acham impertinência e presunção o fato de os espíritas apregoarem que o Espiritismo é o próprio Cristianismo redi- vivo. Que dizeis? RAMATIS: — Evidentemente, isso é possível quando exista semelhança de ação entre ambos. O Cristianismo era doutrina desprovida de pompas, complexidades, dogmas, ritos e compreensível por todas as criaturas, pescadores, campônios, mulheres, crianças, velhos, sacerdotes ou dou- tores. Revelava os atributos naturais do espírito imortal, estimulando o homem para o culto das virtudes superiores e balsamizando os efeitos do pecado. O Cristianismo era movimento sem hierarquia, cuja força e pureza doutrinárias dispensavam intérpretes espe- ciais, pois tocava diretamente na alma e no coração das criaturas. Os homens reuniam-se sob a carícia do Sol amigo, bafejados pela brisa deliciosa da Galiléia, enquanto escutavam Jesus falar-lhes das cousas ternas, das esperan- ças do “reino de Deus” e do prazer sublime de ajudar o próximo. Tudo era simples, sem preconceitos, sem exigên- cias filosóficas ou consultas complexas. Quando Jesus pre- gava, os bens mais valiosos do mundo material eram supe- rados pela indescritível paz de espírito e serenidade que envolviam seus discípulos e ouvintes. Em conseqüência, o Espiritismo é doutrina profunda-
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mente eletiva ao Cristianismo porque também dispensa
práticas iniciáticas, dogmas, compromissos, rituais, oferen- das, símbolos, insígnias e sacerdócio organizado. O Cristo- Jesus manifesta-se em qualquer lugar e a qualquer hora, à luz do dia ou da noite, em ambiente fechado ou aberto, nos campos ou nas cidades, inspirando os homens que o evo- carem para realizar cousas sublimes. Assim, como fariam os antigos cristãos, os espíritas também cuidam da realidade espiritual, diretamente, em reuniões simples, sem atavios, cerimônias ou idolatrias.
PERGUNTA: — Mas um dos fundamentos do Espiritismo
é comprovar, pela mediunidade, a imortalidade da alma. Não é assim? RAMATIS: — Não basta só provar a existência da alma pela fenomenologia mediúnica, mas também é preciso desenvolver no espírito humano as qualidades evangélicas apregoadas por Jesus. Os espíritas sabem que é mais sen- sato e proveitoso exercitar nas criaturas a paz, ternura, humildade e o amor, que convertem à angelitude, do que apenas surpreendê-las com os fenômenos transitórios refe- rentes à imortalidade. Sem dúvida é muito importante para os espíritas com- provarem a sua sobrevivência após a morte física; mas ainda é mais valiosa a transformação moral e libertação dos instintos animais, que livram o ser da roda indesejável das encarnações expiatórias. Indubitavelmente, é grande tolice o homem saber da existência do Paraíso e nada fazer para habitá-lo! O fenômeno psíquico demonstra características da revelação, mas não é processo fundamental para melho- rar a evolução da alma. O Espiritismo afiniza-se bastante com o Cristianismo, principalmente, pela mesma finalidade doutrinária de trans- formar o homem animalizado em cidadão angélico. Os fenômenos espetaculares, embora impressionem, não transformam sentimentos maus em virtudes sublimes, nem
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as paixões violentas em afagos da alma. Isso só é possível
através da renovação moral no santuário silencioso do ser! Aliás, Jesus, o mais elevado instrutor da Terra, só pro- meteu fenômenos aos homens, depois de eles alcançarem a redenção espiritual. Em verdade, o homem evangelizado também é um fenômeno. Por isso, o Amado Mestre não fez milagres derrogando as leis do mundo, pois Ele era, acima de tudo, um sublime instrutor de almas! Jamais se prestou à condição de prestidigitador promovendo espetáculos incomuns às multidões supersticiosas.
PERGUNTA: — O Espiritismo, porventura, também é
uma religião? RAMATIS: — Depende do que realmente considerais religião, pois o Espiritismo não é mais uma seita que se par- ticularize entre os diversos tipos de associações religiosas do mundo. Contudo, é “Religião”, na acepção do vocábulo “religare”, processo ou meio de religar o espírito do homem à Consciência Cósmica de Deus. Sua função é dina- mizar o “quantum” energético da centelha espiritual que domina em sua intimidade, fazendo-a aflorar cada vez mais à superfície da transitória personalidade humana; e assim consolidando a individualidade eterna do ser consciente de existir no Universo! Não é movimento destinado a reunir homens e incentivá-los à adoração de Deus sob um aspec- to particularizado; nem se distingue por cerimônias em templos, dogmas, compromissos ou posturas peculiares a estatutos religiosos. É norma de vida do Espírito encarna- do, induzindo-o a libertar-se, o mais cedo possível, da ani- malidade que o prende aos ciclos encarnatórios nos mun- dos planetários. Mas tudo isso será exercido com um “esta- do” de espírito no homem, sem limitações, preconceitos, obrigações ou exigências aos seus fiéis e adeptos. O esfor- ço da criatura em “religar-se” o mais cedo possível com o Pai deve ser espontâneo ou voluntário. Jamais obrigatoria- mente, pois isso lhe tiraria o mérito da ação. As cerimônias,