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A Liahona

A IGREJA DE JESUS CRISTO DOS SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS • DEZEMBRO DE 2008

O Espírito de Natal, p.15


Havia Lugar na Estalagem, p. 8
Assombro Me Causa o Amor que
Me Dá Jesus, p. 28
Recorte: Figuras para Montar
Seu Próprio Presépio, p. A8
Dezembro de 2008 Vol. 61 Nº 12
A Liahona 02290 059 A Liahona, Dezembro de 2008
Publicação oficial em português d’A Igreja de Jesus Cristo dos
Santos dos Últimos Dias
A Primeira Presidência: Thomas S. Monson,
Henry B. Eyring, Dieter F. Uchtdorf
Quórum dos Doze Apóstolos: Boyd K. Packer,
L. Tom Perry, Russell M. Nelson, Dallin H. Oaks,
M. Russell Ballard, Joseph B. Wirthlin, Richard G. Scott,
Robert D. Hales, Jeffrey R. Holland, David A. Bednar,
Quentin L. Cook, D. Todd Christofferson
Editor: Spencer J. Condie
Consultores: Gary J. Coleman, Kenneth Johnson,
Yoshihiko Kikuchi, W. Douglas Shumway
Diretor Gerente: David L. Frischknecht
Diretor Editorial: Victor D. Cave
Editor Sênior: Larry Hiller
Diretor Gráfico: Allan R. Loyborg
Gerente Editorial: R. Val Johnson
Gerente Editorial Assistente: Jenifer L. Greenwood
Editores Associados: Ryan Carr, Adam C. Olson
Editora Adjunta: Susan Barrett
Equipe Editorial: Christy Banz, Linda Stahle Cooper,
20 Consagra Tuas Ações 40 Lembro-me de Joseph
David A. Edwards, LaRene Porter Gaunt, Carrie Kasten,
Jennifer Maddy, Melissa Merrill, Michael R. Morris,
Sally J. Odekirk, Judith M. Paller, Joshua J. Perkey,
Chad Phares, Jan Pinborough, Richard M. Romney, Par a os Adultos
Don L. Searle, Janet Thomas, Paul VanDenBerghe,
Julie Wardell 2 Mensagem da Primeira Presidência: O Melhor Natal de Todos
Secretária Sênior: Laurel Teuscher Presidente Thomas S. Monson
Gerente Gráfico da Revista: M. M. Kawasaki
Diretor de Arte: Scott Van Kampen 8 Havia Lugar na Estalagem Élder Neil L. Andersen
Gerente de Produção: Jane Ann Peters
Equipe de Diagramação e Produção: Cali R. Arroyo, Collette 20 Clássicos do Evangelho: Consagra Tuas Ações Élder Neal A. Maxwell
Nebeker Aune, Howard G. Brown, Julie Burdett, Thomas S. Child,
Reginald J. Christensen, Kim Fenstermaker, Kathleen Howard, Eric 25 Mensagem das Professoras Visitantes: Jesus Cristo É a Luz,
P. Johnsen, Denise Kirby, Scott M. Mooy, Ginny J. Nilson
Pré-impressão: Jeff L. Martin Vida e Esperança do Mundo
Diretor de Impressão: Craig K. Sedgwick 34 Reunir-se no Templo Élder Claudio R. M. Costa
Diretor de Distribuição: Randy J. Benson
A Liahona: 37 Bênçãos do Templo numa Família de Membros e Não-Membros
Diretor Responsável: André B. Silveira
Produção Gráfica: Eleonora Bahia
Kay Przybille
Editor: Luiz Alberto A. Silva (Reg. 17.605)
Tradução: Edson Lopes
40 Lembro-me de Joseph
Assinaturas: Marco A. Vizaco 44 Vozes da Igreja
© 2008 Intellectual Reserve, Inc. Todos os direitos
reservados. Impresso no Brasil. O Pouco que Tínhamos Era o Bastante Sueli de Aquino
O texto e o material visual encontrado n’ A Liahona podem Cânticos que Atravessaram o País Heather Beauchamp
ser copiados para uso eventual, na Igreja ou no lar, não
para uso comercial. O material visual não poderá ser Meu Melhor Presente de Natal Ketty Teresa Ortiz de Arismendi
copiado se houver qualquer restrição indicada nos créditos
constantes da obra. As dúvidas sobre direitos autorais devem
Uma Lição Inesperada Erin Wilson
ser encaminhadas para Intellectual Property Office, 50 East
North Temple Street, Salt Lake City, UT 84150, USA; e-mail:
48 Comentários
cor-intellectualproperty@ldschurch.org.
A Liahona pode ser encontrada na Internet, em vários
idiomas, no site www.lds.org. Para vê-la em inglês, clique
em “Gospel Library”. Para vê-la em outro idioma, clique em
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Idéias para a Noite Familiar
REGISTRO: Está assentado no cadastro da DIVISÃO DE
CENSURA DE DIVERSÕES PÚBLICAS, do D.P.F., sob nº
1151-P209/73, de acordo com as normas em vigor.
“A Liahona”, © 1977 de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos
dos Últimos Dias, acha-se registrada sob o número 93 do Estas idéias podem ajudá-lo a usar ano, na época do Natal.
Livro B, nº 1, de Matrículas e Oficinas Impressoras de Jornais
e Periódicos, conforme o Decreto nº 4857, de esta edição d’A Liahona “Um Milagre de Natal”, p. 12:
9-11-1930. Impressa no Brasil por Prol – Editora Gráfica
– Avenida Papaiz, 581 – Jardim das Nações – Diadema – para reforçar o ensino Conte a história dos missionários a sua
CEP 09931-610 – SP.
ASSINATURAS: A assinatura deverá ser feita pelo tanto na sala de aula como família. Conversem sobre a ale-
telefone 0800-130331 (ligação gratuita); pelo e-mail
distribuicao@ldschurch.org; pelo fax 0800-161441 em casa. Você pode adaptar gria que a música trouxe aos
(ligação gratuita); ou correspondência para a Caixa Postal
26023, CEP 05599-970 – São Paulo – SP. estas idéias a sua família ou passageiros do trem. Façam
Preço da assinatura anual para o Brasil: R$ 22,00.
Preço do exemplar avulso em nossas lojas: R$ 2,00. Para classe. um projeto de algo que sua
Portugal – Centro de Distribuição Portugal, Rua Ferreira de
Castro, 10 – Miratejo, 2855-238 Corroios. Assinatura “Havia Lugar na Esta- família poderia fazer por
Anual: 16 Euros; para o exterior: exemplar avulso: US$
3.00; assinatura: US$ 30.00. As mudanças de endereço
devem ser comunicadas indicando-se o endereço antigo e
lagem”, p. 8: Enrolem-se alguém neste Natal.
o novo.
juntos em um cobertor e façam de “Consagra Tuas Ações”, p. 20:
Notícias do Brasil: envie para noticiaslocais@ldschurch.org.
Envie manuscritos e perguntas para: conta que estão no carro com as pes- Escolham cinco objetos para repre-
Liahona, Room 2420, 50 East North Temple Street, Salt Lake
City, UT 84150-3220, USA; ou mande e-mail para:
liahona@ldschurch.org.
soas da história. Conte a história. Falem sentar os degraus, como, por exem-
A “Liahona”, termo do Livro de Mórmon que significa “bús- de como seria passar a véspera de Natal plo, pedras ou folhas de papel.
sola” ou “orientador”, é publicada em albanês,
alemão, armênio, bislama, búlgaro, cambojano, cebuano,
chinês, coreano, croata, dinamarquês, esloveno, espanhol,
no carro. Conversem sobre como o Escreva em cada um o nome de
estoniano, fijiano, finlandês, francês, grego, haitiano, hindi,
húngaro, holandês, indonésio, inglês, islandês, italiano,
dono da pousada ajudou a família. Em uma das seções do artigo. Durante
japonês, letão, lituano, malgaxe, marshallês, mongol, norue-
guês, polonês, português, quiribati, romeno, russo, samoano, espírito de oração, planejem um meio a discussão do artigo, passem de
sinhala, sueco, tagalo, tailandês, taitiano, tâmil, tcheco,
télugo, tonganês, ucraniano, urdu e vietnamita. de sua família ajudar outras pessoas este um degrau para o outro, de modo a
(A periodicidade varia de um idioma para outro.)
Enquanto procura pelo anel do CTR em
português, escondido nesta revista, pense em
como poderia escolher o que é certo demonstrando
amor por sua família.

PAR A OS JOVENS
7 Pôster: Deus Ama Você de Tal Maneira
12 Um Milagre de Natal Ryan Campbell
15 Calendário do Advento: Profecias da Vinda de Cristo A2 Seguir a Luz
26 Perguntas e Respostas: O Que Posso Fazer para que
Minhas Orações Sejam Menos Repetitivas e Mais A13 Página para Colorir
Significativas?
28 Assombro Me Causa o Amor que Me Dá Jesus O A MIGO: PAR A AS CRIANÇ AS
Élder Jeffrey R. Holland A2 Mensagem de Natal da Primeira Presidência para
as Crianças do Mundo: Seguir a Luz
A4 Tempo de Compartilhar: Conta-me Histórias de Cristo
Deus Ama Você
7 Pôster Linda Christensen
de Tal Maneira A6 Para os Amiguinhos: Demonstrar Nosso Amor a Jesus
Jane McBride Choate
A8 O Nascimento de Jesus
A10 Da Vida do Profeta Joseph Smith:
O Martírio do Profeta
A13 Página para Colorir
A14 O Presenteador Secreto Charlotte Goodman McEwan

o Unigênito
Que Deu Seu Filh ).
(ver João 3:16
NA CAPA
O Nascimento de Jesus, de Jon McNaughton.
CAPA DE O AMIGO
Auto de Natal, de Margie Seager-Olsen.

TÓPICOS DESTA EDIÇÃO


Os números representam Música, 12, 15, 45
a primeira página de Natal, 2, 8, 12, 15, 45, A2,
estarem sempre no degrau corres- o Pai Celestial tem a todos nós. cada artigo. A8, A14
pondente à seção discutida. Suge- “O Presenteador Secreto”, p. A14: A = O Amigo Noite familiar, 1, 15
re-se que vocês leiam as escrituras Conte a história de Davi para sua Amor, 7, 28 Obediência, 20
Caridade, 2, 8, 44, 47 Obra missionária, 8,
citadas no artigo. Conversem sobre família. O que Davi aprendeu? Usando
Casamento, 37 12, 46
as pedras de tropeço que encontra- o exemplo que ele deu ao tornar-se Consagração, 20 Oração, 8, 15, 26
mos na vida. Termine com a leitura um “Doador Secreto”, sugerimos que Conversão, 46 Paz, 37
dos últimos parágrafos do artigo. você faça uma destas coisas: (1) Em Ensino familiar, 2 Perdão, 28
Escrituras 15, A4 Presépio, A8
“Assombro Me Causa o Amor que espírito de oração, escolha uma pessoa
Exemplo, 37, 47 Primária, A4
Me Dá Jesus”, p. 28: Leia a seção ou mais, ou uma família que more Expiação, 20, 25, 28 Profecias, 15
“Alegre Reencontro” até a parte em nas redondezas e que esteja solitária Família, 15, 37, 45 Sacrifício, 28, 34
que o missionário anda em direção ou passando por necessidades. Pla- Hinos, 12, 28 Serviço, 2, 8, 15, A14
Jesus Cristo, 2, 7, 15, Símbolos, 28
à família. Peça aos membros da neje boas ações que ajudariam essas Smith, Joseph, 40, A10
20, 25, 28, 47, A2, A4,
família que adivinhem quem será a pessoas. (2) Escreva o nome de cada A8, A13 Templos, 34, 37
primeira pessoa a ir ao encontro do membro da família em um pedaço Luz, 25, A2 Testemunho, 15

missionário. Depois de terminar a de papel. Escolha um nome e, em


história, conversem sobre o amor segredo, faça alguma coisa por aquela
que os pais têm aos filhos e que pessoa esta semana.

A LIAHONA DEZEMBRO DE 2008 1


M e n s a g e m da P r i m e i r a P r e s i d ê n c i a

O Melhor
Natal de Todos
Presidente Thomas S. Monson

N
esta época do ano, as ondas de rádio duradouro renova seu poder sobre nós:
estão cheias de músicas de Natal. estamos de novo em casa”. 2
Meu coração faz muitas vezes uma O Presidente David O. McKay (1873–1970)
viagem no tempo, rumo ao meu lar e a natais declarou: “Só alcançamos a verdadeira felici-
passados, quando ouço algumas de minhas dade quando fazemos os outros felizes — a
canções natalinas prediletas, como esta: aplicação prática da doutrina do Salvador de
perder a própria vida a fim de encontrá-la.
Ah, nada como estar em casa Em suma, o espírito de Natal é o espírito de
No Natal, pois por mais longe Cristo, que faz nosso coração ficar repleto
Que a vida nos leve, de amor fraternal e amizade, e nos impele a
Se quisermos alegria encontrar praticar atos bondosos de serviço.
No Natal nada compete É o espírito do evangelho de Jesus Cristo, É doar, não receber,
Com o lar, doce lar. 1 cuja observância trará ‘paz na Terra’, pois o que faz florescer
implica boa vontade para com todos os plenamente o espírito
Ilustrações: Daniel Lewis; à direita: Reis Magos do Oriente, de Harry Anderson, © Igreja

Um escritor afirmou: “Mais uma vez homens”.3 de Natal. Passamos a


Adventista do Sétimo Dia, reprodução proibida; fotografia: Busath Photography

é Natal, um eterno regresso às origens. É doar, não receber, o que faz florescer nos interessar mais
Esta época, peculiar devido a seu misté- plenamente o espírito de Natal. Perdoamos pelas pessoas do que
rio, aura e magia, parece, de certo modo, os inimigos, recordamos os amigos e obe- pelas coisas.
atemporal. Tudo o que nos é caro e decemos a Deus. O espírito de Natal nos
ilumina a alma e abre os olhos espirituais, o
que nos leva a enxergar além da vida agitada
que temos e a nos interessar mais pelas
pessoas do que pelas coisas. Para compreen-
der o verdadeiro significado do “espírito de
Natal”, basta ter em mente que se trata, na
verdade, do “Espírito de Cristo”.

Lembrar-se de Cristo
Se tivermos o espírito de Natal, recordare-
mos Aquele cujo nascimento comemoramos

A Liahona DEZembrO de 2008 3


M
argaret nesta época do ano. Visualizaremos aquele e dará à luz um filho, e chamará o seu nome
e Nellie primeiro dia de Natal, predito pelos profetas Emanuel” 4 — que significa “Deus conosco”.
tiraram da antigüidade. Lembremos juntos as pala- No continente americano, os profetas
de debaixo das vras de Isaías: “Eis que a virgem conceberá, anunciaram: “O tempo se aproxima
camas várias caixas e não está muito longe, em que,
cheias de roupas com poder, o Senhor Onipotente
de segunda mão (…) habitará num tabernáculo
doadas por comer-
ciantes amigos de
sua mãe. Formou-se
uma alegre confu-
são e as crianças
da família Kozicki
escolheram todas as
roupas e sapatos que
quiseram.

4
de barro; (…) sofrerá tentações e dores (…) E ele chamar- aquecida e, apesar das condições humildes da família,
se-á Jesus Cristo, o Filho de Deus”. 5 nunca passaram fome. No verão, cultivavam uma horta
Veio então a noite mais importante de todos os tem- enorme, faziam chucrute, queijo cottage, coalhada e picles
pos em que, aos pastores nos campos, apareceu o anjo a fim de fazerem trocas com os vizinhos. Também criavam
do Senhor que lhes anunciou o nascimento do Salvador. galinhas, porcos e gado de corte. Tinham pouco dinheiro
Depois, reis magos viajaram do Oriente para Jerusa- no bolso, mas podiam trocar essas mercadorias por outras
lém “dizendo: Onde está aquele que é nascido rei dos que não produziam.
judeus? porque vimos a sua estrela no oriente, e viemos a A mãe de Margaret tinha amigos que tinham emigrado
adorá-lo. (…) com ela do mesmo país. Esses
E, vendo eles a estrela, regozija- conhecidos tinham um grande
ram-se muito com grande alegria. armazém, que se tornou um verda-
E, entrando na casa, acharam o deiro mercado, em que as pessoas
menino com Maria sua mãe e, pros- da região doavam ou trocavam
trando-se, o adoraram; e abrindo os roupas e sapatos usados e outros
seus tesouros, ofertaram-lhe dádivas: objetos. Muitos desses artigos de
ouro, incenso e mirra”. 6 segunda mão chegavam às mãos da
Os tempos mudam, os anos se família de Margaret.
sucedem em ritmo acelerado, mas o Os invernos na província de
Natal continua sagrado. Nesta mara- Alberta eram muito frios, longos
vilhosa dispensação da plenitude e penosos e, em certo inverno parti-
dos tempos, nossas oportunidades cularmente gelado e difícil, Marga-
de doar de nós mesmos são de fato ret e sua irmã Nellie se deram conta
ilimitadas, mas também efêmeras. Há da pobreza de seus vizinhos, a
corações a alegrar, palavras gentis a família Kozicki, cuja fazenda ficava
proferir, presentes a oferecer, boas a alguns quilômetros de distância.
ações a praticar, almas a salvar. Sempre que o pai da família Kozicki levava os filhos à
escola em seu trenó improvisado, ele entrava no prédio
Um Presente de Natal para se esquentar perto da estufa antes de voltar para casa.
A Natividade, de Antonio Correggio, © Superstock, reprodução proibida

No início da década de 1930, Margaret Kisilevich e sua Os calçados da família consistiam em trapos e sacos gros-
irmã Nellie deram um presente de Natal a seus vizinhos, seiros cortados em faixas e enrolados em volta das pernas
a família Kozicki, que ficou gravado em sua memória por e pés, com enchimento de palha e amarrados com cordas.
toda a vida e se tornou fonte de inspiração para a família Margaret e Nellie resolveram convidar a família Kozicki,
inteira. por intermédio dos filhos, para a ceia de Natal. E decidi-
Na época, Margaret e Nellie moravam em Two Hills, ram não falar do convite a ninguém de sua própria família.
Alberta, Canadá — uma comunidade rural povoada Chegou a manhã de Natal, e todos da família de
principalmente por imigrantes ucranianos e poloneses, a Margaret estavam ocupados com os preparativos para o
maioria muito pobre e com família numerosa. Era a época banquete do meio-dia. O enorme porco assado entrara
da Grande Depressão. no forno na noite anterior. O repolho, as rosquinhas, as
A família de Margaret era formada por pai, mãe e tortas de ameixa e o ponche especial de açúcar queimado
15 filhos. A mãe de Margaret era industriosa e seu pai, tinham sido preparados um pouco antes. O cardápio ter-
empreendedor — e com tantos filhos, tinham mão-de- minaria com chucrute, picles, verduras e legumes. Marga-
obra garantida em casa. Assim, a casa estava sempre ret e Nellie ficaram encarregadas de preparar as verduras

A Liahona DEZembrO de 2008 5


e legumes, e a mãe não parava de perguntar por que esta- dermos em Seu rastro, deixaremos para trás uma dúvida e
vam descascando tantas batatas, cenouras e beterrabas. aprenderemos uma nova verdade.
Sem responder, simplesmente continuaram o trabalho. Escreveu-se sobre Jesus de Nazaré que crescia “em
O pai foi o primeiro a ver uma parelha de cavalos e sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os
um trenó com treze pessoas que se encaminhavam para homens”. 7 Estamos determinados a fazer o mesmo? Uma
sua casa. Como adorava cavalos, os reconheceu de longe. passagem das escrituras sagradas contém um tributo a
Perguntou à esposa: “Por que a família Kozicki está vindo nosso Senhor e Salvador, de quem se disse que “andou
para cá?” A resposta foi: “Não sei”. fazendo bem (…); porque Deus era com ele”. 8
Quando chegaram, o pai de Margaret ajudou o Sr. Kozi- Minha oração é que, neste Natal e em todos os Natais
cki a guardar os cavalos. A Sra. Kozicki abraçou a mãe de futuros, sigamos Seus passos. Assim, cada Natal será o
Margaret e agradeceu por convidá-los para o almoço de melhor de todos. ◼
Natal. Todos entraram, e as festividades começaram. Notas
Os adultos comeram primeiro e, depois de lavada a 1. Al Stillman e Robert Allen, “Home for the Holidays”.
2. Elizabeth Bowen, “Home for Christmas”, em Mary Engelbreit,
louça, foi a vez das crianças, que almoçaram em turnos. Believe: A Christmas Treasury (1998), p. 27.
3. David O. McKay, Gospel Ideals (1953), p. 551.
Foi um banquete maravilhoso, ainda melhor por ter 4. Isaías 7:14; ver também Mateus 1:18–25.
sido partilhado. Depois de se fartarem, todos cantaram 5. Mosias 3:5, 7–8.
6. Mateus 2:2, 10–11.
juntos hinos de Natal e em seguida os adultos foram 7. Lucas 2:52.
conversar. 8. Atos 10:38.

A Caridade em Ação
Margaret e Nellie levaram as crianças dos vizinhos I d é i a s pa r a o s M e s t r e s Fam i l i a r e s
para o quarto e tiraram de debaixo das camas várias
caixas cheias de roupas de segunda mão, doadas pelos D epois de se preparar em espírito de oração, dê esta
mensagem empregando um método que incentive a
participação daqueles a quem for ensinar. Seguem-se alguns
comerciantes amigos de sua mãe. Formou-se uma alegre
confusão, com um desfile de moda improvisado e todos exemplos:
escolhendo as roupas e sapatos que queriam. As crianças 1. Peça a um membro da família que leia em voz alta a
fizeram tanto barulho que o pai de Margaret foi até lá para citação do Presidente McKay. Se quisermos ter o melhor
ver do que se tratava. Ao ver a felicidade das filhas e a ale- Natal de todos os tempos, precisamos seguir os passos do
gria das crianças da família Kozicki com as “novas” roupas, Salvador. Peça aos membros da família que desenhem o
sorriu e disse: “Podem continuar”. contorno dos próprios pés. Em seguida, sugira que a família,
Ainda no meio da tarde, antes de anoitecer e esfriar depois da visita, em espírito de oração, anote em cada pegada
demais com o pôr-do-sol, a família de Margaret se despe- um ato de serviço que os membros da família podem prestar
diu dos amigos, que foram embora bem alimentados, bem ao próximo. Sugira que fixem as pegadas, de modo a condu-
vestidos e bem calçados. zirem a uma gravura do Salvador, para ilustrar que os atos de
Margaret e Nellie nunca contaram a ninguém que serviço nos ajudam a aproximar-nos Dele.
tinham convidado a família Kozicki, e o segredo perdurou 2. Peça aos membros da família que relatem algumas
até o Natal de 1988, quando Margaret Kisilevich Wright, experiências de Natal memoráveis. O que tornou essas
aos 77 anos, revelou o segredo à família pela primeira vez. experiências tão boas? Leia ou conte a experiência da família
Disse que tinha sido seu melhor Natal de todos os tempos. Kozicki. Sugira que neste mês a família encontre maneiras de
Se quisermos ter o melhor Natal de todos os tempos, servir ao próximo, o que a ajudará a desfrutar ao máximo a
devemos ouvir o som das sandálias nos pés do Mestre. época de Natal.
Devemos dar a mão ao Carpinteiro. A cada passo que

6
Deus Ama Você
de Tal Maneira
Detalhe de Porque Deus Amou o Mundo de Tal Maneira, de Simon Dewey. Reprodução proibida.

Que Deu Seu Filho Unigênito


(ver João 3:16).

A Liahona DEZEMBRO DE 2008 7


8
Lugar na
Estalagem
É l d e r N e i l  L . A n d e r s e n
Da Presidência dos Setenta

N
uma tarde fresca e luminosa, começa- o tempo de viagem a passar mais rápido.
mos a viagem rumo à casa da missão A cada hora que passava, Kristen e Derek
em Bordeaux, na França. Era o dia 24 ficavam mais animados ao pensarem nas
de dezembro de 1990 e pretendíamos passar surpresas que a manhã de Natal lhes reser-
o Natal em casa. vava. Quase sentíamos o cheiro do peru que
Eu e Kathy, minha esposa, juntamente com estava sendo preparado para a ceia na casa da
nossos quatro filhos — Camey, de 14 anos, missão por um bondoso casal missionário que Numa situação em
Brandt, de 13, Kristen, de 10, e Derek, de aguardava nossa volta. O Natal estava no ar. que somente Ele pode-
8 — tínhamos acabado de viver uma semana Foi só no fim da tarde que percebemos ria nos levar para
inesquecível. Devido às grandes distâncias que talvez houvesse um problema. Em boa casa, ouviu nossas
em nossa missão, não tínhamos reunido os parte da manhã, tivéramos certa dificuldade orações.
missionários para comemorar o Natal. Em para trocar de marcha. Paramos para verificar
vez disso, tínhamos viajado com a família o nível do fluido de transmissão, mas tudo
para todas as cidades da missão, o que uniu parecia em ordem. Agora, já estava escure-
a família, pois envolvemos as crianças num cendo e ainda a duas horas de Bordeaux,
programa de Natal especial. Nossa família se a terceira, quarta e quinta marchas tinham
alegrara com cada missionário no grandioso parado de funcionar totalmente.
privilégio de proclamar o evangelho restau- Na segunda marcha, avançamos len-
rado de Cristo nessa gloriosa época do ano. tamente pela via rural ladeada de árvores.
No último dia, tivemos a companhia de Seria impossível chegar a Bordeaux
Ilustrações: Richard Bird

quatro excelentes missionários. O grande fur- dessa forma, e procuramos ajuda.


gão azul, agora cheio, também estava repleto Nossa primeira esperança foi uma loja
do espírito de Natal, e os cânticos e as histó- de conveniência prestes a fechar as por-
rias tradicionais dessa época do ano ajudaram tas. Perguntei se havia alguma estação de

A Liahona DEZembrO de 2008 9


trem ou empresas de locação de automóveis nas redon- e entrei apenas com as três crianças menores. Expliquei
dezas, mas estávamos longe de qualquer cidade maior, e nossa situação à jovem da recepção. Ela viu o rosto
minhas perguntas ficaram praticamente sem resposta. exausto das crianças e pediu gentilmente que esperásse-
Voltei para o carro. A preocupação e a decepção esta- mos um pouco enquanto telefonava para o proprietário,
vam estampadas no rosto dos filhos mais novos. Será que o Sr. Francis Darroze.
não voltariam para casa a tempo para o Natal? Será que Camey veio ver como estavam as coisas. Enquanto
passariam a noite mais especial do ano num carro da mis- esperávamos a chegada do Sr. Darroze, fiz uma oração
são que estava lotado? Depois de terem levado felicidade silenciosa de agradecimento. Talvez não chegássemos a
e ânimo aos missionários que estavam longe de casa, será Bordeaux naquela noite, mas como o Pai Celestial fora
que passariam o Natal numa estradinha esquecida bondoso ao nos conduzir a um hotel asseado! Estremeci
no interior da França, longe de sua própria ao pensar que, por pouco, teríamos passado
casa? a noite no carro numa região remota da
Kristen sabia a quem recorrer e de França. Vi que havia um restaurante na sala
imediato sugeriu uma oração. Muitas ao lado, e fiquei surpreso ao perceber
vezes tínhamos orado em família que estava aberto na véspera de Natal.
pelos necessitados: pelos missioná- Poderíamos comer bem, tomar um
rios, pesquisadores, membros da Igreja, banho quente e dormir numa cama
nossos líderes, o povo francês, nossa própria confortável.
família. Curvamos a cabeça para orar e pedimos O Sr. Darroze chegou vestido como
auxílio com humildade. mestre-cuca francês tradicional, com o traje de duas
Mas já escurecera de vez. Prosseguimos em mar- fileiras de botões fechados até quase o queixo. Ele era o
cha lenta pelo pinheiral adentro, num ritmo de marcha dono do hotel, um homem proeminente na comunidade.
olímpica. Nossa esperança era chegar a uma cidadezinha Seu olhar cordial e sorriso simpático deixavam transpare-
apenas 5 quilômetros adiante. Logo nosso farol iluminou cer que era também um cavalheiro.
uma placa pequena com uma seta que indicava o caminho Falei-lhe de nosso problema, que éramos dez pessoas
para Villeneuve-de-Marsan. viajando de carro e de nossos planos de ir a Bordeaux.
Já tínhamos percorrido muitas vezes a estrada de mão Ele percebeu o meu sotaque e eu esclareci que éramos
dupla entre Pau e Bordeaux, mas nunca saíramos da rodo- norte-americanos e, numa única frase, expliquei por que
via para entrar na cidadezinha de Villeneuve-de-Marsan. estávamos na França.
Ao chegarmos aos trancos à cidade, vimos uma paisagem Ele imediatamente tentou nos ajudar. A cerca de 16 qui-
típica de tantos povoados franceses. As casas e pequenas lômetros de distância havia uma cidade média com uma
lojas geminadas se sucediam na estrada estreita que levava estação de trem bastante movimentada. Ele telefonou para
ao centro da cidade. Os moradores tinham fechado cedo informar-se de qual seria o próximo trem para Bordeaux,
as janelas, e as ruas estavam escuras e desertas. As luzes mas descobriu que só sairia às 10h15 da manhã de Natal; e
da antiga igreja católica na praça central eram o único todas as companhias de locação de veículos dessa cidade
sinal de vida, brilhando em preparação para a tradicional maior já estavam fechadas.
missa do galo. Passamos pela igreja, o carro estremeceu e A decepção era bem visível na fisionomia de meus
depois parou. Felizmente, estávamos em frente a uma bela filhos pequenos. Perguntei ao Sr. Darroze se teria quartos
pousada rural. As luzes estavam acesas, e achamos que era na pousada para nossa família e os quatro missionários
nossa última chance de conseguir ajuda. pernoitarem. Ainda que não passássemos a noite em casa,
Para não assustarmos os funcionários do estabeleci- pelo menos era uma grande bênção achar hospedagem
mento, Kathy, Camey e os missionários ficaram no furgão adequada.

10
O
Sr. Darroze
logo sacudiu
a cabeça e o
dedo para recusar.
Sua alma estava
repleta do espírito
generoso do Natal.
“Não”, protestou,
“não vou aceitar
nada.”

O Sr. Darroze olhou para as crianças. Ele nos conhecera por hora e não tenho certeza se o aquecedor funciona
apenas minutos antes, mas seu coração fora tocado pela bem. Mas se quiser, vamos juntos à fazenda a 16 quilôme-
fraternidade que atravessa todos os oceanos e nos torna tros para buscá-lo.”
uma grande família. Sua alma estava repleta do espírito As crianças saltaram de alegria. Pus a mão no bolso em
generoso do Natal. “Sr. Andersen”, respondeu, “claro que busca de dinheiro ou cartões de crédito e ele logo sacudiu
tenho quartos disponíveis; mas passar a véspera de Natal a cabeça e o dedo para recusar.
numa pousada não é o ideal. As crianças adorariam estar “Não”, protestou, “não vou aceitar nada. Pode devolver
em casa, aguardando entusiasmadas as surpresas da meu furgão quando tiver tempo depois do Natal. Hoje é a
manhã de Natal. Vou emprestar-lhes meu carro e assim véspera de Natal. Leve a família para casa.”
poderão ir para Bordeaux ainda hoje”. Pouco depois da meia-noite, avistamos as luzes de Bor-
Fiquei perplexo com tamanha bondade. Em geral, as deaux. As crianças e os missionários já tinham caído no
pessoas são muito cautelosas com estranhos, principal- sono na traseira do furgão do dono da pousada. Ao pas-
mente estrangeiros como nós. Agradeci, mas expliquei sarmos pelas ruas conhecidas que levavam a nossa casa,
que éramos 10 pessoas e simplesmente não caberíamos Kathy e eu agradecemos ao bom Pai Celestial por nosso
num carro francês pequeno. próprio milagre de Natal. Numa situação em que somente
Ele hesitou por alguns instantes, mas não para diminuir Ele poderia nos levar para casa, ouviu nossas orações.
o presente e sim aumentá-lo. Passamos a noite de Natal em casa, embora em
“Em minha fazenda, a 16 quilômetros daqui, tenho um Villeneuve-de-Marsan houvesse lugar na estalagem. ◼
velho furgão. Utilizo-o apenas na fazenda e ele só tem os Este artigo foi publicado originalmente em Christmas Treasures
dois bancos dianteiros. Anda no máximo a 70 quilômetros (Deseret Book, 1994).

A Liahona DEZembrO de 2008 11


12
Um Milagre
R yan C am p bell
de Natal
O
inverno é uma época do ano muito fria na e reconheci a voz de nosso líder de distrito. Tínhamos
Missão Rússia Moscou. Para os missionários, recebido para aquele dia a tarefa de pensar em sugestões
isso às vezes se aplica não somente ao clima, de como os missionários poderiam comemorar o Natal.
mas também às pessoas, que ficam mais introvertidas. Eu tinha-me esquecido totalmente disso, mas não queria
Todos parecem voltar às pressas para casa depois do admiti-lo. Tentando pensar rápido numa sugestão, lem-
trabalho. As pessoas adoecem, as estradas ficam terrivel- brei-me do grupo de músicos e propus que nosso distrito
mente escorregadias e o frio açoita impiedosamente cada cantasse hinos de Natal nos trens. Eu poderia fazer o
parte exposta da pele. Os sorrisos são raros. acompanhamento instrumental com violino. Para minha
Eu e meu companheiro nos encontrávamos nessas con- surpresa e até decepção, o líder de distrito adorou a idéia.
dições no inverno de 2005. Queríamos alegrar as pessoas Fixamos um dia. “Onde eu estava com a cabeça!”, disse
transmitindo nossa mensagem de fé, esperança e amor, para mim mesmo ao lembrar que três dos missionários de
mas ninguém se mostrava receptivo. E, para ser honesto, nosso distrito não tinham o menor talento vocal.
meu estado de espírito também não era dos melhores— Chegou o dia e os missionários se aglomeraram na
não conseguia vencer o desânimo. Dia após dia, caminhá- plataforma. O sol se pusera horas antes, e fazia um frio
vamos pelas ruas frias em busca de pessoas para ensinar, terrível. Meus pés já estavam dormentes. Ensaiamos
sentindo os pés congelados. Apesar da situação desalenta- durante cerca de cinco minutos até o trem se aproximar
dora, não queríamos desistir. O Natal estava chegando, e lentamente da plataforma. Entramos de muito bom grado,
queríamos ajudar as pessoas a sentirem o espírito de Natal. por acharmos refúgio contra o vento gelado e a neve. Tirei
Mas como? o violino da maleta e fiz uma oração silenciosa pedindo a
Certa noite, na viagem de trem de volta para casa, um Deus que tocasse o coração dos ouvintes.
pequeno grupo de músicos entrou em nosso vagão. Toca- Ao embarcarmos, a maioria das pessoas não prestou
ram maravilhosamente bem, mas para minha surpresa, a menor atenção em nós. Como meus dedos ainda não
a apresentação não despertou nenhuma reação. Talvez estavam aquecidos, quando comecei a tocar o timbre do
uma ou duas pessoas lhes tenham dado algumas moedi- violino soou muito simples, mas pungente. De repente, o
Ilustrações: Gregg Thorkelson

nhas, mas as demais continuaram com o olhar fixo nas estado de espírito no vagão mudou. Quase se podia sentir
janelas geladas. Senti pena dos artistas e fiz uma pequena algo no ar. Os passageiros pareciam embevecidos. Os
contribuição. outros missionários começaram a cantar “Noite Feliz”:
Pouco depois, chegamos à estação próxima de nosso
apartamento e fomos correndo para casa. Assim que Noite feliz! Noite feliz!
entramos e fechamos a porta, o telefone tocou. Atendi Ó Senhor, Deus de amor

A Liahona DEZembrO de 2008 13


Pobrezinho nasceu em Belém; rostos sorridentes e saudações calorosas. Já
Eis na lapa Jesus, nosso bem; no fim do vagão, desejamos Feliz Natal aos
Dorme em paz, ó Jesus! passageiros e nos despedimos de nossos
Dorme em paz, ó Jesus! 1 novos amigos com acenos.
Ao passarmos pela porta, olhamos uns
Enquanto eu tocava e os outros missio- para os outros, incrédulos. “O que acabou de
nários cantavam, ninguém no vagão disse acontecer?”, perguntamos. Então, com ener-
uma única palavra. Quando terminamos o gia redobrada, entramos no vagão seguinte.
hino, fiquei observando a fisionomia das Inicialmente os passageiros não nos deram a
pessoas. Todas estavam olhando fixamente mínima atenção, mas depois de cantarmos o
para nós. Muitas tinham os olhos rasos hino, a reação miraculosa foi a mesma. Pas-
d’água. Houve um minuto de silêncio, samos o restante da noite indo de vagão em
pois ninguém queria interromper aquele vagão e vivemos a mesma experiência em
momento. Por fim, um homem que estava todos eles. Eu nunca vira tamanha aceitação
de pé no fundo do vagão exclamou: “São e amor antes.
santos, santos de verdade!” Todos começa- Ao voltar para casa naquela noite, percebi
ram a aplaudir. que vivenciara um milagre produzido pela
Ao andarmos pelo corredor, muitas pes- música, pela mensagem sobre o Salvador e
soas quiseram nos dar dinheiro. Quando pelo espírito de Natal. Mesmo nos períodos
não aceitamos, ficaram ainda mais surpre- mais frios de nossa vida, podemos ser conso-
sas. Ouvi alguém dizer em voz baixa: “Isso lados pela presença do Senhor. Fui imensa-
simplesmente não acontece”. Um homem até mente abençoado por ver como as pessoas
tentou nos dar mil rublos e ficou chocado podem mudar drasticamente sob a influência
quando recusamos. Em vez disso, oferece- do Espírito. Sempre me lembrarei daquela
mos a ele um cartão da amizade, que ele noite e a guardarei com carinho no coração.
aceitou com alegria. Logo outros passageiros Que o Espírito continue a operar milagres
começaram também a pedir cartões. Fizeram assim para sempre! ◼
ainda perguntas sobre a Igreja e sobre nós. Nota
Parecia que, para onde olhássemos, víamos 1. “Noite Feliz”, Hinos, nº 126

14
Calendário do Advento

Profecias da
Vinda de Cristo: Você pode preparar-se hoje para o Natal recordando como outras
pessoas se prepararam para a vinda Dele no passado.

M
uitos profetas da Bíblia e do Livro de Mórmon predisseram o nas-
cimento e o ministério de Jesus Cristo séculos antes desses aconte-
cimentos. Nos 12 dias que antecedem o Natal, este calendário do
advento servirá de referência com escrituras sobre o nascimento e a vida
do Salvador e atividades que você pode realizar para ser mais semelhante
a Cristo. Leia diariamente as escrituras indicadas e, se desejar, tente fazer a
atividade correspondente. Com a permissão de seus pais, poderia usar
idéias deste calendário na noite familiar.
O Presidente Thomas S. Monson nos aconselhou: “Por alguns
momentos, deixemos de lado os catálogos de Natal, com seus
presentes exóticos. Deixemos de lado até as flores para a mamãe,
a gravata especial para o papai, a linda boneca, o trenzinho que
apita, a tão esperada bicicleta — até mesmo os livros e as fitas de
vídeo — e voltemos nossos pensamentos às dádivas duradouras
que recebemos de Deus”. 1
Nota
1. Thomas S. Monson, “Dádivas Preciosas”, A Liahona, dezembro de 2006, p. 4 .

Quando o Natal
terminar, conserve na
mente e no coração
o que aprendeu e
comemore o Natal o
ano inteiro servindo
ao próximo.
Ilustrações: Scott Greer

15
13 de Dezembro 14 de Dezembro 15 de Dezembro
Isaías, profeta do Velho Testa- Néfi teve uma visão da virgem Os profetas testificaram a respeito
mento, predisse que uma mulher pura Maria e do menino Jesus: da missão de Cristo na Terra. A seguir
daria à luz o Filho do Pai Celestial. “E disse-me ele: Eis que a virgem vemos o que disse o profeta Abinádi,
Essas escrituras foram escritas mais de que vês é a mãe do Filho de Deus, que viveu por volta de 150 a.C.:
700 anos antes de Seu nascimento. segundo a carne. “E assim a carne, tornando-se
“Eis que a virgem conceberá, e E aconteceu que eu a vi ser arre- sujeita ao Espírito, ou o Filho ao Pai,
dará à luz um filho, e chamará o seu batada no Espírito. E depois de haver sendo um Deus, sofre tentações e
nome Emanuel” (Isaías 7:14; ver tam- sido ela arrebatada no Espírito por não cede a elas, mas sujeita-se a ser
bém 2 Néfi 17:14). um certo espaço de tempo, o anjo escarnecido e açoitado e expulso e
“Porque um menino nos nasceu, falou-me, dizendo: Olha! rejeitado por seu povo.
um filho se nos deu, e o principado E eu olhei e tornei a ver a virgem E depois de tudo isso, após haver
está sobre os seus ombros, e se carregando uma criança nos braços. realizado grandes milagres entre os
chamará o seu nome: Maravilhoso, E disse-me o anjo: Eis o Cordeiro filhos dos homens, (…)
Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eter- de Deus, sim, o Filho do Pai Eterno!” (…) será conduzido, crucificado e
nidade, Príncipe da Paz” (Isaías 9:6; (1 Néfi 11:18–21). morto, a carne sujeitando-se à morte,
ver também 2 Néfi 19:6). a vontade do Filho sendo absorvida
Faça uma lista natalina de coisas pela vontade do Pai” (Mosias 15:5–7).
Em espírito de oração, escolha que você gostaria de dar em vez
um amigo, familiar ou membro de receber. Prepare uma iguaria de Natal
de sua ala ou ramo. Em segredo e ofereça-a a uma família
deixe para ele um pequeno de sua ala ou ramo: os atos
presente, como um petisco, um de generosidade ajudarão a
pensamento das escrituras ou aumentar a união e a amizade
um cartão de Natal num lugar na ala.
onde ele vá encontrar.

16
16 de Dezembro 17 de Dezembro 18 de Dezembro
Alma profetizou o seguinte ao Jesus Cristo ama cada um dos Embora Jesus Cristo fosse perfeito,
povo de Gideão por volta de 83 a.C.: filhos de Deus e jamais esqueceria de precisou ser batizado para cumprir
“O Filho de Deus nascerá na face um único deles. Ezequiel profetizou toda a justiça. Segue o relato da pro-
da Terra. (…) que o Senhor seria um pastor e reuni- fecia de Leí, registrada por Néfi:
“E eis que nascerá de Maria, (…) ria Suas ovelhas perdidas. “E disse meu pai que ele [ João
sendo ela uma virgem, um vaso “Porque assim diz o Senhor Deus: Batista] batizaria em Betabara, além
precioso e escolhido; e uma sombra Eis que eu, eu mesmo, procurarei do Jordão; e também disse que ele
a envolverá; e conceberá pelo poder pelas minhas ovelhas, e as buscarei. batizaria com água; que ele batizaria
do Espírito Santo e dará à luz um Como o pastor busca o seu reba- o Messias com água.
filho, sim, o Filho de Deus. nho, no dia em que está no meio das E depois de haver batizado o
E ele seguirá, sofrendo dores e suas ovelhas dispersas, assim busca- Messias com água, ele reconheceria e
aflições e tentações de toda espécie; rei as minhas ovelhas; e livrá-las-ei de testificaria haver batizado o Cordeiro
e isto para que se cumpra a palavra todos os lugares (…) de Deus que iria tirar os pecados do
que diz que ele tomará sobre si as E tirá-las-ei dos povos (…) e as tra- mundo” (1 Néfi 10:9–10).
dores e as enfermidades de seu povo. rei à sua própria terra, e as apascen-
E tomará sobre si a morte, para tarei nos montes de Israel” (Ezequiel Dê um presente na forma de
soltar as ligaduras da morte que pren- 34:11–13). sua companhia e atenção a uma
dem o seu povo; e tomará sobre si as pessoa doente, idosa ou viúva de
suas enfermidades, para que se lhe Passe algum tempo com um sua ala ou bairro. Peça-lhe que
encham de misericórdia as entranhas” irmão mais novo, parente ou conte qual foi seu Natal favorito.
(Alma 7:9–12). amigo. Leia para essa pessoa a
história do Natal que se encontra
Preste um ato de serviço a em Lucas 2.
alguém que precisar. Peça a sua
família que lhe ajude a identificar
o que poderia fazer.

A Liahona DEZembrO De 2008 17


19 de Dezembro 20 de Dezembro 21 de Dezembro
Samuel, o lamanita, predisse os Antes do nascimento de Cristo, Néfi, neto de Helamã, aguardava
sinais relativos ao nascimento do o anjo Gabriel apareceu a Maria. fielmente a vinda do Senhor, mas os
Salvador: “E, no sexto mês, foi o anjo incrédulos lhe disseram: “Eis que a
“Eis que vos dou um sinal; pois Gabriel enviado por Deus a uma hora já é passada e as palavras de
mais cinco anos se hão de passar e cidade da Galiléia, chamada Nazaré, Samuel não se cumpriram; portanto
eis que então o Filho de Deus virá A uma virgem desposada com um vossa alegria e vossa fé concernentes
para redimir todos os que crerem em homem, cujo nome era José, da casa a isso foram inúteis” (3 Néfi 1:6).
seu nome. de Davi; e o nome da virgem era Em seguida, Néfi “saiu, prostrou-se
(…) Eis que haverá grandes luzes Maria. e clamou fervorosamente a seu Deus
no céu, de modo que na noite ante- E, entrando o anjo aonde ela em favor do povo” (v. 11).
rior a sua vinda não haverá escuri- estava, disse: Salve, agraciada; o O Senhor disse a Néfi: “Levanta a
dão, tanto que aos homens parecerá Senhor é contigo; bendita és tu entre cabeça e tem bom ânimo; pois eis
ser dia. (…) as mulheres. (…) que é chegada a hora e esta noite
E eis que uma nova estrela apa- (…) porque achaste graça diante será dado o sinal; e amanhã virei ao
recerá, uma que nunca vistes antes; de Deus. mundo para mostrar ao mundo que
e isto também vos será por sinal” E eis que em teu ventre con- cumprirei tudo aquilo que fiz com
(Helamã 14:2–3, 5). ceberás e darás à luz um filho, e que fosse dito pela boca de meus
pôr-lhe-ás o nome de Jesus” (Lucas santos profetas” (v. 13).
Escreva em seu diário o que o 1:26–28, 30–31).
Natal significa para você e quais Em suas orações, agradeça ao
são as tradições natalinas de sua Reúna familiares e amigos Pai Celestial pela dádiva que é
família. para saírem entoando cânticos Seu Filho.
de Natal de casa em casa ou
em algum lugar público de
seu bairro, ou cante músicas
natalinas em sua própria casa.
22 de Dezembro 23 de Dezembro 24 de Dezembro
Por fim, as profecias do nasci- Na noite do nascimento de Cristo, Nós, cristãos, devemos servir de
mento de Cristo se cumpriram. um anjo apareceu aos pastores justos testemunhas de Jesus Cristo todos
“E aconteceu que as palavras que de Belém para proclamar as novas do os dias do ano por meio da fé e das
Néfi ouviu se cumpriram segundo o Seu nascimento. boas obras. O Profeta Joseph Smith
que fora dito. (…) “E deu à luz a seu filho primogê- e Sidney Rigdon prestaram este
E muitos dos que não haviam nito, e envolveu-o em panos, e dei- testemunho:
acreditado nas palavras dos profetas tou-o numa manjedoura, porque não “E agora, depois dos muitos teste-
caíram por terra e permaneceram havia lugar para eles na estalagem. munhos que se prestaram dele, este
como mortos, (…); porque o sinal Ora, havia naquela mesma é o testemunho, último de todos, que
anunciado já surgia. (…) comarca pastores que estavam no nós damos dele: Que ele vive!
E aconteceu que não houve escuri- campo, e guardavam, durante as Porque o vimos, sim, à direita de
dão toda aquela noite, mas estava tão vigílias da noite, o seu rebanho. Deus; e ouvimos a voz testificando
claro como se fosse meio-dia. (…) E eis que o anjo do Senhor veio que ele é o Unigênito do Pai —
E aconteceu também que uma sobre eles, e a glória do Senhor os Que por ele e por meio dele e
nova estrela surgiu, segundo a pala- cercou de resplendor, e tiveram dele os mundos são e foram criados;
vra” (3 Néfi 1:15–16, 19, 21). grande temor. e seus habitantes são filhos e filhas
E o anjo lhes disse: Não temais, gerados para Deus” (D&C 76:22–24).
Jesus Cristo nos ofertou o maior porque eis aqui vos trago novas de
presente de todos: Sua vida. grande alegria, que será para todo o Preste testemunho do Salvador
Demonstre sua gratidão a seus povo; na próxima ocasião que julgar
pais escrevendo uma carta de Pois, na cidade de Davi, vos nas- oportuna, como por exemplo, na
agradecimento pelas coisas boas ceu hoje o Salvador, que é Cristo, o reunião de jejum e testemunho. ◼
que já fizeram por você. Senhor” (Lucas 2:7–11).

Decida-se a ser uma pessoa mais


feliz e bondosa.
Cl á s s i c o s d o E va n g e l h o

Consagra
Tuas Ações
Élder Neal A.Maxwell (1926 –2004) assustadora. Aqueles de nós que são cons-

Detalhe de Cristo e o Mancebo Rico, de Heinrich


Hofmann. Cortesia de C. Harrison Conroy Co.
Do Quórum dos Doze Apóstolos cienciosos, no entanto, sentem um desconten-
Neal A. Maxwell serviu dois anos como Assistente tamento de origem divina diante da mescla
dos Doze e cinco anos na Presidência dos Setenta
antes de ser apoiado membro do Quórum dos de progresso e procrastinação. Essa é a razão
Doze Apóstolos, em 3 de outubro de 1981. Faleceu destes conselhos carinhosos cujo intuito é
em 21 de julho de 2004, em Salt Lake City, após
uma batalha de oito anos contra a leucemia. O
confirmar esse rumo, dar-nos ânimo para con-
Élder Maxwell fez este discurso atemporal sobre a tinuar a jornada, e conforto ao enfrentarmos,

E
consagração na conferência geral de abril de 2002. cada um, os inerentes graus de dificuldade.
stas palavras são dirigidas aos que,
embora imperfeitos, ainda se mantêm Ser Plenamente Submisso
diligentes na família da fé. Como sem- A humildade espiritual não é obtida ins-
Ao ponderar e pro- pre, meu público imediato sou eu mesmo. tantaneamente, mas por meio de aperfeiçoa-
curar a consagração, Tendemos a considerar a consagração mento gradual, degrau por degrau. Afinal é
é compreensível que como sendo renunciar, por orientação divina, para isso mesmo que servem os degraus,
estremeçamos inter- às nossas posses materiais. Porém, a con- para serem galgados um de cada
namente ao pensar sagração suprema, é entregar-se a Deus. vez. Por fim, nossa vontade pode
em tudo que pode ser Coração, alma, e mente foram as palavras ser “absorvida pela vontade do
exigido de nós, mas o abrangentes que Cristo usou para descrever o Pai” se estivermos dispostos
Senhor, para nos con- primeiro mandamento, que está sempre, não a ser submissos “como uma
solar, disse: “Porque periodicamente, em vigor (ver Mateus 22:37). criança [que] se submete a
minha graça Se cumprido, nossas ações serão totalmente seu pai” (Mosias 15:7;
vos basta” consagradas ao eterno bem de nossa alma
(ver 2 Néfi 32:9).
Essa plenitude envolve a convergência
submissa de sentimentos, pensamentos,
palavras e atos, que é o oposto extremo de
afastamento. “Pois como conhece um homem
o mestre a quem não serviu e que lhe é
estranho e que está longe dos pensamentos e
desígnios de seu coração?” (Mosias 5:13).
Muitos ignoram a consagração porque
ela lhes parece excessivamente abstrata ou

20
O
Salvador 3:19). Do contrário, embora nos esforçando, Talvez, por exemplo, tenhamos um con-
alcançou continuaremos a sentir a influência do mundo junto de habilidades específicas que pode-
um grau de e perderemos parcialmente o rumo. mos erroneamente supor serem propriedade
submissão admirá- Os exemplos de consagração econômica nossa. Mas apegar-nos mais a elas que a
vel quando enfren- são relevantes. Quando Ananias e Safira ven- Deus, é vacilar diante do primeiro manda-
tou a angústia e a deram suas propriedades, retiveram “parte do mento de consagração. Como é Deus quem
agonia da Expiação preço” (ver Atos 5:1–11). Muitos de nós nos nos dá “alento… de momento a momento”,
e desejou “não ter de agarramos tenazmente a certa “parte” a ponto não é recomendável que nos prendamos a
beber a amarga taça de tratar nossas obsessões como se fossem essas coisas que nos desviam de nosso pro-
e recuar”. posses. Sendo assim, seja lá o que for que já pósito (Mosias 2:21).
tenhamos dado, a última porção é a que mais Uma pedra de tropeço surge quando
nos custa ceder. É verdade que uma doa- servimos a Deus generosamente com nosso
ção parcial já é louvável, mas essa atitude se tempo e dinheiro, mas ainda retemos por-
parece muito com a desculpa: “Já fiz a minha ções de nosso próprio eu, demonstrando que
parte” (ver Tiago não somos inteiramente Dele!
1:7–8). Alguns têm dificuldades especialmente
quando determinado papel que desempe-
nha vai chegando ao fim. João Batista, no
entanto, é um modelo positivo, ao dizer ao
crescente número de seguidores de Cristo:
“É necessário que ele cresça e que eu dimi-
nua” ( João 3:30). Considerar erronea-
mente nosso chamado atual como a
única indicação do quanto Deus nos

Não Se Faça a Minha Vontade, Mas a Tua, de Harry Anderson, © Igreja Adventista do Sétimo Dia, reprodução proibida.
ama só fará aumentar nossa relutância
em aceitar seu fim. Irmãos e irmãs,
nosso valor individual já foi definido
divinamente como “grande”; esse valor
não flutua, não é como as ações na bolsa.
Não galgamos outros degraus porque,
como o jovem rico e cumpridor dos
mandamentos, ainda estamos dispostos a
ver aquilo que ainda nos falta (ver Marcos
10:21). Demonstramos com isso um resí-
duo de egoísmo.
Nossa hesitação se mostra de inúmeras
maneiras. O reino terrestrial, por exemplo,
conterá os “homens honrados”, que obvia-
mente não prestaram falso testemunho. No
entanto, ainda assim, eles não foram “valen-
tes no testemunho de Jesus” (D&C 76:75, 79).
A melhor maneira de prestar corajosamente
testemunho de Jesus é tornar-se cada vez
mais semelhantes a Ele, e é essa forma de
consagração que molda o caráter daquele
que se esforça para emular o Senhor (ver
3 Néfi 27:27).
Não Ter Outros Deuses Acima de Deus plenamente para que realizemos aquilo que podemos
Ao procurarmos vencer esses desafios, a submissão fazer de melhor.
espiritual é, felizmente, de grande valia — às vezes nos Dos dois grandes mandamentos, declarou Jesus enfa-
ajudando a “abrir mão” de algumas coisas, até mesmo da ticamente, tudo o mais depende, e não o contrário (ver
vida mortal, e outras vezes, a “agarrar-nos com firmeza”, Mateus 22:40). O primeiro mandamento não fica suspenso
e ainda em outras, a galgar o degrau seguinte (ver 1 Néfi só porque estamos altamente empenhados em alcançar
8:30). um bem menor, pois não adoramos a um deus menor.
Porém, se perdermos a perspectiva, os poucos metros
restantes podem parecer insuperáveis. Embora cônscios Reconhecer a Mão de Deus
de que Deus havia abençoado a antiga Israel para que Antes de colher os frutos do trabalho honesto com algo
escapasse do poderoso Faraó e seus exércitos, Lamã e louvável, reconheçamos a mão de Deus. Do contrário, sur-
Lemuel, tendo uma perspectiva limitada, não tinham a gem as racionalizações, e essas incluem: “A minha força, e
fé necessária em Deus para lidar com Labão, uma mera a fortaleza da minha mão, me adquiriu este poder” (Deu-
autoridade local. teronômio 8:17). Ou então nos jactamos, como teria feito a
Podemos também perder o rumo se estivermos ansio- antiga Israel (exceto no caso do exército deliberadamente
sos em demasia para agradar as pessoas influentes em pequeno de Gideão), exaltando-se ao proclamar: “A minha
nosso meio profissional ou de lazer. Agradar a “outros mão me livrou” ( Juízes 7:2). Quando nos vangloriamos de
deuses” em vez de agradar ao Deus real constitui uma nossa própria “mão” torna-se duplamente difícil para nós
violação do primeiro mandamento (Êxodo 20:3). confessarmos a mão de Deus em todas as coisas (ver Alma
Às vezes defendemos nossas idiossincrasias como se 14:11; D&C 59:21).
elas fossem a marca de nossa individualidade. De certa Em um lugar chamado Meribá, Moisés, um dos maiores
maneira, ser discípulo é praticar um “esporte violento”, que já existiu, cansou-se do clamor do povo por água. Por
como testificou o Profeta Joseph Smith: um instante, ele falou precipitadamente, dizendo: “Porven-
“Sou como uma enorme pedra bruta (…) quando, tura tiraremos água desta rocha para vós?” (Salmos 106:33;
com força e aceleração, colide contra os obstáculos. (…) Números 20:10; ver também Deuteronômio 4:21). O
Assim me tornarei um dardo polido na aljava do Todo- Senhor, porém, guiou o notável Moisés para além do pro-
Poderoso” 1. blema causado por essas palavras e o engrandeceu ainda
É verdade que muitas vezes os joelhos cedem muito mais. Faríamos bem em ser tão mansos quanto Moisés (ver
antes do intelecto, mas é a sonegação desse lado nosso Números 12:3).
que impede que alguns dos intelectos mais privilegiados Jesus nunca, nunca mesmo, perdeu o foco! Embora Ele
da raça humana ajudem na obra de Deus. É muito melhor andasse fazendo tanto bem a tantas pessoas, estava sem-
ser manso como Moisés, que aprendeu coisas que “nunca pre consciente de que a Expiação O aguardava e, por isso,
havia imaginado” (Moisés 1:10). No entanto, irmãos e rogava sabiamente: “Pai, salva-me desta hora; mas para
irmãs, a triste verdade é que no jogo sutil de arbítrio e isto vim a esta hora” ( João 12:27; ver também 5:30; 6:38).
identidade, há hesitação demais. A sujeição da mente é, na À medida que nós, vocês e eu, desenvolvemos mais
realidade, uma vitória, porque ela então nos descortina os amor, paciência e mansidão, mais temos a oferecer a Deus
caminhos mais amplos e “mais altos” de Deus (Isaías 55:9). e à humanidade. Além disso, ninguém mais foi colocado
Por ironia, uma atenção exacerbada, mesmo às coisas exatamente onde estamos, cada um na esfera humana que
boas, pode enfraquecer nossa devoção a Deus. Há, lhe cabe.
por exemplo, quem se envolva demais com o esporte Sem dúvida os degraus do crescimento nos levam a
e com as formas de culto do corpo comuns entre territórios que, às vezes, não desejamos percorrer. Por isso,
nós. Há quem reverencie a natureza enquanto negli- os que os galgam com sucesso são um forte incentivo para
gencia o Deus que a criou. Há quem se concentre na o restante de nós. Em geral, prestamos mais atenção àque-
boa música ou numa atividade profissional louvável les que admiramos secretamente. O filho pródigo, faminto,
e em mais nada. Em casos assim, “o mais importante” lembrou-se dos banquetes de seu lar, mas foi também
é muitas vezes esquecido (Mateus 23:23; ver também atraído por outras lembranças e disse: “Levantar-me-ei, e
I Coríntios 2:16). Somente o Altíssimo pode orientar-nos irei ter com meu pai” (Lucas 15:18).

Liahona DEZEMBRO DE 2008 23


Pela Consagração Entregamos a Deus o Que a Mesmo assim, em pouco tempo esses que foram alimenta-
Ele Pertence dos voltaram a sentir fome, porém os que comeram o Pão
Na luta por alcançar a submissão total a Deus, nossa da Vida nunca mais terão fome (ver João 6:51, 58).
vontade é tudo o que temos de verdadeiramente nosso Ao ponderar e procurar a consagração, é compreensível
para depor a seus pés. As dádivas e ofertas usuais que que estremeçamos internamente ao pensar em tudo que
consagramos a Ele poderiam com justeza levar o carimbo: pode ser exigido de nós, mas o Senhor, para nos consolar,
“Devolver ao Remetente”, com o R maiúsculo. disse: “Porque minha graça vos basta” (D&C

A
E quando entregamos em retribuição a Deus 17:8). Será que acreditamos mesmo em Suas
essa única dádiva que temos a ofertar, a quem multiplica- palavras? Ele prometeu também tornar fortes
for plenamente fiel será dado “tudo o que [Ele] ção dos pães as coisas fracas (ver Éter 12:27). Estaremos
possui” (D&C 84:38). Nenhum investimento e dos peixes mesmo dispostos a nos submeter a esse pro-
tem retorno maior! alimentou uma cesso? Se desejamos a plenitude, não pode-
Enquanto isso, algumas realidades persis- multidão faminta. mos reter uma parte!
tem: Deus concedeu-nos a vida, o livre-arbítrio, Mesmo assim, em Ter nossa vontade cada vez mais absor-
os talentos e as oportunidades; concedeu-nos pouco tempo esses vida pela vontade do Pai significa alcançar
nossos bens e um período de vida mortal e até que foram alimenta- uma individualidade acentuada, ampliada e
o ar que respiramos (ver D&C 64:32). Se enca- dos voltaram a sentir mais pronta para receber “tudo o que [Deus]
rarmos as coisas dessa maneira conseguiremos fome, porém os que possui” (D&C 84:38). Além disso, como nos
evitar sérios erros de perspectiva; alguns dos comeram o Pão da poderia ser confiado “tudo” o que Ele possui
quais muito menos divertidos do que ouvir um Vida nunca mais sem que nossa vontade fosse muito mais
octeto e achar que é o Coro do Tabernáculo! terão fome (ver João semelhante à Dele? Esse “tudo” nem poderia
Não admira que o Presidente [Gordon B.] 6:51, 58). ser plenamente apreciado por aquele que só
Hinckley tenha enfatizado que somos um se comprometeu parcialmente.
povo que faz convênios, salientando o convê- Francamente, traímos a pessoa que podería-
nio do sacramento, do dízimo e do templo, mos vir a ser quando retemos “uma parte”, seja

Sacramento, ilustração fotográfica de Grant Heaton; A Vida de Cristo, de Robert T. Barrett, reprodução proibida.
e dito que o sacrifício é a “própria essên- ela qual for. Não adianta portanto perguntar:
cia da Expiação” 2. “Porventura sou eu, Senhor?” (Mateus 26:22).
Em vez dessa indagação, perguntemos sobre
O Exemplo de Submissão de Jesus nossas próprias pedras de tropeço:
O Salvador alcançou um grau de “Porventura é esta, Senhor?” Talvez já
submissão admirável quando conheçamos a resposta há muito
enfrentou a angústia e a tempo e precisemos apenas nos
agonia da Expiação e desejou decidir a fazer o que já sabemos
“não ter de beber a amarga taça ser correto.
e recuar” (D&C 19:18). Em uma A maior felicidade possível no
escala bem menor e imperfeita, nós generoso plano de Deus está reser-
enfrentamos provações e desejamos vada, em última instância, para aqueles
que, de alguma forma, sejam eliminadas. que estão dispostos a pagar o preço exigido
Pensem no seguinte: O que teria sido para entrar em Seu reino. Irmãos e irmãs, “tenhamos ânimo
do ministério de Jesus se Ele tivesse feito e retomemos a jornada”.3
mais prodígios, porém sem o transcendente Em nome do Senhor, que estende os braços para nós
milagre do Getsêmani e do Calvário? Seus outros milagres D&C 103:17; 136:22) nós, sim, de Jesus Cristo. Amém. ◼
trouxeram o tão desejado prolongamento da vida e o Subtítulos acrescentados; ortografia, estilo e referências de citações
alívio do sofrimento … de alguns. Porém, como comparar padronizados.
Notas
tais milagres ao mais grandioso de todos: o milagre da Res- 1. James R. Clark, ed., Messages of the First Presidency of The Church of
Jesus Christ of Latter-day Saints, 6 vols. (1965–1975), vol 1, p. 185.
surreição universal? (Ver I Coríntios 15:22). A multiplicação 2. Teachings of Gordon B. Hinckley (1997), p. 147.
dos pães e dos peixes alimentou uma multidão faminta. 3. “Come, Let Us Anew,” Hymns, nº. 217.

24
M e n s a g e m da s P r o f e s s o r a s V i s i t a n t e s

Temos Razão para Regozijar-nos?”

Jesus Cristo É a Luz, Vida e A Liahona , novembro de 2007, p. 19).


Julie B. Beck, Presidente Geral

Esperança do Mundo da Sociedade de Socorro: “Mórmon


pergunta: ‘E o que (…) deveis espe-
rar?’ Sua resposta dá-nos três grandes
Utilize as escrituras e esperanças: ‘Deveis ter esperança de
citações que atendam que, por intermédio da expiação de
às necessidades Cristo e do poder da sua ressurrei-
das irmãs a quem ção, sereis ressuscitados para a vida
for visitar. Preste testemunho da eterna’. (Morôni 7:41).
doutrina. Convide as irmãs a quem Ao serem batizadas, vocês tor-
visita a falarem do que sentiram e naram-se participantes da primeira
aprenderam. grande esperança, a Expiação de
Cristo. Cada vez que participam dig-
De que Forma Jesus Cristo É a Luz e a namente do sacramento, vocês têm
Vida do Mundo? a oportunidade de começar de novo
1 Néfi 17:13: “E serei também (…). Sua esperança e fé no Salvador
vossa luz no deserto; (…) portanto, escrituras chamam de ‘grande e eterno crescerão, à medida que vocês se
se guardardes meus mandamentos, plano de libertação da morte’ (2 Néfi arrependerem e passarem por um
Detalhe de Jesus Cristo Ressurreto, de Grant Romney Clawson; ao fundo: detalhe de Jesus Cristo, de Harry Anderson

sereis conduzidos à terra da promis- 11:5). Sua Ressurreição e Expiação nos processo de mudança pessoal. (…)
são; e sabereis que sois conduzidos salvam tanto da morte física quanto A segunda grande esperança é
por mim.” espiritual” (ver “A Luz e a Vida”, A Lia- a Ressurreição. Todas receberam
Élder Dallin H. Oaks, do Quórum hona, dezembro de 1997, pp. 42–43). a promessa de que por intermé-
dos Doze Apóstolos: “Jesus Cristo é dio de nosso Salvador Jesus Cristo,
a luz e a vida do mundo. Todas as Como Posso Ter Esperança em Jesus ressurgirão. (…)
coisas foram feitas por Ele. Agindo Cristo? Tendo esperança na Expiação e na
sob a direção e segundo o plano de Presidente Dieter F. Uchtdorf, Ressurreição, vamos à terceira grande
Deus, o Pai, Jesus Cristo é o Criador, Segundo Conselheiro na Primeira Pre- esperança, que é a esperança da vida
a fonte da luz e da vida de todas as sidência: “O evangelho de Jesus Cristo eterna. (…) Por terem um Salvador,
coisas. (…) tem o poder divino de erguê-los vocês também crêem em uma feliz
Jesus Cristo é a luz do mundo muito acima do que, por vezes, lhes vida eterna de criação, de serviço e
porque é a fonte da luz que ‘procede parece um fardo ou fraqueza insupor- aprendizado. Vocês já se encontram
da presença de Deus para encher a tável. O Senhor conhece suas circuns- no caminho estreito e apertado, e há
imensidade do espaço’ (D&C 88:12). tâncias e dificuldades. Ele garantiu a um esplendor de esperança sor-
Sua luz é ‘a verdadeira luz que Paulo e a todos nós: ‘A minha graça te rindo à sua frente. (…) Tudo o que
ilumina todo homem que vem ao basta’. E assim como Paulo, podemos precisam fazer é permanecer nela
mundo’ (D&C 93:2). Seu exemplo e responder: ‘O meu poder se aper- [a Igreja], e prosseguir com firmeza,
Seus ensinamentos iluminam o cami- feiçoa na fraqueza. De boa vontade, tendo o esplendor da esperança” (“Há
nho que devemos trilhar. (…) pois, me gloriarei nas minhas fraque- um Esplendor de Esperança Sorrindo
Jesus Cristo é a vida do mundo por zas, para que em mim habite o poder Diante de Nós”, A Liahona, maio de
causa de Sua posição única no que as de Cristo’ (II Coríntios 12:9)” (“Não 2003, pp. 103–105). ◼

Liahona DEZEMBRO DE 2008 25


Perguntas e Respostas

s o f a z e r p a r a
“O que pos s e j a m
m i n h a s o r a ç õ e s
q u e s
p e t i t i v a s e m a i
m e n o s r e
sign i fi c a t i v a s ? ”

A
s escrituras esclarecem que o problema são as Orações Altruístas
vãs repetições (ver Mateus 6:7). Às vezes será Às vezes, quando oramos, acho que
preciso repetir coisas importantes em suas somos egoístas: pensamos apenas em nós
orações. Mas se repetirmos palavras sem pensar, não mesmos e no que queremos. Pense também
estaremos nos comunicando de verdade com o Pai nos outros e em suas necessidades. Conte
Celestial. Para evitar as vãs repetições, aprenda a orar cada bênção e agradeça ao Pai Celestial por
com “verdadeira intenção” (ver 2 Néfi 31:13; Morôni elas. A oração não é apenas o meio de o Pai Celestial ouvir
7:9; 10:4) — isto é, orar com sinceridade e com a nossos desejos e queixas, mas também de O ouvirmos.
determinação de agir com fé. Como vamos receber revelações se apenas manifestarmos
Em 3 Néfi, os discípulos do Salvador oraram “sem rapidamente nossos anseios e depois saltarmos na cama
cessar”, mas “não repetiam muitas palavras, porque para dormir? Pergunte-Lhe o que Ele deseja que você faça.
lhes era manifestado o que deviam dizer” (3 Néfi Assim se tornará uma pessoa melhor.
19:24). O Espírito Santo pode orientar suas orações Rebecah W., 16 anos, Idaho, EUA

e torná-las mais significativas (ver Romanos 8:26).


Outra coisa sutil é encontrar tempo para orar sem Deixe o Espírito Santo Guiá-lo
pressa num lugar sossegado. Reflita pausadamente sobre as coisas pelas
Por fim, pense nas muitas coisas diferentes a quais é mais grato e quais são mais necessárias
respeito das quais pode orar. Você recebe muitas em sua vida. O Espírito vai guiá-lo e lhe dará
bênçãos a cada dia e necessita de auxílio celestial respostas e sugestões que virão na forma de
em diversas situações. Agradeça ao Pai Celestial idéias, pensamentos e inspiração. Você também
as bênçãos que recebe e ore pedindo as coisas de pode manter um diário para registrar esses pensamentos e
que precisa. Pode orar pedindo perdão, auxílio idéias para consultas futuras.
nas tribulações, um testemunho mais forte e pro- Élder Sebo, 21 anos, Missão Texas Houston

teção contra as tentações.

As respostas são auxílios e pontos de vista, não pronunciamentos


da doutrina da Igreja.
26
Refletir sobre o Dia ajuda, orientação e proteção. PR Ó X I M A PER G U NT A
Quando oro à noite, Concentrar-se em bênçãos especí- “Meus pais não são membros. Tenho
penso no que li nas ficas e orar de modo detalhado, pode medo de falar da Igreja para eles.
escrituras. Tento lembrar transformar o corriqueiro “Abençoa- Como posso partilhar o evangelho com
do que consegui fazer nos para que tenhamos um bom dia” eles sem os ofender?”
certo e do que preciso em algo como: “Guia-me em minhas
melhorar. Às vezes peço ao Pai Celes- decisões para dar um exemplo posi- Envie sua resposta até 15 de janeiro de
tial que me ajude a vencer as dificul- tivo aos outros”. Essas orações sairão 2009 para:
dades do dia. Peço-Lhe que sempre do coração e serão mais semelhantes Liahona, Questions & Answers 1/09
me ajude a recordar Seus conselhos ao modelo deixado por Cristo — 50 E. North Temple St., Rm. 2420
e me dê forças para segui-los. Como como devem ser. Salt Lake City, UT 84150-3220, USA
cada dia é único, mesmo que se tenha Hannah T., 14 anos, Maryland, EUA Ou envie um e-mail para:
uma rotina, sempre vão acontecer coi- liahona@ldschurch.org
sas diferentes. Sendo assim, ao refletir Orar e Depois Escutar
Seu e-mail ou sua carta deve conter as
sobre o dia, sempre teremos coisas Se você sentir a necessidade de
informações e a permissão a seguir:
diferentes para pedir e agradecer. confiar no Senhor e melhorar a qua-
Kétia F., 20 anos, Palmas, Brasil lidade de seu relacionamento com NOME COMPLETO
Ele, pense no que deseja e ajoelhe-se
DATA DE NASCIMENTO
Orar em Voz Alta para orar. Imagine o Pai Celestial e
Ache uma hora e fale com Ele como falaria com seu ALA (ou ramo)
um lugar em que possa Pai, pois Ele de fato é. Diga-Lhe tudo
ESTACA (ou distrito)
ficar sozinho e orar em o que sente. Tenham uma conversa
voz alta. Ao orarmos em sincera, de coração. Confie Nele, Dou permissão para a publicação da
voz alta, a sensação é agradeça a Ele, peça-Lhe perdão, resposta e da fotografia:
muito mais pessoal e significativa. É desfrute a companhia Dele, externe-
mais fácil evitar as vãs repetições e as Lhe amor e depois escute as respostas ASSINATURA

divagações mentais. É mesmo como com atenção. ASSINATURA DOS PAIS (para menores de 18 anos)
uma conversa com o Pai Celestial. Raúl A., 20 anos, Cidade do México,
México
Élder Marra, 20 anos, Missão Colorado
Colorado Springs

Orar por Coisas Orar com Sinceridade


Específicas “Ao orar, que nos comuniquemos realmente com nosso Pai
Fotografia do Presidente Monson: Busath Photography

O planejamento, Celestial. É fácil deixar que nossas orações se tornem repe-


mesmo que dure titivas, expressando palavras com pouco ou nenhum con-
apenas alguns minutos teúdo. Quando nos lembrarmos de que cada um de nós é
(o tempo de organizar literalmente filho ou filha espiritual de Deus, não teremos
seus pensamentos e desejos mais dificuldade para abordá-Lo em oração. Ele nos conhece; Ele
sinceros), garante uma maior con- nos ama; Ele quer o que é melhor para nós. Que oremos com
centração nas palavras que dirá ao sinceridade e significado, oferecendo nossa gratidão e pedindo coisas que senti-
Pai Celestial. Pense em sua família mos serem necessárias. Que escutemos Suas respostas, para que as reconheçamos,
imediata, outros parentes e pessoas quando chegarem. Fazendo assim, seremos fortalecidos e abençoados.”
que talvez precisem de suas orações. Presidente Thomas S. Monson, “Que Firme Alicerce”, A Liahona novembro de 2006, p. 67.
Há muitas pessoas que necessitam de

Liahona DEZEMBRO DE 2008 27


28
Amor
Assombro Me Causa o

que Me Dá Jesus
Élder Jeffrey R. Holland o peso da carga que levava para o alto do

U
Do Quórum dos Doze Apóstolos Calvário, disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não
m de meus hinos favoritos começa sabem o que fazem” (Lucas 23:34).
com as palavras: “assombro me Se há um momento que de fato me
causa” 1. Quando pensamos na vida assombra, é este. Quando penso Nele sob o
de Cristo, ficamos assombrados de muitas fardo de todos os nossos pecados e per-
maneiras. Ficamos assombrados com Seu doando aqueles que o pregaram na cruz, em Quando pensamos
papel pré-mortal como o grande Jeová, vez de perguntar “Como Ele fez isso?”, indago na vida de Cristo,
agente de Seu Pai, Criador da Terra, guardião “Por que Ele fez isso?” Se contemplo minha ficamos assombrados
de toda a família humana. Maravilhamo-nos vida em contraste com a misericórdia que de muitas maneiras.
com Sua vinda à Terra e com as circunstân- Ele demonstrou, percebo o quanto ainda Jesus Cristo foi a pes-
cias de Seu advento. preciso fazer para seguir o Mestre. soa mais pura que já
Admiramo-nos que, com apenas 12 anos Para mim, isso é ainda mais assombroso. viveu e a única que
Escultura de Dee Jay Bawden, fotografada por Robert D. Talbot, Iconbronze.com

de idade, Ele já estava cuidando dos negó- Fico muito surpreso com Sua habilidade de foi perfeita.
cios de Seu Pai. Ficamos impressionados curar os doentes e reviver os mortos, mas já
com o início formal de Seu ministério, Seu tive algumas pequenas experiências com a
batismo e Seus dons espirituais. cura. Somos todos vasos menores e, ainda
Ficamos profundamente maravilhados assim, vemos os milagres do Senhor repeti-
em saber que Jesus expulsou e derrotou as rem-se em nossa vida e em nosso lar e isso
forças do mal em todo lugar aonde foi, fez os com a nossa porção do sacerdócio, mas ter
coxos andarem, os cegos verem, os surdos misericórdia? Perdoar? Expiar? Reconciliar?
ouvirem e os fracos firmarem-se. Quando Muitas vezes para nós, as coisas não são bem
penso no ministério do Salvador, eu me per- assim.
gunto: “Como Ele conseguiu?” Como Ele conseguiu perdoar Seus algo-
zes naquele momento? Com toda aquela
Ele Perdoa dor, com sangue vertido de cada poro, Ele
Fico profundamente impressionado com ainda pensava nos outros. Essa é mais uma
o momento em que Jesus, após tropeçar sob evidência surpreendente de que Ele era

Liahona DEZEMBRO DE 2008 29


realmente perfeito e de que deseja que o sejamos também. e nos nossos, têm o propósito de ajudar-nos a lembrar de
No Sermão da Montanha, antes de estabelecer essa per- viver uma vida pacífica, ser obedientes e misericordiosos.
feição como nossa meta, Ele definiu um último requisito. O propósito dessas ordenanças é lembrar-nos de espelhar
Ele declarou que todos devemos amar nossos inimigos, o evangelho de Jesus Cristo, em nossa atitude paciente e
bendizer os que nos maldizem, fazer o bem aos que nos bondosa para com o próximo, da mesma forma que Ele
odeiam, e orar pelos que nos maltratam e nos perseguem fez naquela cruz.
(ver Mateus 5:44). Porém, ao longo dos séculos, pouquíssimos de nós
Esta é uma das coisas mais difíceis de fazer. utilizaram essas ordenanças como deveriam. Caim foi o
Jesus Cristo foi a pessoa mais pura que já viveu e a primeiro a oferecer um sacrifício inaceitável. O Profeta

O
única que foi perfeita. Ele foi a única pessoa Joseph Smith disse: “Abel ofereceu a Deus
em todo o mundo, desde Adão até o presente, s cordeiros um sacrifício que foi aceito e que consistia
que mereceu adoração, respeito, admiração e primogênitos, nas primícias dos rebanhos. Caim ofereceu
amor e, apesar disso, foi perseguido, abando- puros e sem os frutos da terra, e não foi aceito, porque
nado e morto; e, ao passar por tudo isso, Ele manchas, perfeitos em ele (…) não podia exercer fé [de uma forma]
não condenou os que O perseguiam. tudo, eram oferecidos contrária ao plano do céu. Era necessário o
sobre os altares de derramamento do sangue do Unigênito para
Ele É o Sacrifício Perfeito pedra, ano após ano e se realizar a expiação do homem, pois esse
Depois que nossos primeiros pais, Adão geração após geração, era o plano de redenção, e sem o derra-
e Eva, foram expulsos do Jardim do Éden, simbolizando o grande mamento de sangue não havia remissão. E
o Senhor ordenou-lhes que “adorassem ao Cordeiro de Deus, Seu como o sacrifício foi instituído como símbolo
Senhor seu Deus e oferecessem as primícias Filho Unigênito, Seu pelo qual o homem reconheceria o grande
de seus rebanhos como oferta ao Senhor” Primogênito, perfeito Sacrifício que Deus havia preparado, não era
(Moisés 5:5). O anjo disse a Adão: “Isso é à e imaculado. possível exercer fé no oferecimento de um
semelhança do sacrifício do Unigênito do Pai sacrifício contrário a esse, porque a redenção
que é cheio de graça e verdade” (Moisés 5:7). não foi adquirida dessa maneira, tampouco o
O sacrifício era um lembrete constante da humilhação poder da expiação foi instituído segundo essa ordem. (…)
e do sofrimento que o Filho sofreria para nos resgatar. Era Sem dúvida, o derramamento do sangue de um animal
um lembrete constante da mansidão, da misericórdia e da não poderia de modo algum ser benéfico a ninguém,
bondade — sim, do perdão — que deviam ser a marca exceto se fosse à semelhança, como símbolo ou explica-
registrada da vida de cada cristão. Por todas essas razões e ção da dádiva que seria oferecida pelo próprio Deus. 2
outras mais, os cordeiros primogênitos, puros e sem man- Da mesma forma, em nossos dias, à maneira de Caim,
chas, perfeitos em tudo, eram oferecidos sobre os altares depois de tomar o sacramento, alguns voltam para casa e

Escultura de Steven Lloyd Neal, fotografada por John Luke


de pedra, ano após ano e geração após geração, simbo- discutem com um membro da família, mentem ou enga-
lizando o grande Cordeiro de Deus, Seu Filho Unigênito, nam, ou ainda iram-se contra o próximo.
Seu Primogênito, perfeito e imaculado. Samuel, um profeta de Israel, comentou sobre a futi-
Em nossa dispensação, devemos tomar o sacramento lidade de oferecermos um sacrifício sem honrarmos o
— uma oferenda simbólica que representa nosso cora- significado desse sacrifício. Quando Saul, rei de Israel,
ção quebrantado e espírito contrito (ver D&C 59:8). Ao desobedeceu as instruções do Senhor e trouxe consigo os
participarmos do sacramento, prometemos recordar-nos despojos dos amaliquitas, consistindo do “melhor das ove-
sempre de Cristo e guardar os mandamentos que Ele nos lhas e das vacas, para os oferecer ao Senhor [seu] Deus”,
deu; para que tenhamos sempre conosco o Seu Espírito Samuel clamou: “Tem porventura o Senhor tanto prazer
(ver D&C 20:77). em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à
Os símbolos do sacrifício do Senhor, nos dias de Adão palavra do Senhor? Eis que o obedecer é melhor do que

30
o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros”
(I Samuel 15:15, 22).
Saul ofereceu um sacrifício sem compreender o significado
dele. Os santos dos últimos dias que vão fielmente à reunião
sacramental, mas não mostram misericórdia ou perdão como
resultado, estão fazendo o mesmo. Essas pessoas cumprem o
ritual das ordenanças sem compreender os propósitos pelos quais
elas foram estabelecidas. O propósito das ordenanças é ajudar-
nos a ser obedientes e bondosos em nossa busca pelo perdão
de nossos pecados.

Lembrar o Sacrifício do Senhor


Há muitos anos, o Élder Melvin J. Ballard (1873–1939)
ensinou que Deus “é um Deus zeloso — zeloso de que
nunca ignoremos ou esqueçamos Sua maior dádiva, nem
a consideremos sem importância” 3 — a vida de Seu
Filho Primogênito.
Sendo assim, o que podemos fazer para ter
certeza de que nunca ignoraremos, trataremos
levianamente nem esqueceremos a maior
dádiva que Ele nos deu?
Conseguimos isso
demonstrando nosso desejo
de receber a remissão
de nossos pecados e
demonstrando nossa gra-
tidão eterna pela oração
mais corajosa já proferida:
“Pai, perdoa-lhes, porque
não sabem o que fazem”. Conse-
guimos isso quando aderimos à atitude de perdoar os pecados.
“‘Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de
Cristo’, é o que manda Paulo (Gálatas 6:2). (…) A lei de Cristo,
que temos a obrigação de cumprir, é suportar a cruz. A carga
do meu irmão que tenho de suportar não é apenas a situação
em que se encontra ou circunstâncias exteriores, (…) mas muito
literalmente seus pecados. E a única maneira de suportar esses
pecados é perdoá-los. (…) O perdão é um sofrimento semelhante
ao de Cristo que temos, como cristãos, a obrigação de suportar.”4
Sem dúvida, a razão de Cristo ter dito “Pai, perdoa-lhes” foi
porque, mesmo naquela terrível hora, Ele sabia que para tra-
zer-nos aquela mensagem, atravessara as eternidades. Todo o
plano de salvação teria sido perdido se Ele tivesse Se esquecido
que não foi apesar da injustiça, brutalidade, impiedade e
desobediência, mas precisamente por causa dessas coisas,
que viera ao mundo conceder o dom do perdão à família
humana. Qualquer um é capaz de ser agradável, paciente
e de perdoar quando tudo está bem. O cristão tem que
ser agradável, paciente e oferecer o perdão em todas as
circunstâncias.
Existe alguém em sua vida que talvez necessite do seu
perdão? Há alguém em sua casa, em sua família, ou na vizi-
nhança que lhe tenha feito uma injustiça, uma grosseria ou
algo nada cristão? Somos todos culpados de tais transgres-
sões, deve, portanto, haver alguém que ainda precise do
nosso perdão.
E, por favor, não perguntem se é justo que o ofendido
suporte o fardo de perdoar o ofensor. Não perguntem
se a “justiça” não exige que seja o contrário. Quando o
assunto são os nossos pecados, não pedimos justiça; o
que pedimos é misericórdia — e é misericórdia que
devemos estar dispostos a oferecer.
Será que conseguimos perceber a trágica ironia
de não concedermos aos outros o que nós mesmos
necessitamos tanto? Talvez o ato mais elevado,
sagrado e puro seja dizer, quando confrontados
com a insensibilidade e a injustiça, que na ver-
dade amamos ainda mais os nossos inimigos, os
que nos maldizem, que fazemos o bem aos que
nos odeiam e oramos pelos que nos maltratam e
nos perseguem. Assim é o rigoroso caminho da

Escultura de Dee Jay Bawden, fotografada por Robert D. Talbot, Iconbronze.com


perfeição.

Alegre Reencontro
Lembro-me de que, há alguns anos,
observei uma cena desenrolar-se no Aero-
porto Internacional de Salt Lake. Naquele
dia, eu tinha acabado de desembarcar e
caminhava pelo terminal. Ficou claro que
um missionário voltava para casa, pois o
aeroporto estava cheio de pessoas que
tinham todo o jeito de serem amigos e
parentes do missionário.
Tentei ver se conseguia adivinhar
quem eram seus parentes mais próxi-
mos. Lá estava um pai que não parecia
sentir-se confortável em um terno mal-ajustado e um economizara na vida. Naquele raro momento não foi difí-
pouco fora de moda. Parecia óbvio que era agricultor, cil imaginar o Pai dizer com emoção aos que estavam ao
queimado de sol e com mãos grandes e calejadas. alcance de Sua voz: “Este é o meu Filho amado, em quem me
A mãe era muito magra, e tinha um ar de quem havia comprazo” (Mateus 3:17). Foi-me também possível imaginar o
trabalhado muito toda a vida. Nas mãos, trazia um lenço Filho, em triunfo, dizer: “Está consumado” ( João 19:30). “Pai,
— acho que era de linho, mas de tão velho parecia de nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lucas 23:46).
papel — que estava a ponto de se rasgar de tanto que ela

S
o retorcia em meio à ansiedade que só a mãe Assombro Me Causa
de um missionário à espera da chegada do endo assim, o Mesmo com minha imaginação limitada,
filho pode sentir. que podemos consigo visualizar esse reencontro no céu,
Dois ou três irmãos e irmãs mais novos fazer para ter e rogo que o reencontro seja assim, tanto o
estavam correndo pelo terminal, praticamente certeza de que nunca seu como o meu. Rogo que sejamos mais
alheios à cena que se desenrolava. ignoraremos, tratare- profundamente cristãos e desenvolvamos o
Surpreendi-me tentando adivinhar quem mos levianamente nem caráter que precisamos ter para ser capa-
seria o primeiro a sair do grupo para abraçar esqueceremos a maior zes de mais plenamente desfrutar de um
o missionário. Uma simples olhada no lenço dádiva que Ele nos deu momento assim.
da mãe me convenceu de que ela seria prova- — a vida de Seu Filho Causa-me assombro que mesmo para um
velmente a primeira. Primogênito? Consegui- homem como eu, ainda haja esperança. Se
Ainda sentado ali, observei quando o mos isso demonstrando ouvi corretamente as “boas novas”, há uma
missionário apareceu. Dava para saber que nosso desejo de receber chance — para mim e para vocês, assim
era ele pelos sons de entusiasmo que o grupo a remissão de nossos como para todos os que estejam desejosos
emitia. Ele parecia o Capitão Morôni: puro, pecados e, demons- de manter acesa a esperança, continuar
imponente, empertigado e alto. Sem dúvida trando nossa gratidão tentando, e conceder aos outros o mesmo
ele sabia quanto sacrifício seus pais tinham eterna pela oração mais privilégio.
feito para ele servir em uma missão. corajosa já proferida:
Enquanto ele caminhava em direção ao “Pai, perdoa-lhes, por- Surpreso estou que quisesse Jesus baixar
grupo, alguém, é claro, não se conteve. Não que não sabem o que Do trono divino e minh’alma resgatar. (…) 
foi a mãe, e não foi nenhum dos outros filhos. fazem”. Conseguimos Relembro que Cristo na cruz se deixou
Foi o pai. Aquele gigante enorme, meio desa- isso quando aderimos pregar;
jeitado, caladão e queimado de sol, correu e à atitude de perdoar os Pagou minha dívida, posso eu ouvidar?
tomou o filho nos braços. pecados. Não! Não! E por isso a Cristo exaltarei
O missionário teria quase um metro e A vida e tudo o que tenho eu lhe
noventa de altura, mas o pai o agarrou, darei. (…)
ergueu-o no ar e o segurou ali por um bom tempo. Ele Que assombroso é! Assombroso sim! 5 ◼
simplesmente o abraçou sem dizer uma palavra. O rapaz
pôs os braços em torno do pai e os dois ficaram ali abra- Extraído de um discurso para oficiantes e funcionários do Templo de
Salt Lake, proferido em 24 de novembro de 1985.
çados. Parecia que a eternidade havia feito uma pausa. Era
como se o mundo todo tivesse feito respeitoso silêncio
Notas
diante daquele momento sagrado. 1. “Assombro Me Causa”, Hinos, nº 112.
2. Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith (Curso de
Aí imaginei então Deus, o Pai Eterno, observando Seu estudo do Sacerdócio de Melquisedeque e da Sociedade de Socorro,
Filho ao deixá-Lo para servir e sacrificar-Se sem ter a obri- 2008), p. 51.
3. Melvin J. Ballard: Crusader for Righteousness (1966), pp.136–137.
gação de fazê-lo, custeando as próprias despesas, por 4. Dietrich Bonhoeffer, The Cost of Discipleship, 2ª ed. (1959), p. 100.
assim dizer, despesas essas que custariam tudo o que já 5. Hinos, nº 112.

Liahona DEZEMBRO DE 2008 33


Reunir-se no
TEM PLO
É l d e r C l a u d i o  R .  M . C o s t a

Q
Da Presidência dos Setenta
uando Benedito Carlos do Carmo delas”, afirma, “principalmente da ordenança
Mendes Martins decidiu levar sua de selamento a minha esposa e três filhos.”
família ao templo mais próximo em Antes de Manaus passar a fazer parte do
Para muitos san-
1992, precisava de 15 dias de folga no traba- Distrito do Templo de Caracas, na Vene-
tos dos últimos
lho para fazer a árdua viagem de ida e volta zuela, em 2005, o templo mais próximo era
dias mundo afora,
de sua casa em Manaus, no Norte do Brasil, o de São Paulo, Brasil, situado a milhares de
a freqüência ao
até São Paulo. Mas era um período de grande quilômetros de distância, na região Sudeste
templo continuará
movimento na firma, e o chefe se recusou a do país. Alguns membros da Igreja em
a representar um
liberá-lo. Manaus estavam tão determinados a ir ao
enorme sacrifício.
Como a família já se preparara, fizera sacri- templo que vendiam casa, meio de locomo-
Ao organizarem a
fícios e economizara para a viagem, todos ção, ferramentas de trabalho — qualquer
primeira caravana
oraram para que, de alguma forma, pudes- coisa de valor — para angariar a quantia
para o templo de
sem ir. Suas orações foram logo atendidas. necessária.
Caracas, os santos
“Na véspera da viagem, recebi um diag- Para chegarem a São Paulo, os membros
de Manaus disseram
nóstico de parasitose”, conta o irmão Martins. viajavam de barco pelo Rio Negro até a con-
com alegria: “Agora
“Como fiquei feliz por estar doente!” fluência próxima com o Amazonas e de lá
levamos apenas 40
O médico prescreveu imediatamente seguiam na direção leste para o Rio Madeira
horas para chegar ao
remédios e uma licença de duas semanas — uma distância de cerca de 115 quilôme-
templo!”
que, por lei, a companhia era obrigada a tros. Viajavam então quase mil quilômetros
conceder. No dia seguinte, a família seguiu pelo Rio Madeira na direção sudoeste, até a
viagem para o templo. Cidade de Porto Velho. De lá pegavam um
“Levei os medicamentos e tomei injeções ônibus e percorriam mais 2.400 quilômetros
durante a viagem”, relata o irmão Martins, até São Paulo. Depois de servirem na casa
Ilustração: Steve Kropp

que, quando regressou, estava livre dos do Senhor, iniciavam a viagem de volta, que
parasitas. durava sete dias.
“Voltei para casa com fé nas ordenan- Ao se prepararem para a primeira cara-
ças do templo e um testemunho a respeito vana ao Templo de Caracas, os santos de

Liahona DEZEMBRO De 2008 35


Manaus disseram com alegria: “Agora arrependerem e achegarem-se a Ele
levamos apenas 40 horas para serão contados entre Seu povo nos
chegar ao templo!” Para chegar a últimos dias (ver 3 Néfi 16:13).
Caracas, os santos tiveram de fazer Hoje há oito estacas na Cidade
uma viagem de ônibus de 1.600 de Manaus, no Estado do Amazonas,
quilômetros que incluía a travessia outras estacas em estados vizinhos e
de partes desabitadas da selva amazô- sete distritos nos limites da missão. Ao
nica, e a troca de ônibus na fronteira do pensar no crescimento da Igreja e no
Brasil com a Venezuela: de um veículo papel desempenhado pelos templos
grande para um pequeno. A distância no trabalho do Senhor de reunir Seus
era menor, mas a viagem ainda exigia filhos, minha mente se volta a Sua
um sacrifício financeiro substancial, com Ilustração arquitetônica promessa no Livro de Mórmon: “Sim, e
os gastos adicionais relativos à obtenção do templo a ser construído então a obra será iniciada e o Pai, em
de passaportes. em Manaus, Brasil. todas as nações, preparará o caminho
Ao embarcarem, os membros da pelo qual seu povo possa voltar à terra
Igreja cantaram “Levantai-vos, Ide ao de sua herança” (3 Néfi 21:28).
Templo”. Para manterem-se reverentes
 1
Como presidente de missão em
e concentrados no propósito da viagem, Manaus de 1990 a 1993, vi muitos do
fizeram serões no ônibus e assistiram a filmes da Igreja povo do Amazonas abraçarem os princípios do evangelho
como O Monte do Senhor. restaurado de Jesus Cristo, filiarem-se à Igreja e “[tomar]
Num diário redigido por participantes dessa primeira parte no convênio” (3 Néfi 21:22). Assim, essas pessoas e
caravana, os membros da Igreja registraram suas bên- suas famílias começaram a ser abençoadas pelo poder do
çãos, não os sacrifícios. Uma irmã escreveu: “Hoje vou ao sacerdócio — principalmente por meio das ordenanças do
templo pela primeira vez. Ontem completei 20 anos de templo.
Igreja — tantas horas, dias e anos de espera e prepara- Os membros da Igreja, no Norte do Brasil, ficaram
ção. Meu coração está repleto de gratidão e felicidade por exultantes em maio de 2007 quando a Primeira Presi-
meus amigos, líderes do sacerdócio e principalmente Jesus dência anunciou que um templo, o sexto do Brasil, seria
Cristo, a Expiação e esta oportunidade de ir à casa de meu construído em Manaus. Para a família Martins e o número

Ilustração Arquitetônica do Templo de Manaus Brasil: Craig Lofgreen


Pai Celestial”. crescente de membros da Igreja na Amazônia, o templo
Um irmão que foi selado à esposa e aos filhos nessa em Manaus será uma grande bênção. Porém, para muitos
caravana disse que o templo lhe proporcionou um santos mundo afora, a freqüência ao templo continuará a
vislumbre da eternidade. “Não tenho dúvidas de que, se representar um enorme sacrifício.
guardarmos os convênios feitos no templo, teremos uma Que todos nós que moramos perto de um templo
vida mais feliz e abundante”, escreveu. “Amo minha família demonstremos gratidão aumentando nossa freqüência
e farei tudo a meu alcance para tê-la a meu lado no reino ao templo; e que nós, assim como os santos do Norte do
celestial.” Brasil, sigamos o exemplo dos nefitas que “labutaram afa-
A Missão Brasil Manaus foi criada em 1º de julho de nosamente” para se reunirem no templo “a fim de pode-
1990 para levar o evangelho a seis estados do Norte do rem estar (…) no lugar onde Jesus apareceria à multidão”
Brasil. Naquela época, a Igreja era relativamente desco- (3 Néfi 19:3). ◼
nhecida nessa região e tinha poucos membros; mas como Nota
o Senhor declarou no Livro de Mórmon, aqueles que se 1. Hinos, nº 186.

36
Bênçãos do Templo
NUMA
Família de Membros e
Não-Membros
Ilustrações fotográficas de Craig Dimond. Fotografia do Templo de Cardston Alberta: Jed A. Clark

K ay Prz y bille
Minha freqüência ao
templo me trouxe
inspirações que melhoraram
meu relacionamento com
meu marido, que não
era membro da Igreja,
e nossos filhos.

E
m junho de 1986, levei minha
mãe de carro ao Templo de
Cardston Alberta, Canadá, para
que recebesse a investidura. Eu já
recebera a minha, mas morava com
meu marido, não-membro da Igreja,
numa parte remota da província da
Colúmbia Britânica e, por descuido,
deixara minha recomendação expirar.
Assim, acompanhei minha mãe até a
recepção, mas não pude ir além desse
ponto. Saí do templo, encostei-me na
parede e comecei a chorar.
Após essa experiência, tomei a Antes de nosso casamento, eu me e supliquei por eles por muito tempo
resolução de nunca mais ficar de comprometera a honrá-lo como chefe e com sinceridade. Recebi a certeza
fora do templo de novo. Meu marido da família e a não abandonar nosso profundamente serena de que tudo
apoiou minha decisão, e logo passei relacionamento. Apesar de minha terminaria bem.
a freqüentar o templo com a maior resolução, tinha dificuldade para acei- Ao meditar sobre essa experiência
regularidade possível. Ali aprendi tar as escolhas dele e às vezes per- tempos depois, percebi que o Pai
princípios que tiveram profunda mitia que seus hábitos perturbassem Celestial os amava ainda mais do
influência em minha vida pessoal e minha felicidade. No templo aprendi que eu, pois os compreendia melhor.
em meu relacionamento com familia- que juntos tínhamos o potencial de Ele deseja abençoá-los e levá-los de
res e amigos. ser companheiros eternos perfeitos. volta a Sua presença e lhes conce-
Com esse novo ângulo de visão, derá oportunidades de aprendizado.
Mudanças em Minha Vida percebi que, quando trabalhávamos Hoje em dia, quando começo a me
Primeiramente, notei uma juntos, ficávamos completos. Nos- preocupar, recordo essa experiência
mudança em meu grau de paciên- sos pontos fortes e fracos, e nossos e faço o que posso, sabendo que o
cia. Eu vinha tentando controlar interesses e talentos se complemen- Senhor Se encarregará do restante.
meu temperamento havia anos, mas tavam tão bem que éramos mais Uma quarta transformação em
sem muito sucesso. À medida que fortes como equipe do que como minha vida foi a paz generalizada
minhas visitas ao templo aumen- indivíduos. que passei a sentir, devido em parte
tavam eu aprendia qual era o meu Ao aprender a aceitar as diferen- à melhor perspectiva eterna que
relacionamento com o Pai Celestial ças de meu marido, fiquei menos adquiri ao freqüentar o templo.
e com o próximo, e minha atitude crítica e me imbuí de um espírito de Estou confiante de que o Senhor está
mudou. Percebi que minha família cooperação e trabalho de equipe em no comando, de que há recursos
e meus amigos eram pessoas que nosso casamento. Percebi que estava suficientes na Terra para vivermos
eu já conhecia antes mesmo de vir à me tornando mais rapidamente a confortavelmente, e de que haverá
Terra. Não estavam em minha vida pessoa que desejava ser. Além do oásis de virtude no deserto do mal.
para me atrapalhar ou perturbar, mas mais, quando meu marido sentiu que Deixei de achar que estou sozinha. O
para trabalhar comigo e me ajudar eu estava mais disposta a colaborar, Espírito Santo é meu companheiro, e
a tirar lições de vida. Aumentei meu começou também a se mostrar mais posso conversar com o Pai Celestial
entendimento ao procurar aprender carinhoso comigo. em oração a qualquer hora do dia.
o que eles estavam tentando ensi- A terceira área de aperfeiçoamento Antes eu sofria muito antes de tomar
nar-me e passei a ter mais paciência foi desenvolver fé para permitir que decisões, mas agora busco a influên-
para aceitar que progrediam a seu meus quatro filhos, hoje crescidos, cia do Espírito e ajo de acordo com
próprio ritmo. Também percebi que levassem a vida que quisessem, sem ela ao fazer escolhas. E como não
a vida não era uma luta para ensinar me sentir responsável por fazê-los sinto mais a necessidade de exigir
os outros a serem perfeitos a fim de agir de determinada maneira. Alguns que os outros vivam do modo que
que eu fosse feliz; na verdade, é uma deles estavam menos ativos na Igreja, julgo correto, tenho mais tempo e
alegre jornada rumo à perfeição ao mas, ainda assim, eu desejava influen- energia para operar minha própria
lado das pessoas que amo. ciá-los para o bem sem lhes tolher salvação (ver Mórmon 9:27).
A segunda mudança foi em minha o livre-arbítrio. Certa vez no templo, Essa nova perspectiva me tirou
atitude em relação a meu marido. pus o nome deles na lista de oração um grande peso dos ombros. Não é

38
N
o templo
aprendi que
eu e meu
marido tínhamos
o potencial de ser
companheiros eter-
nos perfeitos. Com
esse novo ângulo de
visão, percebi que
éramos mais fortes
como equipe do que
à toa que o Senhor afirmou: • Em novembro de 1993, nossa segunda como indivíduos.
“Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei filha casou-se no templo, e tive o prazer
de mim, que sou manso e humilde de cora- de assistir ao selamento.
ção; e encontrareis descanso para as vossas • Em maio de 2006, após 37 anos de
almas. casamento, meu marido entrou para
Porque o meu jugo é suave e o meu fardo a Igreja. Em agosto de 2007, fomos
é leve” (Mateus 11:29–30). selados um ao outro e a nossa segunda
filha. Nossa filha mais velha, que se
A Família É Abençoada selara ao marido e à filha em novembro
A freqüência contínua ao templo já teria de 2006, foi selada a nós em agosto de
sido essencial para mim se os únicos bene- 2008.
fícios fossem as bênçãos pessoais de paz, Sou eternamente grata a minha mãe,
serenidade e paciência, mas houve outras que foi a pioneira da família ao ser bati-
experiências — muitas outras — que favore- zada quando eu tinha sete anos de idade,
ceram a mim e minha família. e que depois me inspirou a renovar minha
• Passei a me envolver na história da família recomendação para o templo. Seguir o
e tive muitas experiências maravilhosas seu exemplo trouxe-me inúmeras bênçãos
ligadas a familiares, tanto vivos quanto os pessoais, e essas bênçãos se estenderam a
que estão além do véu. outros membros da família. ◼

Liahona DEZEMBRO De 2008 39


Joseph Smith, de William Whitaker, © Deseret Morning
Lembro-me de

Joseph

News, reprodução proibida


M
uitas pessoas que conheceram o Profeta Joseph Jesse N. Smith, primo do Profeta, declarou: “[ Joseph
Smith escreveram as experiências que tiveram com Smith] era incomparavelmente o homem mais semelhante
ele. Neste artigo, alguns desses relatos acompa- a Deus que já conheci. (…) Sei que, por natureza, ele era
nham obras de arte que retratam o Profeta. Alguns deles foram incapaz de mentir e enganar, possuindo a maior bondade
escritos na época aproximada do evento representado na obra e nobreza de caráter. Senti, quando estava em sua pre-
e outros, muito tempo depois. Contudo, todos nos ajudam a sença, que ele podia ler-me de cima a baixo. Sei que ele
conhecer melhor sua vida como homem e profeta de Deus. era tudo que afirmava ser”. 1
Joseph no Bosque, de A. D. Shaw, cortesia do Museu de História e Arte da Igreja

Joseph Smith Repreende os Guardas na Cadeia de Richmond, de Sam Lawlor

40
À direita: Emmeline Blanche Wells
escreveu: “No Profeta Joseph Smith,
creio que reconheci o grande poder
espiritual que proporcionou alegria e
consolo para os santos. (…) O poder
de Deus estava com ele de tal modo
que em muitas ocasiões ele parecia
transfigurado. (…) A glória de seu
semblante está além de qualquer
descrição”. 2

Na extrema esquerda: O Profeta


costumava dirigir-se aos santos dos
últimos dias em bosques. Amasa
Potter relatou: “Lembro-me de ver o
Profeta chegando para pregar a uma
grande congregação no bosque a oeste
do Templo de Nauvoo. (…) Joseph
declarou que todo santo dos últimos
dias tinha um dom [espiritual] e, se
levassem uma vida justa e pedissem,
o Santo Espírito o revelaria para cada
um deles”. 3

À esquerda: Parley P. Pratt escreveu


sobre o período em que o Profeta
Meu Servo Joseph, de Liz Lemon Swindle, Foundation Arts, reprodução proibida

Joseph Smith e outros ficaram encar-


cerados na cadeia de Richmond,
Missouri. Eles tinham ouvido durante
horas a fio as terríveis blasfêmias e o
linguajar imundo dos guardas. “De
repente, ele [ Joseph] se ergueu e falou
com a voz de trovão, como um leão a
rugir, proferindo, pelo que me lembro,
as seguintes palavras:
‘CALEM-SE! (…) Em nome de Jesus
Cristo eu os repreendo e ordeno que se
calem’. (…)
Com os joelhos trêmulos (…), [os guar-
das] pediram-lhe perdão e permanece-
ram quietos”. 4
Irmãos, de Liz Lemon Swindle, Foundation Arts,
reprodução proibida
Flores para uma Dama, de Liz Lemon Swindle,
Foundation Arts, reprodução proibida
No alto: Mercy R. Thompson escre- Detalhe acima: Esse quadro mostra
veu a respeito do Profeta: “Ao Hyrum e Joseph Smith num jogo com
andar de carruagem com ele e sua bastão. Mosiah L. Hancock escreveu:
esposa Emma, vi-o por vezes apear e “O irmão Joseph se ofereceu para dis-
colher flores do campo para minha putar esse jogo, uma espécie de cabo-
filhinha”. 5 de-guerra com bastão, com qualquer
pessoa que quisesse competir com ele
— e venceu a todos, um por um”. 6

À esquerda: Eunice Billings Snow


escreveu: “Vi a ‘Legião de Nauvoo’
desfilar com o Profeta a cavalo, (…)
acompanhado da esposa, Emma
Hale Smith, à frente das tropas. (…)
Ele tão claro e ela, morena, em seus
belos trajes de montaria. Ele, com o
uniforme militar completo, e ela com
belos botões dourados na roupa. (…)
Seu cavalo de montaria predileto se
chamava Charlie, um grande corcel
negro”. 7
Joseph à Frente da Legião de Nauvoo, de C. C. A. Christensen, cortesia do Museu de Arte da Universidade Brigham Young

42
À direita: Parley P. Pratt escreveu: “No dia 21 de feve-
reiro de 1835, fiz o juramento e convênio do apostolado
e fui designado e ordenado solenemente a esse ofício e a
integrar esse quórum, pelas mãos de Joseph Smith, Oliver
Cowdery e David Whitmer”. 8

Abaixo: Lucy Walker Kimball escreveu: “Ele sabia muito


bem (…) que teria de sacrificar a vida pelos princípios que

Joseph Smith Ordena Parley P. Pratt ao Apostolado, de Walter Rane, © 2002 IRI
Deus revelara por meio dele. (…) Ouvi-o dizer várias vezes
que estava fadado a selar seu testemunho com o próprio
sangue”. 9 ◼

Notas
1. Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith (Curso de
estudo do Sacerdócio de Melquisedeque e da Sociedade de Socorro,
2007), p. 524.
2. Ensinamentos: Joseph Smith, p. 527.
3. Ensinamentos: Joseph Smith, p. 123.
4. Ensinamentos: Joseph Smith, pp. 369–370.
5. Mercy R. Thompson, “Recollections of the Prophet Joseph Smith”,
Juvenile Instructor, julho de 1892, p. 399.
6. Ensinamentos: Joseph Smith, p. 454.
7. Eunice Billings Snow, “A Sketch of the Life of Eunice Billings Snow”,
Woman’s Exponent, setembro de 1910, p. 22.
8. Parley P. Pratt, Autobiography of Parley P. Pratt, ed. Parley P. Pratt Jr.
(1938), p. 95.
9. Lucy Walker Kimball, “Lucy Walker Kimball (Autobiography)”,
Woman’s Exponent, novembro de 1910, p. 34.

O Profeta Freia Seu Cavalo e Lança um Último Olhar à Bela Nauvoo, de Harold Hopkinson, reprodução proibida

Liahona DEZEMBRO De 2008 43


V o z e s da I g r e j a

O Pouco que
Tínhamos Era
o Bastante
Sueli de Aquino

O
Natal estava chegando, mas
naquele ano não íamos
comemorar com alimento
e brinquedos em abundância. Meu
pai tinha falecido, e minha mãe
começara a receber uma modesta
pensão, complementada por uma
pequena renda proveniente de um

C
aluguel.
Estávamos em silêncio na sala de horamos de
nosso apartamento no Rio de Janeiro, gratidão, pois
Brasil. De repente, ouvimos um o pouco que
barulho que levava a crer que alguém tínhamos era o bas-
chegara e estava ali fora.
tante para dar ale-
Levantei-me e olhei pelas persia-
gria a alguém ainda
nas da janela, de onde via a entrada
menos favorecido.
do edifício. Avistei uma moradora de
rua, maltrapilha e carregando sacolas.
Fiquei observando-a por alguns
instantes, curiosa para ver o que faria.
Ela abriu um saquinho de papel,
tirou alguns biscoitos e começou a
comê-los. Pouco depois, abriu outro
saquinho com moedas e começou a
contá-las.
Eu era jovem e meu coração se
comoveu, então eu disse baixinho a
minha mãe: “Há uma mulher idosa Fiquei perto de nossa janela e vi mãos enrugadas; depois as levou
lá fora. Venha ver”. Minha mãe olhou as notas caírem. A mulher viu uma ao peito e deu graças pelo presente
e também se comoveu. Mandou-me nota cair e depois várias outras. recebido.
buscar a lata onde guardávamos um Tentando descobrir de onde vinha Por detrás das venezianas, chora-
pouco de dinheiro e, sem alarde, saiu o dinheiro, olhou para as janelas mos de gratidão, pois o pouco que
do apartamento e soltou as notas do prédio. Estavam todas fechadas. tínhamos era o bastante para dar
em silêncio da janela do corredor do Então testemunhei algo maravi- alegria a alguém ainda menos favore-
prédio. lhoso. Ela fitou o céu e ergueu as cido. ◼

44
Cânticos que
natalinas tradicionais com os dois piano da família, cantando a música
filhos pequenos, meus pensamentos “Do You Hear What I Hear?” [“Você

Atravessaram
estavam sempre voltados para meus Ouve o Que Eu Ouço?”], na versão
pais e irmãos. Ao olhar o relógio, mais linda que já ouvi. Eu e meu

o País
soube que naquele momento eles marido ficamos com lágrimas nos
deviam estar todos sentados numa olhos ao ouvirmos a harmonia de
manta estendida cuidadosamente três vozes que saíam do telefone. Era
Heather Beauchamp

A
no chão, num “piquenique natalino” quase como se minha família esti-
música e o canto sempre com frutas, salame, queijo e bolachas vesse conosco na sala.
foram muito importantes enquanto meu pai lia nas escrituras o Aquela música simples trouxe
para minha família. Na minha relato do nascimento de Cristo. Men- a nosso lar, naquela
infância e adolescência, minha irmã talmente, eu visualizava o rosto deles: véspera de Natal,
tocava piano enquanto eu e meus o único que faltava era o meu. um doce espírito
outros cinco irmãos nos reuníamos Ao pensar em tudo isso, orei para que sempre
em volta para cantar nossos hinos achar um meio de me sentir mais recordarei
prediletos da Igreja. Esses momentos próxima do restante da família. De com carinho.
constituem algumas de minhas lem- repente, o telefone tocou e lá estava
branças mais doces. eu falando com minha mãe. Ela me
Depois de terminar a escola disse que tinha algo para escutar-
secundária, morei perto de minha mos. Acionei a função de viva-voz e
família até me casar com um homem ouvimos minhas três irmãs mais
maravilhoso que servia na base da novas, reunidas em volta do
Força Aérea americana de nossa
cidade. Um ano e meio depois, eu e
meu marido, juntamente com nossa
filha de dois meses, fomos transferi-
dos para uma base militar na outra
extremidade do país. Tivemos outro
filho e, devido aos inúmeros gastos
com os dois bebês, não podíamos
viajar para ver nossa família. Meus

A
pais, com seis filhos ainda em
casa, também não tinham condi- quela música
ções de vir nos visitar. Por morar simples trouxe
tão longe da família e sofrer com
a nosso lar
as ausências freqüentes de meu
naquela véspera de
marido, devido a seu serviço na
Força Aérea, muitas vezes sentia Natal um doce espí-
solidão. O período de festas nata- rito que sempre recor-
Ilustrações: Doug Fakkel

linas era particularmente difícil. darei com carinho.


Na véspera do Natal de 1996,
enquanto eu e meu marido par-
ticipávamos de nossas atividades
De todos os presentes que recebemos Todos lá me receberam de braços aber-
naquele Natal — muitos comprados em tos e me deram atenção. Pela primeira
lojas e embrulhados e etiquetados com vez em minha vida, fui tratada com amor
esmero — o mais precioso para nós foi e bondade.
aquela doce canção. ◼ Fui apresentada aos missionários, que
começaram a me ensinar. Logo percebi
que tinha um Pai Celestial amoroso,
que me protegera ao longo dos
Meu Melhor anos. Aceitei o evangelho e fui
batizada na véspera do
Presente de Natal de 1978. Naquela
noite, recebi meu
Natal primeiro presente de
Natal, que até hoje
Ketty Teresa Ortiz de é o mais precioso:

E
Arismendi passei a ser membro
u só tinha dois anos da Igreja do Senhor.
de idade quando Outros presentes
minha mãe adoeceu se seguiram. Dois anos
gravemente. Como não tinha depois, conheci um
ninguém com quem me deixar, rapaz que não era mem-
levou-me com ela ao hospital bro da Igreja. Levei-o à Igreja
de Tupiza, Bolívia. Ela morreu comigo e, depois que ele fez
pouco tempo depois, e fiquei seus próprios convênios batismais,
sozinha no mundo. nos casamos. Posteriormente, o Pai
Durante minha infância e início Celestial nos abençoou com três filhos,
da adolescência, passei por muitos selados a nós para esta vida e toda a
lugares diferentes, sem nunca saber eternidade no Templo de Buenos Aires,

N
o que era ter família ou receber na Argentina.
algum tipo de presente — nem aquela noite, Quando eu era pequena, todos
mesmo em meu aniversário ou no recebi meu me chamavam de “pobre orfãzinha”.
Natal. primeiro Quando me lembro disso hoje, sinto
Entregue à própria sorte, presente de Natal, gratidão pela bênção de saber que
enfrentei muitos desafios e peri- tenho um Pai que sempre me amou.
que até hoje é o mais
gos antes de chegar à maturi- Provei também do infinito amor do
precioso: passei a ser
dade. Foi só depois de adulta que Salvador. Ele restaurou Sua Igreja por
membro da Igreja do
aprendi que nunca estive total- meio do Profeta Joseph Smith, esco-
mente sozinha e que uma invisível Senhor. lhido no mundo pré-mortal, que traba-
mão velava por mim. lhou com diligência para traduzir o Livro
Aos 15 anos de idade, fui con- de Mórmon. Sei que este livro contém a
vidada a viver com uma família da plenitude do evangelho.
Igreja. A filha deles, um pouco mais Recebi meu primeiro e melhor pre-
velha que eu, levou-me à Mutual. sente de Natal aos 15 anos de idade

46
e desde aquela época desfruto as dinheiro. Fui bruscamente até o outro educadamente e de bom grado, e os
ternas misericórdias do Senhor. Ainda extremo do vagão e me sentei. Todos dois continuaram a conversa. Saí do
hoje sinto uma gratidão imensa por os outros passageiros fizeram o trem na estação seguinte, tocado pela
essa dádiva e tento manter os olhos mesmo, deixando o homem sozinho. bondade do rapaz. Senti-me culpado
fitos na vida futura, espero agradecer Pouco depois, um rapaz entrou no por meu egoísmo, mas com o desejo
ao Pai e ao Filho, e viver para sempre trem e se sentou bem em frente ao de ser uma pessoa melhor.
com minha amada família. ◼ sem-teto. Sem hesitar, o jovem deu O Rei dos reis veio ao mundo na
um sorriso simpático e um aperto de mais humilde das circunstâncias, num
mão e disse um “oi” alegremente. O pobre estábulo. O mundo recebeu
rosto do homem se iluminou, e eles um presente precioso e salvador:
Uma Lição começaram uma conversa animada.
Conversaram os 15 minutos seguintes,
o Filho de Deus. Sou grato pela
dádiva do Salvador em minha vida e
Inesperada apreciando a companhia um do outro.
Ao observar a cena, lembrei-me
pelas provas de Seu amor e compai-
xão infinitos pelos filhos de Deus.

D S
Erin Wilson do verdadeiro espírito de Natal. No Naquele Natal,
epois de me mudar para a curso da conversa animada, o rapaz senti o desejo em hesitar, o
Cidade de Nova York por se levantou e tirou seu colete, camisa renovado de ser rapaz deu um
motivos profissionais, estava e uma segunda camisa de manga mais bondoso, sorriso simpá-
fazendo compras certa noite de comprida que vestia por baixo. De mais abnegado e tico e um aperto de
dezembro em busca de objetos para pé e usando apenas a camisa de mais semelhante mão e disse um “oi”
meu apartamento. Uma tempestade baixo, deu sua camisa de manga a meu Salvador, alegremente. O rosto
se abatera sobre a cidade pouco comprida ao sem-teto, que a aceitou Jesus Cristo. ◼
do homem se ilumi-
tempo antes, e a neve cobria as ruas
nou, e eles começa-
até a altura dos joelhos. Bem aga-
ram uma conversa
salhado com um espesso casaco fui
até o trem em meio a uma multidão animada.
apressada que fazia compras de Natal.
Aguardei com impaciência a che-
gada do trem, pensando em minha
lista de compras. Quando o trem
finalmente chegou, entrei no vagão e
procurei com os olhos um lugar para
sentar. O assento mais próximo ficava
bem em frente de um idoso sem-
teto. Ele não estava usando casacos
pesados nem outras roupas de frio e
tinha apenas alguns sacos plásticos
cheios de quinquilharias.
Não quis me sentar perto dele por
causa de seu odor desagradável, e
vendo sua má aparência achei que
talvez ele fosse perigoso. Acima de
tudo, não queria que me pedisse
C o m e n t á r i o s

Fortalecida pela Mensagem às lições dos Rapazes e das Moças


Certo dia, ao jejuar devido às mui- para ajudar os jovens a enfrentarem
tas dificuldades que estava enfren- as questões atuais.
tando, abri a edição de julho de 2007 Esses recursos são um grande
da revista Liahona. Decidi ler a seção consolo para mim como líder, pois
Da Vida do Presidente Spencer W. sei que as histórias e artigos chegam
Kimball, o episódio chamado “Resistir a nós pelos canais corretos e contêm
doutrinas verdadeiras. Podem ser usa-
dos sem restrições para complemen-
tar — mas não substituir — as lições. são um verdadeiro guia. A revista
Genell Wells, Utah, EUA também é um meio de conhecermos
e valorizarmos o desenvolvimento
Nota do Editor: Antes, os guias de recursos
eram publicados na revista A Liahona. Agora, e crescimento da Igreja em todo o
passarão a ser enviados para as alas e ramos
com os materiais curriculares recebidos mundo.
anualmente. Darice Adolphe, Ilha da Reunião

às Influências do Mal”, algo que não Minha Seção Predileta Como Vocês Sabiam?
costumo ler, por estar na seção das É uma grande bênção contar com Em muitas ocasiões tive vontade
crianças. Essa história ajudou a me esta publicação maravilhosa, Liahona. de escrever para a Primeira Presi-
distanciar das influências negativas Graças à revista, podemos receber as dência e para as Autoridades Gerais
que me cercavam naquele dia, e fui palavras dos profetas e aprender com e perguntar: “Como vocês sabiam?”
fortalecida pela mensagem. Incen- as experiências espirituais de nossos Em inúmeras ocasiões, ao ouvir e
tivo todos a lerem todas as seções da irmãos de todo o mundo. Minha seção depois ler os discursos de conferên-
Liahona. predileta é Vozes da Igreja. É impos- cia, é como se o Senhor estivesse
A Liahona é uma luz e proteção sível não sentir o Espírito quando leio falando diretamente para mim sobre
para mim. É a primeira ferramenta essas histórias maravilhosas. dúvidas e problemas específicos
que uso para proclamar o evangelho Em meu computador, gravo as que tenho. Com essas experiências,
a meus amigos. versões em PDF da revista que se aprendi o quanto o Pai Celestial me
Arlette Azi, Costa do Marfim encontram no site da Igreja. Antes de ama e deseja que eu seja uma pessoa
começar meu dia, leio um artigo a fim melhor. As mensagens das conferên-
O Segredo Mais Bem Guardado de me encher do Espírito. Obrigado cias me tocaram em todos os lugares
Ao preparar minha aula das Moças pela Liahona. e situações por que passei, mesmo
certo dia, percebi que havia partes da Oscar Javier Álvarez Gómez, Colômbia em locais distantes. Em certos casos,
lição que precisavam ser complemen- as mensagens foram uma chamada
tadas. Foi aí que recorri ao segredo Instrumento Eficaz ao arrependimento, outras vezes
mais bem guardado dos líderes Creio que a Liahona é um instru- foram fonte de orientação, outras,
de jovens de sucesso: os Guias de mento eficaz, pois nos dá a conhecer de consolo. Muitas vezes me senti
Recursos para o Sacerdócio Aarônico o testemunho e as experiências de como se eu fosse a filha preferida do
e Moças. Esses materiais contêm refe- membros do mundo inteiro. Também Pai Celestial, ao ver o profundo zelo
Ilustração: Daniel Lewis

rências de histórias e artigos atuais sou grata por ouvir histórias de outros com que Ele vela por mim por meio
dos profetas e outras autoridades membros, bem como receber conse- dessas mensagens.
gerais que podem ser acrescentados lhos de nossos líderes. Suas palavras Charleen Crenshaw, Montana, EUA

48
O Amigo
Pa r a a s C r i a n ç a s • A I g r e j a d e J e s u s C r i s t o d o s S a n t o s d o s Ú lt i m o s D i a s • D e z e m b r o d e 2 0 0 8
Mensagem de Na t al da Primeira Presidência

para as Crianças do Mu n d o

Seguir a Luz

E,
“ tendo nascido Jesus em Belém de Judéia,
no tempo do rei Herodes, eis que uns
magos vieram do oriente a Jerusalém.
Dizendo: Onde está aquele que é nascido
rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no
oriente, e viemos a adorá-lo” (Mateus 2:1–2).
Os Reis Magos seguiram a luz de uma estrela
para encontrar e adorar o Salvador. Nós O ado-
ramos seguindo a luz de Seu exemplo. Jesus
Cristo, o Filho de Deus, é perfeitamente obe-
diente, misericordioso e bom. Passou Seu tempo
na Terra servindo e deu Sua vida para nos abrir
as portas do arrependimento e da vida eterna.
Por Ele ter vindo à Terra, sabemos quem somos:
filhos amados do Pai Celestial.
Neste Natal, cantemos com alegria, oremos
com gratidão e pratiquemos boas obras. Se ten-
tarmos nos tornar mais semelhantes ao Salvador,
teremos alegria e felicidade durante esta época
maravilhosa e paz em cada dia do ano.

Presidente Thomas S. Monson


Presidente Henry B. Eyring
Presidente Dieter F. Uchtdorf

Até Mesmo Homens Sábios da Terra Precisam Seguir a Orientação Divina, de J. Leo Fairbanks,
cortesia do Museu de História e Arte da Igreja.

o amigo DEZembrO 2008 A3


2 Lucas 2:1–7 3 Lucas 2:8–20
PGE 200 PGE 202
1 Isaías 7:14; 9:6–7 4 Mateus 2:1–12
PGE 113 PGE 203

6 Lucas 2:40 7 Lucas 2:41–52


PGE 206 PGE 205

5 Mateus 2:13–15 8 Mateus 3:13–17


PGE 204 PGE 208

9 João 9:1–17, 32–38 10 Mateus 8:23–27


PGE 213 PGE 214

11 Mateus 19:13–15 12 Mateus 5:1–10; 6:9–13


PGE 216 PGE 212

13 João 11:1–3, 17–27, 41–44 14 Lucas 17:11–19


PGE 222 PGE 221

15 Mateus 21:12–15 16 Mateus 26:17–30


PGE 224 PGE 225

25 D&C 76:22–24
PGE 240
17 Mateus 26:36–45 18 Marcos 14:42–46
PGE 227 PGE 228

23 3 Néfi 17:1–10 24 Joseph Smith—História 1:14–20


PGE 317 PGE 403

19 Lucas 23:32–46 22 3 Néfi 11:1–17


PGE 230 PGE 316
20 João 20:11–18 21 Lucas 24:36–43
PGE 233 PGE 234
A4
T e m p o d e C o m p a r t i l h a r

Conta-me
Histórias de Cristo
“E falamos de Cristo, regozijamo-nos em Cristo, pregamos do Pacote de Gravuras do Evangelho (PGE) que pode
a Cristo, profetizamos de Cristo e escrevemos de acordo acompanhar a história. Conte suas histórias favoritas de
com nossas profecias”, (2 Néfi 25:26). Jesus à família.

Linda Christensen Idéias para o Tempo de Compartilhar


1. Antes do tempo de compartilhar, amplie a gravura do
Conta-me histórias de Cristo, eu quero ouvir, manual Primária 6, lição 46, p. 211. Comece o tempo de compar-
Belas histórias de quando andou aqui. tilhar segurando a Bíblia e o Livro de Mórmon. Peça às crianças
Cenas passadas em terra ou mar, que identifiquem os dois livros. Faça um jogo de adivinhação
Coisas de Cristo, vem-me contar. anunciando o nome de um profeta e pedindo às crianças que
(“Conta-me Histórias de Cristo”, Músicas para identifiquem qual volume de escrituras contém os ensinamentos
Crianças, p. 36) desse profeta. Ponha a cópia ampliada da página 211 no qua-
dro-negro. Leia o princípio do evangelho da semana: “Os profe-
Quais são algumas de suas histórias favoritas de Cristo? tas predisseram a vinda de Jesus Cristo à Terra”. Leia o nome dos
Gosta da história de Seu nascimento? Já leu sobre a oca- cinco profetas da cópia ampliada e conte quando eles viveram
sião em que Ele apaziguou a tempestade no mar? Sabia na Terra. Peça às crianças que identifiquem de qual volume de
que curou um cego e levantou Seu amigo Lázaro dos escrituras vem cada profeta. Convide algumas crianças indivi-
mortos? Já leu sobre o quanto Ele amava as crianças? dualmente ou designe grupos para achar as escrituras alistadas:
As histórias de Jesus se encontram nas escrituras. Isaías 7:14; 9:6; Miquéias 5:2; 1 Néfi 11:18–21; Alma 7:9–10; e
Néfi, um profeta do Livro de Mórmon, escreveu: “E Helamã 14:1–6. Dê a cada criança um exemplar da folha para
Imagem de Cristo, de Heinrich Hofmann, cortesia de C. Harrison Conroy Co.; ao fundo © Photospin

falamos de Cristo, regozijamo-nos em Cristo, pregamos colorir. Preste testemunho de que as escrituras são a palavra de
a Cristo, profetizamos de Cristo e escrevemos de acordo Deus e de que testificam do nascimento de Jesus Cristo.
com nossas profecias” (2 Néfi 25:26). O Pai Celestial 2. Escreva o princípio do evangelho da semana no quadro-
deu a Seus profetas o mandamento de testificar de Seu negro e leia-o com as crianças: “As profecias se cumpriram.
Filho, Jesus Cristo, e manter registros sagrados a fim de Jesus Cristo nasceu e os justos se rejubilaram”. Defina a palavra
aprendermos a respeito de Jesus. profecia. Use dramatizações para envolver as crianças no
Os profetas nos incentivam a ler as escrituras todos aprendizado dos acontecimentos narrados na Bíblia e no Livro
os dias. Durante o mês de dezembro, leia sobre o nasci- de Mórmon, por ocasião do nascimento de Jesus (ver “Dramati-
mento de Jesus e os milagres que Ele realizou. Fale com zações”, Ensino, Não Há Maior Chamado [1999], pp. 165–166).
a família sobre o precioso dom da Expiação. Ao apren- Use as escrituras de Lucas 2 e 3 Néfi 1:8–21. Leia novamente
der as histórias de Jesus, terá a bênção de sentir o amor o princípio do evangelho da semana. Peça às crianças que
que Ele tem por você e seu testemunho do evangelho pensem nas histórias do nascimento de Jesus, que se encontram
Dele crescerá. na Bíblia e no Livro de Mórmon. Cite alguns dos justos que se
rejubilaram com Seu nascimento. Ajude as crianças a reconhe-
Atividade cerem que os justos também se alegram hoje ao celebrarmos o
Em cada dia do mês de dezembro, procure a passa- nascimento de Jesus. Fale de como podemos nos regozijar ao
gem que se encontra nas pequenas escrituras do dia, na comemorarmos Seu nascimento. Ensine o refrão de “Erguei-vos
página A4 e leia as histórias de Jesus. Em seguida, pinte Cantando” (Hinos, nº 122). Preste testemunho dos relatos das
as escrituras do dia. Cada dia traz também uma gravura escrituras sobre o nascimento de Jesus. ●

Nota: Se não quiser destacar páginas da revista, faça uma cópia da atividade ou
imprima-a da Internet em www.lds.org. Para o inglês, clique em Gospel Library.
Para outros idiomas, clique em Languages.
Pa r a o s A m i g u i n h o s

Demonstrar Nosso Amor a Jesus


J a n e M c B ride C h oate
Inspirado numa história verídica
“Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Lucas 2:11).

Jenay gostava de sair para cantar canções natalinas com a


Jenay ficou olhando a mãe pôr o bolo branco recém-saído do família, de fazer bolachas de gengibre em forma de boneco e de
forno na mesa da cozinha. Era a véspera de Natal, quando a decorar a árvore de Natal. Contudo, recordar o aniversário de
família comemoraria o nascimento de Jesus. Jesus era o que mais gostava de fazer no Natal.

Acha que o bolo já esfriou?

Posso ajudar a pôr a cober-


tura no bolo?

Acho que está


na hora certa.

Temos que deixar esfriar


primeiro.
Ilustrações: Elise Black

Jenay ajudou a mãe a limpar a pia e lavar a louça. Jenay e a mãe espalharam uma cobertura branca e macia sobre
o bolo.

A6
Depois da ceia, o pai pediu à família que se reunisse na sala
de estar. Um por um, os membros da família abriram seus presentes para
Jesus e leram o que tinham escrito numa tira de papel. Com a
ajuda da mãe, Jenay escrevera: “Ser mais reverente na Igreja”.
Apesar de sabermos que Jesus nasceu em abril, gostamos
de comemorar Seu aniversário nesta época do ano.

Estou orgulhoso de cada um de vocês.


Todos os seus presentes demonstram
seu amor a Jesus Cristo.

A mãe leu a história do nascimento de Jesus na Bíblia e A mãe partiu o bolo e o serviu em pratos de festa. Jenay
no Livro de Mórmon. Em seguida, o pai prestou testemu- comeu um pedaço de bolo e sorriu.
nho da Expiação e Ressurreição de Jesus.

Amo Jesus e sei que Ele Uma doce sensação


me ama. de paz a envolveu,
como uma colcha quen-
tinha e aconchegante.

o amigo DEZembrO de 2008 A7


O Nascimento de Jesus
P
ara ajudar você e sua família a
recordarem a maravilhosa história
do nascimento de Jesus Cristo (ver
Mateus 2:1–12; Lucas 2:1–20), faça este pre-
sépio. Em seguida, deixe-o exposto num local
onde as pessoas se alegrem ao vê-lo durante a
época de Natal.
1. Cole as páginas A8–A9 e A12 em cartolina.
2. Recorte as imagens das páginas A8–A9 e A12
e corte as aberturas nas páginas A8–A9, conforme
mostrado nas linhas pretas pontilhadas.
3. Dobre a imagem maior ao longo dos pontilha-
dos, para que fique de pé.
4. Encaixe as aberturas da imagem do menino
Jesus nas aberturas da grande imagem, conforme
a ilustração. Em seguida, acrescente as outras duas
imagens, conforme a ilustração.
Nota: Se não quiser destacar páginas da revista,
faça uma cópia desta atividade ou imprima-a
da Internet em www.lds.org. Para o inglês,
clique em Gospel Library. Para outros
idiomas, clique em Languages.

Ilustrações: Dilleen Marsh

AA8
8
o amigo DEZembrO de 2008 A9
D a V ida do P r o f eta J oseph S m ith

O Martírio do Profeta

Algumas pessoas iníquas queriam


matar Joseph Smith. Ele e seu irmão
Hyrum decidiram deixar sua casa
em Nauvoo, em busca de segurança.
Com tristeza, despediram-se da famí-
lia e seguiram viagem.

Homens estão tentando


matar meu irmão Joseph, e o Senhor
o advertiu e mandou que fugisse
para as Montanhas Rochosas a fim
de salvar sua vida.

Tropas foram até Nauvoo para prender Joseph e Hyrum. Os habitan- Um guarda prendeu Joseph e Hyrum e
tes de Nauvoo ficaram preocupados com o que os soldados fariam, os mandou para a Cadeia de Carthage.
assim, Emma enviou homens para informar Joseph e Hyrum, que Muitas pessoas visitaram o Profeta lá.
resolveram ir para Carthage. Joseph sabia que morreria lá.

Vou como um cordeiro para o mata-


douro; mas estou calmo como uma Morrerei
manhã de verão; tenho a consciência inocente e ainda
limpa em relação a Deus e a todos se dirá de mim:
os homens. foi assassinado a
sangue frio.

Ilustrações: Sal Velluto e Eugenio Mattozzi

No dia 27 de junho de 1844, Hyrum,


o Élder John Taylor e o Élder Willard
Richards estavam com ele no quarto do
andar superior do prédio.

A10
Naquela tarde, o quarto estava muito quente. Os homens abri- Uma turba de homens enraivecidos se reuniu
ram as janelas para se refrescar um pouco. Hyrum estava lendo em volta da prisão. Em seguida entraram e
um livro, ao passo que Joseph conversava com um guarda. correram escada acima, atirando. Hyrum foi
John Taylor cantou “Um Pobre e Aflito Viajor” (Hinos, nº 15). assassinado.

Um pobre e aflito viajor por John, pode cantar


meus caminhos ao cruzar (…) esse hino de novo,
por favor?

Oh! Meu pobre


Se o fizer, o e querido irmão
Irmão Hyrum, não sinto
desejo virá. Hyrum.
mais vontade de cantar.

Joseph disparou seis vezes para tentar Quando os membros da


deter os agressores. Correu então para Igreja em Nauvoo tomaram
a janela. Os integrantes da turba atira- conhecimento da morte
ram nele e ele caiu janela abaixo. do Profeta, ficaram incon-
soláveis. Mais de 10.000
pessoas passaram pela casa
de Joseph para ver o corpo
do Profeta amado e de seu
Oh Senhor, irmão.
meu Deus!

“Joseph Smith, o Profeta e Vidente do Senhor, com exceção apenas de


Jesus, fez mais pela salvação dos homens neste mundo do que qual-
quer outro homem que jamais viveu nele. (…) Viveu grandiosamente
e morreu grandiosamente aos olhos de Deus e de seu povo; e (…)
selou sua missão e suas obras com o próprio sangue” (D&C 135:3).

Adaptado de Reed Blake, “Martyrdom at Carthage”, Ensign, junho de 1994, pp. 30–38; ver o amigo DEZembrO de 2008 A11
também Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Joseph Smith (Curso de estudo do Sacerdócio de
Melquisedeque e da Sociedade de Socorro, 2007), pp. xx, 25–27, 484–485, 555–557.
Para instruções, ver p. A8.
Ilustrações: Dilleen Marsh
P á g i n a p a r a C o l o r i r

Ilustração: Apryl Stott

Amo meu Salvador, Jesus Cristo e Seu evangelho restaurado


“E falamos de Cristo, regozijamo-nos em Cristo, pregamos a Cristo, profetizamos de Cristo e
escrevemos de acordo com nossas profecias, para que nossos filhos saibam em que fonte procurar
a remissão de seus pecados” (2 Néfi 25:26).
O Presenteador Secreto
Charlotte Goodman McEwan
Inspirado numa história verídica

A
“Deus ama ao que dá com alegria” (II Coríntios 9:7).
doro tudo relacionado ao Natal: a iluminação,
os cânticos, o tempo que passamos com a família,
— tudo o que fazemos para comemorar o nasci-
mento de Jesus. E, acima de tudo, adoro ganhar presen-
tes. Começo a fazer minha lista de pedidos de Natal em
setembro.
Certo ano, minha lista era quase tão longa quanto
meu braço. E eu não parava de pensar em coisas para
adicionar a ela. Não via a hora de mostrá-la a meu pai.
“Então, Davi, vejo o que você quer ganhar no Natal”,
disse ao consultar a lista. “Mas o que você vai dar?”
“Estou fazendo presentes na escola para você e a
mamãe. Na sexta-feira, a mamãe vai me levar para com-
prar algo para a Sara e o João. Já tenho tudo planejado.”
“Hummm”, foi tudo que o pai disse. Por algum
motivo ele não ficara satisfeito com minha resposta.
Não gostei muito do “hummm”.
Na noite familiar seguinte, meus pais abordaram a
idéia de dar e receber e o verdadeiro significado do
Natal. A cada minuto que passava, tinha a impressão
de que minha lista de pedidos encolhia. Perguntaram
se tínhamos idéias que nos ajudavam a lembrar de
doar mais. Sara levantou a mão, alvoroçada. Eu e João,
meu irmão mais velho, suspiramos. As idéias da Sara
costumavam girar em torno de coisas a fazer para os
outros, como arrancar as ervas daninhas do jardim dos
vizinhos.
“Vamos escolher algumas pessoas solitárias ou neces-
sitadas e deixar anonimamente presentes na frente da
porta deles,” sugeriu Sara com entusiasmo.
“Até que não é má idéia,” elogiou João. “E seria
segredo de estado.”
“Acho que vai ser divertido,” pensei.
Todos concordamos que era um excelente plano.
Escolhemos duas famílias. Uma era a família Souza, de
nossa ala. Como o pai da família voltara a estudar, pare-
cia que eles nunca tinham dinheiro suficiente. Também
tinham muitos filhos, que adorariam ganhar surpresas
de Natal. A outra família era o Sr. Gilberto e a dona
Maria Perez, um casal idoso que morava na nossa rua.
Eles pareciam sempre um pouco solitários. voz surpresa deles ao acharem o “Se buscarmos a
Fomos todos juntos comprar os presen- presente. Achei que fosse explodir Cristo, O encontrar-
tes. Concordamos que para isso usaríamos de entusiasmo e alegria. Era o iní- mos e O seguirmos,
parte do dinheiro que teríamos gasto com cio de minha carreira de Presen- teremos o espírito de
Natal. (…) Aprende-
nossos próprios presentes. Aceitei bem a teador Secreto. remos a esquecer de
situação. Achei muito divertido escolher As coisas só tenderam a melho- nós mesmos. Nossos
brinquedos para os filhos mais novos da rar — e a se complicar. Tivemos pensamentos estarão
família Souza. Por algum motivo, meus que ir em horários diferentes voltados primeiramente para o bem do
próprios presentes não pareciam mais tão a cada noite e às vezes até de próximo.”
Ilustrações: Matt Smith; fotografia: Busath Photography

importantes. manhã, pois as crianças da família Presidente Thomas S. Monson,


“In Search of the Christmas Spirit”,
Decidimos dar um presente por noite a Souza começaram a olhar pela Ensign, dezembro de 1987, p. 5.
cada família, a partir do décimo segundo dia janela para tentar nos surpreen-
antes do Natal. Quando chegou a primeira der. E a cada vez que eu me apro-
noite, vesti-me de preto da cabeça aos pés, ximava da casa da família Perez,
e meu irmão João me levou de carro até a imaginava a dona Maria me esperando,
casa da família Souza. Sem fazer barulho, pronta para escancarar a porta, dar-me
pus o primeiro presente na varanda, apertei um abraço e dizer o quanto eu era mara-
a campainha e saí correndo a toda veloci- vilhoso. Eu queria impedir isso a qualquer
dade. Saltei para trás de uma cerca assim custo. Metade da diversão era justamente
que uma das crianças abriu a porta. Ouvi a manter o segredo.

o amigo DEZembrO de 2008 A15


E aquele ano foi apenas o começo. No Natal
seguinte, escolhemos uma família cuja filha fora hospi-
talizada 11 vezes no ano, e outra família cuja mãe tinha
câncer. Uau! — Nunca havia me dado conta de que a
vida era tão dura para certas pessoas.
Agora, que estamos outra vez às vésperas do Natal,
decidimos ajudar três famílias. A parte mais difícil é
escolhê-las. Parece haver tantas pessoas que precisam
de um pouco de alegria no Natal!
E minha própria lista? A cada ano ela encolhe mais
um pouquinho. Estou sempre tão entretido com meus
planos de Presenteador Secreto que não sobra muito
tempo para pensar em mim mesmo. Há presentes a
escolher e estratégias a planejar.
Mas uma coisa é certa: é maravilhoso fazer coisas
pelos outros. Nada se iguala ao sentimento que nasce
quando vejo a surpresa e o entusiasmo no rosto das
pessoas que ajudamos. Doar tornou-se uma de minhas
coisas favoritas no Natal. ●
O Menino Jesus, de Jeremy Winborg
Jesus Cristo “nascerá de Maria, em Jerusalém, que é a terra de nossos antepassados,
sendo ela uma virgem, um vaso precioso e escolhido; e uma sombra a envolverá; e conceberá pelo
poder do Espírito Santo e dará à luz um filho, sim, o Filho de Deus” (Alma 7:10).
PORTUGUESE

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