionamento e
conhecimento íntimos com o cliente”. “Por intimidade com o cliente, entendemos vender ao cliente
uma solução total, não apenas um produto ou serviço”:

Quando uma empresa focaliza suas atenção na entrega e na melhoria de um tipo de valor para o cliente,
afirmam os autores, certamente poderá, nessa dimensão, ter um desempenho melhor que o de uma outra
empresa que divide sua atenção entre mais de uma dimensão. Nenhuma empresa pode ser melhor em
todas as dimensões de valor.

Não fazer uma opção significa manter modelos operacionais híbridos e indefinidos que causam confusão,
tensão e dissipação de energia. Não escolher significa ficar a mercê de outro participante que está
comprometido com um valor inigualável e focalizado em como atingi-lo.

É fundamental, no entanto, manter limites mínimos para os padrões nas outras dimensões que são de
interesse para os clientes que a organização escolheu.

5 - Formular os programas

Depois de definida a opção estratégica da empresa, deve-se elaborar programas detalhados de apoio a
esta decisão. Estes apoios se constituem de planos de ação, cujo objetivo é implementar as estratégias
através de instruções claras estabelecendo-se o que, como, quando, quem será o responsável, quanto
custará e o cronograma a ser seguido.

Tipo de Check-list utilizado para garantir que a operação seja conduzida sem nenhuma dúvida por parte da
chefias e subordinados. Os 5W 2H correspondem às seguintes palavras do inglês: What (o que); Who
(quem); Where (onde) When (quando) e finalmente Why (por que). O 1H corresponde a How (como), ou

6
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
seja, método a ser utilizado para conduzir a operação. Atualmente, procura-se incluir um novo H (How
much/Quanto custa), transformando o método em 5W2H

Plano de Ação ( Para qual meta está dirigida esta ação)


O QUÊ QUEM ONDE QUANDO POR QUÊ COMO CUSTO
Definição do Determinaçã Definir onde Determinaçã Qual a De que Qual o custo
que será o de a quem se o de início e conseqüênci forma esta de tal ação
executado compete a processará fim da ação a desta ação será
execução da tal ação ação levada a
ação termo

6 - Implementar o Programa

Uma estratégia clara e programas de apoio bem arquitetados podem ser inúteis se a empresa não
conseguir implementa-los com cuidado.

7 - Fazer o Controle

O controle deverá ser freqüente para conferir se as ações estão sendo executadas. Esta é a fase em que
são medidos os desempenhos, checados os orçamentos, obtidas e analisadas as informações de cada
responsável, apresentação de medidas para correção de rumo, caso seja necessário.

À medida que implementa sua estratégia, a empresa precisa acompanhar os resultados e monitorar os
novos acontecimentos nos ambientes interno e externo. A chave para a saúde organizacional é a
disposição para examinar o ambiente em constante alteração e para adotar comportamentos e metas novos
e adequados.

7
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
CENÁRIOS MACROECONÔMICOS

1. Os indicadores econômicos agregados PIB e PNB


MANKIW, N. G. Introdução à Economia - Princípios de Micro e Macroeconomia. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1999.

O produto interno bruto (PIB) representa a soma (em valores financeiros) de todas as riquezas finais
produzidas em uma determinada região ou parcela da sociedade (qual seja, países, estados, cidades),
durante um período determinado (mês, trimestre, ano, etc).
Consideram-se bens e serviços. No cálculo do PIB a preços de mercado consideram-se apenas os valores
agregados, para evitar o problema conhecido como dupla contagem: quando valores gerados na cadeia de
produção aparecem contados duas vezes na soma do PIB. (Devem-se descontar os insumos dos valores
monetário de venda.)

1. PIB nominal e PIB real

Fala-se na distinção entre PIB nominal e PIB real; o primeiro é o valor comum na expressão do PIB, ou
seja, a soma simples dos bens e serviços produzidos; o segundo acompanha-se de uma correção
inflacionária.
Fórmula para cálculos do PIB

A fórmula clássica para expressar o PIB de uma região é a seguinte:


Y = C + I + G + X - M Onde,
• Y é o PIB
• C é o consumo
• I é o total de investimentos realizados
• G representa gastos governamentais
• X é o volume de exportações
• M é o volume de importações

2. PIB e PNB (produto nacional bruto)

O PIB difere do produto nacional bruto (PNB) basicamente pela renda líquida enviada ao exterior (RLEE):
ela é desconsiderada no cálculo do PNB, e considerada no cálculo do PIB. Esta renda representa a
diferença entre recursos enviados ao exterior (pagamento de fatores de produção internacionais alocados
no país) e os recursos recebidos do exterior a partir de fatores de produção que, sendo do país
considerado, encontram-se em atividade em outros países. Assim (e simplificadamente), caso um país
possua empresas atuando em outros países, mas proíba a instalação de transnacionais no seu território,
terá uma renda líquida enviada ao exterior negativa. Pela fórmula:
PNB = PIB - RLEE
O país exemplificado terá um PNB maior que o PIB. No caso brasileiro, o PNB é menor que o PIB, uma vez
que a RLEE é positiva (ou seja, envia-se mais recursos ao exterior do que recebe-se).

3. PIB per capita


8
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
Os indicadores econômicos agregados (produto, renda, despesa) indicam os mesmos valores para a
economia de forma absoluta. Dividindo-se esse valor pela população de um país, obtém-se um valor per
capita, um valor médio. O valor per capita é muito mais representativo sobre a qualidade de vida de um país
do que os valores brutos ou líquidos, já que alguns países pobres, como Índia e China, possuem PIB
elevado por causa da grande população, porém o seu PIB per capita é baixo (já que a renda passa a ser
dividida por muitas pessoas). Por outro lado, países como a Noruega e a Áustria possuem valor de PIB
moderado, mas o suficiente para manter a qualidade de vida de seus poucos milhões de habitantes
elevada.

Desempenho do PIB no Brasil

• Ano de 2004: (2004-julho a 2005-junho) = expansão de 4,4%;


• 2005 = estimado em R$ 1.937.598 (em milhões);
• 2005-julho a 2006-junho = crescimento de 1,7%;
• 2006 (primeiro trimestre) = De acordo com o IBGE, nesse período foram produzidos no país R$
478,9 bilhões; sendo R$ 277,8 bilhões de consumo das famílias; R$ 97,69 bilhões de investimentos;
R$ 84,56 bilhões de consumo do governo e R$ 54,25 bilhões de impostos;
• 2006 (entre abril e junho)= a produção diminuiu 0,3% em relação ao trimestre janeiro-março;
• 2006 (primeiro semestre) = aumento de 2,2%;
• 2006 (geral) = o crescimento acumulado pode não chegar a 4%;

PIB específico

• 2006 (massa salarial): abril a junho = crescimento real de 6,8%;


• 2006 (agricultura): abril a junho = crescimento de 0,8%; (café: incremento de 18,8%; soja = 2,9%);*
2006 (construção civil): a) janeiro a março = expansão de 7%; b) abril a junho = aumento de 2,6%;*
2006 (empréstimos a pessoas físicas): abril a junho = ampliação de 31,8% em relação ao
acumulado entre janeiro e março;* 2006-junho (indústria: produção industrial) = queda de 1,3%*
2006-julho (indústria: produção industrial) = crescimento de 0,6%
• 2006 (investimentos): abril a junho = encolhimento de 2,2%;* 2006 (mineralogia: setor extrativo
mineral): a) janeiro a março = expansão de 12,6%; b) abril a junho = aumento de 1,5%;

4. Fatores em geral

Fatores que contribuíram para as recentes baixas do PIB = a valorização do real diante do dólar, e a Copa
do Mundo. Com a baixa do dólar, várias empresas não exportaram, deixando, assim, as exportações de
contribuir para o crescimento do PIB. Já a produção industrial baixou de nível devido às importações, em
especial as referentes à China, movimentada com preços muito abaixo dos praticados por nós.

2. Inflação
SOUZA, Nali de J. Curso de economia. São Paulo: Atlas, 2003.

MANKIW, N. Gregory. Introdução a Economia: Princípios de micro e macroeconomia. Rio de Janeiro: Campus,
1999.

9
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
A inflação é um dos fenômenos econômicos mais perversos, porque subtrai parte das rendas das pessoas,
principalmente das que recebem renda fixa, e dos mais pobres, que não conseguem se resguardar de seus
efeitos, nem mesmo parcialmente. A inflação, palavra que vem de inflare (inchar), é um fenômeno moderno.
Embora exista há muito tempo, os dicionários econômicos do século XIX não a mencionavam. Isso indica
que a inflação não era uma questão muito crucial para a sociedade. Contudo, esse comportamento mudou,
porque o aumento de preços tendeu a acelerar-se com o uso generalizado do papel-moeda e a expansão
do sistema bancário.
Mesmo assim, pode-se afirmar que a inflação está presente na economia desde que a moeda foi utilizada
como intermediária das trocas, substituindo o escambo. Encontra-se referência à inflação no ano de 295
d.C., quando o imperador romano Diocleciano estabeleceu limites máximos para os preços. Na Idade
Média, encontra-se referência à depredação das moedas metálicas pela redução de seu peso ou por
modificação das ligas de metais com as quais eram fundidas. Na Europa mercantilista, o ingresso de metais
preciosos acelerou o crescimento dos preços. Na Inglaterra e França, entre 1716/1720, John Law tentou
aumentar a riqueza desses países com a emissão de papel-moeda sem lastro, para suplementar o estoque
de metais preciosos existente. O resultado foi uma inflação galopante, a quebra do sistema bancário e a
perda da confiança na moeda e no crédito (Hugon, 1988, p. 75).
As maiores taxas de inflação, registradas na história, ocorreram na Alemanha. Entre janeiro de 1922 e
novembro de 1923, a taxa da hiperinflação teria sido de um trilhão por cento. Em janeiro de 1923, um dólar
valia 18 mil marcos; no dia 15 de novembro do mesmo ano, a cotação era de 1 dólar por 4,2 trilhões de
marcos. O marco alemão havia deixado de servir de reserva de valor desde 1921; no fim de 1922, ele não
se prestava mais como instrumento de medida de valor e intermediário das trocas. Desse modo, no início
de 1923, as trocas efetuavam-se em termos de quantidades físicas de mercadorias e, no final desse mesmo
ano a moeda alemã estava praticamente destruída (Flamant, 1973, p. 32).

1. Conceito de inflação

A inflação pode ser definida como um processo de alta generalizada de preços, o que provoca a redução do
poder de compra interno da moeda. A taxa de inflação representa uma média ponderada da elevação dos
preços. Isso significa que os preços de alguns produtos aumentam mais do que o de outros; alguns preços
poderão não aumentar, ou mesmo, ser reduzidos, enquanto os demais crescem, Contudo, a inflação implica
sempre em alta generalizada de preços, isto é, há uma tendência para o aumento geral de todos os preços
da economia.
Segundo o valor do índice inflacionário, a inflação pode ser caracterizada como rastejante, alta, galopante
ou hiperinflação. Embora os autores não estejam sempre de acordo com qual taxa se pode efetuar esses
três tipos de definição, em geral entende-se por inflação rastejante aquela com taxa inferior a 10% ao ano,
inflação alta, acima de 20% ao ano; e hiperinflação, com taxa acima de 50% ao mês.

2. Distorções do processo inflacionário

A principal conseqüência do processo inflacionário são as distorções de preços, porque os preços dos
produtos variam com taxas diferentes. Portanto, com a inflação os preços relativos mudam: o preço do
cimento pode subir mais do que o preço do ferro para construção. Quando os preços de alguns insumos
aumentam mais do que o de outros, as empresas tendem a variar a intensidade com que são usados.
Em um processo inflacionário, em geral, os preços por atacado não variam no mesmo ritmo dos preços dos
bens de consumo final, assim como os preços agrícolas não crescem necessariamente na mesma
velocidade dos preços industriais. A política econômica pode aumentar essa distorção, ao tentar conter a
elevação dos preços dos alimentos para os trabalhadores urbanos, por meio da compra e venda de
produtos ou tabelamentos. Assim, pode haver uma tendência de achatamento da renda dos agricultores, no
longo prazo.
Nessa situação, diz-se que as relações de troca pioram para a agricultura (preços recebidos pelos
agricultores/preços pagos pelos insumos industriais), ou seja, os preços dos insumos industriais usados na
produção agrícola crescem mais do que os preços dos produtos agropecuários. Os efeitos sobre os preços
relativos refletem-se na redistribuição de renda em detrimento de determinadas classes sociais. Havendo
deterioração dos termos de troca contra a agricultura por períodos prolongados, haverá um efeito-renda
10
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
perverso contra os agricultores, em favor dos setores industriais. Dentro do setor industrial, da mesma
forma, poderá haver aumento da participação na renda total por parte dos setores mais oligopolizados (com
maior poder de mercado), contra os setores mais concorrenciais e menor poder de barganha.
Na ausência de mecanismos generalizados de indexação de preços e rendimentos, os grupos sociais que
recebem rendimentos fixos tendem a perder com a inflação, em benefício daqueles grupos que possuem
rendimentos móveis, isto é, que podem reajustá-los periodicamente, como é o caso dos empresários e
profissionais liberais em geral. Entre os grupos sociais que recebem renda fixa, são os assalariados os que
mais perdem com a inflação, principalmente os trabalhadores com os mais baixos salários, que não
conseguem aplicar parte de sua renda no setor financeiro, deixando, assim, de receber os rendimentos
correspondentes aos juros e reposição da inflação.
Os assalariados perdem menos com a redução da taxa de inflação e o encurtamento dos períodos de
reajuste salarial. Contudo, a redução do período de reajuste realimenta a inflação, e seu alongamento
contribui para reduzir a taxa de inflação, em detrimento dos trabalhadores e com transferência de renda
para os grupos sociais que remarcam preços e conseguem de alguma forma se proteger contra os efeitos
perversos da inflação.
A inflação também provoca déficit na balança de transações correntes, ao encarecer as exportações e
baratear as importações. As empresas nacionais tornam-se menos competitivas no exterior, enquanto
ocorre o inverso com as empresas estrangeiras que vendem produtos para o país. Para amenizar esse
problema, o governo costuma desvalorizar a moeda nacional em relação às moedas fortes, como o dólar.
Desse modo, os preços relativos internos e externos mudam, beneficiando as exportações nacionais.
As mudanças dos preços relativos, que provocam alterações na distribuição de renda e desequilíbrios na
balança de transações correntes, também se refletem na realocação de fatores. Com o barateamento de
alguns insumos e o encarecimento de outros, as firmas mudam a combinação em que são usados no
processo produtivo. Assim, se os combustíveis ficam mais caros do que a tração animal, os agricultores
tenderão a usar menos tratores e mais arados não mecânicos para obter o mesmo volume de produção. O
mesmo ocorre no nível da firma, que tenderá a utilizar materiais mais baratos, como plástico no lugar do
aço, para a confecção de alguns componentes, desde que isso seja permitido pela tecnologia e pelo gosto
dos consumidores.
Finalmente, a inflação interfere na formação das expectativas dos agentes econômicos quanto ao nível
futuro dos preços e à taxa de retorno dos investimentos ou das aplicações financeiras. Em caso de
incerteza, as pessoas tendem a aplicar seus recursos em imóveis, ouro ou alguma moeda forte, como o
dólar, esperando a valorização de seu patrimônio.

3. Indicadores de inflação

O Quadro1 mostra os diferentes indicadores de variação de preços utilizados na economia brasileira, assim
como os critérios de cálculo e sua utilização. O deflator implícito do PIB é o índice mais agregado, pois
resulta da média ponderada dos índices de variações de preços dos grandes setores da economia e serve
para o cálculo da variação real dos agregados das contas nacionais, enquanto o Índice de preços ao
consumidor (IPC) é o mais desagregado, pois desce ao nível microeconômico. Esse índice é obtido pela
variação dos preços dos bens e serviços que compõem a cesta de consumo de grupos de famílias de
determinada classe de assalariados de determinada região.
Por exemplo, o IPC do Centro de Estudos e Pesquisas Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul é calculado mensalmente para um conjunto de bens e serviços que compõem a cesta de consumo
dos trabalhadores na industria de transformação da Região Metropolitana de Porto Alegre. Em primeiro lu-
gar, é realizada periodicamente uma pesquisa envolvendo uma amostra representativa desses
trabalhadores para determinar o peso de cada bem e serviço que faz parte da cesta de consumo no total
dos gastos de cada família. Esses pesos são, então, utilizados para determinar a importância das variações
dos preços de cada produto no índice total daquele período.
A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo também calcula o IPC para a
cidade de São Paulo (IPC-Fipe). Esses índices diferem entre si, porque envolvem mercados regionais
específicos e agregações e metodologias diversas. Eles são mais representativos, portanto, para indicar a
inflação regional. O próprio Índice geral de preços calculado pela Fundação Getúlio Vargas, pelo conceito
de disponibilidade interna (IGP-DI), tem um caráter regional, pois é obtido com base nas variações de
preços ocorridas na cidade do Rio de Janeiro. Esse índice é ainda mais geral do que os IPC, pois considera
11
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
também a variação dos preços por atacado, com peso 6, o custo da construção, com peso 1, além do au-
mento do custo de vida no Rio de Janeiro, com peso 3.
A verificação das taxas anuais de inflação segundo diferentes indicadores utilizados no Brasil, no período de
1980 e 1999 trazem como primeira constatação a de que os índices variam de uma instituição para outra,
de acordo com os conceitos e métodos utilizados. Assim, o IGP-DI difere do Índice dos preços por atacado
— disponibilidade interna (IPA-DI), calculado pela FGV/RJ; o mesmo ocorre com o Índice nacional de
preços ao consumidor (INPC) e o Índice de preços ao consumidor ampliado (IPCA), ambos do IBGE, assim
como com o Índice de preços ao consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da
Universidade de São Paulo (IPC-Fipe) e o Índice de custo de vida do Departamento Intersindical de
Estatística e Estudos Socioeconômicos (ICV-Dieese).

Quadro 1 - Indicadores de inflação utilizados no Brasil.


Indicadores Critérios de cálculo Utilização
Deflator implícito do PlB Média ponderada dos índices de variação de preços da Na determinação da variação
agricultura (peso 1,52), indústria (peso 5,38), comércio real dos agregados das contas
(peso 2,33), transportes e comunicações (peso 0,77) nacionais

Índice geral de preços — Média ponderada dos preços por atacado(peso 6),custo de Na determinação do nível geral
disponibilidade interna vida da cidade do Rio de janeiro (peso 3), de preços da economia
(IGP-DI) custo da construção civil no Rio de nacional, servindo de
janeiro (peso 1). parâmetro para os contratos.

Índice de preços por Média ponderada dos índices de preços por atacado, - Na determinação do nível de
atacado (IPA) segundo o peso do produto ou setor no conjunto da preços por atacado, utilizado
economia nacional: bens duráveis e não duráveis de na determinação das planilhas
consumo, bens de produção (matérias-primas, veículos, de custos das firmas.
máquinas e equipamentos), produtos agrícolas, produtos da
indústria de transformação.

Índice de preços ao Média aritmética dos índices de preços dos bens e serviços Nas negociações salariais, por
consumidor (IPC) ou Índice que fazem parte da cesta de consumo dos trabalhadores de indicar os efeitos da inflação
do custo de vida (ICV) determinada região do país, ponderados pela participação no orçamento dos
de cada item no consumo total de cada família. trabalhadores.

O INPC do IBGE é um índice restrito que serve para a indexação oficial de salários e é calculado com
base na variação de preços de bens consumidos pela classe trabalhadora (um a oito salários mínimos) das
regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo,
Curitiba, Porto Alegre e em Brasília e Goiânia. Os preços são pesquisados mensalmente e a variação de
cada preço é ponderada pela importância do bem no orçamento familiar. Esses pesos são calculados por
meio de pesquisas de orçamentos familiares realizadas periodicamente pelo IBGE. Esses pesos são muda-
dos toda vez que se altera a composição das cestas de consumo desses trabalhadores.
O IPC ampliado (IPCA) é utilizado pelo Banco Central do Brasil para o acompanhamento dos objetivos
estabelecidos no sistema de metas de inflação e adotado para o balizamento da política monetária. O IBGE
utiliza a mesma metodologia de orçamentos familiares para as referidas regiões metropolitanas e cidades,
mas amplia a faixa de renda (1 a 40 salários mínimos) e muda a ponderação do grupo de bens consumidos
no total das despesas. Os grupos de produtos são: alimentação, habitação, artigos de residência, vestuário,
transporte e comunicação, saúde e cuidados pessoais e despesas pessoais. Para os trabalhadores de mais
baixa renda (índice restrito), recebem peso maior os grupos de alimentação, enquanto para as famílias do
índice ampliado, o maior peso recai sobre transporte e comunicações e despesas pessoais.
O ICV-Dieese é calculado para a cidade de São Paulo envolvendo um conjunto amplo de produtos para
famílias assalariadas de 1 a 30 salários mínimos. Em virtude de mudanças nos hábitos de consumo dessas
famílias, apuradas na pesquisa de orçamentos familiares de 1994/1995, o Dieese alterou os pesos dos
diferentes grupos de produtos e serviços utilizados no cálculo do Índice de Custo de Vida da cidade de São
Paulo. A metodologia antiga reflete melhor os hábitos de consumo dos anos de 1980, enquanto a nova
metodologia mostra mais claramente os hábitos atuais de consumo da população paulistana.

12
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
3. A formação da Taxa de Câmbio

BENEVIDES PINTO, D. ; VANCONCELLOS, M. A.S. Manual de economia, 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2003.

Se dois países diferentes pretendem comerciar entre si, é necessário que exista alguma forma de
conversão das moedas. Assim, por exemplo, se o Brasil deseja vender café aos Estados Unidos, é
necessário que exista alguma medida para converter o preço do café brasileiro em dólares. Tal
medida é exatamente a taxa de câmbio - se cada dólar custar R$ 1,00 o quilo de café em reais é
R$ 4,00 e em dólar será U$ 4.
A taxa de câmbio, portanto, é a medida pela qual a moeda de um país qualquer pode ser
convertida em moeda de outro país. Em outras palavras, a taxa de câmbio é precisamente o preço
de uma moeda em relação a outra. Assim, se o dólar custar R$ 1,00 a libra custará
aproximadamente R$ 1,45 e o yen R$ 0,01. É por meio da taxa de câmbio enfim, que podemos
relacionar dois sistemas de preços relativos de dois países quaisquer.
Como qualquer preço, a taxa de câmbio também é influenciada pela oferta e pela demanda. Por
exemplo, o preço do dólar é fixado pela oferta de dólares e pela demanda por dólares; o preço do
euro pela oferta e demanda por euro, e assim por diante. De uma forma geral, a taxa de câmbio é
influenciada pela oferta e demanda por divisas, isto é, pela oferta e demanda por moeda
estrangeira num determinado país.
Os ofertantes de divisas são os exportadores que receberam, em troca de suas vendas, moedas
estrangeiras que não podem ser utilizadas no país e que necessitam, portanto, ser trocadas por
moeda nacional e as firmas que obtiveram empréstimos em moeda estrangeira e precisam
convertê-la em reais. A demanda por divisas é constituída pelos importadores que necessitam de
moedas estrangeiras para efetuar suas compras em outras nações, já que nesse caso a moeda
nacional não é aceita, e pelos devedores em moeda estrangeira que precisam de divisas para
saldarem as suas dívidas.
É preciso lembrar sempre que, como qualquer curva de oferta e demanda, ambas representam
desejos, isto é, o comportamento psicológico dos exportadores e importadores em relação à taxa
de câmbio e ao montante de moedas estrangeiras que desejam comprar e vender. Se a taxa de
câmbio for muito elevada, muitos produtores ou muitas firmas desejarão exportar, e a oferta de
dólares será muito grande. É fácil compreender os motivos: se um quilo de café vale $ 4,00 quando
a taxa de câmbio é R$ 2,00 o exportador receberá R$ 8,00 por quilo e desejará, portanto, exportar
mais do que quando a taxa de câmbio é R$ 1,00 e receber apenas R$ 4,00 por quilo (estamos
supondo, no exemplo, que o preço do café é constante em dólares).
TABELA 1
Taxa de Câmbio Preço do Café Preço do Café EXPORTAÇÕES
R$ por dólar em dólar em reais
2,00 4,00 8,00 Desejam exportar mais
1,00 4,00 4,00 Desejam exportar menos

Taxa de Câmbio Preço do Café Preço do Café IMPORTAÇÕES


R$ por dólar em dólar em reais
2,00 0,50 1,00 Desejam importar menos
1,00 0,50 0,50 Desejam importar mais

A conclusão a se extrair dos dois exemplos é bastante simples: quanto maior a taxa e câmbio,
maior o volume que as firmas desejam exportar; quanto menor a taxa de câmbio, menor o volume
que as firmas desejam exportar. Como a oferta de divisas depende as exportações, quanto maior a
taxa de câmbio, maior a oferta de divisas e, quanto nem a taxa de câmbio, menor a oferta de
divisas. Assim, como qualquer curva de oferta, a curva de oferta de divisas é crescente em relação
ao preço, isto é, crescente em relação à taxa de câmbio.

13
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
Do lado das importações, a situação se inverte: quanto maior a taxa de câmbio, menor a
quantidade que as firmas desejam importar e menor, portanto, a demanda por divisas; quanto
menor a taxa de câmbio, maior a quantidade que as firmas desejam importar e, portanto, maior a
demanda por divisas. Como uma curva de demanda qualquer, a curva de demanda por
importações é decrescente em relação ao preço ou à taxa de câmbio.
Graficamente, a curva de demanda e a de oferta de divisas podem ser apresentadas como nas
figuras a seguir.
FIGURA 1

Taxa de Oferta
câmbio

Po

Demanda

Qo = Qd Quantidade de divisas

Quando a taxa de câmbio for exatamente igual a Pó, na figura 1, o volume de demanda por divisas
é exatamente igual ao volume de oferta de divisas e o mercado de divisas está em equilíbrio. Com
a taxa de câmbio em equilíbrio, a quantidade de divisas que os exportadores estão dispostos a
vender (Q0) é exatamente igual à quantidade de divisas que os exportadores estão dispostos a
comprar (Qd).

4. O Balanço de Pagamentos
O balanço de pagamentos é o registro contábil de todas as transações de um país com outros países
do mundo. Assim, no balanço de pagamentos estão registradas todas as importações que o Brasil
faz de outros países, todas as exportações brasileiras, os fretes pagos a navios estrangeiros, os
empréstimos que o Brasil recebe em moeda estrangeira, o capital das firmas estrangeiras que abrem
filiais no Brasil, o capital das firmas estrangeiras que saem do Brasil, entre outros.
Como pode-se concluir dos exemplos anteriores, no balanço de pagamentos estão registra das todas
as compras e vendas de moeda estrangeira. As compras de moedas estrangeiras são efetivadas ou
para importar mercadorias de outros países, ou para pagar serviços prestados por estrangeiros a
brasileiros, ou para que as firmas estrangeiras possam enviar seus lucros aos países de origem, ou
para pagamento de juros de empréstimos estrangeiros, ou para pagamento de royalties e patentes a
outras nações do mundo. As vendas de moedas estrangeiras são efetivadas pelos exportadores que
receberam suas receitas em dólares pelas firmas estrangeiras que estão montando filiais no Brasil e
precisam de reais ou pelas entidades que receberam empréstimos de outros países e precisam
convertê-los em reais para realizar seus pagamentos.
Todas as compras de moeda estrangeira são registradas no lado esquerdo do balanço de
pagamentos, isto é, são lançadas a débito. Por outro lado, todas as vendas de moeda estrangeira
são registradas no lado direito do balanço de pagamentos, isto é, são, lançadas a crédito.

14
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
Esquematicamente, teremos, então:

Do lado esquerdo – Débito Do lado direito - Crédito

Compra de moeda estrangeira Venda de moeda estrangeira

O total de compras de moeda estrangeira deve ser sempre exatamente igual ao total de vendas de
moeda estrangeira, pois, sempre que alguém está vendendo alguma coisa, outra pessoa está
comprando essa mesma coisa. Em outras palavras, o balanço de pagamentos, assim como
qualquer registro contábil , precisa estar sempre em equilíbrio, ou seja, o montante de débitos deve
sempre coincidir com o montante de créditos, da mesma forma que qualquer registro contábil de
lançamentos por partidas dobradas.
Desse modo, apresentado, o balanço de pagamentos não fornece nenhuma informação sobre o
comércio internacional de uma nação. Na realidade, para que essas informações possam ser
obtidas, é necessário subdividir o balanço de pagamentos em algumas categorias mais importantes.
Geralmente, ele é dividido em três grandes categorias relativas a três tipos de transações. Em
primeiro lugar, existe a chamada balança comercial, que registra todas as exportações de
mercadorias brasileiras e todas as importações de mercadorias do resto do mundo. Depois, existe a
chamada balança de serviços, que registra o montante pago pelo Brasil por serviços prestados
por estrangeiros, como serviços de transportes, serviços de assistência técnica, os juros que o
Brasil paga pelos empréstimos fornecidos por outras nações do mundo, bem como os lucros
remetidos pelas multinacionais aqui localizadas. Registra também os recebimentos do Brasil por
serviços prestados a estrangeiros.
Dessa forma, o balanço de pagamentos poderia ser representado como na Tabela a seguir:

Balança Comercial = Débito Crédito


Importações Exportações
Balança de serviços =
(Do lado esquerdo) = Débito (Do lado direito) = Crédito
Fretes pagos a navios estrangeiros Fretes recebidos por navios
brasileiros
Prêmio de seguro de companhias Prêmios de seguro de companhias
estrangeiras brasileiras
Juros de empréstimos estrangeiros
Lucros remetidos ao exterior Lucros recebidos do exterior

A balança comercial e a balança de serviços, consideradas conjuntamente, formam a chamada


balança de transações correntes, a qual não registra os capitais das firmas estrangeiras que
entram e saem do Brasil, os empréstimos que o Brasil recebe de entidades e nações
internacionais, e outros. Todas essas transações que não se referem à produção e venda de
serviços ou bens, ou seja, todas as transações que não se referem à produção corrente são
registradas na terceira divisão do balanço de pagamentos, a balança de capitais. Nessa balança,
são registrados o capital das firmas estrangeiras que ingressam no país, o capital estrangeiro que
ingressa sob a forma de empréstimos, os empréstimos de outros governos ao Brasil, os
empréstimos do FMI, entre outros.
Apesar de termos afirmado que o balanço de pagamentos está sempre em equilíbrio, isto não
significa de forma alguma que as diversas divisões do balanço de pagamentos também estejam em
15
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
equilíbrio; não é necessário que o montante de importações brasileiras seja igual ao de exportações
brasileiras, e que o montante de renda de serviços pago aos brasileiros seja igual ao de serviços pago
a estrangeiros, ou que o montante de capital que ingressou no país seja igual ao que abandonou o
país. O que afirmamos é que a soma dos débitos das três balanças, conjuntamente, deve ser igual à
soma dos créditos das três balanças conjuntamente.
Um exemplo auxiliará na compreensão desse fato. Suponhamos que o Brasil tenha exportado $ 15
bilhões durante um determinado ano, que neste mesmo ano tenha importado $ 17 bilhões e que os
serviços prestados pelo Brasil chegassem ao montante de $ 3 bilhões, ao passo que os serviços de
transporte e de juros devidos aos estrangeiros fossem elevados a $ 5 bilhões. Neste caso, teríamos a
situação mostrada na Tabela abaixo.

Balança Comercial (em milhões de dólares)


Débito Crédito
Importações 17.000 Exportações 15.000
Saldo devedor 2.000
Balança de Serviços
Transportes e juros 5.000 Transportes 3.000
Saldo devedor 2.000
Tabela de Transações Correntes
Saldo devedor 4.000

Como afirmamos que o balanço de pagamentos está sempre em equilíbrio, isto é, que sempre o
montante de dólares recebidos precisa ser exatamente igual ao montante de dólares pagos, o saldo
devedor de $ 4 bilhões precisa ser coberto de alguma forma. Se o Brasil importou $17 bilhões e pagou
$ 5 bilhões de transportes, precisa de $ 22 bilhões para cobrir seus pagamentos. Recebeu pelas
exportações $ 15 bilhões e pelos serviços $ 3 bilhões, tendo um montante de $ 18 bilhões. Mas, para
pagar $ 22 bilhões, faltam ainda $ 4 bilhões.
Suponha que algumas firmas estrangeiras tenham ingressado no país e para isto tenham vendido $ 1
bilhão em troca de reais para realizar suas compras no Brasil. Faltam, mesmo assim, $ 3 bilhões.
Uma das formas de cobertura desta diferença poderia ser por meio de um empréstimo do FMl de,
digamos, $ 1 bilhão. Outra forma poderia ser por meio da venda de dólares que o governo possuísse
em reserva exatamente para essas situações. E, finalmente, $ 1 bilhão restante deveria ser obtido
por empréstimos tomados pelas firmas brasileiras no mercado financeiro internacional.
Dessa forma, portanto, estaria o balanço de pagamentos em equilíbrio. O superávit da balança de
capitais se compensa pelo déficit do balanço de transações correntes, como não poderia deixar de
ser, pois o montante de dólares pagos pelo Brasil precisava ser exatamente igual ao montante de
dólares recebidos pelo Brasil.
Cabem, agora, algumas explicações adicionais sobre o significado do saldo devedor da balança de
transações correntes, apresentado no exemplo anterior. Em primeiro lugar. é muito comum falar em
desequilíbrio no balanço de pagamentos ou em saldo negativo desse saldo. Como ficou demonstrado,
não pode existir desequilíbrio no balanço de pagamentos, já que o montante de recebimentos é igual
ao de pagamentos. O que acontece é que na prática, por saldo devedor do balanço de pagamentos
quer se referir a saldo devedor na balança de transações correntes ou na balança de capitais e não
no balanço de pagamentos como um todo.
Em segundo lugar, é preciso compreender o significado do saldo negativo na balança de transações
correntes. Suponha que, no exemplo anterior, as relações apresentadas se referissem somente ao
comércio entre o Brasil e os Estados Unidos. Nesse caso, o Brasil teria produzido um total de $18
bilhões ($15 bilhões de exportação e $ 3 bilhões de serviços), isto é, teria auferido uma renda de $18
bilhões no comércio internacional. Em troca dessa produção, entretanto, o Brasil recebeu $ 22
bilhões, isto é, $ 4 bilhões a mais. Os Estados Unidos, por outro lado, produziram $ 22 bilhões e
receberam somente $18 bilhões, isto é, $ 4 bilhões a menos. Esses $ 4 bilhões de diferença são
16
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
renda dos Estados Unidos colocada à disposição da economia brasileira. É um montante de renda
que não foi consumido nos Estados Unidos, isto é, foi poupado, mas que foi transferido para o Brasil.
Trata-se, portanto, de uma transferência de poupanças dos Estados Unidos para o Brasil.

Balança de pagamentos (em milhões de dólares)


1. Balança de transações correntes
1.1 Balança comercial
Importações 17.000 Exportações 15.000
Saldo (déficit) 2.000
1.2 Balança de serviços
Fretes pagos 5.000 Fretes recebidos 3.000
Saldo (déficit) 2.000
1.3 Saldo da balança de transações correntes (déficit) 4.000
2. Balança de capitais
Ingressos de capitais 1.000
Empréstimos do exterior 1.000
Diminuição de reservas 1.000
Empréstimo FMI 1.000
2.1 saldo da balança de capitais (superávit) 4.000

Esse mesmo raciocínio pode ser explicado para as relações comerciais do Brasil com todas as
nações do mundo. Se houver um saldo negativo na balança de transações correntes, trata-se de
uma transferência de poupanças do resto do mundo para o Brasil.
Em terceiro lugar, é necessário compreender como se relaciona o balanço de pagamentos com as
contas nacionais, analisadas na seção de macroeconomia. É preciso lembrar que, quando medimos
o produto nacional de uma nação, estamos medindo a produção corrente de bens e serviços. Assim,
a venda de uma casa produzida há dois anos não entra no cômputo do produto. Analogamente, em
relação ao balanço de pagamentos, não são incluídos os itens que se referem à produção de bens e
serviços ou de renda relativa a períodos anteriores. Só deve ser incluída a produção corrente de
bens e serviços exportados. Se uma firma estrangeira, por exemplo, transfere seu capital, isto é,
suas máquinas para o Brasil, essa operação não deve ser considerada no PIB, pois se trata da
produção de anos passados. Se o Brasil contrai empréstimos, estes não devem ser incluídos no PIB,
pois não se trata de produção. Conclusão: só devem ser incluídas no cômputo do PIE as transações
correntes e não as transações de capital, já que o PIE mede o produto corrente de uma nação.
Formalmente, o PIB é definido como:
PIB = C+I+ G+X-M,
em que:
C = montante de bens consumidos;
I = montante de investimentos;
G = despesas governamentais;
X = exportações;
M = importações.

17
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
A diferença de X - M é exatamente o saldo positivo ou negativo da balança de transações correntes.
Agora pode-se dar uma nova explicação para o significado do saldo negativo na balança de
transações correntes. A condição de equilíbrio em macroeconomia é:
Demanda agregada = RN
ou
C+I+G+X-M=C+S+T,
em que S é a poupança agregada, e T o nível de arrecadação do governo.
Cortando C, vem:
I + G + X - M = S + T ou I = S + (T - G) + (M - Xl.
M - X é o saldo negativo da balança de transações correntes que é somado à poupança interna
(privada e pública), permitindo, portanto, um investimento maior.
Muitos países em desenvolvimento apresentam saldo negativo na balança de transações correntes.
Normalmente, esses países têm um volume de poupanças pequeno, já que sua renda é pequena, e
complementam a poupança interna com saldo negativo na balança de transações correntes. Isso não
significa que o saldo negativo seja sempre favorável ao país subdesenvolvido: se o saldo negativo for
compensado pela entrada de capitais estrangeiros que venham a montar firmas no Brasil, por
exemplo, mais tarde serão remetidos os lucros dessas firmas para o país de origem. Isso não constitui
um problema muito grave no balanço de pagamentos, pois, se houver escassez de divisas para a
remessa dos lucros, quem pagará taxas de câmbio mais elevadas serão as próprias firmas. Se o
saldo negativo for coberto por empréstimos, a situação pode ser mais prejudicial, pois os juros desse
empréstimo podem se tornar elevados, agravando num período posterior a situação da balança de
transações correntes. Se essa situação for muito delicada, podem ser contraídos empréstimos a juros
muito altos e prazos muito curtos, o que fatalmente agravará a situação no ano seguinte.
De qualquer forma, um saldo negativo na balança de transações correntes representa uma
transferência de poupanças do resto do mundo para o Brasil. Além disso, é necessário considerar
custos desta transferência e suas conseqüências na situação do balanço de pagamentos nos anos
seguintes.

5. Risco Brasil e o Custo Brasil


DOMINIK, E. C. Mitos e verdades sobre risco Brasil e custo Brasil. Revista espaço acadêmico. Julho/2005

1. Introdução

O “Risco Brasil” e o “Custo Brasil” são medidas hipotéticas de análise do Brasil, relacionadas,
respectivamente, com o investimento financeiro e com o investimento produtivo, em comparação com o
resto do mundo. Em outras palavras, medidas comparativas do Brasil em relação a outros países para
facilitar a decisão do investidor de trazer recursos para investir em ações ou títulos brasileiros ou na
produção dentro do nosso País. No artigo, seguem perguntas e respostas para facilitar o entendimento do
leitor, bem como tabelas com indicadores que influenciam tanto o Risco como o Custo Brasil.
2. Risco Brasil: Medida Contestada
O risco financeiro de todos os países de economia aberta é medido por várias instituições internacionais,
levando em conta indicadores como o tamanho da dívida pública (externa e interna), a sua capacidade de
pagamento, o tamanho do déficit público (receitas do governo menos despesas, quando o resultado for
negativo. Quando positivo, diz-se superávit), a magnitude das taxas de juros e da taxa de câmbio (valor do
dólar) e outros indicadores. Em suma, no chamado “Risco País” é analisado o grau de instabilidade
econômica do país. Em nosso caso, diz-se “Risco Brasil”.
São medidas hipotéticas e não caracterizam, de fato, a adimplência (honra dos compromissos, pagamento
das dívidas assumidas) ou a inadimplência (não pagamento), por exemplo, dos títulos públicos pelo
18
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
governo. O Brasil, considerado muitas vezes como país de alto risco, tem honrado seus compromissos com
regularidade.
O “Risco Brasil”, sendo uma medida hipotética ou não, muitas vezes é utilizada como parâmetro pelos
investidores externos, que buscam, acima de tudo, a segurança na aplicação de seus recursos. Ao lado da
rentabilidade (lucro da aplicação) e da liquidez (rapidez no resgate em moeda corrente e, claro, garantia de
troca pela moeda de origem da aplicação), a segurança é um fator essencial do investimento.
Imagine você na situação de um investidor financeiro que não conhece o Brasil com capital na mão para
investir em vários países (hoje, o investimento é globalizado e “on line”, ou seja, realizado instantaneamente
através de sistemas informatizados de alta tecnologia) e tem que decidir em pouco tempo. Como tomar uma
decisão? Você investiria seus recursos em títulos públicos de um país que não conhece e que, segundo a
classificação de risco, pode não honrar seus compromissos?
É claro que nós, brasileiros, sabemos da magnitude de nossa crise social e econômica, mas o que chega lá
fora são números e existem indicadores (como o da dívida pública, por exemplo), que são assustadores. É
por isso que, vez ou outra, se dá crédito a tais instituições, que dão o seu “veredicto” financeiro acerca dos
países. Os investidores não querem saber se há crise social, econômica ou política, mas tão somente
vislumbram a realidade através dos dados econômicos que lhes estão disponíveis.
2.1 Como é feita a classificação do “Risco País”
Há muitas agências e instituições financeiras que analisam os aspectos econômicos e políticos de um país
para classificar o seu risco. A agência Fitch Ratings, por exemplo, classifica em níveis de “B+”, “B”, “A-“, etc.
Já o banco J.P. Morgan realiza uma classificação diária em pontos, em que cada 100 unidades equivalem a
uma sobretaxa de 1% em relação aos títulos públicos americanos. Segundo matéria no sítio
www.portalbrasil.net/economia_riscopais.htm, “Tecnicamente falando, o risco país é a sobretaxa de se paga
em relação à rentabilidade garantida pelos bônus do Tesouro dos Estados Unidos, país considerado o mais
solvente do mundo, ou seja, o de menor risco para um aplicador não receber o dinheiro investido acrescido
dos juros prometidos”.
Muito contestadas, estas classificações podem, injustamente, influenciar positiva ou negativamente a saúde
financeira de países de economia instável como os latino-americanos ou trazer à tona a realidade
econômica crônica de alguns países de economia emergente.
A seguir, tabela que mostra alguns dos indicadores que influenciam positiva ou negativamente o “Risco
Brasil”.

Principais fatores que influenciam o "Risco Brasil"


ITEM + - COMENTÁRIOS
Capacidade de
Perspectiva de Principal indicador. Influencia diretamente o Risco Brasil.
pagamento das dívidas Perspectiva de
não pagamento Qual investidor aplicaria seus recursos num país que não
públicas externa e pagamento da dívida
da dívida honrasse seus compromissos externos?
interna

Crescimento do Despesas As contas do governo têm que fechar. Se não fecham, tem
Receitas superando
déficit/superávit superando que tomar empréstimos, o que aumenta a dívida. Quanto
despesas
público receitas maior a dívida, mais difícil fica de honrá-la.

Manutenção da A diminuição dos juros reais (por causa da inflação alta) e


Inflação e dólar
Inflação e câmbio inflação e do dólar a alta do dólar fazem o investidor perder dinheiro e essa
em alta
baixos possibilidade o assusta

Previdência Uma Previdência sustentável não tem o risco de precisar


Situação da Previdência
sustentável a longo Não sustentável de recursos não próprios para fechar suas contas, o que
Social
prazo aumentaria o déficit público

Taxas Se as taxas são exorbitantes, sinal de alerta para os


Taxas de Juros Taxas suportáveis
exorbitantes investidores. O País pode estar à beira da bancarrota.

19
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
3. Custo Brasil: Cruel Realidade

A grosso modo, o “Custo Brasil” é o custo de se produzir no Brasil. Não há uma tentativa de medida tão
concreta quanto à do “Risco Brasil”, mas é uma medida mais facilmente compreendida, porque existe de
fato internamente e é sentida claramente por todos os empreendedores.
3.1 Como é o cenário das decisões
Do mesmo modo que o investidor produtivo nacional faz as contas para decidir se prefere investir em ações
ou títulos ou montar/investir em uma empresa, o investidor estrangeiro também fará suas contas para
verificar qual país tem mais condições de lhe render um lucro maior na sua produção, levando em
consideração diversos fatores. É o chamado investimento direto. E isto inclui tanto os cenários nacionais e
os internacionais, ou seja, tudo o que acontece no Brasil e no mundo.
3.2 Os principais fatores que afetam a decisão do empreendedor
Se a mão-de-obra é barata e os impostos baixos, facilita o empreendimento. Se os insumos são facilmente
adquiridos/explorados/transportados, já é uma grande vantagem. Se o mercado é promissor, aí o maior
passo está dado. Se o câmbio e a inflação estão controlados e as taxas de juros baixas, o conjunto está
completo.
A tabela no final do item mostra os principais itens que contam para medir o “Custo Brasil” e impedem ou
ajudam na entrada de investimentos diretos de capitais estrangeiros.
3.3 A realidade do Brasil em relação a medidas de custo de outros países?
Em se tratando de impostos, o “Custo Brasil” é muito alto. Temos uma das maiores cargas tributárias do
mundo. Quanto ao custo da mão-de-obra e a facilidade de obtenção de recursos naturais, não temos do
que nos queixar quando comparamos o Brasil com outros países. Já na infra-estrutura de transportes, por
exemplo, não estamos entre os países mais desenvolvidos, embora tenhamos uma das maiores malhas
rodoviárias do planeta. E o fornecimento de energia não é seguro, haja vista o período de racionamento
vivido em 2001.
Nos EUA dos anos 80, a ordem era baixar impostos para aumentar impostos. Como é isso? Lá, reduzir os
impostos faz com que os empresários invistam mais. Investindo mais, mais impostos retornam ao governo.
A idéia é lógica e funciona. Mesmo que não haja aumento real da arrecadação com estas medidas, no
mínimo a economia irá se aquecer mais e a população se beneficiará. No Brasil, o grande impedimento
contrário a medidas desta natureza é a sonegação, que é enorme. Isto talvez pudesse reduzir a
arrecadação do governo em vez de aumentar. Temos uma questão tautológica em voga: a sonegação
existe porque a carga tributária é alta ou a carga tributária é alta porque a sonegação existe? O ideal aqui,
além da fiscalização, seria uma boa reforma tributária, amplamente medida e negociada.
Já foram várias as tentativas de se votar uma reforma tributária consistente, substituindo, por exemplo, o IPI
(Imposto sobre Produtos Industrializados) e o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e
outros impostos pelo IVA (Imposto sobre o Valor Agregado) e o IVV (Imposto sobre Vendas a Varejo),
acabando com a cobrança de impostos em cascata (um imposto sobre o produto na fabricação, outro sobre
o mesmo produto na distribuição e outro ainda sobre o mesmo produto no comércio, o que faz o preço
chegar muito alto ao consumidor) e mudando a natureza de cobrança, que atualmente é sobre o produto e
seria sobre o lucro do empreendedor. Esta última mudança daria margem à redução do preço do produto e,
qual fosse o lucro da empresa, seria tributado o imposto correspondente à alíquota estabelecida. Mas esta
medida é bastante polêmica, pois não se tem idéia do que seria mais fácil sonegar ou fraudar: o lucro como
um todo ou cada produto.
A votação de uma Reforma Tributária mais complexa esbarra nos estados da federação, que têm no ICMS
a sua principal fonte de arrecadação e viram a possibilidade da substituição do imposto como uma
diminuição de suas receitas, não aceitando outras propostas mais ousadas. O Brasil está com um problema
de “cobertor curto”: se favorece a União, prejudica os estados e vice-versa.

20
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008
Principais fatores que influenciam o "Custo Brasil"

ITEM + -- COMENTÁRIOS
Manutenção do. dólar e
Câmbio e inflação Inflação e dólar em alta Preços maiores, mercado consumidor menor
inflação baixos

Preço da Mão-de-Obra Barata Cara Maiores ou menores custos

Recursos naturais e
Facilidade de obtenção Dificuldade de obtenção Maiores ou menores custos
insumos

Taxas de juros Baixas Altas Financiamento da produção

Mercado consumidor e Mercado amplo e boa Mercado restrito e baixa Mais consumidores e boa distribuição de
distribuição de renda capacidade de consumo capacidade de consumo renda, maior mercado consumidor

Capacidade de entrada
Demanda grande e Demanda pequena ou Mercado saturado, entrada mais difícil.
no mercado e
concessões públicas sem concessões Privatização abre portas.
privatização
Velocidade das votações Uma carga tributária alta, no Brasil,
Reforma Tributária e concretização da Morosidade aumenta os custos e desanima o
reforma empreendedor

Venda certa ou insumos e juros mais


Política de subsídios Vantajosa Ausente ou fraca
baratos

Risco Brasil Baixo Alto Influencia na decisão do estrangeiro investir

Infra-estrutura: portos, Situação ótima, boa,


Situação ruim, precária Infra-estrutura precária: inibe investimentos
estradas, fretes, energia regular

21
_____________________________________
Prof. Drd. Marcos J. G. Rambalducci 2008

You might also like