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Intertextualidade:

A palavra intertextualidade significa interação entre textos, um


diálogo entre eles. E texto no sentido amplo: um conjunto de
signos organizados para transmitir uma mensagem, portanto,
no mundo atual da multimídia, ela acontece entre textos de
signos diferentes.
Dentre a intertextualidade explícita, temos vários
gêneros, como: epígrafe, citação, alusão, paráfrase,
paródia, pastiche e bricolagem.

Epígrafe
Epígrafe ( do grego epi = em posição su-perior + graphé =
escrita) constitui uma escrita introdutória de outra.
A Canção de Exílio, de Gonçalves Dias, apresenta versos
introdutórios de Goethe, com a seguinte tradução:

“Conheces o país onde florescem as laranjeiras? Ardem na


escura fronde os frutos de ouro... Conhecê-lo? Para lá , para lá
quisera eu ir!”

A epígrafe e o poema mantêm um diálogo, pois os dois


têm características românticas, pertencem ao gênero lírico e
possuem caráter nacionalista.
Canção do Exílio
“Kennst du das Land, wo die Citronen blühn,
Im dunkeln Laub die Gold-Orangen glühn,
Kennst du es woh? – Dahin, dahin!
Möcht’ich... Ziehn.” Goethe

Minha terra tem palmeiras


Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Citação

É uma transcrição , reprodução literal das palavras de um de texto alheio,


marcada por aspas. A música Cinema Novo, de Caetano Veloso, faz citações:

O filme quis dizer ‘Eu sou o samba’


A voz do morro rasgou a tela do cinema
E começaram a se configurar
Visões das coisas grandes pequenas
Que nos formaram e estão a nos formar
Todos e muitos: Deus e o Diabo, Vidas Secas, os Fuzis,
Os Cafajestes, o Padre e a Moça, a Grande Feira, o Desafio

   Outras conversas, outras conversas sobre os jeitos do Brasil.


Na citação sobre o samba, Caetano Veloso diz que o Cinema Novo quer representar o Brasil, como fez o samba da época de
Cármen Miranda.
Outro exemplo de citação
As características da "educação militar
compartilhada pelos homens e mulheres espartanas"
são tão conhecidas que não vale a pena perdermos
tempo em descrevê-las (PONCE, 1994, p.37).
Alusão

   É o processo de referência indireta a um outro texto


quando um autor está desenvolvendo determinadas idéias que
já foram pesquisadas por outros; ou ainda,consiste no meio
indireto de atingir certa pessoa ou fato que se conhecem,
através de características identificadoras.
Ex.:
"A grande arte é como labor de joalheiro./Ou bem de estatuário: tudo
quanto é belo, tudo quanto é vário, canta no martelo"
(M.Bandeira - alusão aos parnasianos).

Ex.: “O processo da vida individual, presente nos romances de Clarice


Lispector, não se esgota nos conflitos psicológicos, naquilo que se
poderia chamar, de acordo com Luka’cs, a dimensão biográfica do
romance.” (Benedito Nunes)
Paráfrase

     

A paráfrase é a reprodução do texto de outrem com as palavras do


autor. Ela não confunde com o plágio porque seu autor explicita a
intenção, deixa claro a fonte.
Outro exemplo de paráfrase:

Parábola da ovelha desgarrada

Chegam – se pois a Jesus os publicanos e os pescadores para o ouvirem. E os


fariseus e os escribas para o ouvirem. E os fariseus e os escribas murmuravam
dizendo: Este recebe os pecadores e come com eles. E Ele lhes propôs esta
parábola, dizendo: Qual de vós outros é o homem que tem cem ovelhas, e se
perde uma delas, não é assim, que deixa as noventa e nove no deserto, e vai a
buscar a que se havia perdido, até que a ache? E que depois de a achar, a
pões sobre os ombros cheio de gosto e vindo à casa chama a seus amigos, e
vizinhos, dizendo – lhes: “congratulai – vos comigo, porque achei a minha
ovelha, que se havia perdido! Digo – vos que assim haverá maior jubilo no céu
sobre um pecador, que fizer penitência, que sobre noventa e nove justos que
não há mister de penitência.” (Lucas 15:1-7)
Paráfrase:
Qual dentre vós que cem ovelhas tendo
E uma delas perdendo,
Não deixa as outras todas e não parte
Por vales e por serras, em batida,
Solícito, a buscar´por toda a parte
Sua ovelha perdida

E quando a houver achado, jubiloso,


Não reúne os amigos numa festa,
Dizendo – lhes: -- É esta!
É esta a ovelha que perdido eu tinha!
Vinde regozijar – vos com o meu gozo,
Vinde juntar – vos à alegria minha!

Assim, digo – vos eu


Que haverá maior jubilo no Céu
Por um só pecador arrependido,
Que por um cento
De justos que o meu Reino Prometido
Hajam bem merecido
E não precisem de arrependimento (Bastos Tigre)
Paródia

   A paródia é uma forma de apropriação que, em


lugar de endossar o modelo retomado, rompe com
ele, sutil ou abertamente.
Outro exemplo:
Ouvir Estrelas Ouvir estrelas
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Ora, direis, ouvir estrelas! Vejo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no que estás beirando a maluquice extrema.
entanto, No entanto o certo é que não perco o
Que, para ouvi-las muita vez desperto ensejo
E abro as janelas, pálido de espanto... de ouvi-las nos programas de cinema.
E conversamos toda noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto, Não perco fita; e dir-vos-ei sem pejo
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em que mais eu gozo se escabroso é o tema.
pranto, Uma boca de estrela dando beijo
Inda as procuro pelo céu deserto. é, meu amigo, assunto p’ra um poema.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido Direis agora: Mas, enfim, meu caro,
as estrelas, que dizem? Que sentido
Tem o que dizes, quando não estão têm suas frases de sabor tão raro?
contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê- Amigo, aprende inglês para entendê-las,
las! pois só sabendo inglês se tem ouvido
Pois só quem ama pode ter ouvido capaz de ouvir e de entender estrelas.
Capaz de ouvir e de entender
estrelas".
(Olavo Bilac) (Bastos Tigre)
Pastiche
É uma repetição diferenciada e recriadora de uma obra e uma forma anteriores. O autor se
apropria do texto original apenas do ponto de partida para a elaboração de sua obra.

Expedicionário (trecho)
  Canção do exílio (trecho)
Seu corpo repousa
Não permita Deus que eu morra, No cemitério de Pistóia
Sem que eu volte para lá -- Disse o prefeito.
Sem que eu desfrute os primores que não encontro
Respondeu a voz além – túmulo: por mais
Por cá; sem que ainda aviste as
palmeiras, onde canta o sabiá terra que percorra não permita, Deus que
morra.

(Gonçalves Dias)
(Silviano Santiago)
Bricolagem:
É um recurso intertextual que consiste na apropriação de diversos textos, idéias e materiais que,
deslocados de seu lugar de origem, vão aparecer colados num outro contexto, onde ganham
um novo sentido e exercem nova função.




Outros exemplos de intertextualidade

Intertextualidade
Composição: Roberto Carlos
Um dia a areia branca Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Seus pés irão tocar Uma história pra contar de um mundo
E vai molhar seus cabelos tão distante
A água azul do mar Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Janelas e portas vão se abrir Um soluço e a vontade de ficar mais um
Pra ver você chegar
E ao se sentir em casa instante
Sorrindo vai chorar
Você anda pela tarde
Debaixo dos caracóis dos seus E o seu olhar tristonho
cabelos Deixa sangrar no peito
Uma história pra contar de um Uma saudade, um sonho
mundo tão distante
Um dia vou ver você
Debaixo dos caracóis dos seus
cabelos Chegando num sorriso
Um soluço e a vontade de ficar mais Pisando a areia branca
um instante Que é seu paraíso

As luzes e o colorido Debaixo dos caracóis dos seus cabelos


Que você vê agora Uma história pra contar de um mundo
Nas ruas por onde anda tão distante
Na casa onde mora Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Você olha tudo e nada
Um soluço e a vontade de ficar mais um
Lhe faz ficar contente
Você só deseja agora instante
Voltar pra sua gente
Composição: Chico Buarque
(Crescendo) Amanhã vai ser outro dia x 3 (Coro2) Apesar de você
Amanhã há de ser outro dia.
Hoje você é quem manda Ainda pago pra ver
Falou, tá falado
Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda O jardim florescer
Falando de lado e olhando pro chão. Qual você não queria.
Viu?
Você que inventou esse Estado Você vai se amargar
Inventou de inventar Vendo o dia raiar
Toda escuridão Sem lhe pedir licença.
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar o perdão.
E eu vou morrer de rir
(Coro) Apesar de você E esse dia há de vir
amanhã há de ser outro dia. antes do que você pensa.
Eu pergunto a você onde vai se esconder Apesar de você
Da enorme euforia?
Como vai proibir (Coro3) Apesar de você
Quando o galo insistir em cantar? Amanhã há de ser outro dia.
Água nova brotando Você vai ter que ver
E a gente se amando sem parar. A manhã renascer
E esbanjar poesia.
Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento Como vai se explicar
Vou cobrar com juros. Juro! Vendo o céu clarear, de repente,
Todo esse amor reprimido, Impunemente?
Esse grito contido, Como vai abafar
Esse samba no escuro. Nosso coro a cantar,
Na sua frente.
Você que inventou a tristeza Apesar de você
Ora tenha a fineza
de “desinventar”. (Coro4) Apesar de você
Você vai pagar, e é dobrado, Amanhã há de ser outro dia.
Cada lágrima rolada Você vai se dar mal, etc e tal,
Nesse meu penar. La, laiá, la laiá, la laiá…….
Nas provas
(Pucpr) TEXTO
 
Quando o imperador Vespasiano ordenou, no século I, a reconstrução do
Capitólio romano, um artesão propôs a ele a utilização de máquinas
que levariam, de forma rápida e barata, as colunas de pedra até o alto
da colina. O historiador Selênio conta que o imperador recusou a
oferta, respondendo: "Que me seja permitido dar de comer aos mais
pobres". Mil e novecentos anos depois, diante da maior onda de
desemprego desde a Grande Depressão de 1929, o mundo ainda se
encontra dividido entre os que raciocinam como o artesão romano, e os
que pensam como Vespasiano. Os primeiros defendem a intensificação
dos processos de automação de fábricas e serviços como a saída
possível (e ademais inevitável) para uma economia que parece
produzir menos empregos que produtos. Os outros acreditam que a
combinação de informática e telecomunicações, que caracteriza a
terceira Revolução Industrial, é uma devoradora de postos de trabalho.
(BUENO, Denise. "Exame", 22/05/96.)
 
1. Para construir esse parágrafo, a articulista utilizou dois recursos,
respectivamente:
a) alusão histórica e divisão.
b) citação indireta e alusão histórica.
c) alusão histórica e citação indireta.
d) citação indireta e divisão.
e) declaração e oposição.
(Pucmg) A RITA
Chico Buarque
  A Rita matou nosso amor
A Rita levou meu sorriso De vingança
No sorriso dela
Nem herança deixou
Meu assunto
Não levou um tostão
Levou junto com ela
E o que me é de direito Porque não tinha não
Arrancou-me do peito Mas causou perdas e danos
E tem mais Levou os meus planos
Levou seu retrato, seu trapo, seu Meus pobres enganos
prato Os meus vinte anos
Que papel! O meu coração
Uma imagem de São Francisco
E um bom disco de Noel
 
Após a leitura do texto e da charge,
considere as análises a seguir.
 
I. Para criar uma paródia, o chargista,

oportunamente, explora a coincidência
de nomes atribuídos à letra de Chico
Buarque de Holanda e ao furacão que
atingiu os Estados Unidos.
II. A charge faz alusão aos efeitos do
furacão sobre a imagem do presidente
Bush; o texto explora, por sua vez, os
efeitos que a ausência da amada
provoca no poeta.
III. Na charge, um dos mecanismos de
construção intertextual empregado
consiste na subversão do tema
abordado na letra da canção de Chico
Buarque.
IV. Na charge, verifica-se a instauração
de uma linguagem lúdica, recurso
pouco explorado em gêneros que
enfocam o humor.
 
Assinale:
a) se apenas I for correta.
b) se II e IV forem corretas.
TEXTO 4: HELENA
1 Helena tinha os predicados próprios a captar a confiança e a
afeição da família. Era dócil, afável, inteligente. Não eram
estes, contudo, nem ainda a beleza, os seus dotes por
excelência eficazes. O que a tornava superior e lhe dava
probabilidade de triunfo, era a arte de acomodar-se às
circunstâncias do momento e a toda casta de espíritos, arte
preciosa, que faz hábeis os homens e estimáveis as mulheres.
Helena praticava de livros ou de alfinetes, de bailes ou de
arranjos de casa, com igual interesse e gosto, frívola com os
frívolos, grave com os que o eram, atenciosa e ouvida, sem
entono nem vulgaridade. Havia nela a jovialidade da menina e
a compostura da mulher feita, um acordo de virtudes
domésticas e maneiras elegantes.
2 Além das qualidades naturais, possuía Helena algumas
prendas de sociedade, que a tornavam aceita a todos, e
mudaram em parte o teor da vida da família. Não falo da
magnífica voz de contralto, nem da correção com que sabia
usar dela, porque ainda então, estando fresca a memória do
conselheiro, não tivera ocasião de fazer-se ouvir. Era pianista
distinta, sabia desenho, falava corretamente a língua
francesa, um pouco a inglesa e a italiana. Entendia de costura
e bordados, e toda a sorte de trabalhos feminis. Conversava
com graça e lia admiravelmente. Mediante os seus recursos, e
muita paciência, arte e resignação, - não humilde, mas digna, -
Marque a opção que constitui a melhor paráfrase da frase:
 
"arte preciosa, que faz hábeis os homens e estimáveis as
mulheres." (texto 4)
 
a) A arte preciosa faz-se estimável e hábil às mulheres e aos
homens.
b) Com mulheres estimáveis e homens hábeis, a arte faz-se
preciosa.
c) As mulheres fazem estimáveis os homens hábeis, com a arte
preciosa.
d) As mulheres e os homens fazem-se estimáveis e hábeis na
arte preciosa.
e) Com a arte preciosa, as mulheres fazem-se estimáveis e os
homens, hábeis.
III. Quando nasci um anjo esbelto
(Enem) Quem não passou pela
experiência de estar lendo um Desses que tocam trombeta,
texto e defrontar-se com anunciou:
passagens já lidas em outros? Vai carregar bandeira.
Os textos conversam entre si Carga muito pesada pra mulher
em um diálogo constante. Esse
fenômeno tem a denominação Esta espécie ainda envergonhada.
de intertextualidade. Leia os (PRADO, Adélia. BAGAGEM. Rio
seguintes textos: de Janeiro: Guanabara, 1986)
   
I. Quando nasci, um anjo torto
Adélia Prado e Chico Buarque
Desses que vivem na sombra estabelecem intertextualidade,
Disse: Vai Carlos! Ser "gauche" na em relação a Carlos Drummond
vida de Andrade, por
(ANDRADE, Carlos Drummond
a) reiteração de imagens
de. ALGUMA
POESIA. Rio de Janeiro: b) oposição de idéias
Aguilar, 1964) c) falta de criatividade
  d) negação dos versos
II. Quando nasci veio um anjo e) ausência de recursos
safado
O chato dum querubim
E decretou que eu tava
predestinado
A ser errado assim
(Pucmg) O recurso intertextual se faz presente em todos os fragmentos,
EXCETO:

a) "Bem que filho do Norte,


Não sou bravo nem forte.
Mas, como a vida amei
Quero te amar, ó morte"

b) "Eis senão quando um dia... Mas, caluda!


Não me vai bem fazer uma canção
Desesperada como fez Neruda."

c) "Brada em assomo
O sapo-tanoeiro:
- 'A grande arte é como
Lavor de joalheiro'"

d) "Vou-me embora pra Pasárgada


Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei"

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